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sexta-feira, 11 de outubro de 2013

COMO MELHORAR A OFERTA DE SERVIÇOS PÚBLICOS PARA A NOVA CLASSE MÉDIA?

Protesto no Brasil (Getty)
Para Banco Mundial, América Latina precisa suprir ‘lacunas’ em serviços públicos
Quando estudantes, profissionais e integrantes de uma nova classe média saíram às ruas de Brasil, Chile e Peru nos últimos meses para reivindicar mais e melhores serviços públicos, logo surgiu um debate sobre como essas demandas poderiam ser atendidas.
Para acadêmicos e autoridades econômicas reunidas em um evento em Washington que abordou o tema, a resposta passa por mudanças de prioridades no direcionamento das políticas públicas, mais investimentos em infraestrutura e reformas estruturais para aumentar as capacidades das economias no longo prazo – e por consequência, dar prosseguimento à prosperidade que esses países vinham experimentando.
O debate desta quinta-feira, parte do programa da reunião semestral do FMI e do Banco Mundial (Bird) na capital americana, reuniu opiniões como a presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, e o presidente do Bird, Jim Yong Kim.
Os palestrantes ressaltaram que as manifestações sacudiram um continente onde 50 milhões de pessoas engrossaram a classe média na última década.
Jim Yong Kim disse que a classe média abarca hoje 32% da população latino-americana – proporção maior que a de pobres (27%) pela primeira vez na história. Essa nova configuração social colocou pressão em serviços públicos, como saúde, educação e transporte.
"As novas classes médias estão pagando caro por serviços que não recebem", disse o vice-presidente para América Latina da instituição, Hasan Tuluy, referindo-se à incapacidade do setor público de alguns países latino-americanos de acompanhar a mobilidade ascendente de suas próprias classes sociais.
"As novas classes médias estão pagando caro por serviços que não recebem ", disse o vice-presidente para América Latina do Banco Mundial."
Hasan Tuluy, vice-presidente para América Latina do Banco Mundial
"Não significa que os governos fracassaram", disse Tuluy. Pelo contrário: Chile, Brasil ou Peru são bons exemplos de sociedades onde grandes faixas da população transitaram de uma condição de baixa renda para média.
Para atender às novas demandas, os governos terão de superar dificuldades "financeiras e institucionais", ele afirmou.

'Agenda diferente'

Até agora, a receita de combate à pobreza do continente se baseou em programas de transferência de renda.
Mas daqui para frente, "a agenda para dar continuidade à prosperidade é totalmente diferente da agenda que gerou a prosperidade até agora", argumentou o ministro de Economia e Finanças do Uruguai, Fernando Lorenzo.
"Temos uma enorme tarefa de expansão dos serviços básicos, e isso coloca uma questão diferente de financiamento e estrutura de gastos", ele afirmou.
O ministro colombiano do Tesouro, Maurício Cárdenas, lembrou as novas classes médias, em muitos casos, criam demandas por serviços do governo mas contribuem relativamente pouco com o caixa, dada a arquitetura dos governos e a própria capacidade econômica dessas classes.
A especialista Nancy Birdsall, presidente do Centro para o Desenvolvimento Global, disse que países da região podem fazer reformas fiscais para taxar melhor as classes mais altas.
Muitos governos da região enfatizam as receitas a partir de impostos sobre mercadorias, que têm pouca progressividade, ela exemplificou. É o que o Banco Mundial chama de "ciclo vicioso de baixa tributação e baixa qualidade de serviços públicos".
Para Birdsall, a região também se beneficiaria de reformas legislativas para incentivar contratações e reduzir a informalidade.
O ministro uruguaio lembrou que tais reformas – quer sejam tributárias, fiscais ou outras – passam por destravar resistências políticas e corporativas. "Vou ser claro", disse o ministro. "Não há receita. Não é o mesmo processo por que passamos até agora: é mais complexo."
Lorenzo disse que "negociar reformas tributárias é um esforço político tremendo", e que o atual impasse que paralisou Washington é um bom exemplo disso.

