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sexta-feira, 11 de outubro de 2013

COMO MELHORAR A OFERTA DE SERVIÇOS PÚBLICOS PARA A NOVA CLASSE MÉDIA?

Protesto no Brasil (Getty)
Para Banco Mundial, América Latina precisa suprir ‘lacunas’ em serviços públicos
Quando estudantes, profissionais e integrantes de uma nova classe média saíram às ruas de Brasil, Chile e Peru nos últimos meses para reivindicar mais e melhores serviços públicos, logo surgiu um debate sobre como essas demandas poderiam ser atendidas.
Para acadêmicos e autoridades econômicas reunidas em um evento em Washington que abordou o tema, a resposta passa por mudanças de prioridades no direcionamento das políticas públicas, mais investimentos em infraestrutura e reformas estruturais para aumentar as capacidades das economias no longo prazo – e por consequência, dar prosseguimento à prosperidade que esses países vinham experimentando.
O debate desta quinta-feira, parte do programa da reunião semestral do FMI e do Banco Mundial (Bird) na capital americana, reuniu opiniões como a presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, e o presidente do Bird, Jim Yong Kim.
Os palestrantes ressaltaram que as manifestações sacudiram um continente onde 50 milhões de pessoas engrossaram a classe média na última década.
Jim Yong Kim disse que a classe média abarca hoje 32% da população latino-americana – proporção maior que a de pobres (27%) pela primeira vez na história. Essa nova configuração social colocou pressão em serviços públicos, como saúde, educação e transporte.
"As novas classes médias estão pagando caro por serviços que não recebem", disse o vice-presidente para América Latina da instituição, Hasan Tuluy, referindo-se à incapacidade do setor público de alguns países latino-americanos de acompanhar a mobilidade ascendente de suas próprias classes sociais.
"As novas classes médias estão pagando caro por serviços que não recebem ", disse o vice-presidente para América Latina do Banco Mundial."
Hasan Tuluy, vice-presidente para América Latina do Banco Mundial
"Não significa que os governos fracassaram", disse Tuluy. Pelo contrário: Chile, Brasil ou Peru são bons exemplos de sociedades onde grandes faixas da população transitaram de uma condição de baixa renda para média.
Para atender às novas demandas, os governos terão de superar dificuldades "financeiras e institucionais", ele afirmou.

'Agenda diferente'

Até agora, a receita de combate à pobreza do continente se baseou em programas de transferência de renda.
Mas daqui para frente, "a agenda para dar continuidade à prosperidade é totalmente diferente da agenda que gerou a prosperidade até agora", argumentou o ministro de Economia e Finanças do Uruguai, Fernando Lorenzo.
"Temos uma enorme tarefa de expansão dos serviços básicos, e isso coloca uma questão diferente de financiamento e estrutura de gastos", ele afirmou.
O ministro colombiano do Tesouro, Maurício Cárdenas, lembrou as novas classes médias, em muitos casos, criam demandas por serviços do governo mas contribuem relativamente pouco com o caixa, dada a arquitetura dos governos e a própria capacidade econômica dessas classes.
A especialista Nancy Birdsall, presidente do Centro para o Desenvolvimento Global, disse que países da região podem fazer reformas fiscais para taxar melhor as classes mais altas.
Muitos governos da região enfatizam as receitas a partir de impostos sobre mercadorias, que têm pouca progressividade, ela exemplificou. É o que o Banco Mundial chama de "ciclo vicioso de baixa tributação e baixa qualidade de serviços públicos".
Para Birdsall, a região também se beneficiaria de reformas legislativas para incentivar contratações e reduzir a informalidade.
O ministro uruguaio lembrou que tais reformas – quer sejam tributárias, fiscais ou outras – passam por destravar resistências políticas e corporativas. "Vou ser claro", disse o ministro. "Não há receita. Não é o mesmo processo por que passamos até agora: é mais complexo."
Lorenzo disse que "negociar reformas tributárias é um esforço político tremendo", e que o atual impasse que paralisou Washington é um bom exemplo disso.

'Reforçar o contrato social'

"Nenhum país está imune a uma revolução via Twitter"
Jim Yong Kim, presidente do Banco Mundial
Porém, na avaliação do vice-presidente do Banco Mundial Hasan Tuluy, encontrar soluções para atender às novas demandas é a única forma de "reforçar o contrato social" nas economias latino-americanas.
Participantes do painel apontaram o risco de que as demandas não atendidas levem a uma "crise de representatividade" nos países afetados por protestos. O presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, lembrou que "nenhum país está imune a uma revolução via Twitter".
Mas a diretora da organização Latinobarómetro, Marta Lagos, crê que essa crise é uma "explosão de pluralidade". "Vejo isso como um processo positivo", disse Lagos.
Em sua intervenção ao encerrar a discussão, Luciano Coutinho disse que a ascensão social na América Latina está criando "três pressões": sobre o mercado de trabalho, o sistema de seguridade social e a saúde.
Além disso, as manifestações pedem mais investimentos em infraestrutura econômica e social não só nas cidades, como no campo. "Isso contrasta com a escassez de poupança, escassez de capacidade fiscal e crédito de longo prazo", diagnosticou o presidente do BNDES.
"O grande problema é que não se pode fazer reformas sem priorizar tanto a poupança fiscal quanto a capacidade de investimento", avaliou Coutinho, apontando para as parcerias entre os setores público e privado como uma das possíveis soluções.
Coutinho concordou que a crise de representação pode ser "perigosa" para a democracia, se não for tratada pelos governos.

