A presidente da República deve ter sofrido nestes últimos tempos inestimáveis prejuízos em sua imagem pública. Deve-os a certos deslizes cometidos por ministros de seu governo. Com a queda de seis deles, entre os quais quatro recém-expungidos dos cargos, acusados de corrupção, novamente se vê ela diante de crise de mau comportamento a envolver servidores do Ministério do Trabalho e, inclusive, o próprio titular da pasta. Há muito tempo se falava que comissões eram pagas a funcionários do ministério para a liberação de parcelas de recursos de convênios celebrados com ONGs. Não passou disso.
Somente agora, porém, depois de denúncias publicadas na imprensa, com a expressa citação de nomes diretamente ligados ao gabinete do ministro, é que a questão ganhou notoriedade. A graduação dos cargos dos servidores demitidos por ações sujeitas a sanções legais dá a magnitude dos atos que causaram. Mesmo que o ministro nada tenha a ver com a urdidura dos negócios, como exaustivamente tem sustentado, é impossível desatrelá-lo do centro deles, sem que os seus efeitos deixem de atingi-lo.
Com a perspectiva de que essa seja a compreensão que tenha de tudo, é inadmissível supor que não tenha podido exercer um mínimo de controle sobre o que se passava a seu lado dentro do ministério. Tanto mais quanto se sabe que pelo menos um dos servidores demitidos ocupava cargo de confiança de alto nível na estrutura do ministério, por sua própria indicação. É estranho imaginar que não possa ser de algum modo responsável pelos fatos, ainda que por omissão. Não fosse por isso, as declarações recentemente concedidas à imprensa sinalizam o grau do risco que o despreparo pode provocar, quando se trata de administração pública.
O equilíbrio e a prudência não devem ser atributos apenas dos estudados — e às vezes não são —, mas também dos que, embora não tendo o status, sabem bem cumprir os deveres de cidadão. Essa qualidade é ínsita a quem tenha juízo, não estando relacionada a graus de intelecção. Mesmo sob a pressão que recai sobre os ombros, não é de pensar que um ministro de Estado possa dizer, referindo-se à sua situação no governo, daqui "só saio abatido à bala", ou "duvido que ela me tire", como registrado pelo Correio Braziliense na quarta-feira passada.
Sem mencionar, ainda, a asserção reproduzida em vários momentos pelos jornais de que é "osso duro de roer" e que a presidente irá mantê-lo no cargo apesar das denúncias da mídia. São manifestações que jamais devem ser ditas por um ministro de Estado, sobretudo por quem deve estar correndo o perigo de perder o posto. Pior ainda, quando, para arrefecer o clima de tensão criado, vai à Câmara dos Deputados e pede desculpas à presidente e ao povo pelos grotescos ditos. Quem proclama tanta estultícia, não pode ocupar cargo de ministro de Estado, ainda que tenha por trás o maior de todos os partidos políticos.
É compreensível que as nomeações de ministros tenham sido feitas nos atropelos da montagem do governo. A agitação e as expectativas geradas no início, as pressões exercidas por interessados e a participação de cabos eleitorais com possível densidade de votos, devem ter contribuído para a consumação dos equívocos perpetrados. Compreende-se, assim, que nessa arrumação se teve de levar em consideração o comprometimento dos interessados diretamente nos cargos, ou de seus apoiadores, com os responsáveis pelo núcleo de poder que se encarregou da formação inicial do primeiro escalão governamental. Faz-se conjecturar, pois, que, doravante, o nível dos membros a serem nomeados para a chefia dos principais órgãos do governo seja melhor, não só em capacitação técnica, mas também em lisura ética.
Não é sem razão que os ministros que perderam os cargos por supostas faltas se situem na abrangência da organização inicial do governo. É certo que os governantes não podem prescindir de apoio político para poder dirigir os entes estatais. Mas não é pela entrega de altos cargos públicos a qualquer pessoa, sem nenhum critério, que se há de pagar o preço para fazer política. O governo não pode errar de novo, sem deixar antes de mensurar a qualificação dos que venham fazer parte de um novo ministério.
A sociedade não pode padecer de erros dessa ordem. De outro lado, quem governa tem de correr os riscos que o múnus impõe. É mais plausível governar com riscos do que governar sem nenhum, com quem não serve.
