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sábado, 9 de novembro de 2013

O PERIGO REAL

EM POUCOS MESES O “MAIS MÉDICOS” JÁ DEMONSTRA SUA FRAGILIDADE. UM GRUPO DE 48 PROFISSIONAIS QUE ATUAM PELO PROGRAMA FOI REPROVADO NO REVALIDA.

É constrangedor a qualquer cidadão ver que autoridades que deveriam defender os anseios dos brasileiros ignoram a importância da saúde, deixando claro que não têm compromisso algum com a qualidade. Exemplo disso é o “Mais Médicos ”que, em poucos meses, já começou a demonstrar a sua fragilidade. Um grupo de 48 profissionais que atua pelo programa foi reprovado no Revalida, exame federal para reconhecer o diploma de medicina obtido no exterior. Eles foram aceitos para aturar na atenção básica prioritariamente no interior do país, onde há maiores carências. Contudo, muitos acabam  sendo alocados em grandes centros.

No total, 1.440 candidatos não passaram para a segunda fase. Entretanto, os 48 reprovados poderão exercer a medicina, mesmo após atestado de que não estão qualificados para tal. Com fim meramente eleitoreiro, permite-se que profissionais de capacidade insuficiente exerçam a medicina. E é a população, em particular as pessoas mais vulneráveis que corre risco real.

Aí está o motivo de os médicos brasileiros se mostrarem tão preocupados com o fato do “Mais Médicos” dispensar o Revalida para submissão dos estrangeiros. Também se torna evidente a razão das entidades médicas rejeitarem alguns pontos do programa. Não se trata de xenofobia, muito menos de competição no mercado com os  colegas estrangeiros. Trata-se de uma medida que interfere negativamente na estrutura da nossa medicna, reconhecida mundialmente por sua excelência.

A verdade é que nós, médicos brasileiros, permanecemos sensibilizados com a falta de assistência em regiões afastadas, mas  temos a consciência de que sem a infraestrutura necessária não há muito como avançar. Médico não é mágico, precisa ter a disposição medicamentos, equipamentos, exames, equipe multidisciplinar e outros profissionais da saúde.

Os médicos formados fora não conhecem a realidade do nosso sistema público de saúde e estão iludidos com o discurso marqueteiro do governo. Através dessa medida, o Ministério da Saúde desrespeita tudo que já foi construído pelas entidades médicas e acadêmicas nacionais, que vêm colocando o Brasil em posição de destaque na medicina internacional.

Infelizmente esse é mais um engodo que nos acostumamos a ver às vésperas das eleições. Ao invés de investir dinheiro público para construir bons hospitais e postos de saúde, o que obviamente levaria profissionais para qualquer canto do Brasil, o governo opta por ludibriar a população com a presença de médicos sem qualificação. Não podemos aceitar essa inversão de valores.

