quinta-feira, 9 de setembro de 2010

O CHEFE. 6º CAPÍTULO.




37 – 19/6/2005 O programa Fantástico, da TV Globo, entrevista a publicitária  Maria Christina Mendes Caldeira, ex-mulher do presidente do PL, deputado Valdemar  Costa Neto (SP). Ela descreve conversas que ouviu do ex-marido, segundo as quais o  governo de Taiwan fez uma contribuição ilegal para a campanha de Lula, em 2002. A  transação teria sido intermediada por Valdemar e o tesoureiro Delúbio Soares. Diz Maria Christina:
– Essa doação foi entregue para o Delúbio, foi administrada para o Delúbio. Eu  não tenho prova de que o PT sabia disso, porém ele representava o acesso ao PT. Da doação, em dinheiro, no valor de US$ 2 milhões, Valdemar, segundo a exmulher,  ficou com 20%. Ou seja, US$ 400 mil. Ela comenta a amizade entre Valdemar e Delúbio:
– O integrante do PT que tinha uma relação profundamente estreita, que era o  único que estava o tempo inteiro com ele, que estava envolvido com todas as coisas que  ele fazia, se chama Delúbio.
Maria Christina acusa Valdemar de comprar, com R$ 30 mil desviados do PL, móveis, esculturas e objetos decorativos para a casa em que os dois moravam, em
Brasília. O deputado teria comprado também dois cofres de aço.

O Estado de S. Paulo registra acusação do ex-superintendente de administração  da INB (Indústrias Nucleares Brasileiras), Neildo de Souza Jorge, ao secretário de Comunicação do PT, Marcelo Sereno. Ligado a José Dirceu (PT-SP), Sereno foi chefe de gabinete e chefe da assessoria especial da Casa Civil, durante a gestão do ex-ministro Dirceu. Acabou afastado do governo e transferido para o PT, depois de ser acusado de manter relacionamento estreito com outro assessor na época próximo de Dirceu,

Waldomiro Diniz.
Agora, é acusado de nomear um funcionário fantasma para o cargo de coordenador de ação comunitária da INB. Trata-se de um militante do PT, com salário de R$ 10 mil. Além disso, Sereno faria uso indevido de veículo e motorista da estatal.
Agências de publicidade de Marcos Valério no noticiário: contratos assinados no governo Lula permitiram às empresas de Valério um faturamento de R$ 150 milhões. O contrato da agência SMPB com a Câmara dos Deputados, na gestão do expresidente João Paulo Cunha (PT-SP), talvez seja o mais curioso. Com três aditivos, o valor subiu de R$ 9 milhões para R$ 21,8 milhões.
Em 2004 Valério criou a Estratégia Marketing e Promoção, para cuidar de campanhas eleitorais. A empresa foi contratada para a campanha de um aliado de Cunha, que disputava a Prefeitura de Osasco (SP). Campanha vitoriosa, Emídio de Souza (PT) foi eleito. O passo seguinte: a SMPB disputa licitação para ganhar a conta de publicidade da Prefeitura.

38 – 20/6/2005 O FMI (Fundo Monetário Internacional) divulga relatório em Washington com criticas ao Brasil. Afirma que o país limita o trabalho de autoridades fiscais e não avança no combate à lavagem de dinheiro, por deixar de exigir esforços maiores dos bancos contra a abertura de contas em nome de “laranjas”. Para o FMI, a falta de regras, leis claras e o sigilo bancário dificultam os trabalhos do Ministério Público, autoridades policiais e investigadores estrangeiros no acompanhamento de operações e movimentações financeiras executadas a partir do Brasil. O documento faz referência ao Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, do Ministério da Fazenda):
“O Brasil deveria considerar emendas à previsão do sigilo bancário e de informações sigilosas para permitir ao Coaf acesso a informações adicionais, bem como documentação relativa aos registros de operações suspeitas.”
E mais: “O Brasil também deveria considerar mudanças nas previsões de sigilo para permitir um acesso mais amplo das autoridades às informações financeiras sem ordem judicial”.
O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) concede entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura. Reafirma que existe um esquema de corrupção no governo Lula. Envolve três lideranças do PT na organização das operações: José Genoino, Delúbio Soares e Silvio Pereira. Acrescenta: “A última palavra era sempre do Zé Dirceu”. Jefferson define o ex-ministro como “uma espécie de presidente do PT”:
– Tudo que era fechado no PT tinha que ser homologado lá na Casa Civil.
Jefferson sugere o afastamento dos três dirigentes dos quadros do PT.
É melhor que eles saiam para salvar a imagem do PT e melhorar a imagem do governo.
Em outro momento da entrevista, Jefferson acusa o esquema de distribuição de dinheiro para deputados da base aliada do governo Lula. Envolve, com ironia, o deputado João Pizzolatti (PP-SC):
– Era feito no café da manhã. O deputado subia e descia com um pacotinho.
Conhecido no início dos anos 90 como um dos líderes da “tropa de choque” do ex-presidente Fernando Collor, Jefferson opina que o nível de corrupção no governo Lula é maior do que aquele que levou ao impeachment de Collor. Para o deputado, o esquema montado naquela época por PC Farias, o tesoureiro de Collor, “era menor, malfeito, às claras, com o rabo de fora”.
Volta a falar dos R$ 4 milhões que diz terem sido repassados pelo PT ao PTB. Refere-se ao tesoureiro informal do PTB, acionado por Jefferson assim que o dinheiro chegou. Diz o deputado:
– Eu pedi ao Emerson Palmieri que guardasse o dinheiro no cofre de um armário de aço, grande.