O infortúnio do ministro do Trabalho se expôs ao resultado de quem se faz dono de partido. Sob esse pressuposto, não se vexou em armar o que pôde para fazer o que quis. Sem mandato, mas com o mandato dos outros, chegou aonde queria com os métodos que quis. Foi longe demais. Sem a presença de Leonel Brizola, o PDT passou a integrar a base de apoio parlamentar do governo durante o mandato presidencial passado e se estende pelo presente. Jamais, em vida, Brizola concordaria com a composição. Se fosse vivo, e tivesse assistido às sandices e ao pedido da humilhante clemência do ministro pedetista — vencido por alguma circunstância —, não se sabe o que faria de vergonha e tristeza
Maurício Corrêa
Somente agora, porém, depois de denúncias publicadas na imprensa, com a expressa citação de nomes diretamente ligados ao gabinete do ministro, é que a questão ganhou notoriedade. A graduação dos cargos dos servidores demitidos por ações sujeitas a sanções legais dá a magnitude dos atos que causaram. Mesmo que o ministro nada tenha a ver com a urdidura dos negócios, como exaustivamente tem sustentado, é impossível desatrelá-lo do centro deles, sem que os seus efeitos deixem de atingi-lo.
Com a perspectiva de que essa seja a compreensão que tenha de tudo, é inadmissível supor que não tenha podido exercer um mínimo de controle sobre o que se passava a seu lado dentro do ministério. Tanto mais quanto se sabe que pelo menos um dos servidores demitidos ocupava cargo de confiança de alto nível na estrutura do ministério, por sua própria indicação. É estranho imaginar que não possa ser de algum modo responsável pelos fatos, ainda que por omissão. Não fosse por isso, as declarações recentemente concedidas à imprensa sinalizam o grau do risco que o despreparo pode provocar, quando se trata de administração pública.
O equilíbrio e a prudência não devem ser atributos apenas dos estudados — e às vezes não são —, mas também dos que, embora não tendo o status, sabem bem cumprir os deveres de cidadão. Essa qualidade é ínsita a quem tenha juízo, não estando relacionada a graus de intelecção. Mesmo sob a pressão que recai sobre os ombros, não é de pensar que um ministro de Estado possa dizer, referindo-se à sua situação no governo, daqui "só saio abatido à bala", ou "duvido que ela me tire", como registrado pelo Correio Braziliense na quarta-feira passada.
Sem mencionar, ainda, a asserção reproduzida em vários momentos pelos jornais de que é "osso duro de roer" e que a presidente irá mantê-lo no cargo apesar das denúncias da mídia. São manifestações que jamais devem ser ditas por um ministro de Estado, sobretudo por quem deve estar correndo o perigo de perder o posto. Pior ainda, quando, para arrefecer o clima de tensão criado, vai à Câmara dos Deputados e pede desculpas à presidente e ao povo pelos grotescos ditos. Quem proclama tanta estultícia, não pode ocupar cargo de ministro de Estado, ainda que tenha por trás o maior de todos os partidos políticos.
É compreensível que as nomeações de ministros tenham sido feitas nos atropelos da montagem do governo. A agitação e as expectativas geradas no início, as pressões exercidas por interessados e a participação de cabos eleitorais com possível densidade de votos, devem ter contribuído para a consumação dos equívocos perpetrados. Compreende-se, assim, que nessa arrumação se teve de levar em consideração o comprometimento dos interessados diretamente nos cargos, ou de seus apoiadores, com os responsáveis pelo núcleo de poder que se encarregou da formação inicial do primeiro escalão governamental. Faz-se conjecturar, pois, que, doravante, o nível dos membros a serem nomeados para a chefia dos principais órgãos do governo seja melhor, não só em capacitação técnica, mas também em lisura ética.
Não é sem razão que os ministros que perderam os cargos por supostas faltas se situem na abrangência da organização inicial do governo. É certo que os governantes não podem prescindir de apoio político para poder dirigir os entes estatais. Mas não é pela entrega de altos cargos públicos a qualquer pessoa, sem nenhum critério, que se há de pagar o preço para fazer política. O governo não pode errar de novo, sem deixar antes de mensurar a qualificação dos que venham fazer parte de um novo ministério.
A sociedade não pode padecer de erros dessa ordem. De outro lado, quem governa tem de correr os riscos que o múnus impõe. É mais plausível governar com riscos do que governar sem nenhum, com quem não serve.
O infortúnio do ministro do Trabalho se expôs ao resultado de quem se faz dono de partido. Sob esse pressuposto, não se vexou em armar o que pôde para fazer o que quis. Sem mandato, mas com o mandato dos outros, chegou aonde queria com os métodos que quis. Foi longe demais. Sem a presença de Leonel Brizola, o PDT passou a integrar a base de apoio parlamentar do governo durante o mandato presidencial passado e se estende pelo presente. Jamais, em vida, Brizola concordaria com a composição. Se fosse vivo, e tivesse assistido às sandices e ao pedido da humilhante clemência do ministro pedetista — vencido por alguma circunstância —, não se sabe o que faria de vergonha e tristeza
Maurício Corrêa
Nenhum comentário:
Postar um comentário