'Reforçar o contrato social'

"Nenhum país está imune a uma revolução via Twitter"
Jim Yong Kim, presidente do Banco Mundial
Porém, na avaliação do vice-presidente do Banco Mundial Hasan Tuluy, encontrar soluções para atender às novas demandas é a única forma de "reforçar o contrato social" nas economias latino-americanas.
Participantes do painel apontaram o risco de que as demandas não atendidas levem a uma "crise de representatividade" nos países afetados por protestos. O presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, lembrou que "nenhum país está imune a uma revolução via Twitter".
Mas a diretora da organização Latinobarómetro, Marta Lagos, crê que essa crise é uma "explosão de pluralidade". "Vejo isso como um processo positivo", disse Lagos.
Em sua intervenção ao encerrar a discussão, Luciano Coutinho disse que a ascensão social na América Latina está criando "três pressões": sobre o mercado de trabalho, o sistema de seguridade social e a saúde.
Além disso, as manifestações pedem mais investimentos em infraestrutura econômica e social não só nas cidades, como no campo. "Isso contrasta com a escassez de poupança, escassez de capacidade fiscal e crédito de longo prazo", diagnosticou o presidente do BNDES.
"O grande problema é que não se pode fazer reformas sem priorizar tanto a poupança fiscal quanto a capacidade de investimento", avaliou Coutinho, apontando para as parcerias entre os setores público e privado como uma das possíveis soluções.
Coutinho concordou que a crise de representação pode ser "perigosa" para a democracia, se não for tratada pelos governos.

Para ele, os governos precisam fazer com que as classes médias sejam "um fator que impulsione a democratização e a transformação (social) em um sentido positivo, e não um fator de divisão e paralisia da sociedade".
Fonte: BBC Brasil

sábado, 24 de março de 2012

BOLHA DE SABÃO



 Empresa do grupo BNP Paribas, a Cetelem divulgou os resultados de pesquisa que aponta que a classe C, a nova classe média brasileira, já agrega 103 milhões de consumidores. O levantamento revela também crescimento em ritmo acelerado das chamadas classes A e B, enquanto que as D e E registram movimento inverso, com redução do contingente de 51% para 21% da população, em 2011.
Segundo analistas, o crescimento da classe C, principalmente, decorre do aumento de renda do trabalhador, do crescimento do Produto Interno Bruto e das políticas sociais do governo, em especial as que distribuem renda. Essa conjunção de fatores por certo tem embasamento acadêmico, mas na prática significa algo como andar sobre a corda bamba.

O aumento de renda citado pelos especialistas tem participação parcial no crescimento da classe média, pois a ascensão dos consumidores se deu não por geração de riqueza, mas, sim, por causa do crédito fácil. O que a pesquisa não mostrou é que esses a alegria desses incautos consumidores, que acreditaram nos discursos ufanistas de Luiz Inácio da Silva, hoje enfrentam a tristeza patrocinada pelo endividamento recorde das famílias brasileiras.

O crescimento da economia verde-loura, cuja sustentabilidade suscita dúvidas, poderia ser mais sólido se o governo federal patrocinasse uma reforma tributária com o objetivo de reduzindo a carga de impostos incidente sobre produtos e serviços, uma vez que a contrapartida daquilo que é pago pelo contribuinte nunca aparece. Exemplo maior dessa situação descompensada está nos valores liberados pelos órgãos federais para as obras de infraestrutura, cada vez mais precária.

Outro item que contribuiria para a solidez da economia nacional é a redução das taxas de juro, algo temeroso diante da resistência da inflação, item mais polêmico do amaldiçoado espólio deixado pelo ex-presidente Lula. No momento em que o Palácio do Planalto compreender que o conjunto de medidas sugerido por este noticioso e outros tantos veículos de comunicação pode resultar em crescimento maior e perene, a situação do País pode melhorar sobremaneira. Essa mudança só não ocorre porque o governo resiste em desaparelhar a máquina e cortar gastos desnecessários

Fonte: Ucho.Info

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

R$ 100 BI SÓ DE JUROS

Consumidor paga R$ 1 mil por ano em despesas financeiras

Rotativo do cartão de crédito, conta com atraso ou parcelamento de compras. Essas atitudes, que hoje fazem parte da rotina de muitos brasileiros, escondem uma armadilha: o juro. E a nova classe média é a que mais sente os efeitos e paga R$ 100 bilhões de juros todos os anos. Isso significa que cada pessoa desembolsa mais de R$ 1 mil com despesas financeiras anualmente.

