2006 Ivo Patarra
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O Chefe, por Ivo Patarra
– Temos a presidência do Instituto de Resseguros do Brasil, a vice-presidência
da Caixa Econômica Federal, uma diretoria da BR Distribuidora, da Embratur, da
Eletronorte e da Eletronuclear, além das delegacias de trabalho do Rio e de São Paulo.
Para Jefferson, os R$ 3.000,00 recebidos por Maurício Marinho não eram
propina, mas pagamento por uma consultoria.
– Ele não vendia nem comprava nada. Ele estava sendo contratado como
consultor.
Sobre seu relacionamento com o funcionário, diz:
– Estive com ele três ou quatro vezes. Ele esteve uma vez no meu aniversário.
Outra vez, no aeroporto. Esteve uma vez na liderança do partido. Mas nunca integrou
nossos quadros e nunca recebeu delegação para pedir recursos a qualquer pessoa.
Agora, o relacionamento de Jefferson com o PT:
– Houve uma conversa entre mim e o Genoino. Iríamos apoiar o PT em alguns
Estados, e o PT, que segundo os jornais possuía um caixa de mais de R$ 120 milhões,
iria transferir recursos para o PTB. Isso acabou não se concretizando. Genoino não
pôde, disse que não dava para sustentar as suas campanhas, quanto mais as minhas. Não
foi algo que ferisse a moral, a ética ou a boa relação republicana entre partidos.
Em seguida, fazendo num gesto teatral:
– Vou descer da tribuna e assinar o pedido de CPI. Nada temo. O PTB não se
preocupa com investigação.
Comentário do líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (PTSP):
– Jefferson se saiu bem. Nem os opositores mais duros do governo questionam a
ética do deputado.
Nos bastidores, porém, governo e aliados buscam evitar a abertura da CPI. O
líder do PL na Câmara, deputado Sandro Mabel (GO), telefona para os colegas e apela
para que não endossem as investigações. O líder do PT, deputado Paulo Rocha (PA), faz
a mesma coisa:
– A CPI é um instrumento de disputa política que a oposição usa contra o
governo.
Julgamento do TCE (Tribunal de Contas do Estado de São Paulo) considera
irregular contrato celebrado pelo ministro Antonio Palocci (PT-SP), na época em que
foi prefeito de Ribeirão Preto (SP), em 2002. O motivo: não ficou provado interesse
público na dispensa de licitação para contratar a Coderp (Companhia de
Desenvolvimento Econômico de Ribeirão Preto). Não houve pesquisa de mercado para
justificar o preço da contratação, um negócio de R$ 3,5 milhões, que previa a realização
do projeto arquitetônico do Vale dos Rios.
A obra previa a revitalização da região central de Ribeirão. Jamais foi realizada.
Apesar disso, chegaram a gastar R$ 2 milhões. A Coderp só explicou o destino de R$
323 mil. A denúncia: não há registros legais sobre o dispêndio de R$ 1,7 milhão.
5 – 18/5/2005 Novos trechos da fita em que Maurício Marinho revela a
corrupção nos Correios são publicados nos jornais. O funcionário envolve a Novadata,
do empresário Mauro Dutra, o Maurinho, amigo de Lula e que já atuou como
arrecadador de dinheiro para campanhas do PT. A empresa, especializada em
informática, fornece computadores para o governo federal. Marinho refere-se a uma
operação para favorecer a Novadata em licitação. Eis o diálogo, que começa com o
interlocutor que gravava a conversa:
– E a Novadata acertou daí direto com a diretoria...
– Foi direto com a diretoria.
– Ou foi com você?
– Não, foi eu, o diretor e o Godoy. Mas como teve um negócio, era um negócio
grande, o Godoy saiu... Veio até de São Paulo...
Marinho refere-se ao diretor Antonio Osório Batista e a um assessor dele,
Fernando Godoy, também afastado devido ao escândalo. O diálogo prossegue com uma
pergunta sobre a contratação da Novadata. Como se sabe, Marinho não tinha
conhecimento de que estava sendo gravado.
– Acertaram com o Osório direto então?
– Não, o Osório não acerta. É comigo ou com o Godoy.
