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sábado, 21 de julho de 2012

UM TIRO NA NUCA DA NAÇÃO


 
Carlinhos Cachoeira disse que vai à CPI quando quiser, porque a CPI é dele. Quase simultaneamente, um dos agentes federais que o investigaram é executado num cemitério, enquanto visitava o túmulo dos pais. Al Pacino e Marlon Brando não precisam entrar em cena para o país entender que há uma gangue atentando contra o Estado brasileiro. Em qualquer lugar supostamente civilizado, os dois tiros profissionais na nuca e na têmpora do policial Wilton Tapajós poriam sob suspeita, imediatamente, os investigados pela Operação Monte Carlo - alvos do agente assassinado. Mas no Brasil progressista é diferente.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, se pronunciou sobre o crime. Declarou que "é leviano" fazer qualquer ligação entre a execução do policial federal e a operação da qual ele fazia parte. E mais não disse. Tapajós foi enterrado no lugar onde foi morto. Se fosse filme de máfia, iam dizer que esses roteiristas exageram. No enterro, alguém de bom-senso poderia ter soprado ao ouvido do ministro: dizer que é leviano suspeitar dos investigados pela vítima, excelência, é uma leviandade.

Mas ninguém fez isso, e nem poderia. O ministro da Justiça não foi ao enterro. Wilton Tapajós era subordinado ao seu ministério, atuava na principal investigação da Polícia Federal e foi executado em plena capital da República, mas José Eduardo Cardozo devia estar com a agenda cheia. (Talvez seja mais fácil desvendar o crime do que a agenda do ministro.) Por outro lado, o advogado de Cachoeira, investigado pelo agente assassinado, é antecessor de Cardozo no cargo de xerife do governo popular. Seria leviano contrariar o companheiro Thomaz Bastos.

Assim como o consultor Fernando Pimentel (ministro vegetativo do Desenvolvimento) e Fernando Haddad (o príncipe do Enem), Cardozo é militante político de Dilma Rousseff e ministro nas horas vagas. O projeto de permanência petista no poder é a prioridade de todos eles, daí os resultados nulos de suas pastas. Cardozo anunciara que ia se aposentar da política, e em seguida virou ministro. Lançou então seu ambicioso plano de espalhar UPPs pelo país e se aposentou (da função de cumpri-lo). Deixou de lado o abacaxi do plano nacional de segurança, que não dá voto a ninguém, e foi fazer política, que ninguém é de ferro. Para bater boca com a oposição e acusá-la de politizar a operação da PF, por exemplo, o ministro não se sente leviano.

Carlinhos Cachoeira era comparsa da Delta, a construtora queridinha do PAC. O bicheiro mandava e desmandava no Dnit, órgão que, além de acobertar as jogadas da Delta, intermediava doações para campanhas políticas, segundo seu ex-diretor Luiz Antonio Pagot. Entre essas campanhas estava a de Dilma Rousseff, da qual Cardozo fazia parte. O policial federal assassinado estava entre os homens que começaram a desmontar o esquema Cachoeira-Delta, e seus tentáculos palacianos. O mínimo que qualquer autoridade responsável deveria dizer é que um caçador da máfia foi eliminado de forma mafiosa. Mas o falante ministro da Justiça preferiu ficar neutro, como se a vítima fosse o sorveteiro da esquina. Haja neutralidade.

Montar golpes contra o Estado brasileiro é, cada vez mais, um crime que compensa. Especialmente se o golpe é montado dentro do próprio Estado, com os padrinhos certos. Exemplo: às vésperas do julgamento do mensalão, um conhecido agente do valerioduto acaba de ser inocentado, candidamente, à luz do dia.

Graças a uma providencial decisão do Tribunal de Contas da União - contrariando parecer técnico anterior do próprio TCU -, Henrique Pizzolato, ex-diretor de marketing do Banco do Brasil que permitiu repasses milionários à agência de Marcos Valério, não deve mais nada a ninguém. Os famosos contratos fantasmas de publicidade, que permitiram o escoamento sistemático de dinheiro público para o caixa do PT, acabam de ser, por assim dizer, legalizados. Nesse ritmo, o Brasil ainda descobrirá que Lula tinha razão: o mensalão não existiu (e Marcos Valério se sacrificou por este país).

