BRASÍLIA - O pré-candidato à Presidência José Serra (PSDB) abandonou de vez ontem o tom amistoso e disparou críticas contra o que classificou de falta de planejamento do governo federal para fazer investimentos em infraestrutura no País. A fala do tucano ocorreu ontem à tarde durante o 2º Exame Fórum, em São Paulo, que debateu o tema "A construção da 5ª maior economia do mundo". Pela manhã, a pré-candidata do PT, Dilma Rousseff, discorreu sobre as conquistas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva e as potencialidades do pré-sal.
Batendo firme na questão da falta de investimentos, Serra abriu sua fala dizendo que o País é a nona economia do mundo e que, para atingir o nível de crescimento de uma quinta economia do planeta até 2040, o Brasil deveria crescer a uma taxa de 4,5% ao ano, com aportes na faixa de 20% anuais.
Serra afirmou que o governo federal não tem programado os investimentos e que, por isso, muitas obras acabam ficando paradas. Para o tucano, a iniciativa privada está preparada para dar a sua contrapartida, mas depende de obras de infraestrutura que não foram feitas.
Serra citou como exemplos de maiores gargalos o fornecimento de energia e a infraestrutura aeroportuária, bem como as rodovias. "Uma análise entre 134 países mostrou que o Brasil está em 128º em ruindade de portos. A falta de infra-estrutura inibe o investimento privado."
Posteriormente, acrescentou que o escoamento da soja que sai do Mato Grosso para o Porto de Paranaguá, no Paraná, custa mais caro do que enviar a mesma carga para a China.
O tucano alertou que as concessões de termoelétricas estão vencendo em 2012 e que o governo não tomou nenhuma iniciativa ainda para tratar sobre elas. Sobre energia, ele citou que em Cuiabá, capital do Mato Grosso, a população ainda não dispõe do fornecimento de gás na região.
"A infraestrutura está toda lá e a população de Cuiabá, que tem o gasoduto boliviano vizinho à cidade não dispõe de gás. Como isso é possível?" questionou.
No final de sua fala, José Serra voltou a bater na tecla do aparelhamento do estado pelo PT, comparando com sua gestão à frente do Estado de São Paulo.
"No meu governo, nunca tivemos loteamento de cargos. O que acontece no governo federal é gravíssimo. No caso da Anvisa, tinha um candidato do PT que foi para lá e agora vai concorrer a deputado. Esse tipo de coisa 'perverteu' as agências reguladoras", afirmou Serra.
Do ponto de vista econômico, o tucano disse que para os investimentos serem feitos a contento é fundamental a integração da equipe econômica.
"Você tem de ter uma equipe econômica integrada, responsabilidade fiscal, monetária e cambial. Tem de ter toda uma equipe integrada: Fazenda, Planejamento, Banco Central. Trabalhando com determinação e conhecimento é possível fazer isso", alfinetou.
Serra recusou-se a responder a crítica do deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT), o Paulinho da Força, que disse que o tucano "não podia ser eleito de jeito nenhum". Ele também fugiu de perguntas relacionadas ao seu vice.
Pré-sal
Em relação ao pré-sal, Serra enalteceu as possibilidades que o petróleo pode viabilizar, mas alertou que é preciso ter critério em relação aos investimentos.
"O petróleo é uma benção, mas precisa ser bem aproveitado. Se não for bem aproveitado, nós podemos ter a dissolução de muito da atividade econômica doméstica e não investimentos para o futuro. É muito importante que os rendimentos do petróleo fiquem num fundo soberano e que sejam investidos nos seus retornos em estados, municípios, para o Brasil inteiro e para as regiões produtoras também."
A pré-candidata petista iniciou seu discurso dizendo que "o pré-sal é o nosso passaporte para o futuro". Ela também não poupou elogios aos progressos do governo Lula. "É sabido que a partir de 2003, quando começa a política industrial do governo Lula, implantou a volta da indústria naval. O governo deixa várias vantagens que devem ser ampliadas."
Dilma estimou que o País poderá ter um crescimento econômico de 5,5% a partir de 2014, consolidando a caminhada rumo ao patamar de 5ª economia do mundo. Dentre os desafios apontados por ela está "a ampliação de investimentos públicos e privados como o PAC".
Ela ainda sinalizou que poderá propor mudanças na Previdência Social que incluam um prazo mais longo de contribuição. "O tal do bônus demográfico nada mais é do que isso: a sua população em idade de trabalho ativo é maior que sua população dependente, jovem, criança e velho. Mas a terceira idade está ficando difícil. A gente vai ter que estender ela um pouco mais para lá".
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