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sábado, 20 de abril de 2013

CASUÍSMO CONTINUÍSTA

O Estado de S.Paulo

Urge que se adotem no Brasil regras mais rígidas para que se autorize o funcionamento de novos partidos políticos. Conviria desde já impedir que representantes do povo mudem de legenda como trocam de camisa ao longo do mandato sem respeitar a vontade do eleitor que o sufragou. Tais providências são necessárias para dar mais legitimidade à democracia representativa. Mas isto não deveria servir de mero pretexto para uma malandra intervenção nas regras do jogo democrático com o claro objetivo de facilitar a permanência de quem já está no poder.

Este é, claramente, o caso da lei aprovada a toque de caixa na Câmara para limitar o campo de ação de novas siglas numa tentativa sem disfarces de evitar que a presidente Dilma Rousseff tenha de disputar o segundo turno da eleição presidencial de 2014. Tal possibilidade se abriria com as presenças no pleito da ex-correligionária Marina Silva e do aliado, prestes a deixar de sê-lo, Eduardo Campos. No avesso das facilidades dadas à organização do Partido Social Democrático (PSD) do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, brindado com a partilha fraterna do Fundo Partidário e do horário de propaganda partidária no rádio e na televisão, as novas siglas serão tratadas a pão e água.

Quando a lei entrar em vigor, parlamentares não poderão mais levar junto com seu mandato a parcela que lhes cabe no tempo de propaganda na televisão e no rádio e nas verbas públicas que, na prática, fazem os partidos funcionar.

O emprego de dois pesos e duas medidas - tapete vermelho para receber Kassab e um número expressivo de ex-oposicionistas do Democratas (DEM) na coligação que se formou para apoiar a reeleição da presidente da República, de um lado, e, de outro, o "rigor da lei" para os ex-amigos Campos e Marina, que ameaçam desafiar a candidatura oficial em 2014 - denuncia as intenções dos governistas. Só isso justifica o açodamento para a aprovação das novas regras, com a adoção de urgência urgentíssima de um texto que mira a eleição presidencial a ser disputada em um ano e meio, na terça-feira, e a votação acachapante, no dia seguinte - 240 votos a favor, 30 contra e 13 abstenções. A expressão "rolo compressor", usada no jargão parlamentar para descrever ações governistas para obter apoio parlamentar para seus projetos, pode ser usada no caso, portanto, com toda a propriedade. O governo nem escondeu este propósito: o repórter do Estado João Domingos ouviu a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, cobrar a fidelidade das bancadas governistas em telefonemas para seus líderes.

Neste rolo, aliás, até os oposicionistas do Democratas (DEM), debilitado com a criação do PSD, pegaram uma carona oportunista: emenda do ruralista e deputado pelo DEM Ronaldo Caiado (GO) condicionará a distribuição de verbas para o Fundo Partidário e tempo na propaganda eleitoral às votações obtidas pelas legendas nas eleições anteriores. Em tese, trata-se de uma providência que adota "um princípio de justiça válido", na definição do cientista político Cláudio Gonçalves Couto, da FGV. Pois a permissão para transportar verbas e tempo dos parlamentares sem levar em conta as siglas pelas quais foram eleitos favorece novos partidos e prejudica os que já funcionam.

Só que esta redução das proporções de tempo e verbas públicas que cabem às legendas menores e a súbita generosidade com as bancadas em ação no Congresso foram adotadas para facilitar a vitória de Dilma no primeiro turno da eleição. A iniciativa foi inspirada no temor da repetição do fenômeno Marina Silva, que levou a disputa de 2010 para o segundo turno. Tudo foi feito para dificultar adesões a sua Rede Sustentabilidade, que já enfrenta dificuldades com a lei vigente. E a pressa para a adoção das novas regras tenta impedir a proliferação de siglas atreladas ao projeto de disputa da Presidência por um aliado do governo que ameaça partir para voo próprio, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). O oportunismo desses objetivos retira da iniciativa governista qualquer nobreza. É só casuísmo continuísta, que nada tem de ético.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