O melhor de tudo é que uma lavagem de reputação como essa acontece tranquilamente, sem nem uma vaia da arquibancada. No mesmo embalo ético, Delúbio Soares já mandou seu advogado gritar que ele é inocente e jamais subornou ninguém. O máximo que fez foi operar um pouquinho no caixa dois, o que, como já declarou o próprio Lula, todo mundo faz. Nesse clima geral de compreensão e tolerância, o ministro do Supremo Tribunal Federal que passou a vida advogando para o PT já dá sinais de que não vai se declarar impedido de julgar o mensalão. O Brasil progressista há de confiar no seu voto.

Esses ventos indulgentes naturalmente batem na cela de Cachoeira, que se enche de otimismo e fala grosso com a CPI. Se o esquema de Marcos Valério está repleto de inocentes, seria leviano deixar o bicheiro de fora dessa festa.

Guilherme Fiúza

sexta-feira, 6 de julho de 2012

CPI ESQUENTA COM DONO DA DELTA, PAGOT E PAULO PRETO

Além de Cavendish, ex-diretor do Dnit e ex-chefe de estatal paulista vão prestar esclarecimentos à comissão, embora a data não tenha sido marcada. Prefeito de Palmas depõe na próxima quarta

Após dois meses e meio de trabalhos e poucos avanços, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira aprovou ontem a convocação do dono da Delta Construções, Fernando Cavendish, e do ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antônio Pagot, dois dos principais personagens do roteiro costurado pelas relações da organização criminosa comandada pelo contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com políticos e agentes privados. Nenhum dos dois, porém, têm data para comparecer à CPI. A única oitiva prevista é a do prefeito de Palmas, Raul Filho (PT), para a próxima terça-feira, outro passo acertado na sessão de ontem.

"Todos que desejam a evolução das investigações tiveram uma vitória hoje (ontem). Cada dia com a sua agonia. Agora, vamos começar a cobrar a presença desses senhores. Mas hoje (ontem) a CPI entrou em campo", resumiu o senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP). Com exceção do prefeito da capital do Tocantins, que enviou ofício ao colegiado se colocando à disposição, os demais só irão à comissão depois do recesso parlamentar, de 17 de julho a 1º de agosto, e poderão permanecer em silêncio, direito garantido pela Constituição.

Além desses três, considerados ameaças em potencial para PT e PMDB, o colegiado conseguiu arrastar mais um tucano para o centro das apurações: Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, ex-diretor da estatal paulista Dersa e um dos encarregados de angariar recursos para a campanha de José Serra nas eleições de 2010. Ele é acusado por Pagot de fazer caixa 2 para o tucano. A tropa de choque do governo impediu, no entanto, a convocação do tesoureiro da campanha da presidente Dilma Rousseff, o deputado estadual José de Fillipi (PT-SP).

Discussão
O debate em torno do requerimento de Paulo Preto se transformou em disputa partidária na sessão de ontem, capítulo recorrente nas reuniões da CPI. "Convocar Paulo Preto é tão importante quanto chamar Pagot, mas o PSDB está com medo de que Paulo Preto seja convocado. Esse medo todo já seria motivo para ele vir aqui. Estão com medo de quê?", provocou o deputado Silvio Costa (PTB-PE). O contra-ataque veio com o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), ao afirmar que o relator não sabia ler, referindo-se a uma entrevista em que Pagot faz acusações tanto contra Paulo Preto quanto a José de Fillipi. "Pelo menos conseguimos trazer Pagot e Cavendish, que a base não queriam de jeito nenhum", comemorou o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR).