O jornal Folha de S.Paulo denuncia os negócios da Novadata com o governo
Lula. Renderam R$ 273,5 milhões em menos de dois anos e meio. Só com a Caixa
Econômica Federal, vendas de R$ 95 milhões. Foram fechados três novos contratos
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com os Correios, por R$ 15,3 milhões. No quarto acerto com a Novadata, os Correios
reajustaram em R$ 5,5 milhões um contrato de R$ 98 milhões.
A denúncia assume contorno ainda maior: Lula passou o réveillon de 2001 na
mansão de Mauro Dutra em Búzios (RJ), uma das praias mais badaladas do Brasil.
Maurinho pôs avião à disposição de Lula.
Em outro trecho da gravação com a câmera escondida, Maurício Marinho trata
das relações da Novadata com os Correios:
– Olha, no fornecimento de material, o mais forte é ele. Aqui no Correio, é.
Computador, esses negócios, é a Novadata. Pelo menos nos últimos dois anos eles têm
vencido quase todas aqui dentro.
Ainda Marinho, sobre um processo licitatório de “se não me engano R$ 60
milhões, coisa assim”:
– Mas como eles (a Novadata) perceberam que só estavam eles e eles achavam
que podiam ganhar mais, falaram “olha, nós não vamos partir para abrir o processo,
você dá como ‘deserta’ e marca uma outra abertura”.
“Deserta”, no caso, é a licitação para a qual não se apresentam concorrentes.
Tem de ser refeita. Palavras de Marinho:
– O preço inicial do computador que nós tínhamos colocado em R$ 3.700,00 na
licitação, eles pediram para aumentar... Sabe para quanto foi a licitação, um item, eram
quatro itens? Foi R$ 6.000,00. Olha que absurdo...
No discurso que fez na Câmara, Roberto Jefferson denunciou um certo
comandante Molina, que o teria procurado duas semanas antes da divulgação da fita, em
nome do senador Ney Suassuna (PMDB-PB). Teria tentado vender a gravação
clandestina. Jefferson diz que recusou o negócio. Não o denunciou. O PMDB nega
envolvimento em corrupção nos Correios e pressiona o governo. Ameaça-o com CPI
para investigar o caso Waldomiro Diniz.
Dentro do loteamento promovido pelo governo Lula, o PTB ficou com uma
diretoria dos Correios, o PT com duas e o PMDB com três, incluindo a financeira. E
isso sem falar na indicação do próprio presidente dos Correios, o ex-deputado João
Henrique de Almeida, também uma nomeação do PMDB. Rápido, Almeida anuncia a
suspensão de uma licitação suspeita. Afinal, os detalhes de bastidores foram descritos
na gravação clandestina com Marinho.
O negócio suspeito, de R$ 61 milhões, pretendia viabilizar a aquisição de
medicamentos para funcionários dos Correios. Almeida também toma outra
providência: impede o acesso de jornalistas à documentação sobre o processo de
compra de remédios.
Na gravação, Marinho cita o diretor de recursos humanos dos Correios,
Robinson Koury Viana da Silva, suplente do senador Ney Suassuna. O relato é rico, traz
detalhes de uma parte da negociata tramada com o suplente de senador:
– Todos os projetos dele, nós que fazemos o projeto básico. Mesmo no RH. O
pessoal dele não tem muito trâmite no negócio, a gente monta, passa pra ele, aí ele
chama o departamento e diz: “Eu quero isso”. Mas ninguém sabe que é nós que estamos
fazendo. Então o nosso negócio é assim. Tem uma licitação que vai ser... São 60
milhões em beneficiamento de saúde. (...) Fizemos tudo aqui. A decisão dele não
conseguia desenrolar, desenrolar, um ano sentado em cima. Fechamos o projeto.
