sábado, 3 de dezembro de 2011

LUPI AO AZEITE DE WAGNER

A caminho de São Paulo para uma visita ao ex-presidente Lula - amigo e companheiro de antigas lutas sindicais, governo e disputas eleitorais em tratamento de saúde -, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), deu uma parada em Brasília no melhor estilo da gente do Candomblé no cumprimento de "obrigação".

No Planalto, antes de seguir viagem para São Bernardo, aproveitou para jogar quase uma garrafa inteira de azeite de dendê na enorme frigideira na qual o ministro do Trabalho, Carlos Lupi (PDT), vem sendo fritado há mais de um mês.
Para jornalistas e quem entende de signos da comunicação, do poder ou das coisas de santo dos terreiros, Wagner não poderia ter sido mais claro em suas previsões e expectativas quanto ao destino de Lupi.

O governador está convencido de que, com o relatório da Comissão de Ética Pública entregue à presidente da República esta semana, criou-se "uma situação de esquina" para o ministro do Trabalho. "Uma situação quase insustentável", concluiu o governador em Brasília. O aviso mais que explícito, dado na quinta-feira, seguia ontem com a ressonância nacional de um tambor de candomblé, mesmo sendo o tocador um judeu de origem.

O "toque" repercutia em diferentes ambientes do poder, a ponto de começar a causar estragos sérios nas sempre frágeis e complicadas relações do PT com o PDT desde o tempo do polêmico ex-governador do Rio de Janeiro Leonel Brizola. Mas qual um "João Teimoso", o ministro do Trabalho segue renitente e de ouvido moucos, apesar de já praticamente não ter mais em que e em quem se segurar. Salvo, diga-se a bem da verdade, alguns poucos como o deputado Paulinho da Força, que até ofendeu preconceituosamente os integrantes da Comissão de Ética, para defender a permanência do parceiro de partido no ministério de Dilma.

Bastante parecido (até como figura física) com aquele boneco vendido nas feiras do Nordeste em épocas natalinas como agora, Lupi balança mas não cai. Segue pulando na frigideira quente. Isso - é preciso ressaltar em razão da velocidade dos fatos e das subidas e quedas na política do País -, pelo menos até a sexta-feira em que escrevo estas linhas.

Enquanto Lupi e muita gente mais na política, no governo e no jornalismo esperam a volta da presidente Dilma da Venezuela, para ver o que acontece, o governador da Bahia aproveitou para seguir à risca o ditado sobre o poder, que ensina: "Espaço vazio é espaço ocupado".

Antes de seguir viagem no voo da rota Bahia-Brasilia-São Paulo que o levaria ontem à presença de Lula, o governador deu uma entrevista ao programa "Poder e Política" da TV UOL (grupo Folha), conduzido pelo jornalista Fernando Rodrigues. Uma conversa destas que prometem render por muitos dias ainda.

Sobre o caso Carlos Lupi, Jaques Wagner falou bem ao seu jeito. Às vezes um petista de raiz, às vezes um pessedista desde criancinha. Considerou "insustentável" a situação do ministro do Trabalho depois da sentença da Comissão de Ética Pública da presidência da República, mas ao mesmo tempo admitiu a possibilidade de não ser ainda o desenlace. Dilma, segundo ele, pode decidir que o ministro ficará no governo até a reforma ministerial prevista para janeiro, e assim haverá ainda muito desconforto até 2012.

"Seria melhor sair logo e deixar o secretário executivo (do ministério) assumir interinamente", recomendou Wagner. Com o trânsito que ele aparenta desfrutar no Planalto desde que sentava ao lado da atual presidente no ministério do primeiro mandato de Lula, ninguém melhor que o atual governador da Bahia para dar o aviso, ou cumprir a "obrigação". Jaques Wagner disse muito mais na entrevista ao jornalista da UOL/Folha, mas não vem ao caso agora nas linhas finais deste artigo.

A não ser registrar o que Jaques Wagner - amigo do peito de Mãe Stella, a mais acatada Yalorixá da Bahia desde a falecida Menininha do Gantois - revelou que estava levando para a visita ontem, primeira sexta-feira de dezembro de 2011, ao amigo Lula, em São Paulo: "oferendas, energias positivas".

Ah, e uma imagem da beatificada Irmã Dulce dos Pobres, porque na Bahia a mistura faz bem, sempre foi assim. E o pernambucano Lula, que não cansa de afirmar que em outra geração foi baiano, entende muito bem.

Vitor Hugo Soares - Bahia em pauta

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