sábado, 9 de novembro de 2013

O PERIGO REAL

EM POUCOS MESES O “MAIS MÉDICOS” JÁ DEMONSTRA SUA FRAGILIDADE. UM GRUPO DE 48 PROFISSIONAIS QUE ATUAM PELO PROGRAMA FOI REPROVADO NO REVALIDA.

É constrangedor a qualquer cidadão ver que autoridades que deveriam defender os anseios dos brasileiros ignoram a importância da saúde, deixando claro que não têm compromisso algum com a qualidade. Exemplo disso é o “Mais Médicos ”que, em poucos meses, já começou a demonstrar a sua fragilidade. Um grupo de 48 profissionais que atua pelo programa foi reprovado no Revalida, exame federal para reconhecer o diploma de medicina obtido no exterior. Eles foram aceitos para aturar na atenção básica prioritariamente no interior do país, onde há maiores carências. Contudo, muitos acabam  sendo alocados em grandes centros.

No total, 1.440 candidatos não passaram para a segunda fase. Entretanto, os 48 reprovados poderão exercer a medicina, mesmo após atestado de que não estão qualificados para tal. Com fim meramente eleitoreiro, permite-se que profissionais de capacidade insuficiente exerçam a medicina. E é a população, em particular as pessoas mais vulneráveis que corre risco real.

Aí está o motivo de os médicos brasileiros se mostrarem tão preocupados com o fato do “Mais Médicos” dispensar o Revalida para submissão dos estrangeiros. Também se torna evidente a razão das entidades médicas rejeitarem alguns pontos do programa. Não se trata de xenofobia, muito menos de competição no mercado com os  colegas estrangeiros. Trata-se de uma medida que interfere negativamente na estrutura da nossa medicna, reconhecida mundialmente por sua excelência.

A verdade é que nós, médicos brasileiros, permanecemos sensibilizados com a falta de assistência em regiões afastadas, mas  temos a consciência de que sem a infraestrutura necessária não há muito como avançar. Médico não é mágico, precisa ter a disposição medicamentos, equipamentos, exames, equipe multidisciplinar e outros profissionais da saúde.

Os médicos formados fora não conhecem a realidade do nosso sistema público de saúde e estão iludidos com o discurso marqueteiro do governo. Através dessa medida, o Ministério da Saúde desrespeita tudo que já foi construído pelas entidades médicas e acadêmicas nacionais, que vêm colocando o Brasil em posição de destaque na medicina internacional.

Infelizmente esse é mais um engodo que nos acostumamos a ver às vésperas das eleições. Ao invés de investir dinheiro público para construir bons hospitais e postos de saúde, o que obviamente levaria profissionais para qualquer canto do Brasil, o governo opta por ludibriar a população com a presença de médicos sem qualificação. Não podemos aceitar essa inversão de valores.

ANTONIO CARLOS LOPES

Presidente da Sociedade Brasileira de Clinica Médica

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