O caso do ministro Carlos Lupi, do Trabalho, começa a jogar sobre o governo Dilma a sombra do ridículo, do patético. A Soberana tem sido, nestes quase 12 meses, bastante poupada de si mesma e de suas escolhas por boa parte da imprensa. Como se dá de barato que o chamado “presidencialismo de coalizão” conduz o governante a fazer, muitas vezes, coisas de que não gosta, então se entende que Dilma “herdou” uma gestão cheia de problemas e foi corrigindo as distorções ao longo do tempo.
Trata-se uma leitura certamente generosa, bondosa mesmo! Dilma tem, sim, de governar com os partidos, mas era forte o bastante para, se quisesse, ter operado algumas trocas já na largada. Que Carlos Lupi nunca foi, assim, de uma ortodoxa moralidade, até os vastos gramados de Brasília sabiam. No entanto, ela decidiu ficar com ele. O homem nunca lhe foi estranho. Foi seu correligionário de PDT e companheiro de ministério quando ela era a gerentona. Dilma o escolheu porque quis, e assim foi com os cinco outros demitidos em meio a acusações de lambança: Antonio Palocci, Alfredo Nascimento, Pedro Novais, Wagner Rossi e Orlando Silva.
Desta vez, Dilma decidiu resistir, e o Planalto conseguiu emprenhar boa parte do jornalismo político pelo ouvido. Tudo faria parte de uma grande estratégia para tirar o PDT na reforma ministerial. Substituir Lupi agora corresponderia a deixar o ministério nas mãos do partido, que indicaria o substituto. A desculpa me parece um tanto ridícula. Se a presidente quiser o apoio do PDT, terá de lhe dar um ministério — o do Trabalho ou outro. É claro que essa pasta é do especial agrado dos pedetistas por causa da Força Sindical, do deputado “Paulinho da Força” (SP), presidente da central.
Sim, Dilma gostaria de se ver livre de Lupi. Mas não há motivos para deixar de constatar o óbvio: ela ainda não o demitiu não porque não queira, mas porque não pode. Dessa forma, o homem não aceita!
E deve ter bons motivos para impor a sua vontade e ainda fazer o governo cobrar explicações da… Comissão de Ética! É ridículo! O grupo nada mais fez do que expressar a perplexidade de toda gente. Até agora, lembrou a comissão, não se sabe nem quem pagou o tal jatinho em que o ministro viajara em companhia de um empresário que jurou não conhecer.
A cada dia, aquela fala agressiva de Lupi de que só sairia a bala e de que teria de ser uma “bala bem grande” porque ele é “pesadão” vai se mostrando menos bravata do que parecia. Os outros cinco ministros, vamos convir, caíram com muito menos evidências do que as que há contra o pedetista. Por que o tratamento com ele é diferente? Algumas pessoas que circulam na periferia da presidente sugerem que ela decidiu que a “imprensa não demitiria mais” mais ministros seus. Imprensa? O jornalismo nem contrata nem dispensa os auxiliares de Dilma. Ela é a responsável pela recondução de Lupi ao cargo e por sua permanência. A imprensa apenas noticia o que sabe. Se os fatos não ajudam a desenhar um perfil virtuoso do ministro do Trabalho, fazer o quê? Paciência!
Dilma bravinha
Os assessores palacianos da presidente que lidam com a imprensa mandaram espalhar que ela ficou chateada porque a Comissão de Ética vazou o seu parecer antes de falar com ela. Queria o quê? Trata-se de uma “Comissão de Ética Pública”, não de assessoramento privado da cidadã Dilma Rousseff. A mandatária, consta, quer que a comissão dê algumas explicações. Que parte da lambança de Lupi Dilma não entendeu até agora?
Escrevi ontem sobre a Lei da Ficha Limpa, e alguns leitores, não sei se “luperinos”, perguntam-me por que acho que a presunção de inocência não vale também para o ministro. Quem disse? Não estou pedindo que ele seja imediatamente enviado à cadeia por conta das acusações que há contra ele. Acho que ele tem de ser demitido de um cargo político, de confiança; é coisa completamente diferente. Não me parece que possa ser ministro de estado alguém que, de modo deliberado, conta uma inverdade numa comissão da Câmara, evidenciada depois por fotos, vídeos, testemunhos. Daria até para colher as impressões digitais do ministro no tal avião.
O governo Dilma não será caracterizado por grandes êxitos na economia — a maré não é das melhores — nem por sua operosidade. As denúncias de malversação de recursos públicos nas obras da Copa começam a tomar volume. Que sinal Dilma está emitindo? Não há estratégia política que justifique a leniência com Lupi. O que vai ficando claro é que ele só sai se e quando quiser.
Parece que, de fato, a bala para derrubá-lo tem de ser muito grande, maior ao menos do que a bala que ele pode ter para disparar contra o governo.
Por Reinaldo Azevedo
Nenhum comentário:
Postar um comentário