MARCO CONTRA A IMPUNIDADE

  • aA

  • Radanezi Amorim
    É raro no país ver autoridades no banco dos réus. Mais raro ainda é vê-las na cadeia condenadas por corrupção. Por esse ponto de vista, é altamente simbólica a punição de José Dirceu, que terá de ficar preso por pelo menos um ano e nove meses.
    Ex homem forte do início do governo Lula e ex-todo-poderoso do PT nacional, ele mesmo não cansou de repetir em viagens pelo país que queria ser julgado pela acusação de ser o chefe do esquema do mensalão. Provavelmente tinha certeza de que sairia ileso porque o caso seria tratado na Justiça como "farsa", como chegou a dizer o ex-presidente Lula.

    Os esforços do STF para julgar o mensalão e a punição de Dirceu já seriam, por si só, marcos no país contra a impunidade dos poderosos. Mas o Supremo foi muito além, não poupando também José Genoino e Delúbio Soares, demais integrantes do chamado núcleo político do esquema.

    Do mesmo modo, banqueiros incluídos no núcleo financeiro não escaparam de punições pesadas. E políticos e dirigentes partidários também foram condenados.

    Não é pouco, num país onde autoridades costumam ter acesso aos gabinetes de magistrados e ministros, e onde a regra é os processos contra políticos se arrastarem por anos até as penas perderem a validade.

    "O que ocorreu com Dirceu é comum nos tribunais. Mas não para gente do andar de cima", resume Júlio Pompeu, professor de Ética da Ufes. O que houve em relação ao ex-ministro não foi a interpretação da lei penal, mas interpretação das provas, acrescenta ele.

    "No andar de baixo", pessoas comuns são condenadas com mais frequência com penas mais graves e com menos provas. "O Supremo atuou com rigor típico de quem julga criminosos comuns, pelo menos no que diz respeito ao conjunto de provas", explica Pompeu.

    E talvez por ter sido tratado como pessoa comum que Dirceu protestou, dizendo que o processo "recorreu a recursos jurídicos que violam abertamente a Constituição e o Estado Democrático de Direito".

    Há quem considere inclusive que a punição ao ex-ministro foi "leve" demais, diante do fato de, como chefe do esquema, ele ter colocado em risco "o próprio sistema democrático, a independência dos Poderes e o sistema republicano", como disse o ministro Joaquim Barbosa, relator do processo.

    "Ele recebeu até penas severas, próximas do máximo possível", avalia Pompeu. Segundo ele, a lei penal não prevê penas pesadas para os crimes pelos quais Dirceu foi condenado – corrupção ativa e formação de quadrilha.

    O professor considera ainda que, por um lado, o julgamento do mensalão, provou ser possível prender autoridades por corrupção. Mas só será um marco definitivo de mudança se o Judiciário mostrar daqui para diante o mesmo rigor e disposição do Supremo.

    Até agora, a regra foi a de processos semelhantes empoeirarem nos escaninhos da Justiça – a exemplo do mensalão mineiro, embrião do esquema comandado por Dirceu em Brasília.

    Mudança difícil

    Em tese, José Dirceu e outros condenados do mensalão ainda podem recorrer ao Supremo. Mas como as decisões foram da própria Corte, o professor Júlio Pompeu considera pouco provável alguma alteração nas sentenças. O mesmo raciocínio vale para possíveis recursos a cortes internacionais.

    Fonte: A Gazeta

    segunda-feira, 24 de setembro de 2012

    NÃO HÁ DEUSES NA POLITICA

    A onda vermelha começa a amarelar. O sentido do verbo é menos o de mudança cromática e mais o de perder o viço, o frescor, empalidecer por causa da idade, conforme ensina Houaiss em seu dicionário. A perda da vitalidade pode ser observada tanto na estética da paisagem quanto na semântica do discurso. Até a governante-mor mostra recato na liturgia do poder, ao usar com parcimônia seu tailleur vermelho. A referência, logo decifrada pelo leitor, é sobre o Partido dos Trabalhadores.



