Críticas dos EUA revelam grau de tensão do Brasil com grandes potências
O presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, deputado Emanuel Fernandes (SP), considerou “bastante duras” as declarações da secretária de Estado americana, Hillary Clinton, que afirmou nesta quinta-feira (27) ter divergências sérias em relação à postura do Brasil com o Irã.
Segundo o tucano, a vontade do presidente Lula de se colocar como protagonista nas principais questões mundiais expõe o Itamaraty e coloca o país em uma situação difícil. “As declarações mostram o grau de tensão entre o Brasil e as grandes potências. A pretensão do presidente Lula de se tornar líder mundial está nos colocando numa posição muito difícil”, afirmou Emanuel.
Hillary acusou o Irã de “usar” o governo brasileiro para ganhar tempo e disse que o pacto com Teerã deixa o mundo mais perigoso. Na mais dura declaração sobre a iniciativa brasileira, a secretária de Estado indica que divergências estão azedando as relações entre Washington e Brasília.
De acordo com o parlamentar do PSDB, as declarações mostram que o Brasil está na pior posição possível. “É muito sério ser enxergado como alguém que está ajudando o Irã a continuar o seu programa nuclear e a protelar um acordo”, afirmou.
Já o deputado Renato Amary (SP) disse que as declarações de Hillary são uma sinalização para que o presidente Lula tome providências cautelosas e reveja o seu posicionamento. “Essa questão envolve um problema muito sério não só para o Irã e o Brasil, mas para o mundo todo”, observou o tucano, também integrante da Comissão de Relações Exteriores.
Para Amary, o Brasil se expõe num momento em que a maioria das nações não vê o pacto com bons olhos. “O mundo inteiro clama para que o Irã não dê continuidade ao programa de enriquecimento de urânio e não desenvolva a bomba atômica, mas o presidente Lula parece não pensar assim", alertou o deputado.
Acordo é visto com desconfiança mundo afora
→ Pelo acordo mediado por Brasil e Turquia, o Irã se compromete a enviar 1.200 quilos de seu urânio para a Turquia, de onde o combustível seria enviado para ser enriquecido na Rússia e França. O acordo foi rejeitado pelos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, que, liderados pelos EUA, anunciaram um consenso para aplicar nova rodada de sanções contra o Irã.
→ O grande problema é que o Irã afirmou que vai continuar enriquecendo urânio a 20%, mesmo com o pacto. A Casa Branca afirma que o acordo Brasil-Turquia-Irã foi apenas uma tentativa de Teerã de evitar as sanções.
→ No relatório sobre a Estratégia de Segurança Nacional dos EUA, divulgado ontem, o governo americano não vê o Brasil como participante do bloco Bric, sigla que identifica as principais nações emergentes, se referindo apenas à Índia, Rússia e China. Enquanto essas três nações são chamadas de "centros de influência do século 21", o Brasil é classificado apenas como "nação cada vez mais influente" - mesmo grupo de Indonésia e África do Sul.
(Reportagem: Alessandra Galvão/Fotos: Eduardo Lacerda)
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