O governo federal se meteu num labirinto construído por ele mesmo na questão da duplicação e modernização da BR 262. Isso ficou claro com o anúncio feito pela presidente Dilma Rousseff (PT), em Nova Iorque, na última quarta-feira, diante de empresários norte-americanos. A petista comanda uma máquina que desconsiderou todos os alertas de equívocos do edital de concorrência, que apostou que o trecho entre Espírito Santo e Minas Gerais era atrativo para os investidores e que, agora, ensaia sacar da manga um modelo inédito de parceria público-privada (PPP) em rodovia – o que, convenhamos, pode dar certo ou não.
O imbróglio da rodovia que sai de Cariacica em direção a João Monlevade era uma tragédia anunciada desde o início, é verdade. Primeiro, porque, como já foi dito aqui na coluna, o governo federal quis entregar a obra à iniciativa privada, mas corre léguas da palavra “privatização”, e para encobrir essa “vergonha” colocou-se como sócio da empreitada, por meio do Dnit – Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.
Em seguida, o governo Dilma colocou sob responsabilidade do órgão que administra estradas federais a responsabilidade de duplicar os 180,5 quilômetros da 262 no Espírito Santo. Que empresário, em sã consciência, acreditaria na execução da obra no tempo estimado? Isso, segundo especialistas da área, pesou a favor da deserção da concorrência, no início do mês.
Não bastasse, o edital superestimou o fluxo de veículos nas cinco praças de pedágio e minimizou o quanto custariam as intervenções necessárias em uma rodovia que, nas serras capixabas, é ladeada por um paredão de rochas e um abismo. Não deu outra: ninguém quis pegar o projeto e o caso virou mico.
Ocorre que, por infelicidade do destino, mais uma vez quem vai pagar a conta – ou melhor, não pagar, porque ninguém quis – é o Espírito Santo; o Estado que está há anos à espera de aeroporto decente e retorno dos tributos que repassa à União em forma de investimentos. E, curiosamente, governado pelo PSB que acaba de abandonar a base de Dilma.
É possível que a questão partidária nada tenha a ver com o descaso dispensado à questão. Mas, se tratando dos traumas acumulados com o tratamento do governo federal com a “agenda velha” daqui, isso merece ser ponderado.
O que Dilma fez em Nova Iorque foi tentar agradar a iniciativa privada. Diante da plateia, a petista disse estar à procura de “modelos de significativa rentabilidade” e se comprometeu a oferecer “condições de financiamentos vantajosas” para atraí-los.
Ao admitir que o primeiro movimento para modernizar uma das mais importantes rodovias do país foi equivocado, Dilma dá um passo atrás onde sua equipe, por meses, bateu pé, até com certa arrogância. O modelo de PPP é visto por especialistas como “um dos melhores” para desatar o nó da BR 262. Só não pode o governo, mais uma vez, perder o rumo e fechar os olhos para os problemas que encontrar no caminho.
Fonte: Praça Oito - A Gazeta
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