terça-feira, 28 de junho de 2011

OBRA PÚBLICA, INCOMPETÊNCIA OU CORRUPÇÃO?

Anunciada há cinco anos, a reforma do antigo Parque Tancredo Neves, o Tancredão, deveria ter sido entregue em setembro do ano passado. Mas não é o atraso o que mais chama a atenção nessa obra de Vitória e sim o seu custo: em 2006, ele foi estimado em R$ 15 milhões. Desde então, o valor foi reajustado três vezes, e a reforma, desmembrada em duas etapas, agora vai custar R$ 41,75 milhões.

Tudo seria feito em etapa única, mas o dinheiro - R$ 32 milhões, incluindo o aditivo de contrato calculado sobre o valor inicial da obra, de R$ 26,3 milhões - não era suficiente. A prefeitura, então, criou uma segunda etapa, e ontem divulgou o contrato de R$ 9,75 milhões para finalizar o serviço.

O valor quase triplicou durante a execução da obra, e tudo, segundo o secretário municipal de Obras, Paulo Maurício Ferrari, por causa do projeto executivo. Feito com objetivo de evitar equívocos e surpresas em uma obra pública, o projeto acabou aumentando o valor da reforma consideravelmente.
Obras do Parque Municipal Tancredão.  - Editoria: Cidades - Foto: Vitor Jubini

De acordo com a nova previsão apresentada pela prefeitura, reforma do parque deve ser entregue em setembro deste ano

O projeto

O começo. Na primeira etapa estão previstos o ginásio principal, as duas piscinas, o refeitório de funcionários, vestiários, banheiros públicos, a academia popular, a passarela de pedestres e a área administrativa. Tudo orçado em R$ 32 milhões, incluindo o aditivo de 25%, no valor do contrato da obra

Nova licitação. A segunda etapa, orçada em R$ 9,75 milhões, prevê garagem de barcos, deques, píeres para atividades de pesca esportiva, praça central para eventos de esporte e lazer; pistas de skate, corrida e ciclismo; playground, estacionamento para carros, quadras poliesportivas, campos de areia e de grama sintética, além do urbanismo do parque, iluminação pública e drenagem

Equívoco
Paulo Maurício reconhece o erro orçamentário, e ainda avalia os constantes reajustes como normais entre os tantos projetos comandados por ele, na Secretaria de Obras.

O dinheiro gasto no empreendimento não veio só dos cofres da Prefeitura de Vitória. Em 2009, R$ 15 milhões foram repassados pelo governo do Estado; a quem a prefeitura pediu nova ajuda na segunda fase.

A previsão do município é de entregar tudo até setembro, mas em agosto de 2010, a prefeitura já havia prometido que a primeira etapa da obra seria entregue em janeiro último; e a segunda, neste mês de junho.

Calçadão da Beira-Mar: valor foi o dobro do previsto

Não é só a reforma do Tancredão que foi reajustada pela Prefeitura de Vitória. O novo calçadão da Avenida Beira-Mar, entre o Porto de Vitória e a curva em frente ao Clube Saldanha da Gama - um trecho de 1,3 km - era para ser feito em etapa única, por R$ 2.131.254,19. Mesmo depois do aditivo de contrato de R$ 980.508,84, o dinheiro só foi suficiente para reformar 850 metros de calçadão. Os 450 metros restantes foram concluídos após o município lançar novo edital, de R$ 1,5 milhão. A obra terminou custando mais que o dobro do valor inicial. Na época, a prefeitura argumentou que imprevistos da obra acabaram encarecendo a reforma.


Mini entrevista

"Não vejo problemas"

Paulo Maurício Ferrari - Secretário de Obras de Vitória

Por que a prefeitura decidiu dividir a reforma do Tancredão em duas etapas?
Na primeira etapa houve serviços adicionais que forçaram um reajuste na planilha de custos. Houve imprevistos na fundação, na escavação, no transporte de entulho... O que encareceu a obra. Tanto que o aditivo (de contrato) não foi suficiente.

Não houve projeto executivo para detalhar melhor os custos?
Houve erro na concepção do orçamento. Muita coisa nem estava detalhada na planilha de custos. Tivemos que rever o orçamento durante a obra. Nem sempre o projeto é tão bem feito. Pode acontecer um equívoco, ignorar um detalhe...

Mas o projeto executivo existe para evitar esses equívocos...
O projeto foi o vencedor de um concurso nacional, e foi feito por uma empresa de São Paulo. Talvez se a pessoa conhecesse melhor a região não haveria tantos equívocos. Essas erros são comuns. É a coisa mais normal que tem. Acontece até na iniciativa privada.

O senhor acha normal uma obra sair mais cara em relação ao valor planejado?
Não vejo problemas. Essas alterações (no orçamento e na planilha de custos) são comuns. É uma rotina, aqui (na Secretaria de Obras). O que aconteceu com o Tancredão pode acontecer com qualquer planilha. Houve um ajuste que não estava previsto no contrato.

Análise
O que deveria ser exceção virou regra
Roberto Garcia Simões - Especialista em Políticas Públicas
Essas obras, com excessivos aditivos de valor de contrato, não são completamente evitáveis. Mas, infelizmente, o que era para acontecer raramente, tornou-se algo frequente; praticamente uma regra. Hoje, um projeto elaborado com tempo e orçamento dentro do real virou uma exceção. Tudo é feito a toque de caixa, em projetos com orçamentos comprometidos. A empresa que ganha uma licitação já oferece um valor bem abaixo do planejado, contando receber durante a execução do trabalho o aditivo de contrato que prevê, em lei federal, um aumento de até 25% no custo final de uma obra pública. Por outro lado, assim como falta um cuidado maior na administração desse dinheiro, também falta responsabilizar o gestor público. O próprio município reconhece erro no orçamento e, mesmo assim, ninguém é responsabilizado? O que está acontecendo? Parece mais importante fazer a obra, a qualquer custo, do que se programar e se preocupar com o nosso dinheiro."

iNFOGRÁFICO DA OBRA NO TANCREDÃO

Fonte: A Gazeta

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