    Todos recordam a miríade de estrelas e bandeiras rubras se espraiando por todos os cantos - das praças centrais das metrópoles, passando pelos jardins do Palácio do Alvorada e enfeitando as poeirentas ruas de distritos dos fundões do País. Nesta campanha eleitoral já é possível prever que a maré vermelha não chegará à praia com o volume de água e a força de arrebentação que destroçavam territórios povoados por outras cores partidárias. A se confirmarem projeções que indicam um refluxo eleitoral do PT em tradicionais domínios, pode-se aduzir sem risco de errar que, ao chegar aos 32 anos de vida, o tecido petista se mostra roto.

    Antes que o tucanato se anime com a hipótese de ter resgatado a antiga força perdida para o petismo, é oportuno examinar sua saúde. Para começar, seu radiador furado ameaça superaquecer o corpo de suas aves - cientistas descobriram recentemente que o imenso bico dos tucanos funciona como um radiador que dissipa o calor do seu corpo, permitindo-lhe permanecer com temperatura amena. Pois bem, o radiador tucano há tempos deixa vazar água, porque o bico está esburacado.

    Quem observou o estrago foi um tucano de alta plumagem, o arguto ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ele foi ao ponto: o PSDB enfrenta intenso desgaste de material. Em 24 anos, os tucanos não souberam oxigenar seu corpo, renovar o bico, reciclar as asas. Imaginaram que, deitados no leito da classe média alta, podiam estender seu império a partir do comando da Nação durante oito anos. Fincaram profundas estacas em Estados poderosos, como São Paulo, Minas Gerais e Paraná. Um feito. Mas é inegável que os parafusos da máquina tucana estão espanados por falta de lubrificação das engrenagens.

    Portanto, neste ciclo eleitoral as bandeiras rotas do PT desfilam ao lado de figuras carimbadas do PSDB. O tecido petista começou a esgarçar em 2005, na malha dos Correios, quando um vídeo mostrou um chefete recebendo dinheiro para intermediar negócios. O episódio abriu o escândalo do mensalão. O então presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson, contrariado com denúncias envolvendo seu nome, batizou a compra de votos de deputados com o neologismo. O caso começou a ser julgado em 2007. O governo Lula chegou ao final imerso na poeira levantada pelo tufão.

    O ex-presidente tentou tergiversar, negando a existência do mensalão, após se dizer traído e pedir perdão aos brasileiros por "práticas inaceitáveis". Usou o carisma, o programa de distribuição de renda (Bolsa-Família), o incentivo ao consumo e o controle dos eixos macroeconômicos para glorificar o petismo-lulismo. A estética vermelha dominava os ambientes. Os milhões de brasileiros ingressos no novo patamar da pirâmide social engrossaram o refrão do Lula-lá.

    A dinâmica social, porém, acabou plasmando um antivírus. A organicidade social intensifica-se na esteira da multiplicação de bolsões de defesa de contribuintes e da mobilização de categorias que acorrem aos corredores institucionais. Independência e autonomia passam a iluminar as consciências. A presidente Dilma, com sua identidade técnica, edifica um escudo que a protege da chuva ácida que fura o telhado petista. A crítica à representação política, na esteira de denúncias de malversação do dinheiro público, nivela entes partidários e forma ondas de contrariedade. O PT e seus ícones entram no primeiro plano da cena. E agora se constata que Lula não é "deus", como proclamou a hoje ministra Marta Suplicy. Não há deuses na política. Nem ela dobra a vontade do eleitor, como sugeriu.

    O julgamento do mensalão vira o hit do momento. Marolas saem do meio do oceano social e chegam às margens, carregando indignação. Matérias bombásticas e recados de réus pairam como ameaça ao projeto petista. Figuras de proa temem ser jogadas no meio do fogaréu. Ao entrar na guerra eleitoral disposto a costurar as bandeiras vermelhas País afora, Luiz Inácio assume o risco de sair da batalha como o grande perdedor. Vende continuidade com a lábia carismática. Mas o discurso está embalado em celofane velho: palanques, colchões assistencialistas, economia controlada. Será isso o novo? A invencionice de programas marquetados já deu o que tinha que dar.