São 95 milhões de pessoas no país com renda familiar mensal entre R$ 1 mil e R$ 4 mil. Juntos, esses brasileiros somam 52% da população brasileira e movimentam R$ 1,1 trilhão no mercado interno.

Para se ter uma ideia da imensidão do valor pago em juros, R$ 100 bilhões correspondem a quase metade de toda a
foto: Carlos Alberto Silva
ES - Vitória - A empresária Tatiane Soares não costuma usar cartão de crédito no pagamento de suas compras
"Prefiro comprar à vista para fugir dos juros. Compras no cartão, só se for para pagar a fatura toda".

Tatiane Soares, dona de restaurante
despesa do governo federal nos últimos doze meses com pagamento de juro da dívida pública, de R$ 230 bilhões.

O pior é que esse índice é velado. A percepção que se tem, declarada ao IBGE, é que está pagando "só" R$ 3 bilhões. Isso significa que a classe média acha que paga R$ 30 por ano em juros. Mas paga R$ 1 mil.

O estudo sobre a despesa foi apresentado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) esta semana, durante o 3º Fórum Banco Central sobre Inclusão Financeira.

Mas por que o espelho mostra uma imagem tão distorcida das finanças? O ministro da SAE, Moreira Franco, explica que falta de transparência na apresentação das informações "Quando a classe média compra um produto, o juro está embutido naquele preço, mas ela não sabe que o juro está ali", argumenta.

Moreira Franco avalia que os dados sobre pagamento de juros mostram que é preciso "esforço" pela transparência das informações.

"Para se ter ideia, essa nova classe media é responsável por colocar no mercado coisa em torno de R$ 1,1 trilhão. É algo maior do que o PIB de Portugal. Esse segmento é uma base que precisa ser preservada. Isso significa que temos que começar esforço no sentido de dar mais transparência ao consumidor, na propaganda. Para que ela (classe C) saiba o que é o preço e o que é juro pago", disse.

Juros escondidosPara o economista, Laudeir Frauches, um grave problema é a percepção de que existe compra a prazo sem juros. "Vemos muito, no Brasil, a expressão ?sem juros?. Isso é dito como se fosse possível alguém emprestar dinheiro sem cobrar por ele. Afinal, quando há uma compra, alguém está disponibilizando para o consumidor um valor por algum período".

Outro ponto que pode deixar o brasileiro com orçamento no vermelho é falta de planejamento. "Juro é o preço da impaciência. Antes de fazer uma compra, responda a três perguntas: você precisa do objeto? Tem dinheiro para a compra? Precisa comprar agora? Se a resposta para as três perguntas for sim, feche negócio"
Conheça seus direitos
Abuso
É possível verificar se o cidadão foi vítima de juros abusivos. No entanto, isso não é tão simples, já que não há uma tabela com os valores que podem ser cobrados no Brasil.

Justiça
Há consumidores que entram com ações judiciais por não conseguirem pagar a dívida. A Justiça entende, em muitos casos, que apesar de as taxas serem pactuadas no contrato, são abusivas. Mas isso é analisado caso a caso.

Oferta de crédito
A Justiça avalia, em ações como essa, como é feita a oferta de crédito, ou seja, se ficou claro na oferta quanto o consumidor vai pagar e quais são as taxas. Uma resolução do Banco Central determina que toda instituição que oferece financiamento deve detalhar como será a apresentação dos juros.

Como reclamar
A primeira porta pode ser o Procon. Para isso, é interessante ter em mãos todos os extratos de pagamento e o contrato. Além disso é válido levar a oferta de crédito, ou seja, a forma como você chegou a essa instituição. Nos Procons há setores de cálculo, que vão detalhar os juros e saber se são os que estão no contrato.