Apareceram umas quatro empresas, deputado “a”, senador “b”, um rolo danado. “Meu
amigo, o negócio é seu. Você quer que a gente trabalhe com quem?” Ele falou:
“Infelizmente vou defender as quatro, porque as quatro virão através dos caciques e eu
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não posso fechar porta para ninguém”. “Tudo bem, então vou colocar o preço com as
quatro suas, entendeu, mando a carta, com toda a planilhinha, daquelas quatro”. Fechei
todo o processo, eram no mínimo três, tinha quatro, entendeu? (...) O processo está
pronto. Tá pronto! Fechado, redondo. Ele adotou o recurso, o recurso é dele, da área
dele, dos recursos humanos, do RH. Tá? Aí mandaram o processo de volta. O que nós
fizemos chegou pra nós. Aí nós adotamos os nossos documentos, assinamos e pedimos
autorização. O presidente, é acima de 650 mil, autorizou a abertura. Tá no comitê de
análise. Saiu do comitê de análise, está sendo publicado. Dentro de poucos dias vocês
vão ver aí na internet, tá lá, Diário Oficial. Agora, é um negócio grande. O que é que ele
fez? Aí o acerto que a gente faz. Nesse tipo de negócio, ele que vai fechar, tem
participação. Só que uma parte da participação vai vir pra nós. Entendeu? O negócio é
dele, é capitaneado (inaudível). Ele que levantou a bola, nós fizemos viabilizar o
negócio dele. Só isso. Mas nós temos uma participação. Dessa participação dele, a gente
passa para o nosso partido. Entendeu? Que é ele que me sustenta, segura a gente aqui.
Em café da manhã com líderes partidários, Lula manifesta-se contra a CPI.
Manda um recado, ao elogiar o ministro da Justiça, que também é o chefe da Polícia
Federal:
– Todos sabem que o Márcio Thomaz Bastos tem credibilidade para apurar o
caso dos Correios.
Na saída do mesmo encontro, o presidente da Câmara dos Deputados, Severino
Cavalcanti (PP-PE), um aliado do governo, desqualifica a CPI. Nas palavras dele:
– Todo mundo sabe como começa uma CPI, mas não sabe como termina. Além
do mais, quem tem o poder de oratória do Roberto Jefferson sabe colocar bem as
palavras. Ele provou que não tem nada para que possa ser condenado.
O apelo do presidente e os esforços da tropa de choque do governo não impedem
a decisão dos parlamentares, contrária a deixar as investigações só nas mãos da Polícia
Federal. A oposição protocola requerimento com o pedido de abertura da CPI dos
Correios. O documento recebeu assinaturas de 230 deputados e 46 senadores, dos quais
101 deputados e 10 senadores aliados do Palácio do Planalto.
6 – 19/5/2005 O governo Lula põe em prática estratégia para tentar barrar a CPI.
Os repórteres especializados na cobertura política de Brasília noticiam uma operação
para abafar o caso. A tática:
Pressão para a retirada de nomes do protocolo que pede a instalação da CPI, a
fim de evitar o número de assinaturas necessário para viabilizar a comissão. Argumento:
a oposição fará da investigação um palanque eleitoral;
Propalar, entre as forças aliadas, que quem mantiver a assinatura vai virar
inimigo. Não será contemplado com a liberação de emendas do orçamento, e terá de
devolver os cargos do governo para os quais indicou ocupantes;
Quem retirar o nome, ao contrário, terá os pleitos atendidos e será
recompensado. Poderá fazer nomeações para cargos no executivo;
Ponto importante é intimidar a oposição, com a ameaça de CPI para o setor
elétrico, com função de investigar procedimentos da época do governo do presidente
Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP);
Detalhe: a nomeação de um apadrinhado do presidente da Câmara para uma
diretoria da Petrobrás. É pleito de Severino Cavalcanti (PE), do PP (Partido
Progressista), cujo apoio não se pode prescindir;
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Se a operação-abafa não for bem-sucedida, os governistas e o presidente do
Senado, o aliado Renan Calheiros (PMDB-AL), têm uma saída: não indicam os nomes
para compor a CPI;
Em último caso: conseguir os principais cargos da CPI, o de relator e o de
presidente, e tratar de neutralizá-la.
O esforço do governo não produz os resultados esperados, como mostra o recuo
de Severino, o presidente da Câmara, até a véspera um fervoroso crítico da CPI:
– Esta Mesa não criará nenhum obstáculo para esclarecer a verdade. Faremos
todo o possível para que a população respeite esta Casa. E só haverá respeito se
cumprirmos nossos deveres. Quero dizer que a CPI será instalada se cumprir todos os
requisitos regimentais.
7 – 20/5/2005 Enquanto caminha por um dos corredores do Palácio do Planalto,
em Brasília, em direção a uma solenidade oficial, Lula é abordado por jornalistas. Os
repórteres querem saber se a CPI dos Correios preocupa. Diz o presidente, sorrindo:
– Olha para a minha cara para você ver se eu estou preocupado com isso.