    Na floresta tucana as copas das árvores também amarelam. As folhas no chão formam um tapete apodrecido. E mais: o próximo capítulo do espetáculo midiático será o mensalão mineiro. Que jogará o PSDB no banco dos réus. Em suma, os tucanos não têm sido capazes de substituir seus grandes perfis por ideias luminosas. O partido gira em torno de quatro a cinco caciques. São inegáveis suas qualidades pessoais, a experiência acumulada, os programas implantados nos territórios que governam. Jamais se poderá apagar a contribuição dada pelo ciclo FHC ao Brasil moderno. Foi ele, sim, que abriu as portas da estabilidade econômica. Mas essa é uma página virada. Qual é o projeto de futuro?

    Não é de admirar, pois, que PT e PSDB estejam na maior encruzilhada de sua vida. Décadas de arengas e querelas corroeram seus estoques de credibilidade. Veja-se a campanha paulistana. O eleitorado mostra-se cansado e resiste a entrar no jogo da polarização. Demonstração da saturação é a tendência a escolher um nome distante dos figurinos petista e tucano. Sinal dos tempos: as duas grandes estruturas partidárias que mais pregavam a ética na política estão vivendo horas de pesadelo

    Gaudêncio Torquato.

    domingo, 22 de julho de 2012

    NA POLITICA VALE TUDO

    Quando para muitos parecia que nossos políticos tinham esgotado o repertório de subterfúgios para abusar da coisa pública em benefício próprio, descobre-se que o dono do PDT em São Paulo, deputado federal Paulinho da Força, candidato a prefeito da capital, mantinha controle sobre a Secretaria de Estado de Emprego e Relações de Trabalho por intermédio de seu filho, Alexandre Pereira da Silva, que, apesar de não ter nenhum vínculo formal com a pasta, ali dispunha de um gabinete completo, a partir do qual, em nome do pai, mandava e desmandava na área de operações. Alexandre é funcionário da Fundação para o Desenvolvimento das Artes e da Comunicação (Fundac), fundação de direito privado, sem fins lucrativos, que só este ano recebeu R$ 3,7 milhões da Secretaria do Trabalho.



    Tendo o Estado revelado a maracutaia, o governador Geraldo Alckmin ordenou à Corregedoria-Geral da Administração, vinculada à Casa Civil, a investigação dos fatos. E na tarde da quarta-feira o pivô do imbróglio afastou-se da Secretaria, obedecendo à determinação provinda do Palácio dos Bandeirantes. Mas Alckmin, antecipando-se à rigorosa apuração que ordenara, fez eco às declarações de Paulinho da Força de que não havia no episódio "nenhuma irregularidade".

    O secretário de Emprego e Relações de Trabalho chama-se Carlos Ortiz, é sindicalista filiado ao PDT e assumiu o cargo em março último, em decorrência de um acordo político por meio do qual Paulinho garantiu uma força - da legenda de que é dono e certamente também da central sindical da qual é presidente licenciado - à candidatura de Alckmin à reeleição, em 2014. A Coordenadoria de Operações da pasta é oficialmente dirigida por um funcionário de carreira sem filiação partidária, Marcos Wolff.

    Mas era Alexandre quem dirigia de fato a unidade, recebendo diretamente os pleitos dos prefeitos e dispondo a seu critério dos recursos destinados à aplicação na área da Coordenadoria, que abrange 243 postos de atendimento a trabalhadores distribuídos por todo o Estado - uma base de operações perfeita... para cabos eleitorais.

    Lamentável sob todos os aspectos, este é mais um episódio que evidencia, por um lado, o nível de banalização a que chegou a prática da mais deslavada apropriação privada dos bens e recursos públicos por parte de políticos e, por outro, que cada vez mais as principais legendas partidárias se revelam farinha do mesmo saco.