Fonte: Lorena Tamanini, advogada especialista em defesa do consumidor.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

SENHOR DA RAZÃO.



A crise financeira internacional de 2008 singrava os mares na direção do Brasil quando, em dezembro daquele ano, Luiz Inácio da Silva ocupou os meios de comunicação para pedir aos brasileiros a manutenção do consumo em níveis elevados, como forma de evitar as reticências do que ele chamou de “marolinha”. À época, mesmo sob as críticas peçonhentas de Lula, os jornalistas do ucho.info alertaram para a irresponsabilidade do pedido presidencial, pois em jogo estava o consumo descontrolado, o endividamento recorde das famílias brasileiras e o crescimento da inadimplência.

Na tarde desta terça-feira (27), o Banco Central informou que a taxa de inadimplência de pessoas físicas e jurídicas, que mede atrasos de pagamento superiores a noventa dias, subiu de 5,2% em julho para 5,3% em agosto. Sem contar os atrasos inferiores a esse período.

Na última semana, o BC alertou que a crise financeira internacional pode acelerar desemprego e empurrar para baixo a renda no Brasil, o que no final da linha deve provocar o aumento da inadimplência das pessoas físicas, se considerado “o crescente endividamento das famílias nos últimos anos”.

Foi com essa fórmula milagrosa (sic) que o populista Lula arremessou 39 milhões de novos consumidores na chamada classe média. Lula disse que nós, assim como outros raros veículos de comunicação, torcíamos contra o Brasil, mas a nossa obrigação era – e continua sendo – alerta o povo das armadilhas que existem nos discursos dos políticos.

Engessada politicamente, pois foi eleita na esteira da popularidade de Lula da Silva, a presidente Dilma Rousseff pouco pode falar sobre o que recebeu do antecessor, mas é sabido que a situação econômica interna do País não é das melhores, por mais que alguns especialistas afirmem o contrário.

Fonte: Ucho.Info

quinta-feira, 9 de junho de 2011

NOSSA DEMOCRACIA CLAMA PELAS CAMADAS MÉDIAS. (Mara Kramer)

A cidadania, entendida como a consciênciado compromisso de cada um de nós com relação a todos os aspectos que interferemna vida nacional, pode ser exercida de várias formas. Não obstante, um dossímbolos marcantes desta condição coletiva de interferir diretamente nos rumosde um país é a manifestação popular nas ruas. A manifestação popular,espontânea ou organizada por instituições da sociedade civil, é a imagem maisforte do povo unido que assume sua liderança na democracia, expressandodiretamente em primeira pessoa, suas reivindicações, criticas e propostas.Assim como a eleição, a manifestação popular reforça a democracia e o papel dopovo no centro do debate e das decisões políticas, simboliza a responsabilidadee a força de uma sociedade madura. É desnecessário dizer que esta práticaparticipa do cotidiano de todas as sociedades europeias e dos milenares povos orientais.

No Brasil, entretanto, existe uma granderesistência da população em manifestar-se coletiva e publicamente. Sabemos queo governo petista cooptou as habituais instituições de protesto popular como aUNE e os sindicatos. Logicamente, esta circunstância dificulta a organizaçãosocial, mas sabemos também que a pratica de manifestar-se não participa denossa tradição política, e os motivos pelos quais mantemos esta posturaanti-cidadã não estão claros. No presente artigo gostaria de refletir sobreeste tema objetivando entender melhor nosso comportamento político enquantopovo, embora tenha consciência do quanto é delicado o assunto no qual meadentro. Esclareço que o conteúdo aqui apresentado é resultado de leituras eobservações, mas não foi submetido aos parâmetros de um trabalho científico.