O governo, no entanto, tem um plano. O seu conteúdo vaza e acaba nos jornais:
a tática do Palácio do Planalto é retirar os nomes do requerimento da CPI no último
momento, para não provocar o desgaste dos parlamentares aliados. Assim, ninguém é
pressionado. O importante é inviabilizar a comissão.
Lula tem problemas. O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) não esconde da
imprensa sua insatisfação. Reivindica o direito de os parlamentares do PT subscreverem
o pedido de CPI. Declaração do deputado Ivan Valente (PT-SP), da esquerda petista:
– Na busca pela conquista da maioria a todo custo, avançaram todos os sinais.
Em nome da governabilidade, atropelaram valores éticos.
8 – 21/5/2005 A revista Veja traz nova denúncia. Com o título “Mesada de R$
400 mil para o PTB”, a acusação de que Lídio Duarte, o presidente do IRB (Instituto de
Resseguros do Brasil), uma estatal federal, vinha sendo pressionado a entregar R$ 400
mil por mês ao PTB. Segundo Veja, um corretor de seguros, Henrique Brandão, agindo
em nome do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), exigiu a quantia do presidente do
IRB.
A revista conta que Lídio Duarte ficou em dúvida, não sabia ao certo se
Henrique Brandão falava mesmo em nome do PTB. A saída foi procurar Roberto
Jefferson. Veja:
“Na conversa, Jefferson não deixou dúvidas: disse que era amigo de Henrique
Brandão havia mais de 30 anos, repetiu que as despesas do partido eram altas e que
precisava da colaboração financeira dos dirigentes indicados para seus cargos pelo PTB.
Em outras palavras: quem tinha cargo tinha que roubar.”
Lídio Duarte pede demissão. Em seu lugar, assume o posto Luiz Appolônio
Neto, sobrinho do deputado Delfim Netto (PP-SP), outro apadrinhado de Jefferson e de
um importante deputado do PTB, o ex-governador de São Paulo Luiz Antonio Fleury
Filho.
O IRB tem monopólio do mercado nacional de resseguros internacionais.
Movimenta cerca de US$ 450 milhões por ano. Faz operações com 23 corretoras
credenciadas, como a de Henrique Brandão. Diz Veja:
“Apenas no primeiro ano, a corretora de Brandão abocanhou 10% de todos os
seguros de embarcações e 20% dos de empresas aéreas. Desde 2003, nesse ambiente
esplendorosamente favorável, os negócios de Brandão, o amigo de três décadas de
Roberto Jefferson e empregador de seu genro, crescem a um ritmo de 25% ao ano.”
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No jornal O Estado de S. Paulo, entrevista com o ex-presidente do IRB. Lídio
Duarte afirma ter se recusado a fazer contratações de apaniguados políticos. A pedido
de Roberto Jefferson, recebeu deputados do PTB como Nelson Marquezelli (SP) e
Elaine Costa (RJ), que solicitaram nomeações para pessoas do seu círculo de influência:
– Expliquei que isso não era possível, porque no IRB todos os funcionários são
de carreira, todos concursados.
A regra do concurso público não vale, como se verá, para cargos de alta direção
no IRB. Em outra reportagem, O Estado informa que os principais postos da estatal
estão loteados entre PTB, PT, PMDB e PP. O jornal destaca o papel exercido por Luiz
Eduardo Lucena, indicação do PP, na diretoria comercial do IRB:
“Com tanta autonomia, o apadrinhado do PP chegou a manipular, em média, R$
300 milhões em contratos, que geraram R$ 21 milhões de comissões de corretagem.”
9 – 22/5/2005 O ministro Márcio Thomaz Bastos anuncia a abertura de inquérito
na Polícia Federal para investigar denúncias de corrupção no IRB. Faz parte da
estratégia de esvaziar a CPI. O governo quer convencer parlamentares e a opinião
pública de que toma as providências necessárias. Não quer uma apuração política em
âmbito do Congresso Nacional. Afirma o líder do governo na Câmara, deputado
Arlindo Chinaglia (PT-SP):
– O governo está investigando, orientando e estimulando a investigação pela
Polícia Federal, Controladoria-Geral da União etc. Evidente que nessas circunstâncias
uma CPI não é necessária. Cabe aos líderes da base continuar a discutir com suas
bancadas.
