sábado, 18 de maio de 2013

CLASSIFICADOS DE XEPA OU BALCÃO DE NEGÓCIOS

Gabriel Tebaldi |
                  
As eleições são uma grande vitrine de peças de segunda mão travestidas de produto de primeira linha. Nesse meio, é comum haver queima de estoque da civilidade, moral e ética. Passado o saldão, os exemplares defeituosos se anunciam por aí pra ganhar a vida. Assim, não é difícil abrir os classificados e encontrar certas figuras por lá.

Uma seção muito procurada é a de ex-prefeitos. Nela, as ex-excelências mostram todo o seu valor (ou a falta dele) e dão um verdadeiro exemplo de metamorfose ambulante. Em outras palavras, é como se dissessem: “Fazemos qualquer negócio”.

Comprador assíduo dos classificados, o governador Renato Casagrande não tem preconceito: serve base aliada, oposição, “amigo” do povo ou da Justiça. Não há barreiras para quem quer comprar, vender e, por que não, alugar.

Uma de suas aquisições foi Elieser Rabello (PMDB). No anúncio, seu recado era claro: ex-prefeito de Vargem Alta, condenado por improbidade administrativa e sem direitos políticos por cinco anos. Mas quem se apega a detalhes? Agora Elieser é diretor do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) do Estado.

Ao lado de um anúncio de caminhão estava o ex-prefeito de Iconha, Edelson Paulino (PT), que, segundo a oposição, deixou uma dívida de R$ 5 milhões. Agora é coordenador da Agência do Trabalhador, cabide ligado à Secretaria de Ciência e Tecnologia.

As portas de Casagrande também se abriram para Raquel Lessa (PSD). Após dois mandatos em São Gabriel da Palha e a acusação de conceder privilégios salariais a servidores amigos, Raquel agora é presidente do Instituto de Desenvolvimento Urbano e Habitação. Segundo as más línguas, o cargo foi cedido, pois nosso líder estava preocupado com o fato de Raquel ter que trabalhar. “Depois de oito anos, a gente até esquece como se conjuga esse verbo”, teria dito.

Provando que não guarda rancor, Casagrande ainda arrematou Gilson Amaro (PMDB), ex-prefeito de Santa Teresa, que não poupava críticas ao governo até ano passado. Nos classificados, Gilson oferecia seus serviços: “Lavo roupa suja e passo tudo a limpo”. A habilidade de moldar o discurso ao oportunismo rendeu-lhe o cargo de assessor especial da Secretaria de Governo. Mas não se preocupe, leitor! Você não é o único que não sabe para que serve esse cargo.

As listas de desempregados também correm na Assembleia Legislativa, onde o presidente Theodorico Ferraço (DEM) dita o trabalho (ou, novamente, a falta dele). Enquanto buscava um novo auxiliar, Ferraço encontrou seu amigo de fé, irmão camarada, Edson Magalhães. Preso na Operação Derrama, o ex-prefeito de Guarapari perdeu quase tudo: a liberdade, o partido, o celular, os assessores. Mas amigo é pra essas horas: Edson foi convidado para ser chefe de gabinete de Ferraço.

Em solenidade na Assembleia, Theodorico foi recebido ao som de “Esse cara sou eu”. E as incessantes más línguas garantem: nos bastidores, o presidente cantou para Edson: “O cara que pega você pelo braço / que esbarra em quem for que interrompa seus passos / Que está do seu lado pro que der e vier...”

Mas “o herói esperado por toda mulher” foi Casagrande, que firmou a relação com o compadre Theodorico e contratou sua esposa, Norma Ayub (DEM). A ex-prefeita de Itapemirim nem esquentou nos classificados: foi arrematada por R$ 8 mil para assessorar na Casa Civil.

Assim, o mercado político comprova que melhor que ser governador é ser amigo dele. Até as notas de rodapé sabem que toda essa articulação objetiva construir a base para a eleição de 2014. Em 2010, a coligação de Casagrande somou 16 partidos e, como “Crescer é com a gente”, a conta só deve aumentar.

Bancar os novos funcionários custa R$ 70 mil por mês. Ou seja: é salário de luxo para produtos da xepa. E mais: xepa que o povo rejeitou nas eleições e que, agora, o governo empurra goela abaixo. Melhor seria se as figuras de classificados tivessem o como destino o esquecimento, já que, cada vez mais, eles parecem não fazer falta para o eleitor.

Gabriel Tebaldi, 20 anos, é estudante de História da Ufes 

2 comentários:

  1. Caro Doutor Marco, admirado amigo, enquantop as "coligações" forem permitidas por esta estapafurdia Lei Eleitoral brasileira este fatos de "coligações por conchavo e interesse escuso" será alimentado pelo politico no executivo, principalmente. Uma vergionha! Nossa classe politica é mal caráter por origem...em sua grande maioria. Acima de tudo o interesse partidário, pessoal, politico e sujo....são verdadeiras quadrilhas que existem no Brasil.

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  2. Caro Doutor Marco, admirado amigo, enquantop as "coligações" forem permitidas por esta estapafurdia Lei Eleitoral brasileira este fatos de "coligações por conchavo e interesse escuso" será alimentado pelo politico no executivo, principalmente. Uma vergionha! Nossa classe politica é mal caráter por origem...em sua grande maioria. Acima de tudo o interesse partidário, pessoal, politico e sujo....são verdadeiras quadrilhas que existem no Brasil.

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