terça-feira, 15 de novembro de 2011

O PAÍS DA POLITOCRACIA

É sistemática a desproclamação da República. Os escândalos na "coisa pública" se sucedem - sem fim. Mas, seguem impunes. Reina a ridicularização. Vereadores de Vila Velha ultrajaram a moqueca e os bombons, privatizando o dinheiro público para consumi-los. No Esporte ministerial, as "bolas" deixaram campos, quadras e pararam nas redes partidárias ou de dirigentes. Cada um dos 30 parlamentares estaduais custa R$ 70 mil mensais dos impostos. É a politocracia. Significa a usurpação da coisa pública pelos políticos, para os políticos e pelos políticos. As exceções estão em acelerada extinção.
Essa intensa negação da democracia provoca indignação crescente. Transborda para praças quando a crise econômica e o desemprego de jovens se agudizam. Na Espanha, a politocracia é caracterizada pela valorização dos interesses pessoais dos governantes e políticos e dos seus apaniguados. Depois, muito depois, resta uma longínqua e vaga reminiscência do "interesse público", do "bem comum".

Altos dirigentes de governos e políticos estão dissociados da sociedade. Os seus incontáveis privilégios afrontam e agravam as injustiças. As ideias e os programas ficam subjugados pelo cálculo particular dos custos e benefícios da sua atuação politocrática.

Cada ministério ou secretaria vira sede privativa do partido. Essa é a "ideologia". Os seus quadros passam a ser comissionados. Constata-se, notadamente no Planalto, o desvio do dinheiro público para fins escusos. "Malfeito", um partidário cai outro sobe. Essa cultura nefasta destroça boas ideias e práticas. Dois exemplos. ONGs passam a ser um dos dutos para desviar dinheiro da sociedade. Engendra-se o financiamento corruptivo de campanha. Tudo fica desfigurado. As políticas públicas se subordinam à voracidade dos interesses dos dirigentes e dos partidos, incluindo as campanhas eleitorais.

No Legislativo, além dos altos salários dos parlamentares em comparação com as médias dos trabalhadores, proliferam gastos adicionais, improdutivos, que dentam a desmesurada satisfação e a dissociação do representante de quem deveria representar. Basta falar dos assessores. Só a bancada federal do ES tem mais de 300. Não faltam carro, gasolina e celulares pagos com o nosso dinheiro. No Congresso Nacional, a saúde dos parlamentares passa longe do SUS. É estonteante o desequilíbrio entre o ônus dos parlamentos para a sociedade e os bônus para a democracia e a cidadania.

É essencial a reproclamação cotidiana da República - e não apenas a vaga lembrança neste 15 de novembro.

Roberto Garcia Simões - professor da Ufes e especiaIista em políticas públicas

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