Lula segue em viagem de uma semana para a Coréia do Sul e o Japão. Durante o
vôo, o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), vice-líder do governo, traduz aos
jornalistas que estão a bordo o sentimento do presidente:
– Esta lista de assinaturas da CPI é muito clara. Vai acabar o pão-de-ló e o
cafuné para quem quiser jogar contra o governo. Tem de acabar essa conversa de verba,
de obra. Essa conversa não vamos mais ter com quem não for do governo, no ônus e no
bônus.
10 – 23/5/2005 O governo alega excesso de arrecadação para anunciar aumento
de R$ 773 milhões nos gastos da União. E faz chegar aos ouvidos dos parlamentares,
com esperteza, a promessa: R$ 200 milhões vão para emendas ao orçamento. Para
beneficiar, claro, as bases eleitorais de deputados e senadores. Recado mais direto,
impossível: haverá recursos, mas apenas para aqueles cujos nomes estiverem fora do
requerimento de criação da CPI.
O STF (Supremo Tribunal Federal) determina a abertura de inquérito criminal
para investigar o ministro da Previdência Social, Romero Jucá (PMDB-RR). Ele é
suspeito de fazer uso irregular de empréstimos do Basa (Banco da Amazônia) ao
abatedouro de frangos Frangonorte. Jucá foi um dos proprietários do frigorífico.
Uma auditoria realizada em fevereiro de 1996, dois meses após a liberação do
empréstimo de R$ 750 mil, constatou que a Frangonorte continuava paralisada. O jornal
Folha de S.Paulo denuncia: Jucá contraiu uma dívida de R$ 25 milhões no Basa. O
ministro obteve empréstimos dando como garantia sete fazendas que não existiam.
Fazendas fantasmas.
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11 – 24/5/2005 A Folha de S.Paulo defende, em editorial, a instalação da CPI
dos Correios. E publica, em mais de meia página, os nomes dos deputados e senadores
que assinaram o pedido de criação da comissão de investigação.
O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) reage a declarações do presidente do
PT, José Genoino, segundo as quais o governo precisava “requalificar” a base de apoio.
Dá na imprensa:
– Genoino disse que o PT não empurra lixo para debaixo do tapete. Todos sabem
que empurra.
Jefferson diz que o partido de Lula é traiçoeiro. Compara-o à fábula do
escorpião que pede ao sapo para atravessar o rio em suas costas. Promete não picá-lo,
mas trai. Não consegue contrariar a própria natureza. Os dois morrem afogados.
– O PTB é o sapo.
O presidente do PTB confidencia que os ministros José Dirceu (PT-SP) e Aldo
Rebelo (PC do B-SP), das Relações Institucionais, estiveram em sua própria casa no dia
anterior.
– Eles só faltaram se ajoelhar para pedir a retirada das assinaturas.
E, com ironia:
– Mas a CPI que pega o governo, com 18 estatais, com tentáculos enormes,
vamos trazer aqui o tesoureiro do PT, o segundo tesoureiro, o Silvinho, vamos trazer o
Dirceu. Ah!, essa é importante.
O Ministério Público reabre as investigações sobre o seqüestro e o assassinato
do prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel (PT), ocorrido em janeiro de 2002. E
anuncia a convocação do chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, para prestar
depoimento. Carvalho ocupava o cargo de secretário de Governo de Santo André, na
época do crime.
Antes de ser morto, Daniel fora escolhido para ser um dos coordenadores da
campanha eleitoral de Lula em 2002. Como tal, era encarregado de arrecadar dinheiro
para os cofres do PT. Morto Daniel e eleito Lula, Carvalho assume o cargo de chefe de
gabinete do presidente. Cuida dos afazeres de Lula.
O caso é reaberto porque promotores tiveram acesso a um envelope dirigido a
Daniel. Continha um dossiê de 80 páginas e denúncias contra Sérgio Gomes da Silva, o
Sérgio Sombra – ex- segurança de Daniel e depois, graças à convivência na Prefeitura,
empresário e acusado de ser o mandante do crime.
Na documentação, um esquema relaciona as empresas de transporte em Santo
André a uma rede de corrupção. Parte do dinheiro da propina teria sido destinado à
campanha de Lula. No envelope, a anotação: “de parte de Gilberto”.
