Um fato crítico em ciência significa um fato que prende a atenção e, que por isso, precisa ser explicado. A classe média baixa ou C tornou-se um fato crítico por alguns motivos. Entre eles é preciso explicar que a ascensão de parcela da classe baixa ou D à classe C, tem sido usada pelo governo petista como feito unicamente seu, mas, principalmente, como ato redentor de Lula da Silva, o salvador da pátria.
Todavia, a política distributivista que proporcionou a mobilidade social ascendente de uma parcela de brasileiros foi um processo desencadeado no governo de Fernando Henrique Cardoso. Prosseguiu no governo Lula com o apelo constante ao consumismo facilitado em suaves prestações e caridades oficiais.
Fundamentalmente, porém, a melhoria do nível de vida da população brasileira como um todo foi impulsionada pelo Plano Real de FHC, que domou a inflação e estabilizou a economia. Sem isso seria impossível grandes mudanças na pirâmide social.
Recentemente a classe C tornou-se de novo fato crítico a merecer explicação. Isso se deu quando o ex-presidente FHC, em artigo para uma revista, sugeriu ao seu partido, o PSDB e aliados, investir na classe C na medida em que o PT domina os movimentos sociais e o “povão”.
Bastou a palavra “povão”, muito usada pela esquerda, para os petistas e o populista Lula erguerem as bandeiras, rufarem os tambores e caírem de pau em cima de FHC, como é de seu costume. Lula, que parece desenvolver um sentimento doentio de inferioridade com relação ao tucano, aproveitou a deixa para espalhar que FHC e o PSDB detestam pobres. Nada a ver, é claro. FHC apenas pensou politicamente, pois as classes médias A, B e C constituem a maioria ou, aproximadamente, 52% da população brasileira. Só na classe C estão aproximadamente 38,8% dos brasileiros com carências e aspirações de várias espécies, portanto, um espaço especial para o trabalho dos políticos.
Diga-se de passagem, que o conceito de classe social varia na concepção de vários sociólogos e não cabe num pequeno artigo aprofundar o tema. Para para citar uma definição escolho a do sociólogo Max Weber, segundo o qual “classes são agregados de indivíduos que têm as mesmas oportunidades de adquirir mercadorias e exibem o mesmo padrão de vida”. Acrescento que classes sociais, em que pese o mundo massificado em que vivemos, possuem comportamentos, valores e atitudes diferenciados que possibilitam distingui-las.
A parcela da classe C que emergiu da classe D, não pode deixar também de apresentar características de psicologia coletiva que a faz subserviente em relação aos que estão em posição superior, mantendo no fundo a aspiração de ser igual ou ter o mesmo padrão de vida das classes mais altas. Afinal, o ser humano sempre quer ter mais de forma insaciável, inclusive, prestígio. Mas, para alcançar o status mais elevado os indivíduos da classe C teriam que ultrapassar sua origem familiar, casamento, história profissional e instrução. Isso é possível para alguns ou para muitos indivíduos, mas, dependendo das circunstâncias econômicas, a mobilidade pode ser ascendente ou descendente. Do jeito que a inflação segue descontrolada, dos mecanismos governamentais que desesperadamente tentam contê-la penalizando os que já se acostumaram com as facilidades do crédito, não é difícil que parcela da classe C retorne à classe D ou até à mais baixa classe E.
Observe-se ainda, que nem todos os que pertencem à classe C chegarão como num passe de mágica a professores universitários, profissionais liberais, funcionários públicos, altos cargos burocráticos ou políticos como os “colarinhos brancos” das classes médias A e B. Entretanto, não só as dádivas caídas dos céus estatais e a ampliação da burocracia, mas os empregos propiciados pela iniciativa privada e a multiplicidade de novas funções geradas pelo avanço da tecnologia e pelos meios de comunicação da sociedade globalizada, possibilitaram a parcela da classe D ascender e integrar a classe C que, frise-se, já existia e apenas se tornou mais numerosa.
Lembremos também que a Educação chegou a um nível tão baixo de qualidade, que há falta de mão-de-obra mais especializada e sofisticada, estando os grandes empresários obrigados a importar profissionais do exterior. Num extremo oposto, faltam operários da construção civil porque o segmento da classe D, que ascendeu à classe C, já não aceita o trabalho pesado e mal remunerado dos que constroem os cada vez mais numerosos edifícios nas metrópoles e nas cidades de porte médio.
Duas características marcam também todas as classes sociais: o individualismo e a indiferença política. Apenas em épocas de campanha algum interesse aparece. Concentra-se em determinado ou determinados candidatos com potencial carismático ou demagógico, capazes de propiciar vantagens individuais. Nenhuma ideologia ou questões de princípios estão presentes nas campanhas onde as propostas dos postulantes aos cargos públicos quase não se distinguem e os partidos são meros clubes de interesses.
Finalizando concordo com o pensamento de C. Wright Mills em sua obra “White Collar”, adaptando-o a nossa realidade:
As posições particulares como indivíduos de nossas classes médias é que determinam a direção para onde elas se encaminham. Mas seus indivíduos não sabem para onde ir. Por isso vacilam, confusos e hesitantes em suas opiniões, desordenados e descontínuos em suas ações. Formam um coro medroso demais para protestar, histérico demais em suas manifestações de aprovação. Constituem uma retaguarda. Estão à venda no mercado político e qualquer um que pareça bastante confiável tem probabilidade de comprá-las.
Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga
Todavia, a política distributivista que proporcionou a mobilidade social ascendente de uma parcela de brasileiros foi um processo desencadeado no governo de Fernando Henrique Cardoso. Prosseguiu no governo Lula com o apelo constante ao consumismo facilitado em suaves prestações e caridades oficiais.
Fundamentalmente, porém, a melhoria do nível de vida da população brasileira como um todo foi impulsionada pelo Plano Real de FHC, que domou a inflação e estabilizou a economia. Sem isso seria impossível grandes mudanças na pirâmide social.
Recentemente a classe C tornou-se de novo fato crítico a merecer explicação. Isso se deu quando o ex-presidente FHC, em artigo para uma revista, sugeriu ao seu partido, o PSDB e aliados, investir na classe C na medida em que o PT domina os movimentos sociais e o “povão”.
Bastou a palavra “povão”, muito usada pela esquerda, para os petistas e o populista Lula erguerem as bandeiras, rufarem os tambores e caírem de pau em cima de FHC, como é de seu costume. Lula, que parece desenvolver um sentimento doentio de inferioridade com relação ao tucano, aproveitou a deixa para espalhar que FHC e o PSDB detestam pobres. Nada a ver, é claro. FHC apenas pensou politicamente, pois as classes médias A, B e C constituem a maioria ou, aproximadamente, 52% da população brasileira. Só na classe C estão aproximadamente 38,8% dos brasileiros com carências e aspirações de várias espécies, portanto, um espaço especial para o trabalho dos políticos.
Diga-se de passagem, que o conceito de classe social varia na concepção de vários sociólogos e não cabe num pequeno artigo aprofundar o tema. Para para citar uma definição escolho a do sociólogo Max Weber, segundo o qual “classes são agregados de indivíduos que têm as mesmas oportunidades de adquirir mercadorias e exibem o mesmo padrão de vida”. Acrescento que classes sociais, em que pese o mundo massificado em que vivemos, possuem comportamentos, valores e atitudes diferenciados que possibilitam distingui-las.
A parcela da classe C que emergiu da classe D, não pode deixar também de apresentar características de psicologia coletiva que a faz subserviente em relação aos que estão em posição superior, mantendo no fundo a aspiração de ser igual ou ter o mesmo padrão de vida das classes mais altas. Afinal, o ser humano sempre quer ter mais de forma insaciável, inclusive, prestígio. Mas, para alcançar o status mais elevado os indivíduos da classe C teriam que ultrapassar sua origem familiar, casamento, história profissional e instrução. Isso é possível para alguns ou para muitos indivíduos, mas, dependendo das circunstâncias econômicas, a mobilidade pode ser ascendente ou descendente. Do jeito que a inflação segue descontrolada, dos mecanismos governamentais que desesperadamente tentam contê-la penalizando os que já se acostumaram com as facilidades do crédito, não é difícil que parcela da classe C retorne à classe D ou até à mais baixa classe E.
Observe-se ainda, que nem todos os que pertencem à classe C chegarão como num passe de mágica a professores universitários, profissionais liberais, funcionários públicos, altos cargos burocráticos ou políticos como os “colarinhos brancos” das classes médias A e B. Entretanto, não só as dádivas caídas dos céus estatais e a ampliação da burocracia, mas os empregos propiciados pela iniciativa privada e a multiplicidade de novas funções geradas pelo avanço da tecnologia e pelos meios de comunicação da sociedade globalizada, possibilitaram a parcela da classe D ascender e integrar a classe C que, frise-se, já existia e apenas se tornou mais numerosa.
Lembremos também que a Educação chegou a um nível tão baixo de qualidade, que há falta de mão-de-obra mais especializada e sofisticada, estando os grandes empresários obrigados a importar profissionais do exterior. Num extremo oposto, faltam operários da construção civil porque o segmento da classe D, que ascendeu à classe C, já não aceita o trabalho pesado e mal remunerado dos que constroem os cada vez mais numerosos edifícios nas metrópoles e nas cidades de porte médio.
Duas características marcam também todas as classes sociais: o individualismo e a indiferença política. Apenas em épocas de campanha algum interesse aparece. Concentra-se em determinado ou determinados candidatos com potencial carismático ou demagógico, capazes de propiciar vantagens individuais. Nenhuma ideologia ou questões de princípios estão presentes nas campanhas onde as propostas dos postulantes aos cargos públicos quase não se distinguem e os partidos são meros clubes de interesses.
Finalizando concordo com o pensamento de C. Wright Mills em sua obra “White Collar”, adaptando-o a nossa realidade:
As posições particulares como indivíduos de nossas classes médias é que determinam a direção para onde elas se encaminham. Mas seus indivíduos não sabem para onde ir. Por isso vacilam, confusos e hesitantes em suas opiniões, desordenados e descontínuos em suas ações. Formam um coro medroso demais para protestar, histérico demais em suas manifestações de aprovação. Constituem uma retaguarda. Estão à venda no mercado político e qualquer um que pareça bastante confiável tem probabilidade de comprá-las.
Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga
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