quarta-feira, 5 de maio de 2010

FALTOU COMBINAR.

Mesmo tardio, o duro desabafo de Ricardo Ferraço parece ter turbinado a insatisfação generalizada com o governador Paulo Hartung (PMDB) e com o senador Renato Casagrande (PSB). A reviravolta política no Estado está soando para muita gente como uma “tapetada”, uma decisão desnecessária, imposta à força, goela abaixo dos partidos e dos eleitores.




A perplexidade com a degola súbita e inesperada do vice-governador no jogo já tinha ofuscado a candidatura de Casagrande e gerado desgastes para ele.



Agora o discurso de Ferraço parece agravar a situação. Porque o peemedebista passou para muita gente a impressão de ter tomado uma pernada de Hartung. E Casagrande pareceu ter sido, inicialmente, o único beneficiado com isso. Hoje, todavia, é ele quem estaria arcando com o prejuízo da reviravolta. E a situação até faz lembrar aquela teoria do próprio governador do “ganhar perdendo”.



É possível que, ao ter decidido liderar a chapa palaciana, Casagrande tenha perdido a “fleuma” de candidato independente que sobreviveu ao isolamento no jogo eleitoral.



Por algumas avaliações, a candidatura dele teria sofrido uma espécie de transformação, que poderia levar, talvez, vários de seus admiradores a migrarem para o lado do deputado Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB). Inclusive como forma de protesto à mudança abrupta e aparentemente truculenta no jogo.



É o que ficou sinalizado, entre peemedebistas, por exemplo, após as explicações de Ferraço ao partido. O discurso lançou sobre o governador a responsabilidade pela desidratação do vice na disputa. Mas os motivos que teriam levado Hartung, ou quem quer que seja, a tal ação não foram expostos.



Há dúvidas, por exemplo, sobre o que teria levado o governador a declarar tão bruscamente e em público a articulação pró-Casagrande. Lideranças avaliam que esse nunca foi o modo de agir típico de Hartung ao longo de sua carreira.



Por isso mesmo ainda fala-se em imposição vinda de Brasília. É possível que questões como essas nunca sejam completamente esclarecidas, mas esses mistérios só ampliam e prolongam o clima de insegurança no mundo político.



A insatisfação que transborda no PMDB, portanto, é fruto desse clima pós-terremoto, sobretudo após a fala de Ferraço. O partido ficou sem candidato a senador, depois sem candidato a governador, e agora se sente fragilizado na disputa, a ponto de conversar com Casagrande e com Luiz Paulo e até cogitar a candidatura própria.



Na prática, tudo isso significa que o tal acordo entre lideranças está muito difícil de funcionar, porque não houve discussão com lideranças e com partidos. Na verdade, a suposta costura bagunçou ainda mais tudo que já estava instável desde o “fico” de Hartung. O jogo eleitoral é complexo demais para ser fechado em gabinetes, sem se combinar com os candidatos e principalmente com o eleitor.



Diante da insatisfação do PMDB, já haveria disposição até para os tucanos cederem a vaga de vice na chapa do deputado Luiz Paulo Vellozo Lucas ao partido, após as siglas iniciarem as conversas



Cena política

Depois do “tsnumami” da reunião do PMDB, na segunda-feira, o presidente do partido, Lelo Coimbra, e o secretário-geral, Chico Donato, correram toda a orla da Praia de Camburi às 6h30 de ontem. E, para variar, falaram de política o trajeto todo.



A costura avança. Os tucanos Luiz Paulo Vellozo Lucas e César Colnago viajaram juntos ontem para Brasília com o vereador Max da Mata, articulador eleitoral do DEM. O presidente estadual do PPS, Luciano Rezende, se junta hoje ao grupo.



Acordo nacional. Ainda ontem, Luiz Paulo, Colnago e Max conversaram com o presidente nacional do DEM, Rodrigo Maia. Hoje e amanhã haverá mais reuniões com a direção nacional do PPS e também com a de outros partidos.



Urgência. Ao que parece, os partidos já tratam do fechamento das coligações diretamente por Brasília. A pouco mais de dois meses do prazo para o fechamento oficial das alianças, não dá para perder mais tempo. Lideranças consideram que as instabilidades no jogo eleitoral no Estado já atrasaram demais o debate sobre as chapas proporcionais.



Estratégia. Enquanto adversário do novo candidato palaciano, Luiz Paulo vai tocando a política “paz e amor”. Não critica o governador Paulo Hartung (PMDB) e chega quase a defender o vice-gover-

nador Ricardo Ferraço, afirmando que ele foi “vítima de um projeto fadado ao fracasso”.



Reaproximação? A pessoas próximas a Ferraço, Luiz Paulo teria sinalizado a intenção de retomar o contato pessoal com Ferraço.

Radanezi Amorim

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