    Há quase duas décadas governando o Estado de São Paulo, o PSDB age e deixa seus aliados agirem em seus domínios com a mesma falta de cerimônia com que seu figadal adversário, o PT, atropela a lei e os mais elementares princípios éticos para impor no plano federal seu desígnio de perpetuação no poder.

    Da maneira como as coisas estão dispostas na política brasileira, os tucanos têm a pretensão de se apresentar como os principais opositores do lulopetismo. Mas o comportamento do PSDB, seja em seu principal reduto, o território paulista, seja em outras paragens como o Estado de Goiás - como a CPI do Cachoeira tem demonstrado -, revela que não existe muita diferença no modo como uns e outros manejam, na prática, o cotidiano da administração pública. O mesmo tipo de alianças de conveniência com que o PT procura garantir a "governabilidade" no plano federal se reproduz - guardadas as peculiaridades do jogo político no âmbito regional ou local - nos domínios tucanos.

    A vala comum em que os políticos parecem atolados evoca o aparente conflito apontado na política, pela teoria weberiana, entre a ética das convicções, fundada em princípios, e a ética da responsabilidade, que procura compatibilizar princípios com genuína governabilidade. Escreveu um ilustre tucano, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em recente livro sobre A arte da política: "Se é certo que o político, para Weber, deve ser julgado pelas consequências de seus atos, isto não significa que a ação do político dispense convicções".

    Não tem sido tarefa fácil, porém, identificar na ação dos políticos brasileiros convicções que não sejam a de que na política vale tudo.

    Fonte: O Estado de São Paulo

    quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

    ATÉ TU, BRUTUS



    Tudo dominado – Está cada vez mais evidente que a política é a arte da incoerência. Desde que o Partido dos Trabalhadores desembarcou no Palácio do Planalto, os agora partidos de oposição tentam sem sucesso retornar ao poder. Para tal têm tentado investidas das mais diversas, as quais são vergonhosamente aniquiladas pela força que emerge da base aliada, que no Congresso Nacional vota de acordo com as vontades palacianas.

    Por questões históricas e numéricas quem lidera a oposição é o PSDB, partido que durante oito anos esteve no poder central com Fernando Henrique Cardoso e companhia bela. Recentemente, o PSDB tentou, sem sucesso, convocar o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), para que explicasse suas milionárias consultorias econômicas prestadas após a saída do petista da prefeitura de Belo Horizonte.

    Entre os tantos argumentos elencados pelo tucanato está a questão da ética pública, algo raro de se encontrar nos dias atuais. Acontece que o discurso do PSDB cai por terra quando o líder do partido na Câmara dos Deputados, Duarte Nogueira, é flagrado em transgressão primária. De acordo com reportagem publicada na edição desta quinta-feira (22) do jornal “Folha de S. Paulo”, Duarte Nogueira “paga com dinheiro público um motorista particular que atende a seus filhos no interior paulista”.

    Contratado desde julho passado como secretário particular do deputado tucano, com salário que pode chegar aos R$ 1.900 mensais, José Paulo Alves Ferreira, conhecido como Paulo Pedra, foi escalado para dirigir para os filhos de Duarte Nogueira em Ribeirão Preto, próspera cidade do interior paulista e reduto eleitoral do líder do PSDB.

    O parlamentar entende que nada existe de anormal no caso, mas o Ministério Público Federal considera desvio de função a atuação de servidores em tarefas particulares. Em setembro, o Ministério Público do Distrito Federal do DF abriu inquérito para investigar o ex-ministro do Turismo e deputado federal Pedro Novais (PP-MA) por conta de transgressão idêntica.

    Duarte Nogueira alega que o motorista presta serviços à família somente após o horário de expediente. Mesmo que essa seja a realidade dos fatos, Duarte Nogueira, que na Câmara representa um partido político que estoca insistentemente o governo atual e sonha com a volta ao poder, poderia evitar vexames dessa natureza, algo que no dito popular é conhecido como “coisa de larápio de penosas”.