39 – 21/6//2005 Em Luziânia (GO), durante solenidade, Lula classifica de “bobagens” e de “denúncias vazias” as acusações de corrupção no governo:
– Ninguém, neste país, mais do que eu, tem autoridade moral e ética para fazer as mudanças nas instituições e no comportamento social.
Depois de ter prestado depoimento à Polícia Federal e negar o teor da entrevista que dera a Isto É Senhor, aquela com acusações ao empresário Marcos Valério e a integrantes do PT e do governo Lula, a secretária Fernanda Karina concede entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo. Explica que recuou das primeiras declarações por medo. Um advogado orientou-a e agora volta a confirmar as denúncias:
– Estava com muito medo porque na terça-feira, depois que saí do meu trabalho, na rua por onde passo, veio uma pessoa, um motoqueiro, e parou a moto ao lado do meu carro, fechou meu carro. E disse que, se falasse qualquer coisa, eu colocaria a vida da minha filha e do meu marido em risco.
No Jornal Nacional, Fernanda Karina volta a pôr o dedo na ferida. Diz que Valério costumava manter contato com o tesoureiro Delúbio Soares, “todos os dias”. Menciona as reuniões “com o pessoal do PT”, após Valério efetuar saques de grandes quantias em dinheiro:
– Quando ele saía para as reuniões, antes de sair, passava no andar de baixo, no departamento financeiro, e saía com a mala.
O repórter Ismar Madeira indaga sobre o destino do dinheiro:
– Eles nunca falaram nomes. Esses nomes eu desconheço. Eu sabia que o dinheiro ia para Brasília, e que eles distribuíam lá. Mas para quem, quando e onde, eles não falavam. Era entre eles.
Da entrevista da secretaria:
Mas sempre sabia. Eles tomavam muito cuidado com o dinheiro, claro.
Sobre o relacionamento de Valério e do deputado José Dirceu (PT-SP):
– Sei que ele conversava muito com o ‘seu’ José Dirceu, o ministro. Apesar de o ministro ligar diretamente para o celular dele, eu liguei para o ministro uma vez. Mas ele sempre falava.
Sobre a relação de Valério com o deputado João Paulo Cunha (PT-SP):
– Estreitas. Sempre que pedia para ligar, eu ligava, falava com a secretária dele em Brasília e ele retornava para o celular do senhor Marcos... As conversas não eram conversas abertas, né? Sempre conversavam por código.
Em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, o deputado Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) afirma ter ouvido conversas da deputada Raquel Teixeira (PSDBGO) sobre uma oferta de dinheiro. A proposta, encaminhada pelo líder do PL na Câmara, deputado Sandro Mabel (GO), era para Raquel trocar o PSDB pelo PL, a fim de fazer parte da base aliada do governo Lula. Do deputado Leréia:
– Não sei de valores. Só sei que ela recebeu uma oferta em dinheiro.
Em seu depoimento, Leréia confirma: o governador Marconi Perillo (PSDB) relatou o episódio de assédio à deputada tucana a Lula, durante um evento em Rio Verde (GO), no dia 4 de maio de 2004:
– Foi no carro do presidente, na presença do motorista e do ajudante de ordens de Lula.
O Ministério Público acusa o líder do PP na Câmara, deputado José Janene (PR), de receber uma mesada de R$ 21 mil, das empresas de vigilância Tâmara e Principal.
As duas foram contratadas pela Prefeitura de Londrina (PR) durante o mandato do prefeito Antonio Belinati, cassado no ano 2000.
De acordo com o Ministério Público do Paraná, a mesada remunerava uma intermediação de Janene junto à administração de Belinati, em favor das empresas de vigilância. Proprietários dessas empresas confessaram aos promotores que deram propina a Janene.
Em outra ação, Janene é denunciado por envolvimento num processo fraudulento de licitação, para favorecer a empresa Iasin. A empresa teria recebido irregularmente R$ 142 mil. Em troca, teria pagado comissão de R$ 25 mil ao deputado.
Ex-coordenador político de Janene, o advogado Eduardo Alonso de Oliveira aumenta a pressão. Ao Ministério Público, falou que Janene lhe oferecera US$ 200 mil em dinheiro, para não depor numa Comissão Especial de Inquérito. A comissão fora constituída para fazer investigações a partir da Câmara Municipal de Londrina.
40 – 22/6/2005 O STF (Supremo Tribunal Federal) determina ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que nomeie senadores para compor a CPI dos Bingos. Segundo a Folha de S.Paulo, o governo trabalha para impedir o funcionamento da comissão. Estrategistas do Planalto consideram a possibilidade de, mesmo indicados, integrantes da CPI não darem quorum e, assim, frustrarem propositadamente os trabalhos de investigação. Do jornal:
“Essa idéia estava sendo discutida ontem entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o líder do governo no Senado, Aloízio Mercadante (PT-SP), chamado às pressas ao Planalto.”
Proposta no início de 2004, a CPI dos Bingos foi engavetada por decisão do então presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que apóia o governo.