A estratégia de petistas e peemedebistas agora é protelar a ida de seus aliados. O ex-tesoureiro tucano deverá comparecer em meados do mês que vem, quando o Supremo Tribunal Federal estiver julgando os réus do escândalo do mensalão — caso de suspeita de pagamento de propina do Executivo a parlamentares da base aliada, em 2005, durante o primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Foram aprovados ainda os requerimentos de convocação de José Augusto Quintela e Romênio Marcelino Machado, sócios da Sigma Engenharia, que, segundo a Polícia Federal, é uma empresa de fachada usada pela quadrilha de Cachoeira; Andréa Aprígio de Souza, ex-mulher do bicheiro e suspeita de ter o nome usado como laranja pela organização criminosa; e Adir Assad, sócio de uma empresa que teria recebido R$ 50 mil da Delta.

Já a construtora de Cavendish teria Cachoeira como sócio oculto e mantém diversos contratos com o governo federal. Pagot saiu do Dnit no ano passado, sob suspeitas de fazer parte de um esquema de pagamento de propina a parlamentares do PR, do qual ele era filiado, e afirma que deixou o cargo por "não atender a interesses da quadrilha". Raúl Filho foi flagrado em um vídeo, gravado em 2004, oferecendo facilidades ao contraventor em troca de financiamento de campanha.

"Todos que desejam a evolução das investigações tiveram uma vitória hoje (ontem)"
Randolfe Rodrigues, senador do PSol-AP
Os novos convocados
Fernando Cavendish, dono da Delta Construções
Luiz Antônio Pagot, ex-diretor-geral do Dnit
Raul FIlho (PT-TO), prefeito de Palmas

Fonte: Correio Brasiliense - Gabriel Mascarenhas
Paulo Vieira de Souza, ex-diretor da Dersa

FARINHA DO MESMO SACO



Cerco fechado – Integrantes da CPI do Cachoeira aprovaram nesta quinta-feira (5) a convocação do empresário Fernando Cavendish, ex-presidente e sócio da Delta Construção, para prestar esclarecimentos sobre as atividades da empreiteira com o esquema criminoso comandado pelo contraventor goiano Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, que tinha na teia de relacionamentos políticos, autoridades e empresários.

A Comissão também aprovou a convocação do ex-diretor do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), Luiz Antônio Pagot, e de mais cinco testemunhas: Adir Assad, Andréa Aprígio, Paulo Vieira de Souza, Paulo Moreira Lima e Raul Filho. Os depoimentos de Pagot e Cavendish preocupam os petistas palacianos, pois enquanto o primeiro sabe muito sobre o sistema de arrecadação para a campanha de Dilma Rousseff, o segundo foi um dos grandes doadores.

A tábua de salvação da base governista pode ser Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, ex-diretor da Dersa, órgão do governo paulista que tinha contratos com a Delta. Paulo Preto ganhou o noticiário durante a disputa presidencial de 2010, quando foi acusado pela então candidata Dilma Rousseff de participar de um esquema que teria desviado R$ 4 milhões do caixa da campanha do tucano José Serra.

O trunfo da oposição pode ser o prefeito de Palmas, o petista Raul Filho, flagrado em vídeo acertando doações de campanha com Carlinhos Cachoeira. Os adversários do Palácio do Planalto tentaram, em vão incluir no requerimento de convocação o nome do deputado federal José de Filippi (PT-SP), ex-tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff e homem de confiança do ex-presidente Luiz Inácio da Silva. De acordo com reportagem da revista IstoÉ, o deputado petista teria pedido a Pagot para que arrecadasse junto às empreiteiras dinheiro para a campanha presidencial do PT. Por força da blindagem patrocinada pela sempre obediente base aliada, o requerimento será analisado em outra sessão da CPI.

Fonte: Ucho.Info

segunda-feira, 2 de julho de 2012

TSUNAMI POLITICO



Recado dado – Quando a Polícia Federal prendeu, na esteira da Operação Monte Carlo, Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, o ucho.info afirmou que o contraventor goiano, dependendo do desenrolar do caso, não cairia, pois tem em seu poder uma videoteca de acabar com a tranquilidade de muitos políticos e autoridades. O vídeo divulgado na noite do domingo (1), em que o então candidato petista à prefeitura de Palmas, Raul Filho, aparece negociando com Cachoeira, é uma amostra grátis do que deve vir pela frente.

