terça-feira, 6 de dezembro de 2011

AMOR E ÓDIO EM BRASILIA

Pouco depois de se despedir do gabinete onde cumpria expediente na Esplanada dos Ministérios, na manhã de ontem, Carlos Lupi foi novamente dominado pela veia ao comentar o fim da trajetória no governo de Dilma Rousseff. "Com vocês (da imprensa) agora eu só falo por meio de nota oficial.

Vocês já destilaram todo o seu ódio. Agora, só por nota", esbravejou o ex-ministro. Na carta de demissão, divulgada no domingo, Lupi se disse perseguido pela mídia, como se os jornais fossem tribunais de exceção que não permitem a uma autoridade pública se explicar diante dos malfeitos.

Sexto ministro a cair por suspeita de corrupção na Esplanada este ano, Lupi misturou velhos argumentos usados por políticos em apuros — tudo é perseguição da mídia e da oposição — com um sentimentalismo inadequado para a real politik brasiliense. No início de novembro, após a revelação a público das irregularidades nos convênios entre ONGs e o Ministério do Trabalho, o então ministro adotou postura sobranceira. "Para me tirar do ministério, só se eu for abatido à bala. E tem de ser uma bala pesada, porque sou pesadão", disse, em 8 de novembro. Dois dias depois, na Câmara dos Deputados, Lupi moderou o tom. Apelou para a emoção. Diante dos deputados, tentou explicar ao Planalto o modo soberbo de rebater as denúncias. "Presidenta Dilma, desculpe se fui agressivo. Eu te amo." Na última sexta-feira, após a Comissão de Ética Pública votar pelo afastamento de Lupi, Dilma cortou o último vínculo afetivo com o subordinado. Com uma ironia que se tem tornado frequente em declarações públicas, revelou não ser mais propriamente romântica ou adolescente.

Lupi se mostrou desajustado com a nova ordem determinada pela presidente: eficiência, pragmatismo, impessoalidade e retidão pública — características a que o antecessor Lula dava menos atenção na relação com aliados e colaboradores. Página virada na pasta do Trabalho, Dilma se prepara para começar uma nova etapa de governo, com uma possível reforma ministerial. Talvez seja a hora de aplicar a frase que a própria presidente usou durante a última crise: "O passado simplesmente passou".

Mas há questões que resistem a eventuais trocas de ministros. O loteamento partidário na Esplanada e a relação com os aliados no Congresso seguem como dos principais entraves à gestão que Dilma pretende impor. O passado insiste em ficar na Esplanada

Carlos Alexandre - Correio Brasiliense

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