Nas sociedades onde predomina a culturarural é comum uma divisão social dicotômica e antagônica. Por um lado os donosda terra, detentores do poder político, econômico e cultural; por outro umamaioria de trabalhadores rurais, dependentes econômica e politicamente dosprimeiros. Estes necessitam tanto laborar nas terras do grande proprietário parasobreviver, assim como carecem de sua proteção e bendição. De forma bastantebreve, esta é a realidade socioeconômica brasileira desde o descobrimento até bastanteentrado o século XX, e em algumas regiões ainda permanece. Desde as CapitaniasHereditárias e seus donatários, passando pelo ciclo da cana de açúcar nolitoral, até as fazendas de gado e café do Sul e Sudeste, observa-se a reproduçãocontínua deste modelo. A figura do latifundiário, paternalista e escravocrataestendeu-se por todo o país. Ao poder econômico originado no campo agrega-se opoder político. O período emblemático desta situação é a “política do café comleite” nos primeiros quarenta anos da República. No Brasil esta estrutura chegouuma situação extrema, pois ao dono da terra se contrapõe a figura do escravoafricano, seres humanos tratados exclusivamente como instrumento de trabalho. Ospoucos trabalhadores livres, comerciantes, etc. dos primeiros séculos deveriamintegrar-se no sistema para sobreviver, o que significava submeter-se à elitelatifundiária.  Neste sentido, a dicotomia,o antagonismo e a hierarquia constituem a gênese da organização socioeconômicado Brasil.

Esta situação começa a alterar-se no finaldo século XIX com o crescimento das cidades, a incipiente industrialização noSudeste, a Proclamação da República, a abolição da escravatura, e a chegada dosimigrantes europeus como trabalhadores assalariados. Todos estes aspectos estãorelacionados com a idéia de modernização de raiz europeia, que preconiza aurbanização, a industrialização, a democracia, o liberalismo econômico como condiçõespara alcançar o progresso, e como consequência o desenvolvimento de uma camadamédia da população. Assim, as camadas médias são resultado do processo demodernização introduzido no país. Entretanto o desenvolvimento e organizaçãodeste setor não tem sido fácil devido sua recente trajetória e a instabilidadeeconômica e política do país que acompanha a história da República.  Nestas condições esta parcela da populaçãosegue insegura com relação ao seu caráter e posição sociopolítica. Comoexpressão desta postura vacilante observa-se a dificuldade da construção deparâmetros claros que lhe permitam obter uma identidade própria. Neste contextonossas camadas médias se equilibram entre os dois polos, as camadas baixas ealtas, tanto no sentido econômico, quanto no sentido de identidade cultural, aqual inclui a política.

É um clássico dizer que as camadas médiasse espelham na elite, mas em nosso país esta máxima adquire ainda maior pesoconsiderando a contundência histórica da dicotomia, antagonismo e hierarquia nocampo social, sua fragilidade e a ausência de nitidez quanto ao seu papelpolítico na sociedade. Estes aspectos demonstram a existência de uma dificuldadede definição conceitual das camadas médias no Brasil, o que as impede deassumir uma posição autônoma na dinâmica política. Tendo em vista este contexto,sua opção é privilegiar um comportamento que a distancie das classes baixas e asaproxime das altas.
 
Corrobora para esta conclusão de basehistórica o discurso recorrente de integrantes das camadas médias brasileiras quandoindagados de porque não participam de manifestações populares. As respostascostumam ter este teor: “quem faz passeata é petista”(leia-se camadas baixas),“as pessoas bem postas não necessitam sair à rua para manifestar-se”, ou “semanifesta quem não tem o que comer”, “uma pessoa de bem não participa destas coisas”,e por aí vai. Estes comentários demonstram claramente o caráter elitista ehierárquico dos entrevistados, pois indicam que a manifestação popular é umaatividade para os necessitados, miseráveis, exatamente aqueles dos quais ascamadas médias desejam afastar-se. A não-identificação com as camadas baixas éuma luta constante das classes médias brasileiras, pois manter o status não é uma tarefa fácil em um paísem constante turbulência econômica e política. Paralelamente, ao afastar-se deum extremo ela aproxima-se do outro extremo, as camadas altas. Logicamente, aproximidade com a elite é interessante para as camadas médias, tanto por razõespraticas (profissionais, sociais, etc.), quanto por razões simbólicas. Entretanto,ao avaliar a questão política a partir da imagem social, as camadas médias abremmão de sua capacidade qualitativa e quantitativa de intervir na movimentaçãopolítica do país segundo seus interesses.  