A entrevista da mulher do contraventor, Andressa Mendonça, depois de oito semanas de tentativa por parte da Rede Globo não foi por acaso. Andressa, que já foi eleita como a musa da CPI do Cachoeira, mandou um recado preocupante. Que o marido é um preso político. Para quem acompanha com afinco o cotidiano da política brasileira sabe que o pavio foi aceso e que quando a centelha alcançar o rastilho de pólvora o estrago será enorme. Como temos afirmado com frequência, é cada vez maior a chance de a República cair como castelo de areia.

Acostumado a gravar seus encontros nada ortodoxos, Carlinhos Cachoeira deixou clara a sua obsessão por imagens por ocasião do primeiro escândalo de corrupção do governo Lula, protagonizado por Waldomiro Diniz, então assessor do agora cassado José Dirceu de Oliveira e Silva, o camarada Daniel.

Segundo apurou a reportagem do ucho.info, Cachoeira tem gravações de encontros com pessoas próximas à presidente Dilma Rousseff, algumas das quais ex-integrantes da campanha da neopetista. Em um dos vídeos, Cachoeira entrega uma polpuda contribuição para um assessor graduado da campanha.

Os brasileiros que se preparem, pois os próximos capítulos serão devastadores e podem aniquilar a supremacia da base governista na Comissão Parlamentar de Inquérito criada para investigar a teia de relacionamentos do contraventor. Resumindo, Cachoeira pode a qualquer momento se transformar em tsunami político.

Fonte: Ucho.Info

segunda-feira, 4 de junho de 2012

QUEM TEM MEDO DO PAGOT?

Bruxa solta – Por causa do feriado de Corpus Christi, a semana será mais curta em Brasília, pois na tarde de quarta-feira (6) o Congresso Nacional será uma espécie de cidade-fantasma, uma vez que os parlamentares que foram até à capital dos brasileiros estarão voando rumo aos seus estados.

Enquanto a política anda de lado nos próximos dias, a CPI do Cachoeira vive momentos de tensão. Ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot deixou o cargo debaixo de uma enxurrada de acusações, mas agora parece disposto a dar o troco. Desde que a CPI foi criada para investigar a teia de relacionamentos do contraventor Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, o ex-chefão do DNIT tem dado mostras inequívocas de sua disposição para revelar o que sabe sobre o órgão vinculado ao Ministério dos Transportes, o contraventor e a Delta Construção.

Desde suas primeiras declarações, integrantes da CPI, em especial os petistas, estão com o pé atrás em relação a Pagot, que a qualquer momento pode apontar sua verborragia na direção do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), cujas obras estão em maior número em poder da Delta, investigada pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo.

Filiado ao Partido da República, Luiz Antonio Pagot pode atingir também a oposição, mas esse detalhe pode sair de cena por conta do apoio do PR à candidatura do tucano José Serra à prefeitura paulistana, costurado no final de semana.

Mesmo assim, o medo maior é da chamada base aliada, pois Pagot disse recentemente que, em 2010, o caixa da campanha de Dilma Rousseff, o petista José de Filippi Júnior, o procurou para arrecadasse dinheiro juntos às empreiteiras. Fora isso, o ex-diretor do DNIT já declarou que peemedebistas trabalharam nos bastidores do Ministériodos Transportes para favorecer a Delta Construção.

Fonte: Ucho.Info

sábado, 2 de junho de 2012

O LARANJAL DA DELTA

Empreiteira pagou mais de 100 milhões de reais a empresas de fachada que repassavam o dinheiro a políticos e funcionários públicos

Fernando Cavendish, dono da DELTA Fernando Cavendish, dono da DELTA (Oscar Cabral)

A devassa nas contas da construtora Delta, aprovada pela CPI do Cachoeira, é uma medida que pode mexer profundamente com o meio político brasileiro. Como mostra a edição de VEJA que chega às bancas neste sábado, ela põe a CPI na trilha de um dinheiro clandestino que abasteceu campanhas políticas e pagou propinas a servidores públicos. O montante das transações secretas? Mais de 100 milhões de reais.