Os promotores suspeitam que Daniel fora seqüestrado para revelar o paradeiro
de documentos que comprometiam Sérgio Sombra. Talvez fossem as provas de um
dossiê, com informações comprometedoras acerca de empresas beneficiadas em
licitações e contratos supostamente fraudulentos, da Prefeitura de Santo André. A
documentação descoberta contém dados pessoais de Sombra:
“Pessoa de inteira confiança do senhor Celso Daniel, seu motorista e segurança
particular, tendo ocupado cargo em comissão no gabinete durante a administração
anterior. Também ocupou o cargo de assessor parlamentar no gabinete do então
deputado federal Celso Daniel.”
O seqüestro ocorreu depois que o prefeito e Sombra jantaram no restaurante
Rubayat, na zona Sul de São Paulo. Os dois estavam no automóvel Pajero de Sombra,
quando houve a rendição, no caminho de volta a Santo André.
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Atitudes de Sombra no momento do seqüestro chamaram a atenção. Suspeita-se
que ele conhecia um dos acusados de atacar o prefeito. Fala-se até de um pagamento, de
US$ 40 mil, aos homens contratados para fazer o seqüestro. O acerto, feito ali mesmo,
na cena do crime.
Sombra ficou preso oito meses. O caso intriga pelas mortes violentas de seis
pessoas que testemunharam ou estiveram, por algum motivo, nas cenas do crime. Caso,
por exemplo, do garçom que serviu Daniel e Sombra durante o jantar, pouco antes do
seqüestro. Ou do homem que chamou a polícia, horas depois, por reconhecer o corpo de
Daniel, jogado numa estrada de terra.
12 – 25/5/2005 Em sessão tumultuada, o Congresso cria a CPI dos Correios. 236
deputados e 52 senadores assinaram o requerimento que autoriza a investigação, bem
mais do que o número mínimo necessário, 171 deputados e 27 senadores. A derrota do
governo é expressiva porque 14 deputados e um senador do PT votaram pela instalação
da comissão. Está aberta uma crise no partido do presidente Lula.
13 – 26/5/2005 Outra empresa na área de influência do PTB vai parar nos
jornais. A Folha de S.Paulo publica que a Eletronuclear, uma subsidiária da Eletrobrás,
recomendou a contratação da corretora Assurê Corretagem de Seguros. É a empresa de
Henrique Brandão, o amigo de Roberto Jefferson, escolhida para intermediar um seguro
de US$ 3,6 milhões das Usinas de Angra 1 e 2, em 2004. O jornal afirma que o negócio
rendeu US$ 360 mil para Brandão.
A recomendação foi feita pela Eletronuclear, por meio de carta à Bradesco Auto-
Re, do grupo Bradesco, que havia vencido uma licitação. Quem endereçou a carta
recomendando a Assurê foi o diretor de administração e finanças da Eletronuclear,
Carlos Padilha. Filiado ao PT, é ex-prefeito de Angra dos Reis (RJ).
Já o diretor de planejamento, gestão e meio ambiente da Eletronuclear, Luiz
Rondon Teixeira Magalhães Filho, foi nomeado pelo PTB. O principal assessor dele,
Marcos Vinícius Vasconcelos Ferreira, é genro de Jefferson e, fechando o círculo,
mantém relações comerciais com Henrique Brandão. A Assurê contribuiu para a
campanha da vereadora do Rio, Cristiane Brasil Francisco, filha de Jefferson. Deu R$
70 mil em dinheiro. O próprio Brandão, em pessoa, aparece na relação de doadores,
com R$ 10 mil.
15 – 28/5/2005 A revista Veja traz depoimento do líder do governo Lula no
Congresso, senador Fernando Bezerra (PTB-RN). A história é reveladora. O senador
queria emplacar um afilhado político, Ezequiel Ferreira de Souza, no cargo de diretor de
tecnologia dos Correios. Mas de nada valeram os compromissos e as promessas, ou o
esforço de Bezerra. O caso envolve também um personagem importante da crise, o
secretário-geral do PT, Silvio Pereira. Diz o senador:
– No início do ano estive com o Silvio Pereira. Eu disse a ele que o governo
tinha um compromisso comigo que não havia sido cumprido. Silvio respondeu que
havia uma diretoria dele nos Correios, a de tecnologia, e que poderia colocar o Ezequiel
lá.