    Diante do mais novo escárnio, o PSDB deveria rever as cobranças que faz em relação aos atuais donos do poder, pois não importa o valor do delito cometido, mas o ato em si.
    O grande enigma que ainda paira sobre a classe política é a questão dos altos investimentos nas campanhas eleitorais. Para se ter ideia da extensão do absurdo, um candidato a deputado federal por um estado do Nordeste, por exemplo, só alcança a seara da elegibilidade se aceitar que cada voto lhe custará R$ 50. Eleito por um partido de média expressão nacional, um candidato com 160 mil votos terá gasto, em três meses de campanha, R$ 8 milhões para chegar à Câmara. Acontece que nos quatro anos de mandato o eleito auferirá perto de R$ 1,5 milhão em salários. Até hoje ninguém ousou explicar esse delta financeiro, que no exemplo acima é de R$ 6,5 milhões

    Fonte: Ucho.Info

    domingo, 20 de novembro de 2011

    INIMIGA DA REPÚBLICA

    Por que o combate à corrupção e ética na política, antigas bandeiras do PT, não podem hoje ser tratados como um "udenismo reciclado"

    O grande tema da política brasileira parece, a uma leitura dos jornais ou numa conversa com a classe média, ser a corrupção. E esse é mesmo o problema crucial na república. Uso aqui o termo república, como sustentei em meus livros A República e A Democracia, como o contrário não da monarquia, como aprendemos na escola, mas da corrupção. A "boa política" de hoje é republicana e democrática, mas os termos não são sinônimos. Democracia é o regime no qual a maioria do povo decide, distinguindo-se do que no passado se chamou monarquia e aristocracia e hoje chamaríamos de ditadura. O que define o regime democrático é o poder da maioria. Já a república, etimologicamente, não é um meio de escolher governantes, nem de votar leis. É a grande finalidade do viver em conjunto: é ter por meta a res publica, a coisa pública, o bem comum. Daí que o ideal seja termos democracias voltadas para o bem comum. Não é fácil, mas é possível.

    Por isso, se a república é o empenho no bem comum, seu inimigo é o furto do público pelo particular, a destruição do que é de todos em favor de poucos: a corrupção. Se a melhor forma de governo é a república democrática (o regime em que a maioria decide, em prol do bem de todos), ela tem de lutar implacavelmente contra a corrupção. Nada desmoraliza tanto a boa política quanto o homem de bem "ter vergonha de ser honesto", como dizia Rui Barbosa. Daí, a preocupação com a ética na política.
    Isso não é udenismo reciclado, até porque por muito tempo foi a grife do PT, partido que conseguia identificar a preocupação com a honestidade e o empenho na justiça social. Esse é, sim, o cerne duma política decente.

    Infelizmente, é difícil identificar a corrupção e seus praticantes. Ao contrário do que se propala, o País avançou nisso. Vários órgãos dos três poderes se empenham em coibir e punir a corrupção. Mas temos dois problemas sérios. O primeiro são os corruptos hábeis, que driblam os controles. Dou um exemplo. Para garantir a honestidade dos dirigentes, uma série de restrições lhes é imposta. Se viajam a serviço, devem prestar contas da viagem e das diárias recebidas. Ora, o que faria um corrupto? Não pediria diárias ou passagem ao governo. Podendo ganhar milhões com um ato ilegal, por que deixar pegadas? Pois quase todo o combate à corrupção se baseia em rastros. Quando um reitor pagou um espetáculo de fado com dinheiro público, agiu errado, mas os próprios sinais que deixou provam que não era parte de uma quadrilha. Se ele estivesse envolvido num esquema de assalto aos cofres públicos, ganharia muito mais – e não deixaria transparecer nada. Esse é uma dificuldade no combate à corrupção. Há outra.

    Para combater os malfeitos, impõem-se controles, mas são tantos que inviabilizam a vida dos gestores... honestos. Vejam o ordenador de despesas – o servidor que pode mandar pagar algo, seja uma soma pequena, seja elevada. Eles vivem apavorados. Sabem que podem ser acusados por uma assinatura. Assim, para evitar malfeitos, cada despesa é autorizada por uma série de escalões. Só que o responsável é o último, o mais alto na série. Ora, tem ele certeza de que os outros fizeram tudo direito? Pois quem paga é ele. Daí que precise ler tudo, o que é impossível, entender tudo, o que também não dá, ou delegar a pessoas de total confiança sua, que podem traí-lo. Para evitar a corrupção, multiplicamos o red tape, a burocracia.