VEJA revela dados de um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão do governo federal encarregado de monitorar transações financeiras suspeitas de constituir lavagem de dinheiro. Nele, a Delta aparece relacionada a movimentações atípicas entre 2006 e o ano passado.
Numa delas, uma empresa chamada GM Comércio de Pneus e Peças Ltda., com sede num pequeno escritório de contabilidade em Goiânia, recebeu entre novembro de 2009 e maio de 2010 depósitos bancários realizados pela Delta em valores superiores a 6 milhões de reais. A GM está registrada no nome do policial civil aposentado Alcino de Souza.

Localizado por VEJA, Alcino admitiu receber 1.500 reais mensais para emprestar o nome à firma e para prestar um único serviço: sacar os valores que entravam na conta da empresa, acondicionar os maços em sacolas e entregar ao seu patrão. O homem que recebia o dinheiro é o empresário Fabio Passaglia, que mantém estreitas ligações com a política de Goiás – foi auxiliar dos ex-governadores Iris Resende e Maguito Vilela, as duas maiores lideranças do PMDB no estado.

Como investigador que foi, Alcino sabe que atuou como parte de um esquema criminoso. “Tem gente grande envolvida nisso, mas não posso falar porque tenho medo de morrer”, disse ele.
O caso da loja-fantasma de pneus ilustra bem o motivo da preocupação de muitos políticos com a iminente devassa nas contas da empreiteira. As “operações atípicas” indicam que os saques de dinheiro feitos pela matriz da empreiteira sempre aumentavam nos períodos eleitorais.
Em se tratando de CPI, o que era cachoeira virou tsunami.

Fonte: Revista Veja

domingo, 13 de maio de 2012

CRIME ORGANIZADO

O comentário do senador Pedro Taques, do PDT de Mato Grosso, de que o bicheiro Carlinhos Cachoeira já estava no terceiro estágio do crime organizado, buscando negócios legais, resume bem o estado de espírito dos parlamentares que participaram do depoimento teoricamente secreto do delegado da Polícia Federal (PF) Raul Alexandre Marques Souza na CPI.

Mesmo oriundo do Ministério Público, assim como Demóstenes, o senador Taques tem experiência de acompanhar esse tipo de ação criminosa e não estava fazendo um comentário leviano.

As investigações revelaram com uma profusão de detalhes as ligações de Cachoeira com praticamente todos os níveis de poder da República, sendo que tinha no bolso do colete pelo menos um senador - Demóstenes Torres, ex-DEM de Goiás, que o delegado classificou como o braço político da organização - e dois deputados federais - Carlos Leréia, do PSDB, e Sandes Júnior, do PP, ambos de Goiás.

Além do Congresso, o bicheiro tinha influência importante sobre pelo menos dois governadores, o tucano Marconi Perillo (Goiás) e o petista Agnelo Queiroz (Brasília).

A atuação do mafioso não se limitava a Goiás, seu estado natal, ou ao Centro-Oeste, como quis fazer crer num primeiro momento o relator petista, tentando circunscrever as investigações ao interesse de setores de seu partido.

Seu império se espalhava por todo o país, e há ainda a se provar sua participação na empreiteira Delta, de quem parece ser um sócio oculto.

É por esse caminho que um terceiro governador, o do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), pode vir a ser convocado para depor na CPI, mas até agora não há indicação de que sua relação promíscua com o empreiteiro dono da Delta, Fernando Cavendish, seja razão para tal convocação.

O vice-presidente Michel Temer tem razão ao afirmar que jantar com empreiteiros não é crime em si, mas pode indicar crimes praticados, já que se sabe, conforme nos ensinou Milton Friedman, que não existem jantares grátis, o que por si só já seria motivo para investigação, que neste primeiro estágio caberia ao Ministério Público ou à Assembleia Legislativa do Rio.

Há ainda a apurar informação não confirmada de que o bicheiro do Centro-Oeste estaria querendo entrar no mercado do Rio e teria se utilizado de canais especiais do empreiteiro Cavendish para realizar essa ampliação de seu negócio.