ANTONIO CARLOS LOPES

Presidente da Sociedade Brasileira de Clinica Médica

sábado, 5 de outubro de 2013

MAIS MÉDICOS: GOVERNO GASTA R$ 3,7 MILHÕES COM PROFISSIONAIS PARADOS

*
Quase duas semanas depois do início oficial dos trabalhos dos médicos com diploma estrangeiro pelo Mais Médicos, 372 profissionais ainda esperam o registro provisório para começar a atuar. Como o custo por profissional é de R$ 10 mil líquidos, apenas com salário, o governo federal está gastando R$ 3,7 milhões com médicos que estão parados e ainda longe do SUS (Sistema Único de Saúde). A primeira bolsa-auxílio será paga na próxima segunda-feira (7).
Esse gasto não inclui os auxílios moradia e alimentação, já que essas despesas são de responsabilidade das prefeituras inscritas no Mais Médicos. Os valores variam nos diferentes Estados brasileiros. Em Minas Gerais, por exemplo, os médicos do programa recebem R$ 1.500 para habitação e R$ 371 para alimentação, além de vale-transporte.
Segundo o Ministério da Saúde, esses gastos com os médicos já estavam previstos no planejamento do programa. O governo informou que até o fim do ano destinará R$ 542 milhões ao Mais Médicos. Esse valor inclui gastos assumidos desde o início das atividades, em agosto, mas ainda pode ser superado, pois o programa já funciona em sistema de emergência, sem a exigência de licitação para hospedagens e passagens aéreas.
Investimento em infraestrutura
O primeiro secretário do CFM (Conselho Federal de Medicina), Desiré Carlos Callegari, afirma que o dinheiro gasto com os médicos parados poderia ser investido para melhorar a infraestrutura da saúde pública. Ele pondera, no entanto, que os médicos estrangeiros que vieram para o Brasil devem receber, mesmo que não tenham começado a trabalhar.
— A saúde precisa de muito mais investimento, e é justo que o governo cumpra o compromisso de pagar esses profissionais que ainda não têm o registro provisório para poder atuar.
A coordenadora do CEAHS (Curso de Especialização em Administração Hospitalar e Sistemas de Saúde) da FGV (Fundação Getulio Vargas), Libânia Paes, critica a implementação do programa Mais Médicos e classifica como "desperdício altíssimo" de recursos públicos o pagamento de médicos que não estão trabalhando.
— Há um desperdício altíssimo de dinheiro com esses médicos parados, além de profissionais que vêm para cá, e também não têm o que fazer. Os conselhos [de médicos] estão certos de analisar com calma esses documentos [para emitir os registros]. Vários médicos que vieram de fora inclusive nem diploma têm.
Com o dinheiro aplicado em salários com médicos sem trabalhar, Libânia Paes afirma que seria possível investir em outras áreas da saúde para melhorar o atendimento à população.
— Seria possível comprar material, medicamentos, melhorar infraestrutura e até as condições de profissionais que trabalham aqui. Há um descaso enorme com a saúde. Deveriam ter sido pensados os prós e contras do programa.
Emissão de registros
De acordo com o último balanço divulgado pelo Ministério da Saúde, foram entregues apenas 257 dos 504 pedidos de registro profissional provisório feitos pelo Ministério da Saúde aos Conselhos Regionais de Medicina, cujo prazo máximo de análise expirou na terça-feira (1º).
Também nesta semana, a comissão que analisa o texto da MP (medida provisória) do Mais Médicos alterou o texto original e agora o Ministério da Saúde ficará encarregado de emitir o registro para estrangeiros integrantes do Mais Médicos. O texto, que agora segue para o plenário da Câmara dos Deputados, traz ainda uma série de outras vitórias para o governo, que atualmente se vê às voltas com o atraso do programa.
Fonte: R7

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

É HORA DE MOSTRAR QUEM É O VERDADEIRO VILÃO DA HISTÓRIA


A classe médica vem sofrendo ao longo dos anos um processo de desgaste que vai desde a perda do poder aquisitivo à desmoralização total agora orquestrada pelo Governo, que incompetente para solucionar nossos problemas crônicos de falta de estrutura e investimento, resolve  promover a mais vil e torpe campanha contra aqueles que se dedicam a salvar vidas a amenizar o sofrimento de seus pacientes.

Um dia já fomos chamados de profissionais liberais, hoje somos empregados do Estado ou explorados por planos de saúde, raros são os colegas que sobrevivem apenas de seu consultório e da clientela particular. A imensa maioria se submete a regimes extenuantes de plantões ou pulam de emprego em emprego, chegando a atender em 3 ou 4 ambulatórios diariamente,  na tentativa de conseguir uma renda que dê um mínimo de conforto aos seus familiares. 

Com a municipalização da saúde, as Prefeituras passaram a ser os nossos grandes empregadores e posso afirmar do alto da minha experiência de 37 anos na saúde pública que raro são os Prefeitos que se preocupam seriamente em oferecer um serviço de qualidade aos seu munícipes, a falta de recursos em alguns casos e a falta de  vontade politica em outros, formam a grande maioria dos administradores municipais, mais preocupados com obras que politicamente lhes são mais vantajosas, dão mais palanque e fazem a festa de empreiteiros financiadores de suas campanhas.

Que incentivo tem um jovem médico, que após 6 anos de faculdade, dois ou três de residência médica para largar o conforto e as facilidades dos grandes centros e enfrentar o interior desse país? Sem uma carreira de Estado, sem um mínimo de condições de praticar uma medicina que faça a diferença para seus pacientes, coisa que todo estudante de medicina sonha praticar quando conseguir o tão almejado diploma. Na grande maioria dos casos vai encontrar hospitais sucateados, superlotados, sem aparelhagens que lhe possibilite diagnósticos mais precisos, mais rápidos. Rx sempre com defeitos por falta de manutenção adequada, laboratórios de qualidade duvidosa, realizam exames que quase sempre deixam mais dúvidas do que esclarecimentos, pois resultados que não batem com o quadro clinico do paciente requer experiência clinica para uma interpretação segura, aparelhos de ultrassonografia é um luxo para poucos e um tomógrafo à disposição no Pronto-Socorro soa quase como uma utopia.

