terça-feira, 26 de abril de 2011

LIBERDADE AMEAÇADA.

Ao confrontar a milenar ordem obscurantista que mantinha cativo o pensamento humano, a onda iluminista do século XVIII devastou as tradições e os costumes, sem a menor consideração com o equilíbrio social.


As novas atitudes libertaram os instintos e paixões longamente reprimidos, despertando a consciência desenfreada dos indivíduos e minorias sobre os seus direitos, sem a limitação natural dos respectivos deveres.

Foi assim que, juntamente com o restolho medieval, descartaram-se referenciais importantes da ética tradicional, entre eles o maior ensinamento que o cristianismo legara para a harmonia humana: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.

Apesar disso, consagrou-se o conceito humanista de Montesquieu de que “Todo o poder emana do povo e em seu nome deve ser exercido”; e o de que a expressão da vontade popular é a manifestação da maioria.

Ao longo do tempo, porém, o oportunismo aproveitou-se das dissensões e tendências maniqueístas da mente humana, para consolidar as ideologias que dividem a sociedade.

Com objetivos inconfessáveis, teóricos do século XX relativizaram o conceito de maioria e passaram a buscar a hegemonia das minorias sobre o conjunto da sociedade.

O bom-senso foi sendo substituído pelo chamado senso comum, abstraindo-se-lhe o componente de sabedoria popular.

Na Alemanha, o poder de influenciar a opinião por meio da propaganda permitiu a Goebbels sobrepor a realidade artificial do ideário nazista à realidade dos fatos.

No Brasil, os artifícios psicológicos de Gramsci forçam o predomínio de conceitos exóticos, como o de deficiência sobre o de eficiência, e o de naturalismo sobre a própria natureza; e até mesmo pretendem impor comportamentos anti-naturais como sendo absolutamente naturais.

A alegria espontânea do povo brasileiro, traço característico da alma nacional, sempre se destacou pela irreverência. Por isso, tornou-se vítima do patrulhamento ideológico, mediante a orquestração de antinomias e idéias-força que os agentes do comportamento padronizado rotulam como politicamente corretas.

Nem mesmo merece respeito a liberdade de expressão assegurada explicitamente pela Constituição Federal, como na exploração de entrevista recente do deputado Jair Bolsonaro.

Não faltam argumentos para restringir-se a liberdade das pessoas. Invocando o combate ao “bullying”, pretende-se penetrar no ambiente sagrado da família, após violada a intimidade da escola. O pacifismo “inocente”, que estimula o desarmamento do cidadão, pretende retirar-lhe o mesmo direito que a vontade civilizada do povo suíço reafirmou, peremptoriamente, em plebiscito histórico. E já se fala em copiar a bizarra proposta hondurenha de proibir o cigarro no interior das residências.

Na verdade, parece que se quer produzir no Brasil uma sociedade controlada. Convém lembrar que o direito é um conjunto de regras impostas sobre o livre-arbítrio da pessoa, enquanto que a moral consiste em regras que a pessoa observa por adesão.

Na dialética dos atores coletivos, dizia André Beauffre: “A luta pela liberdade de ação é a essência da estratégia”. No campo individual, a afirmativa é ainda mais verdadeira, por uma razão incontestável: o direito à liberdade da pessoa humana.

Alexis de Tocqueville, em análise memorável da Revolução Francesa, alertou para o fato de que: “Das próprias entranhas de uma nação que acabava de derrubar a realeza, viu-se sair subitamente um poder mais extenso, mais detalhado, mais absoluto do que o que fora exercido por qualquer dos nossos reis”.

Não se sabe a intenção final, mas uma coisa é certa: uma sociedade manietada é uma comunidade morta. E ideologia sem sabedoria é fonte primordial de anarquia.

por Maynard Marques de Santa Rosa

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