Bezerra informa que o assunto ficou de ser encaminhado pelo deputado Roberto
Jefferson (PTB-RJ). Pouco tempo depois, o senador recebeu telefonema do ministro do
Turismo, Walfrido Mares Guia (PTB-MG). A pedido dele, Bezerra apresentou o
afilhado ao ministro das Comunicações, Eunício Oliveira (PMDB-CE). Diz Bezerra:
– Fiquei surpreso quando a conversa começou. Eunício disse que não poderia
nomeá-lo naquele momento e que precisaria de uma semana ou uma semana e meia. A
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justificativa de Eunício é que não ficava bem para ele nomear o Ezequiel sem resolver
as questões de nomeação nos Correios do PMDB. Eu disse a ele que esse cargo, a
diretoria de tecnologia, havia sido prometido ao Ezequiel por Lula, na frente do Roberto
Jefferson e do Fleury. O cargo prometido ao Ezequiel era do PT. O PMDB não tinha
nada a ver com isso. Saí de lá e liguei para o José Dirceu. Ele me disse que a nomeação
era uma ordem do presidente e que ela iria sair.
Não saiu. O que chegou ao senador, conforme a explicação que deu à revista, foi
uma carta anônima:
- A nota dizia que a nomeação não sairia porque havia uma licitação no valor de
US$ 56 milhões. A carta dizia também que a licitação tinha um sobrepreço de 20%.
Para Veja, a nomeação “atrapalharia uma licitação fraudulenta dirigida por
Eduardo Medeiros, atual diretor de tecnologia da estatal e homem ligado ao PT”. E
mais: a fim de viabilizar a licitação para a compra de kits de informática destinados aos
Correios, o diretor Medeiros e um assessor dele, Edilberto Petry, “estavam definindo
especificações dos equipamentos sob orientação da Novadata, empresa pertencente a
Mauro Dutra, amigo de Lula”.
Depois de ter recebido a carta anônima, o senador Bezerra encontrou o ministro
das Comunicações, num jantar em Brasília. Ouviu do ministro:
– Procure ver as verdadeiras razões para o veto ao Ezequiel na Casa Civil.
16 – 29/5/2005 Lula volta de viagem à Ásia. Faz reunião de emergência para
discutir formas de controlar a CPI. Fontes do Palácio do Planalto informam: o governo
desistiu de tentar barrar a comissão com obstruções e medidas protelatórias. A partir de
agora, a estratégia é conter as investigações, restringindo-as aos Correios.
A Folha de S.Paulo publica o editorial “Declínio Ético”:
“O deprimente espetáculo encenado em Brasília na última semana, em torno da
instalação da CPI dos Correios, ampliou as proporções do fracasso político do governo
Luiz Inácio Lula da Silva e expôs sem disfarces a rarefação ética e o descompromisso
moral de muitos daqueles a quem a sociedade confiou a missão de conduzir e zelar pela
República. As exceções, por certo – e felizmente – existem, mas saltou aos olhos nesse
vexatório processo a combinação de truculência, cinismo e desenvoltura fisiológica
empregada pelo executivo em seus desesperados esforços para impedir o inquérito
parlamentar.”
Outro trecho:
“Ameaças, ofertas, apelos e chantagens, a tudo se recorreu para evitar que a
evidência de corrupção numa empresa estatal fosse examinada por uma CPI. Tamanho
empenho, aliado ao desprendimento para assumir os ônus inerentes a uma operação
desse tipo, serviu para alimentar ainda mais as suspeitas de que as ‘bravatas’ do
funcionário Maurício Marinho são na realidade o fio de uma meada que, trazida à luz,
poderá causar sérios danos para o governo e para seus aliados.”
17 – 30/5/2005 O Jornal Nacional, da TV Globo, divulga informações da CGU
(Controladoria-Geral da União), que descobriu um contrato fraudulento de R$ 8
milhões para os Correios comprarem 1.500 cofres. Foi Maurício Marinho quem fez o
“acerto”. Os cofres são menores do que os previstos no contrato. Em troca, teria havido
um “desconto”. São suspeitos outros processos de compra, para medicamentos e
uniformes, assim como contratos ligados aos serviços da rede postal noturna.
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