Passada a fase de traição e surpresas nas mudanças eleitorais do Estado, as forças políticas vêm se reacomodando em torno das candidaturas do socialista Renato Casagrande e do tucano Luiz Paulo Vellozo Lucas, aparentemente reproduzindo as coligações nacionais. E o fato é que, com os três nomes até agora colocados, não há nenhum que represente uma ameaça de retrocesso, o que é muito positivo para o Espírito Santo.
Tanto Casagrande quanto Luiz Paulo vão se apresentar como colaboradores direitos e herdeiros da gestão do governador Paulo Hartung (PMDB). Diferenças de estilo, de linhas partidárias e até mesmo as composições com as candidaturas nacionais é que serão observadas pelo eleitor. Mas, de forma diferente, os dois fazem parte do mesmo projeto político que administra o Estado há quase oito anos. E nenhum deles representa uma volta ao passado.
Quanto a Brice Bragato (PSOL), sua candidatura alternativa vai dar a pimenta que faltava a um jogo que superou a fase da unanimidade e se torna mais democrático. É dela, por exemplo, a frase de que as candidaturas colocadas representam “farinha do mesmo saco” – a ex-deputada costuma ainda chamar o governador de “imperador”. É seu estilo.
Sobre o crime organizado, falar nele ficou banalizado na política capixaba, mas não deixou de ser importante. E é sinal de amadurecimento que tenhamos chegado ao processo eleitoral aparentemente sem essa sombra, mas vai ser importante observar os compromissos político-partidários assumidos pelos candidatos durante a campanha e os espaços que serão prometidos na futura gestão.
Porque o desafio do governador que será eleito em outubro pode ser muito maior do ponto de vista político do que administrativo. É claro que vai ser preciso manter as contas em dia, escolher bons quadros, focar em áreas que não foram bem sucedidas – principalmente a Segurança e o sistema prisional. Estabelecer, também, uma forma mais próxima de relacionamento com os movimentos sociais. Mas os problemas maiores podem vir na hora de garantir a sustentação política.
Esse apoio quase unânime construído em torno do governador aconteceu em função de um momento político único e também por conta do perfil do governador Paulo Hartung, que construiu uma luta do bem contra o mal. Foi essencial para a chamada virada de página do Estado, mas abafou o debate político e alimentou insatisfações.
O novo governador obviamente vai precisar de uma ampla base, mas dificilmente terá a unanimidade. E isso pode ser bom. Porque o contraditório faz parte da democracia. A construção de um novo padrão de relacionamento com a Assembleia Legislativa, que passe longe da “mordaça”, também será importante. Mas antes disso é preciso pensar em eleger um parlamento comprometido com a mudança – e nisso o governador tem razão quando demonstra preocupação.
Figuras de perfil controvertido existem em várias legendas e hoje estão distribuídas, inclusive, dentro deste governo. Mas acabaram neutralizadas sob o manto governista. E, por mais conciliador que o futuro governador ou governadora seja, vai ser difícil colocar todo mundo de novo no mesmo barco. Até porque as divisões já começaram antes da eleição, cenário diferente do consenso que vimos nos últimos pleitos.
Eleição de 2012 já está na mesa
É possível que acordos para a eleição municipal em 2012 sejam levados em conta na construção do caminho que será seguido pelo bloco que une PDT e PR. O que tem sido conversado nos bastidores é o seguinte:
- O prefeito Sérgio Vidigal (PDT) pode até sonhar em chegar à administração estadual em 2014, mas, antes disso, quer a reeleição na Serra e a reeleição, neste ano, da mulher dele, a deputada federal Sueli (PDT). Com os nomes colocados pelo PDT para a vaga de vice de Renato Casagrande (PSB), a avaliação de lideranças é de que dificilmente o partido conquistará esse espaço, que pode ficar mesmo com o PT.
Então a saída seria fechar acordos na Serra. Vidigal não faria as pazes com Audifax Barcelos – ex-PDT e que agora está no PSB –, mas os socialistas assumiriam o compromisso de que Audifax não disputaria a Prefeitura da Serra daqui a dois anos, deixando o caminho livre para Vidigal.
- Quanto ao PR, o problema não chega a ser o prefeito Neucimar Fraga. Continua havendo entre lideranças incômodo com o jeito Magno Malta (PR) de ser, resistências a seu estilo – há até quem comente que ele não quer ser candidato a senador, mas a “entidade”, tamanha a importância que reivindica no grupo. Magno, avaliam lideranças, corre o risco de pecar pela arrogância, afugentando parceiros. Então o que deve ser oferecido a Neucimar é parceria para a eleição de 2012 em Vila Velha.
Até porque, se ficar com o PSDB de Luiz Paulo Vellozo Lucas, o PR corre o risco de perder agora o comando regional do cobiçado Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes. Sem contar que Neucimar e Magno ajudariam na eleição de seus principais adversários: os Max (PTB).
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