Quase sempre solitário, cada plantão passa a ser uma loteria, um constante stress, um desgaste físico e mental enorme, o que fragilizará sua saúde ao longo dos anos, isso sem contar o risco físico, não são raras as agressões e ameaças a colegas, que sequer têm direito a descanso , pois a impaciência de quem espera por atendimento invariavelmente tende a culpar o médico por tudo de ruim que acontece na saúde.

Só para exemplificar, passo a relatar episódio que aconteceu recentemente comigo. Vítimas de um acidente de moto, um homem de aproximadamente 30 anos e um jovem de 18 anos, chegaram ao Hospital e fui chamado para atende-los. Os dois estavam visivelmente embriagados, o mais jovem tinha apenas algumas escoriações nos joelhos e nos braços necessitou apenas de curativos, o mais velho porém apresentava um traumatismo com grande hematoma no couro cabeludo e no tórax e embora não apresentasse sintomas de maior gravidade argumentei que o mesmo deveria ficar em observação até o dia seguinte, quando seria então radiografado e avaliado novamente. Foi então que o rapaz me interpelou e falou: Quero que mande a ambulância me levar em casa. Respondi que não, pois o mesmo morava longe, eu só tinha uma ambulância e que o mesmo poderia fazer companhia ao amigo, que lhe arrumaria um leito, ao que respondeu: Você tem que mandar me levar, está aqui para atender ao povo e que não passava da minha obrigação. Olhe aqui meu amigo, a minha obrigação foi atende-lo o que foi feito, agora se você insistir com essa falta de respeito vou ser obrigado a chamar a Polícia para acalmá-lo. Ficou mais irritado ainda e gritava no corredor, policia pra que? está aqui para atender não para chamar a policia, não sei o que vim fazer nessa merda de hospital. Só se acalmou quando o mais velho conversou com ele e finalmente aceitou ficar, sem antes soltar mais alguns palavrões.

Isso amigos, aconteceu comigo, médico antigo na cidade, conhecido de todos, imaginem com um colega mais novo e sem experiência para conduzir a situação? Faço esse relato para que tenham idéia do que passamos e a que ponto nossa imagem está comprometida junto à população, passamos a ser o Judas, passamos a ser os vilões e é exatamente isso que o Governo quer, achar um bode expiatório para convencer a população que o médico brasileiro não quer nada e que é necessário trazer os estrangeiros, principalmente os cubanos, já que esse se prestam à sua intenção de transformar esse país numa República Socialista nos moldes bolivarianos.

Faço aqui um alerta aos colegas médicos de todo o Brasil, faço aqui um apelo às nossas Entidades de Classe´, é preciso se tomar uma posição, é preciso reagir, é preciso mostrar a nossa força, precisamos nos unir para uma resposta à altura dessa Campanha de desmoralização que nos atinge a todos, começará pelos médicos e paulatinamente atingirá outras profissões, até que nossa democracia esteja mortalmente ferida, ou reagimos agora ou o branco de nossos jalecos poderão ser manchados pelo vermelho da ideologia comunista.


Não tem RX? denuncie,
Não tem medicamentos? denuncie,
Não tem esparadrapo? denuncie,
Não tem campo estéril para suturas? denuncie,
Não tem fios adequados para as pequenas cirurgias? denuncie,
Não tem exames? denuncie,
Não tem ambulância? denuncie,
Não tem FAX? denuncie,
O telefone foi cortado? denuncie
Não tem vaga na UTI? denuncie,
Não tem eletrocardiograma? denuncie,
Não tem um monitor de sinais vitais? denuncie,
Não tem um desfibrilador? denuncie,
Está sozinho para atender mais de 100 pacientes? denuncie,
Não tem um guarda no hospital? denuncie

É HORA DE MOSTRAR AO POVO QUEM É O VERDADEIRO VILÃO DA HISTÓRIA!