Se, no decorrer das investigações, ficar comprovado que o verdadeiro dono da Delta era mesmo o bicheiro Cachoeira, como acredita o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, aí, sim, o governador do Rio teria que prestar contas à CPI.

Pelo que se sabe das investigações, e com as muitas mil horas de conversas telefônicas gravadas com autorização judicial, fica patente que o crime organizado estava infiltrado no Poder Legislativo e em alguns Executivos estaduais, e tinha planos ambiciosos de fazer do senador Demóstenes Torres um membro do Supremo Tribunal Federal.

Em termos regionais, o mais próximo que andamos de um cenário de domínio pelo crime organizado de um estado foi no Espírito Santo, onde nos anos 90 do século passado os três poderes estaduais foram todos cooptados, tendo sido preciso a intervenção forte de força-tarefa policial e política para restabelecer a ordem.

A declaração do delegado da PF de que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, engavetou a investigação deu nova força aos que querem usar a CPI como instrumento de vingança contra a Procuradoria e a imprensa, pelas mesmas razões: as denúncias sobre o mensalão.

Com relação à imprensa, o delegado Raul Souza foi categórico ao afirmar que a PF não encontrou qualquer indício de ilegalidade nos contatos do diretor da revista "Veja" em Brasília, Policarpo Junior, com o bicheiro Carlinhos Cachoeira.

"Apensas conversas entre jornalista e fonte" foi a definição do delegado. Ora, se é verdade que existem mais de 200 ligações telefônicas entre o jornalista e o bicheiro, como gostam de alardear os blogs chapas-brancas, muitos financiados pelo governo exatamente para fazer esse trabalho de solapar a grande imprensa, como não se consegue nenhum diálogo direto entre os dois ou mesmo entre o jornalista e membros do grupo do bicheiro, que revele a suposta troca de favores que evidenciaria o crime?

Até o momento o que há são conversas entre os criminosos sobre o jornalista, que servem para alimentar ilações grotescas sobre conluio da direção da revista com o crime organizado.

Do mesmo modo, não há qualquer indicação nos dados da PF de que Gurgel ou sua mulher, a subprocuradora Cláudia Sampaio, tivessem alguma relação com o esquema criminoso, e é leviana a suspeita de que tenham agido com espírito de corpo. E a explicação oficial dos dois de que a Operação Vegas não tinha indícios suficientes para abrir um processo no STF contra o senador Demóstenes Torres ou outros parlamentares, mas que resolveram sobrestar o caso até que novas investigações em curso pudessem complementar as informações, pode ser confirmada pelo próprio comentário do delegado na CPI: o caso não foi arquivado nem devolvido à Justiça Federal de Goiás para novas investigações, permanecendo três anos aberto até que, com a Operação Monte Carlo, pôde ter sequência com a abertura de inquérito contra o senador de Goiás no início deste ano.

Caberá, portanto, ao procurador-geral da República agir rápido para desfazer a intriga de que não há explicação razoável para sua demora em abrir o inquérito contra Demóstenes Torres, e sua reação foi mais do que adequada. Roberto Gurgel explicitou o que já se sabia, a ação contra ele é mais uma manobra dos que querem confundir o julgamento do mensalão para neutralizar sua atuação, colocando-o sob suspeita.

Isso levaria a suspeita de envolvimento com o crime organizado às portas do STF, o que seria desastroso para a democracia brasileira. Justamente por isso é preciso que a CPI seja prudente ao tratar do assunto, para não servir de pretexto para os que querem tumultuar o julgamento do mensalão.

Merval Pereira

sexta-feira, 11 de maio de 2012

VENDA DA DELTA É ILEGAL E IMORAL

Para Ministério Público, operação afronta princípios da legalidade e da moralidade

O Ministério Público Federal do Rio de Janeiro pediu abertura de inquérito civil público para apurar possível irregularidades na venda da Delta Construções, investigada por fraudes e alvo da CPI do Cachoeira, ao grupo J&F Holding. Para o procurador regional da República Nívio de Freitas Silva Filho, a participação de 31,4% do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na JBS S.A., principal empresa controleda pela holding, motivo para que o caso seja apurado "com urgência".

