segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

R$ 100 BI SÓ DE JUROS

Consumidor paga R$ 1 mil por ano em despesas financeiras

Rotativo do cartão de crédito, conta com atraso ou parcelamento de compras. Essas atitudes, que hoje fazem parte da rotina de muitos brasileiros, escondem uma armadilha: o juro. E a nova classe média é a que mais sente os efeitos e paga R$ 100 bilhões de juros todos os anos. Isso significa que cada pessoa desembolsa mais de R$ 1 mil com despesas financeiras anualmente.

São 95 milhões de pessoas no país com renda familiar mensal entre R$ 1 mil e R$ 4 mil. Juntos, esses brasileiros somam 52% da população brasileira e movimentam R$ 1,1 trilhão no mercado interno.

Para se ter uma ideia da imensidão do valor pago em juros, R$ 100 bilhões correspondem a quase metade de toda a
foto: Carlos Alberto Silva
ES - Vitória - A empresária Tatiane Soares não costuma usar cartão de crédito no pagamento de suas compras
"Prefiro comprar à vista para fugir dos juros. Compras no cartão, só se for para pagar a fatura toda".

Tatiane Soares, dona de restaurante
despesa do governo federal nos últimos doze meses com pagamento de juro da dívida pública, de R$ 230 bilhões.

O pior é que esse índice é velado. A percepção que se tem, declarada ao IBGE, é que está pagando "só" R$ 3 bilhões. Isso significa que a classe média acha que paga R$ 30 por ano em juros. Mas paga R$ 1 mil.

O estudo sobre a despesa foi apresentado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) esta semana, durante o 3º Fórum Banco Central sobre Inclusão Financeira.

Mas por que o espelho mostra uma imagem tão distorcida das finanças? O ministro da SAE, Moreira Franco, explica que falta de transparência na apresentação das informações "Quando a classe média compra um produto, o juro está embutido naquele preço, mas ela não sabe que o juro está ali", argumenta.

Moreira Franco avalia que os dados sobre pagamento de juros mostram que é preciso "esforço" pela transparência das informações.

"Para se ter ideia, essa nova classe media é responsável por colocar no mercado coisa em torno de R$ 1,1 trilhão. É algo maior do que o PIB de Portugal. Esse segmento é uma base que precisa ser preservada. Isso significa que temos que começar esforço no sentido de dar mais transparência ao consumidor, na propaganda. Para que ela (classe C) saiba o que é o preço e o que é juro pago", disse.

Juros escondidosPara o economista, Laudeir Frauches, um grave problema é a percepção de que existe compra a prazo sem juros. "Vemos muito, no Brasil, a expressão ?sem juros?. Isso é dito como se fosse possível alguém emprestar dinheiro sem cobrar por ele. Afinal, quando há uma compra, alguém está disponibilizando para o consumidor um valor por algum período".

Outro ponto que pode deixar o brasileiro com orçamento no vermelho é falta de planejamento. "Juro é o preço da impaciência. Antes de fazer uma compra, responda a três perguntas: você precisa do objeto? Tem dinheiro para a compra? Precisa comprar agora? Se a resposta para as três perguntas for sim, feche negócio"
Conheça seus direitos
Abuso
É possível verificar se o cidadão foi vítima de juros abusivos. No entanto, isso não é tão simples, já que não há uma tabela com os valores que podem ser cobrados no Brasil.

Justiça
Há consumidores que entram com ações judiciais por não conseguirem pagar a dívida. A Justiça entende, em muitos casos, que apesar de as taxas serem pactuadas no contrato, são abusivas. Mas isso é analisado caso a caso.

Oferta de crédito
A Justiça avalia, em ações como essa, como é feita a oferta de crédito, ou seja, se ficou claro na oferta quanto o consumidor vai pagar e quais são as taxas. Uma resolução do Banco Central determina que toda instituição que oferece financiamento deve detalhar como será a apresentação dos juros.

Como reclamar
A primeira porta pode ser o Procon. Para isso, é interessante ter em mãos todos os extratos de pagamento e o contrato. Além disso é válido levar a oferta de crédito, ou seja, a forma como você chegou a essa instituição. Nos Procons há setores de cálculo, que vão detalhar os juros e saber se são os que estão no contrato.

Fonte: Lorena Tamanini, advogada especialista em defesa do consumidor.

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