    Chegamos aqui ao ponto crucial. A corrupção aumentou ou não no governo Lula? O combate a ela é uma luta moral ou resvala para o moralismo? As duas questões estão ligadas. Se cresceu a corrupção, a condenação ética ao lulismo – ou ao PT – se justifica. O mesmo vale, por sinal, para a possível corrupção tucana, que em São Paulo a Assembleia jamais apura. Esse é o grande problema, aliás: fala-se muito, sabe-se pouco. Por várias razões. Primeira: como disse, a grande corrupção é furtiva. Sou reticente quando incidem acusações sobre somas pequenas, possíveis erros, dificuldade com a papelada. Creio que isso desvia a atenção do dolo, das grandes somas. Mas a segunda razão é que infelizmente os políticos e a mídia brasileiros têm pouca vontade de pôr fim à corrupção. Os acusadores mais veementes dos corruptos só condenam a corrupção do lado oposto.

    Vejo isso no Facebook. Quando se levanta uma suspeita contra seu lado, indignam-se. Dizem que o outro lado (o "do mal") os acusa para esconder seus malfeitos. Recusam-se a ser investigados, com uma indignação que até parece autêntica. Assim, o combate à corrupção, que deveria ser empenho de todos, se subordina a agendas baixas de campanhas políticas. Isso explica por que mais gente foi protestar contra o não metrô em Higienópolis do que contra a corrupção no Brasil: porque a causa não é limpa. O que é, convenhamos, uma grande pena.

    E há um finalmente. Quase toda a crítica ao governo se concentra na corrupção, real ou imaginária. Não vejo os tucanos irem além de defender a privatização do pré-sal ou de atacar o Bolsa Família (mesmo assim, em 2010, Serra propôs aumentá-la, de modo que essa bandeira saiu de cena). No Feice, quem ataca a corrupção não propõe nada para o Brasil. A discussão política ficou pobre. Sinal disso é a recente entrevista de Aécio Neves. O Brasil merece mais. Merece pelo menos duas coisas: debates sobre políticas para o País e um combate, sem uso partidário, contra a corrupção.

    *RENATO JANINE RIBEIRO É PROFESSOR TITULAR DE ÉTICA E FILOSOFIA POLÍTICA NA USP E COLUNISTA DO JORNAL VALOR ECONÔMICO

    segunda-feira, 14 de novembro de 2011

    PROTESTO EM VITÓRIA CONTRA A CORRUPÇÃO

    Amanhã é dia de ir às ruas contra a corrupção. Manifestações em diversas cidades do país serão realizadas neste feriado visando despertar a população para a importância da educação política e do voto consciente. Em Vitória, a concentração será em frente ao Pier de Iemanjá, na Praia de Camburi, a partir das 15 horas.

    A expectativa dos organizadores, que seguirão em caminhada até a Assembleia Legislativa, é que cerca de mil pessoas participem do ato com cartazes, nariz de palhaço e muita disposição de mudar a realidade política do Brasil.

    Durante a manifestação, um grupo de organizadores vai colher assinaturas pelo apoio da Lei da Ficha Limpa, da queda do foro privilegiado de políticos, da quebra de sigilo fiscal de denunciados em escândalos de corrupção e a favor do voto aberto na Câmara e no Senado.

    Fonte: A Gazeta

    Reuri Stein e Guilherme Gouveia, ambos estudantes e organizadores do ato em Vitória, afirmaram que o objetivo é chamar a atenção da população e despertar o interesse pela política. "Queremos atingir o câncer da corrupção", disse Reuri.

    A intenção do grupo, apartidário, é seguir com atos e realizar fóruns de discussões para debater o assunto.

    Manifestações semelhantes vão ocorrer em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Santa Catarina e outros 13 Estados.