Para ele, os governos precisam fazer com que as classes médias sejam "um fator que impulsione a democratização e a transformação (social) em um sentido positivo, e não um fator de divisão e paralisia da sociedade".
Fonte: BBC Brasil

domingo, 23 de janeiro de 2011

A CHINA E A CONQUISTA DAS AMÉRICAS.

"Os que encontro no meu país não são os mesmos que conheci nos EUA. Isolam-se socialmente. Vivem pretensiosamente. São barulhentos e ostentam demais." A citação é do livro Americano Feio, de William Lederer, escrito em 1958.


Semana passada, quando o primeiro ministro chinês, Hu Jintao, chegou a Washington, seus marqueteiros jogaram pesado. A ofensiva publicitária tomou conta das ruas, das manchetes e dos lares americanos, com dezenas de spots comerciais e um documentário de 30 minutos sobre a China moderna veiculado pelo canal CNN.

Celebridades globais, como o craque da liga de basquete Yao Ming, o pianista Lang Lang e o cineasta John Woo cantaram as virtudes do Império do Meio. A rasgação de seda ficará em cartaz nos painéis luminosos da Times Square, por onde passam 1,7 milhões de pessoas por dia, até meados de fevereiro.

Parece charme, mas é um golpe preventivo. Há tempos, a China virou alvo predileto dos americanos, convencidos de que o monstro dos países emergentes é o exterminador do seu futuro. Nenhuma sessão no Congresso e nenhum bate-papo em programas de rádio seria completo sem uma investida contra o dragão asiático, que, pelo que se ouve, está empenhado em roubar empregos, travar uma guerra suja cambial e afogar o mercado com máquinas, roupas e bugigangas baratas.

Ainda é cedo para se saber se a campanha de Pequim surtirá efeito. A portentosa China tem também um problema de imagem de seu tamanho. Mas bem que a missão simpatia poderia se esticar um pouco para o sul do continente. Muita bobagem já saiu do disco rígido de Julian Assange, mas graças ao WikiLeaks temos hoje um retrato razoável das atitudes e preocupações da diplomacia americana e de seus interlocutores. Visto há anos na África e na Ásia como um país predador, a China tampouco está bem na fita no Novo Mundo.

Empresários brasileiros e argentinos acusam as indústrias chinesas de dumping de manufaturados baratos e clamam por novas salvaguardas contra importações. Legisladores erguem barreiras à compra de terra por estrangeiros para conter o furor aquisitivo chinês.

Os países das Américas se orgulham de receber os imigrantes de braços abertos. Mas e se as economias começarem a perder o fôlego? Os novos forasteiros que chegam com capital, ambição e planos - já são 100 mil chineses na Argentina - também serão saudados como hermanos?

Segundo um comunicado de 2009, divulgado pelo WikiLeaks, as empresas chinesas já são tachadas de "gafanhotos", de acordo com Christopher Beede, do Consulado Americano em Xangai, ao relatar uma conversa com estudiosos chineses. Os depoimentos aparentemente refletem um sentimento popular. Em diversos países, sindicalistas reagem à contratação de mão de obra chinesa, funcionários "importados" que não comem com os nativos, dormem em bairros exclusivos e não fazem questão de falar espanhol ou português.

Um exemplo preocupante é San Juan de Monarca, no Peru. Desde os anos 90, operários peruanos na cidade travam uma longa batalha com a siderúrgica Shougang, que sustenta uma elite de funcionários chineses com privilégios, restaurantes próprios e moradia separada. A empresa já foi multada por não cumprir um projeto de investir na infraestrutura municipal.

Mesmo quando a China é louvada, a apreciação vem tingida de frustração. Aos diplomatas americanos, o cônsul argentino em Xangai, Eduardo Ablin, se disse grato à empresa americana Kentucky Fried Chicken por ter "viciado" os chineses em comer asas de frango frito (de aves fornecidas de granjas argentinas). Ao mesmo tempo, ele se queixou do ritmo lento de investimentos chineses. "Há muito mais conversa do que ação", disse Ablin aos americanos.

Nenhuma surpresa nisso. O ressentimento é o reverso da dependência. E a da América Latina com relação à China só cresce. Quase nula na região há 20 anos, Pequim hoje toma um espaço imperial. De 2000 a 2009, as importações chinesas da região cresceram oito vezes, de $5 bilhões a $44 bilhões.

No mesmo período, as vendas chinesas para as Américas disparam, de $4,5 bilhões para $42 bilhões. A China hoje é o parceiro comercial mais importante do Brasil e do Chile e, logo mais, segundo previsões, será do Peru. Até 2015, a China deve ultrapassar a União Europeia em suas trocas com as Américas Central e do Sul.

Não faz muito tempo que a ascensão de um novo poder na região alegraria qualquer nacionalista latino-americano mordido com o poder ostensivo e a arrogância dos gringos - os tais americanos feios que mandavam e desmandavam. Agora, os gringos falam mandarim.


Fonte: O Estadão. http://bit.ly/hIYmAG