Parte do problema reside na ausência decaráter das camadas médias no país, determinado por suas características,problemática, contexto, reivindicações, expectativas, filosofia, etc. peculiares.Estas devem contribuir para o avanço do conjunto da população, mas contêmperspectivas e exigências próprias relativas ao seu modus de vida. Sua luta deveria ser neste sentido, mas não é, poisa identificação com as camadas altas retira-lhes o foco do combate em prol desuas necessidades, princípios, projetos e soluções para os problemas específicos. Seu espaço no cenário político ficavazio. As camadas médias passam a constituir uma força política em potencial,mas inerte, abafada por sua própria inconsciência. 

É bem verdade, que as camadas médiasbrasileiras encontraram nos últimos tempos um meio de expressão, a internet.Esta ferramenta tem sido amplamente utilizada por esta parcela da populaçãopara mostrar sua indignação e repúdio à política atual, sobretudo a partir daseleições de 2010, e verifica-se que tem obtido bons resultados. Logicamente, amovimentação política via internet é positiva e tem demonstrado nos quatrocantos do mundo sua eficiência, além de sua contemporaneidade. No Brasil, sobmeu ponto de vista, evidencia um desejo de participação e interesse político inéditoem grande escala. Entretanto, penso que fazer da internet o “espaço” exclusivoda luta política das camadas médias é um tema que merece maior atenção. É ainternet suficiente como meio difusor do processo de construção de cidadania? Épossível apenas através da internet alcançar a totalidade da população einclui-la no processo de construção da cidadania?  Nos demais países a intervenção da internetlimita-se a difusão de idéias que visam a mobilização e o debate no mundo real,porque no Brasil este fenômeno não ocorre?

Penso que a reflexão sobre a ação “delimitada”das camadas médias no mundo político nacional, incluindo sua resistência aparticipar das manifestações populares, poderia estimular o debate sobre o temae uma revisão de postura. As camadas médias crescem no país, e, portanto ganhamforça, qualidade que não deve ser desperdiçada, menos em um momento no qual opaís passa por grave crise moral e política. Neste momento, este contingente dapopulação é chamado a manifestar-se consistentemente na busca da revalorizaçãodos princípios morais e éticos os quais sempre defendeu. É convocado a exigircompromisso e competência dos políticos na gestão pública e responsabilidadecom os recursos públicos. A atuação ativa das camadas intermediárias no campopolítico é insubstituível e indispensável para o amadurecimento político de umpaís.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

CLASSE C: UM FATO CRÍTICO.

Um fato crítico em ciência significa um fato que prende a atenção e, que por isso, precisa ser explicado. A classe média baixa ou C tornou-se um fato crítico por alguns motivos. Entre eles é preciso explicar que a ascensão de parcela da classe baixa ou D à classe C, tem sido usada pelo governo petista como feito unicamente seu, mas, principalmente, como ato redentor de Lula da Silva, o salvador da pátria.


Todavia, a política distributivista que proporcionou a mobilidade social ascendente de uma parcela de brasileiros foi um processo desencadeado no governo de Fernando Henrique Cardoso. Prosseguiu no governo Lula com o apelo constante ao consumismo facilitado em suaves prestações e caridades oficiais.

Fundamentalmente, porém, a melhoria do nível de vida da população brasileira como um todo foi impulsionada pelo Plano Real de FHC, que domou a inflação e estabilizou a economia. Sem isso seria impossível grandes mudanças na pirâmide social.

Recentemente a classe C tornou-se de novo fato crítico a merecer explicação. Isso se deu quando o ex-presidente FHC, em artigo para uma revista, sugeriu ao seu partido, o PSDB e aliados, investir na classe C na medida em que o PT domina os movimentos sociais e o “povão”.