Dr.Marco Sobreira - Crm 1373-ES$
Atílio Vivácqua - Esp. Santo
@marcosobreira2 no twitter
 

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

HÁ ALGO DE ESTRANHO COM A SAÚDE

Antônio Carlos Mariz de Oliveira * - O Estado de S.Paulo
Atualmente, mudanças tecnológicas, comportamentos e hábitos, preferências, maneiras de agir e de pensar sofrem constantes e rápidas mutações e nos deixam perplexos, em especial quanto às razões que as impelem. Mas medidas governamentais adotadas de inopino, sem prévia consulta ou preparação, por seu caráter autoritário, distante dos segmentos interessados, desprovidas de necessidade e de bom senso, são as que mais geram insegurança social e instabilidade à própria democracia representativa.
governo federal está trazendo 4 mil médicos cubanos para participarem de umprograma de assistência às regiões mais distantes e carentes do País. Claro que os médicos brasileiros têm condições e capacidade de sobejo para cumprir um papel social que extrapola os limites de seus consultórios. Especialmente, creio eu, os jovens estariam propensos a socorrer os brasileiros dos mais longínquos rincões, procurando suprir suas carências de saúde. Aliás, diga-se que os anseios da classe médica coincidem com as aspirações do povo em matéria de saúde. O médico brasileiro quer dar ao povo a saúde que lhe é devida.
Sabemos, no entanto, que não depende exclusivamente dele o cumprimento desse mister. Se ao médico são reservados o aperfeiçoamento científico da medicina, a excelência no atendimento pessoal, o esmero, a diligência e a perícia nos procedimentos adotados, ao Estado cumpre gerenciar a atividade pública da medicina, planejando, dotando-a de recursos, criando mais unidades médicas, fornecendo condições para que a malha de saúdese espraie para todo o território nacional, procurando diminuir a graus mínimos as vergonhosas carências no setor.
Pois bem, o reconhecimento da excelência da nossa medicina não é fruto de um nacionalismo piegas e irreal. Ao contrário, é a medicina mundial que nos rende homenagens. Os avanços da nossa ciência médica servem de paradigma em vários setores e são reconhecidos mundialmente. Quantos e quantos brasileiros, influenciados pelo vício nacional da baixa estima, ou, como diria Nelson Rodrigues, por nosso complexo de vira-latas, vão curar seus males em outros países e de lá são mandados de volta, pois dizem os médicos estrangeiros que a cura está no Brasil, e não em seus próprios países...
Sem fazer nenhuma distinção entre medicina pública e privada, com essa inusitada medida de importar médicos de Cuba, o governo está passando a falsa ideia ao mundo de ser a nossa medicina precária, estagnada no tempo, desprovida de pioneirismo e avanços científicos em vários setores. E mais, o profissional brasileiro poderá ser tido como desprovido de sensibilidade social, humanismo e solidariedade, que compõem a essência do juramento de Hipócrates.
É verdade que há alguma resistência dos nossos médicos, aliás, compreensível, a trabalhar nos locais mais ermos e desprovidos do nosso colossal território. Mas não é menos verdade que historicamente os governos jamais se importaram, obviamente incluído o atual, em criar condições favoráveis para que houvesse distribuição de saúde às classes desvalidas, não só dos locais distantes, como também das periferias urbanas.
É desnecessário desfilar o rol de atrozes sofrimentos infligidos aos pobres. Desídia e pouco-caso dos governos, no nível dos municípios, dos Estados e da União. Falta de sensibilidade, humanismo e vontade política. Desvio de verbas para setores de menor relevância. Corrupção. Má gestão. A situação da saúde dos brasileiros da periferia e dos grotões constitui uma vergonhosa tragédia nacional.
A culpa é dos nossos médicos? Não, faltam-lhes condições para atuar. A culpa é do poder público. Não se esqueçam as inúmeras ações de médicos que, descolados do Estado, agem apoiados por ações voluntárias de empresas e de ONGs, num trabalho verdadeiramente sacerdotal.
É de indagar se aos médicos cubanos foram expostas as precárias condições de trabalho que encontrarão. Além do mais, estarão eles preparados tecnicamente? Passarão por alguma avaliação que os habilitará a clinicar nas condições que vão encontrar?
Que a lei brasileira será burlada nós sabemos, pois seus diplomas não serão revalidados. A pergunta que se impõe é: qual o fato que está subjacente à estranha, inexplicável e inconveniente vinda dos médicos cubanos? Será porque eles são mais capacitados que os nossos? Ou a resposta se situa no campo político-ideológico? Nesse sentido, o Brasil estaria dando guarida a profissionais carentes de trabalho em seus países? Ainda há que indagar: uma vez que o País pagará bem mais do que os médicos receberão, qual a razão dessa ajuda financeira a Cuba?
Poder-se-á perguntar a razão de estar um advogado opinando sobre assunto alheio à sua especialidade. Respondo: nós, advogados, temos uma invencível incompatibilidade com situações injustas e ilegais e uma irresistível tendência a nos indignarmos em face delas. Assim, passamos a defender e a perseguir o que nos parece ser o justo.
Nos primórdios da humanidade, antes mesmo de a sociedade e o Estado se organizarem, nós éramos os vozeiros ou boqueiros. Emprestávamos a nossa voz e a nossa boca àqueles que, oprimidos, não tinham voz nem vez. Este é o nosso sagrado mister: falar, postular, ser a vez e voz de outrem.
Claro que os médicos brasileiros sabem defender os seus direitos com competência e coragem. E é o que estão fazendo. No entanto, premidos por nossa vocação e pela solidariedade a eles, nós, advogados, deveremos verberar mais essa conduta, no mínimo, esdrúxula do governo. Não esqueçamos, amanhã o mesmo poderá ocorrer conosco, com os engenheiros, economistas, etc., etc. E, de repente, será decretada a incompetência dos profissionais brasileiros, para gáudio de cubanos, venezuelanos, bolivianos e outros alinhados.
*Antônio Carlos Mariz de Oliveira é advogado criminal.

sábado, 17 de agosto de 2013

MAIS MÉDICOS?

Em junho o governo anunciou a salvação da saúde pública: trazer Mais Médicos para os açougues do SUS, como quem aumenta um guichê de atendimento em repartição pública. Ignorando os argumentos médicos, o governo seguiu com seu programa de saúde e empurrou o analgésico goela abaixo.

De acordo com a repentina genialidade presidencial, o Brasil tinha poucos médicos. Os dados, porém, provam o contrário. Segundo a pesquisa Demografia Médica de 2011, o Brasil é o 5º país com o maior número de médicos do mundo, com 371.788 profissionais. Isso significa que 19,2% dos doutores da América e 4,05% do mundo estão aqui. Ainda assim, foram abertas 15.400 vagas em 3.511 cidades. O resultado foi um fracasso: 1.618 inscritos para apenas 579 municípios.

É verdade que a atual distribuição do contingente médico é desproporcional. O Distrito Federal, por exemplo, possui 3,46 médicos para cada mil habitantes, o Rio de Janeiro 3,44 e São Paulo 2,49. Enquanto isso, o Amapá tem 0,76 médicos para cada mil habitantes, o Pará 0,77 e o Maranhão 0,58. São localidades carentes, mas o governo federal não parece verdadeiramente preocupado com isso.

Ao oferecer salário de R$ 10 mil, a Presidência disse que iria atrair profissionais. Porém, tal estratégia apenas lançou para os médicos a responsabilidade pelos problemas. Com a alta remuneração, o Planalto posou com o discurso “Estamos fazendo a nossa parte”, criando a impressão de que a proposta era irrecusável.

Mas é preciso dizer o óbvio: a Medicina não é tão simples assim. Sem a mínima estrutura em muitas regiões, os médicos são, hoje, obrigados a escolher quem será ou não tratado. Isso porque não são poucas as unidades de saúde em que faltam seringas, macas e até mesmo água potável.

O exercício precário da Medicina acarreta em morte, em grande parte por ausência de aparelhagem mínima. E quando isso ocorre, não são os hospitais, muito menos o governo, que sofrem os processos de negligência. Quem paga a culpa do caos é o médico, que pode até mesmo perder seu registro profissional.

O Mais Médicos apostou nos estrangeiros e também fracassou. Foram 358 inscritos, que atuarão sem a revalidação dos diplomas, bastando apenas regularizar os documentos pessoais. Além de não haver a mínima noção da qualidade desses profissionais, a esmagadora maioria fala espanhol e ninguém terá de provar proficiência em português.

A Constituição anda com crises de náuseas. Como destacou Igor Borges, advogado especializado em Direito Médico-hospitalar, o artigo 37, inciso II, destaca que “a investidura em cargo público depende de aprovação prévia em concurso público”, o que torna a importação de médicos não concursados uma “afronta à norma constitucional”. Mas quem se importa com a Constituição, não é mesmo?

O programa pretende, também, ampliar as vagas nos cursos de Medicina, o que é louvável. Mas a doutora Dilma resolveu ir além, acrescentando dois anos nos cursos de Medicina sem consultar as universidades. E mais: tentou, com decreto, levar os estudantes para o SUS, instituindo o serviço público obrigatório.

Se realmente se preocupasse com a melhoria da saúde pública, o governo federal reuniria Estados e municípios para propostas claras, objetivas e transparentes de investimentos em estrutura e capacitação. Não basta anunciar bilhões sem explicar onde, como e quando.

O Mais Médicos falhou em seu edital e agora lançará uma nova convocação. Em meio ao populismo paliativo, os governos seguem comprando vagas em hospitais particulares, em operações de interesses mais obscuros que os corredores superlotados.

Enquanto isso, os EUA destinam 14% do PIB para saúde, a Argentina 20% e nós os vergonhosos 3% que não causam nem resfriado nos males públicos. O Mais Médicos amplia os gastos, mas estes não são verdadeiros investimentos, no sentido estratégico e ideal. No fundo, só provam e expõem nossa cultura imediatista que tenta resolver o caos sem atacar a essência. Talvez essa seja a maior doença brasileira. E, infelizmente, parece sem cura.

Gabriel Tebaldi, 19 anos, é estudante de História da Ufes
Fonte: A Gazeta

segunda-feira, 15 de julho de 2013

SOMOS MÉDICOS, NÃO MÁGICOS E MERCENÁRIOS

NÃO DÁ PARA FAZER MEDICINA SEM TER INFRAESTRUTURA. O DINHEIRO NÃO COMPRA MÉDICO.


Se alguma instância de poder oferecer hoje um salário R$ 100 mil para um médico trabalhar, por exemplo, em uma área remota da Amazônia, quase que certamente ele não irá. Talvez, um entre 100 aceite. Mas este não representa o espírito de uma classe que visa, acima de tudo, o apoio ao próximo e assistência humanística e olha a profissão sob as vistas do amor ao próximo.

O que quero dizer, em pouquíssimas palavras, é que nós médicos brasileiros não somos mercenários, não pautamos nossas ações no mercantilismo, na busca de dinheiro fácil. Nosso foco é outro, é a saúde e qualidade de vida, é trabalhar contra as mortes evitáveis. Isso porque uma só morte evitável não merece perdão, seja quem for o responsável. Aí está parte da explicação para o fato de o governo não conseguir levar médicos para as regiões distantes e periféricas das grandes cidades.

Contudo, o remédio para esse mal não passa pela importação de médicos formados no exterior sem qualificação comprovada, sem que estes profissionais se submetem à revalidação do diploma. Aliás, a revalidação do diploma precisa ser aprimorada. Para aprovar a entrada de um profissional de medicina graduado fora, seja ele estrangeiro ou brasileiro, não se pode apenas auferir a técnica. É preciso avaliar o perfil psicológico e formação ética e moral. Uma série de parâmetros tem de ser analisado porque é alguém de fora do Brasil, não é da terra, não possui nossa cultura, o jeitinho brasileiro em seu lado bom.

Essas diferenças têm forte reflexo na visão humanística que é a relação médico-paciente no exercício da medicina. Culturalmente, os valores são bem distintos. No que se refere à parte técnica, é preciso uma avaliação obrigatória, como já é com todo mundo.

O centro da questão da interiorização não pode ser distorcido, é a infraestrutura, porque se não há infraestrutura para um brasileiro, não existe também para o profissional de fora. O que ele é? médico ou mágico?

Não dá para fazer medicina sem infraestrutura, sem enfermagem, sem ter cirurgião dentista, sem ter outros profissionais da área da saúde, sem ter assistente social. O dinheiro não compra médico.

Antonio Carlos Lopes
Presidente da Sociedade Brasileira de Clinica Médica