- Caso se concretize esse negócio, por força de sua participação acionária no grupo JBS, o BNDES, em evidente afronta aos princípios da legalidade e moralidade, irá inexoravelmente participar de empresa sobre a qual recaem notícias da prática de graves ilicitudes e que se sujeita a ser declarada inidônea para contratar com o poder público - diz Silva Filho.
Segundo Nivio de Freitas, é necessário garantir que os dirigentes da "Delta não fujam da responsabilidade patrimonial da empresa pelos eventuais danos causados, transferindo-os ao credor", ou seja, a administração pública, e evitar que o BNDES continue a fazer empréstimos a uma empresa que "sujeita-se a ser declarada inidônea para contratar com o poder público", como afirma no ofício solicitando a investigação, a que O GLOBO teve acesso. A Delta afirmou que as perguntas deveriam ser endereçadas à J&F, que está assumindo a empresa. A J&F não se pronunciou sobre a investigação.

- Queremos garantir que o BNDES não venha a aportar, por vias transversas, recursos que sejam usados para a compra da Delta - afirma Silva Filho. O procurador que assumir o caso poderá pedir, em caráter liminar, a suspensão da negociação, fazer uma recomendação ao banco para que não sejam realizadas novas operações, bem como pedir a indisponibilidade dos bens dos investigados - explica.

Procurador questiona Delta

A motivação da Delta para abandonar os consórcios responsáveis pelas obras do estádio do Maracanã - que está sendo preparado para receber jogos da Copa de 2014 - e da Transcarioca - corredor exclusivo de ônibus que ligará a Zona Norte à Zona Oeste da capital - também é colocada sob suspeita pelo procurador regional.

- É inusitado que a Delta, atuando de forma completamente atípica, tenha vindo a se retirar do consórcio responsável pelas obras da Transcarioca e do Maracanã, abrindo mão de expressivas receitas, ao passo que construtoras do mesmo porte buscam acumular contratos públicos - afirma ele, que no documento ressalta que a atuação da Delta vinha sendo exatamente oposta, ou seja, de buscar mais contratos, o que aponta para uma decisão tomada fora da diretoria da construtora, por "poderosos elementos exógenos".

A Delta tinha 30% de participação no consórcio que cuida da reforma do Maracanã, junto com Odebrecht Infraestrutura (49%) e a Andrade Gutierrez (21%). As obras estão orçadas em R$ 859 milhões. Na Transcarioca, a Delta detinha 42% de participação, junto com a Andrade Gutierrez (58%), em contrato no valor de R$ 798,4 milhões.

O procedimento será instaurado no Rio, onde está instalada a sede da Delta, e será levado adiante pela área de Patrimônio - a mesma responsável por suspender no ano passado um outro inquérito civil público para investigar a compra de R$ 3,5 bilhões em debêntures (título emitido por empresas em troca de empréstimos) da JBS pelo BNDES, que acabou sendo arquivado.

O procurador da área, Carlos Alberto Bermond Natal, informou que o arquivamento está sendo avaliado pelo MPF em Brasília.
- A operação realizada pelo BNDES estava de acordo com a Política de Desenvolvimento Produtivo estabelecida pelo Governo Federal, da qual o BNDES é uma das agências estatais coordenadoras, e que a situação financeira da JBS e quando da subscrição pela BNDESPAR não era falimentar como constou da representação - diz o procurador.

A Delta não quis se pronunciar sobre as investigações. A direção da J&F Holding , por sua vez, não quis comentar a apuração. A direção da J&F Holding deve anunciar hoje o nome do novo presidente da Delta Construções. A holding informou que, mesmo com a mudança na direção, a Delta Construções continuará a disputar, em respeito à legislação vigente, licitações públicas.

Depois de caírem 4,53% na terça-feira, quando foi anunciada a compra da Delta, as ações ON da JBS, principal empresa do grupo J&F na holding, fecharam a quinta-feira em alta de 0,56% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), cotadas a R$ 7,14.

Fonte: O Globo