Bastou a palavra “povão”, muito usada pela esquerda, para os petistas e o populista Lula erguerem as bandeiras, rufarem os tambores e caírem de pau em cima de FHC, como é de seu costume. Lula, que parece desenvolver um sentimento doentio de inferioridade com relação ao tucano, aproveitou a deixa para espalhar que FHC e o PSDB detestam pobres. Nada a ver, é claro. FHC apenas pensou politicamente, pois as classes médias A, B e C constituem a maioria ou, aproximadamente, 52% da população brasileira. Só na classe C estão aproximadamente 38,8% dos brasileiros com carências e aspirações de várias espécies, portanto, um espaço especial para o trabalho dos políticos.

Diga-se de passagem, que o conceito de classe social varia na concepção de vários sociólogos e não cabe num pequeno artigo aprofundar o tema. Para para citar uma definição escolho a do sociólogo Max Weber, segundo o qual “classes são agregados de indivíduos que têm as mesmas oportunidades de adquirir mercadorias e exibem o mesmo padrão de vida”. Acrescento que classes sociais, em que pese o mundo massificado em que vivemos, possuem comportamentos, valores e atitudes diferenciados que possibilitam distingui-las.

A parcela da classe C que emergiu da classe D, não pode deixar também de apresentar características de psicologia coletiva que a faz subserviente em relação aos que estão em posição superior, mantendo no fundo a aspiração de ser igual ou ter o mesmo padrão de vida das classes mais altas. Afinal, o ser humano sempre quer ter mais de forma insaciável, inclusive, prestígio. Mas, para alcançar o status mais elevado os indivíduos da classe C teriam que ultrapassar sua origem familiar, casamento, história profissional e instrução. Isso é possível para alguns ou para muitos indivíduos, mas, dependendo das circunstâncias econômicas, a mobilidade pode ser ascendente ou descendente. Do jeito que a inflação segue descontrolada, dos mecanismos governamentais que desesperadamente tentam contê-la penalizando os que já se acostumaram com as facilidades do crédito, não é difícil que parcela da classe C retorne à classe D ou até à mais baixa classe E.

Observe-se ainda, que nem todos os que pertencem à classe C chegarão como num passe de mágica a professores universitários, profissionais liberais, funcionários públicos, altos cargos burocráticos ou políticos como os “colarinhos brancos” das classes médias A e B. Entretanto, não só as dádivas caídas dos céus estatais e a ampliação da burocracia, mas os empregos propiciados pela iniciativa privada e a multiplicidade de novas funções geradas pelo avanço da tecnologia e pelos meios de comunicação da sociedade globalizada, possibilitaram a parcela da classe D ascender e integrar a classe C que, frise-se, já existia e apenas se tornou mais numerosa.

Lembremos também que a Educação chegou a um nível tão baixo de qualidade, que há falta de mão-de-obra mais especializada e sofisticada, estando os grandes empresários obrigados a importar profissionais do exterior. Num extremo oposto, faltam operários da construção civil porque o segmento da classe D, que ascendeu à classe C, já não aceita o trabalho pesado e mal remunerado dos que constroem os cada vez mais numerosos edifícios nas metrópoles e nas cidades de porte médio.

Duas características marcam também todas as classes sociais: o individualismo e a indiferença política. Apenas em épocas de campanha algum interesse aparece. Concentra-se em determinado ou determinados candidatos com potencial carismático ou demagógico, capazes de propiciar vantagens individuais. Nenhuma ideologia ou questões de princípios estão presentes nas campanhas onde as propostas dos postulantes aos cargos públicos quase não se distinguem e os partidos são meros clubes de interesses.

Finalizando concordo com o pensamento de C. Wright Mills em sua obra “White Collar”, adaptando-o a nossa realidade:

As posições particulares como indivíduos de nossas classes médias é que determinam a direção para onde elas se encaminham. Mas seus indivíduos não sabem para onde ir. Por isso vacilam, confusos e hesitantes em suas opiniões, desordenados e descontínuos em suas ações. Formam um coro medroso demais para protestar, histérico demais em suas manifestações de aprovação. Constituem uma retaguarda. Estão à venda no mercado político e qualquer um que pareça bastante confiável tem probabilidade de comprá-las.

Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga