domingo, 2 de maio de 2010

Ponto de Vista: O que mudou no quadro político do Espírito Santo.

Estabilidade democrática


Fernando Pignaton



O desejo dos capixabas, revelado em pesquisas qualitativas, de um futuro governador com perfil de gestor competente, experiente e com visão de futuro, e ao mesmo tempo sendo um político com capacidade de articulação e convergência de amplas forças políticas para sustentar a governabilidade e viabilizar a atração de investimentos públicos e privados para o Espírito Santo, e que caracteriza a imagem pública do governador atual, não está presente de forma completa em nenhum dos candidatos à sua sucessão.



É isso que confere uma instabilidade estrutural ao jogo da sucessão estadual e impediu a hegemonia eleitoral sólida e estável de um dos três principais concorrentes. Mesmo a força de quem a possui, mas não pode ser reeleito, o governador Paulo Hartung - pilotando um dos "cases" mais bem sucedidos de implantação das sofisticadas tecnologias de gestão de "frente política" originárias do "Partidão" - não foi suficiente para estabilizar a candidatura de Ricardo Ferraço.



O distanciamento do vice-governador do perfil de "articulador de forças políticas", desejado pelo eleitor se evidenciou no conflito gerado pela sua saída atabalhoada do PSDB, e também na marginalização do PSB, partes fundamentais da frente montada para o governar o Estado. Sua tentativa de compensar esse erro atraindo outras forças políticas foi importante,mas acabou gerando desconfianças em segmentos decisivos da sociedade capixaba, como o setor empresarial e a igreja católica, quanto a sua força para conseguir manter longe do governo figuras influentes em governos anteriores como o de Zé Inácio.



O primeiro "ataque especulativo" à solidez de seu perfil ocorreu quando o governador decidiu ficar no cargo e deixou exposta sua fragilidade. Na sequência, a circulação de pesquisas mesmo restrita entre as cúpulas políticas dando conta de sua estagnação e iminente ultrapassagem de Casagrande, elevou ao máximo sua "volatilidade política", propiciando a intervenção nacional para recompor a base lulista que estava saindo dos trilhos no Espírito Santo através de nova candidatura de consenso, mesmo diante da insatisfação de alguns segmentos deixados à margem nas negociações.

O processo foi tão penoso e desgastante para Ferraço que deixou especulações se essa fragilidade se projetará na sua candidatura ao Senado. Não é outro motivo senão a tentativa de barrar essa desestabilização crescente do bloco que leva o governador a vir a público declarar incondicional apoio à candidatura de Ferraço ao Senado.



O momento é de instabilidade política, de estranhamento entre quem até ontem foi aliado e de realinhamento de forças para enfrentar o futuro de fortes batalhas. Casagrande e Luiz Paulo têm amplos espaços de crescimento político. Uma coisa é certa: só o bom e velho embate eleitoral democrático e aberto, o apelo direto ao eleitor solucionará a instabilidade estrutural, clareando o futuro do nosso estado. E isso não é pouco diante do ar pesado que os democratas têm respirado.



Fernando Pignaton é cientista político.

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