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sexta-feira, 27 de setembro de 2013

AS CURVAS SINUOSAS DO DESCASO


O governo federal se meteu num labirinto construído por ele mesmo na questão da duplicação e modernização da BR 262. Isso ficou claro com o anúncio feito pela presidente Dilma Rousseff (PT), em Nova Iorque, na última quarta-feira, diante de empresários norte-americanos. A petista comanda uma máquina que desconsiderou todos os alertas de equívocos do edital de concorrência, que apostou que o trecho entre Espírito Santo e Minas Gerais era atrativo para os investidores e que, agora, ensaia sacar da manga um modelo inédito de parceria público-privada (PPP) em rodovia – o que, convenhamos, pode dar certo ou não.

O imbróglio da rodovia que sai de Cariacica em direção a João Monlevade era uma tragédia anunciada desde o início, é verdade. Primeiro, porque, como já foi dito aqui na coluna, o governo federal quis entregar a obra à iniciativa privada, mas corre léguas da palavra “privatização”, e para encobrir essa “vergonha” colocou-se como sócio da empreitada, por meio do Dnit – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.

Em seguida, o governo Dilma colocou sob responsabilidade do órgão que administra estradas federais a responsabilidade de duplicar os 180,5 quilômetros da 262 no Espírito Santo. Que empresário, em sã consciência, acreditaria na execução da obra no tempo estimado? Isso, segundo especialistas da área, pesou a favor da deserção da concorrência, no início do mês.

Não bastasse, o edital superestimou o fluxo de veículos nas cinco praças de pedágio e minimizou o quanto custariam as intervenções necessárias em uma rodovia que, nas serras capixabas, é ladeada por um paredão de rochas e um abismo. Não deu outra: ninguém quis pegar o projeto e o caso virou mico.

Ocorre que, por infelicidade do destino, mais uma vez quem vai pagar a conta – ou melhor, não pagar, porque ninguém quis – é o Espírito Santo; o Estado que está há anos à espera de aeroporto decente e retorno dos tributos que repassa à União em forma de investimentos. E, curiosamente, governado pelo PSB que acaba de abandonar a base de Dilma.

É possível que a questão partidária nada tenha a ver com o descaso dispensado à questão. Mas, se tratando dos traumas acumulados com o tratamento do governo federal com a “agenda velha” daqui, isso merece ser ponderado.

O que Dilma fez em Nova Iorque foi tentar agradar a iniciativa privada. Diante da plateia, a petista disse estar à procura de “modelos de significativa rentabilidade” e se comprometeu a oferecer “condições de financiamentos vantajosas” para atraí-los.

Ao admitir que o primeiro movimento para modernizar uma das mais importantes rodovias do país foi equivocado, Dilma dá um passo atrás onde sua equipe, por meses, bateu pé, até com certa arrogância. O modelo de PPP é visto por especialistas como “um dos melhores” para desatar o nó da BR 262. Só não pode o governo, mais uma vez, perder o rumo e fechar os olhos para os problemas que encontrar no caminho.

Fonte: Praça Oito - A Gazeta

segunda-feira, 15 de julho de 2013

SOMOS MÉDICOS, NÃO MÁGICOS E MERCENÁRIOS

NÃO DÁ PARA FAZER MEDICINA SEM TER INFRAESTRUTURA. O DINHEIRO NÃO COMPRA MÉDICO.


Se alguma instância de poder oferecer hoje um salário R$ 100 mil para um médico trabalhar, por exemplo, em uma área remota da Amazônia, quase que certamente ele não irá. Talvez, um entre 100 aceite. Mas este não representa o espírito de uma classe que visa, acima de tudo, o apoio ao próximo e assistência humanística e olha a profissão sob as vistas do amor ao próximo.

O que quero dizer, em pouquíssimas palavras, é que nós médicos brasileiros não somos mercenários, não pautamos nossas ações no mercantilismo, na busca de dinheiro fácil. Nosso foco é outro, é a saúde e qualidade de vida, é trabalhar contra as mortes evitáveis. Isso porque uma só morte evitável não merece perdão, seja quem for o responsável. Aí está parte da explicação para o fato de o governo não conseguir levar médicos para as regiões distantes e periféricas das grandes cidades.

Contudo, o remédio para esse mal não passa pela importação de médicos formados no exterior sem qualificação comprovada, sem que estes profissionais se submetem à revalidação do diploma. Aliás, a revalidação do diploma precisa ser aprimorada. Para aprovar a entrada de um profissional de medicina graduado fora, seja ele estrangeiro ou brasileiro, não se pode apenas auferir a técnica. É preciso avaliar o perfil psicológico e formação ética e moral. Uma série de parâmetros tem de ser analisado porque é alguém de fora do Brasil, não é da terra, não possui nossa cultura, o jeitinho brasileiro em seu lado bom.

Essas diferenças têm forte reflexo na visão humanística que é a relação médico-paciente no exercício da medicina. Culturalmente, os valores são bem distintos. No que se refere à parte técnica, é preciso uma avaliação obrigatória, como já é com todo mundo.

O centro da questão da interiorização não pode ser distorcido, é a infraestrutura, porque se não há infraestrutura para um brasileiro, não existe também para o profissional de fora. O que ele é? médico ou mágico?

Não dá para fazer medicina sem infraestrutura, sem enfermagem, sem ter cirurgião dentista, sem ter outros profissionais da área da saúde, sem ter assistente social. O dinheiro não compra médico.

Antonio Carlos Lopes
Presidente da Sociedade Brasileira de Clinica Médica