Além de apurar suspeitas de lavagem de dinheiro e a suposta ligação de casas de bingo com o crime organizado, a comissão foi proposta com a finalidade de investigar atividades do ex-subchefe de assuntos parlamentares do Ministério da Casa Civil, Waldomiro Diniz. Ele acabou afastado do governo Lula depois da divulgação de uma fita no início de 2004, na qual aparece pedindo propina ao empresário do jogo Carlos
Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Quando a gravação foi feita, em 2002,
Waldomiro era o presidente da Loterj (Loteria Estadual do Rio), na gestão da governadora Benedita da Silva (PT-RJ).
A deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO) depõe no Conselho de Ética da Câmara. Afirma que recebeu proposta em dinheiro do deputado Sandro Mabel (PLGO), para se transferir ao PL e apoiar a base do governo Lula. Da deputada:
– Sandro fez a seguinte colocação: “O PL quer se repaginar e ter uma cara nova.
Temos que ter uma mulher, mas não qualquer mulher. Queremos uma mulher que faça a diferença”. Confesso que me senti lisonjeada. De acordo com Raquel, Mabel fez vários elogios, dizendo à deputada que ela “viajaria pelo Brasil adequando a educação ao perfil do PL”. Então, veio a oferta:
– Houve sim uma proposta de R$ 30 mil por mês, que poderia chegar a R$ 50 mil. Em dezembro, eu receberia mais R$ 1 milhão. Fiquei indignada. Não perguntei mais nada e a conversa acabou ali. A deputada decidiu pedir conselho ao governador Marconi Perillo (PSDB). Ela não denunciou o caso por falta de provas:
– Era uma conversa sem testemunhas. Seria a minha palavra contra a dele.
Qualquer pessoa sensata só fala o que pode provar.
A secretária Fernanda Karina concede entrevista à imprensa. Acrescenta novos detalhes às atividades do empresário Marcos Valério. Fala do relacionamento do exchefe com integrantes do PT. É questionada sobre “malas de dinheiro” para políticos em Brasília:
– Os acertos para saques no Banco Rural eram feitos pela gerência financeira da SMPB e também por Marcos. Várias vezes, quando ele precisava de dinheiro, falava diretamente com a diretoria do banco.
Fernanda Karina menciona “boys e motoqueiros”, que tinham a função de ir ao Banco Rural e ao Banco do Brasil buscar dinheiro:
– As pessoas do departamento financeiro falavam que na mala tinha dinheiro.
Não falavam o valor. Valério encarregava-se de transportar o dinheiro para Brasília:
– Era para político, porque Marcos sempre estava conversando com político.
Fernanda Karina reafirma: Valério e Delúbio Soares voaram em avião do Banco Rural:
– O Banco Rural sempre disponibilizava o avião, para quando eles precisassem.
Dá detalhes sobre a licitação para a escolha da agência de publicidade que atenderia a conta dos Correios. Foi um período em que Valério manteve intenso contato com Delúbio, o secretário-geral Silvio Pereira e outras “pessoas do PT em Brasília”. As conversas eram incompreensíveis, sempre “codificadas”:
– O que aconteceu foram vários telefonemas, várias viagens a Brasília durante o processo de licitação. As pessoas que iam às reuniões nunca eram faladas. Eu sempre soube que eram o Marcos, o Delúbio e o Silvio Pereira, algumas vezes. As reuniões eram sigilosas, fora da empresa, fora de Belo Horizonte.
A licitação dos Correios chamou a atenção de Fernanda Karina. Antes da sua conclusão, todos os funcionários da SMPB já sabiam que a agência iria ganhar a conta publicitária da estatal:
– No final de 2003, houve uma festa preparada dois dias antes da divulgação do resultado da licitação, para os funcionários comemorarem a conquista da conta.
O TCU (Tribunal de Contas da União) aponta sobrepreço em dois contratos dos Correios com a empresa Skymaster Airlines, contratada para o serviço de postagem noturna. A diretoria de operações da estatal, responsável pelo negócio, pertenceria à área de influência do secretário-geral do PT, Silvio Pereira.
O contrato, assinado em janeiro de 2004, previa gastos anuais de R$ 78 milhões.
Num dos casos examinados, o TCU apurou um acréscimo de 108% no valor contratado. O preço de um vôo de R$ 213 mil em dezembro de 2003, em 2004 subiu para R$ 445 mil.
O TCU compara os valores de duas linhas aéreas exploradas pela Varig, nos patamares de R$ 115,7 mil e R$ 27 mil. No caso dos Correios, os custos dos mesmos serviços subiram, sem maiores justificativas, para R$ 229,2 mil e R$ 75 mil.
O presidente da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Roberto Busato, defende a convocação de Lula para dar explicações sobre o escândalo do mensalão:
– Acho que todos os personagens envolvidos em algum tipo de denúncia devem ser investigados. Evidentemente, o presidente da República viu a corrupção ser denunciada da porta de seu gabinete. Portanto, todas as instituições devem ser passadas a limpo e todas as investigações legais neste momento são válidas. Busato critica setores do governo e organizações ligadas ao PT, para os quais a onda de denúncias esconde um interesse eleitoral de oposicionistas, que desejam desestabilizar o Palácio do Planalto:
– Falar em golpe neste momento é uma falácia. Está claro que algozes e vítimas, denunciantes e denunciados, são da mesma falange, da mesma linha política. Quem falar em golpe está querendo desviar o efetivo foco da crise que está aí, que é a corrupção.

41 – 23/6/2005 Mais um revés para o governo Lula, virtualmente paralisado em decorrência da avalanche de denúncias de corrupção e em meio a um debate inócuo e sem fim em torno das sempre debatidas reformas ministerial e política. Agora, o procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, encaminha requerimento ao STF (Supremo Tribunal Federal) solicitando a quebra de sigilo bancário do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. A medida se estende a algumas empresas das quais ele foi sócio. O motivo é uma suspeita de remessa ilegal de dinheiro para o exterior.
O processo corre em segredo de justiça. Por isso, não são divulgados nomes de bancos nem quantias envolvidas. As suspeitas sobre Meireles referem-se a transferências de dinheiro de empresas dele ao BankBoston, em 1999, sem o correspondente registro das operações na Receita Federal.
A publicitária Maria Christina Mendes Caldeira, ex-mulher do presidente do PL, deputado Valdemar Costa Neto (SP), conversa com a repórter Angélica Santa Cruz, de O Estado de S. Paulo. Dá detalhes de como Valdemar costumava pagar as despesas, sempre em dinheiro vivo, inclusive quando comprava bilhetes aéreos de viagens internacionais:
– Teve uma época em que comecei a reclamar muito e ele passou a usar eventualmente um cartão. Mas ele mantinha um cofrão em nossa casa que parecia um armário. Tenho as notas fiscais desse cofre. Quando nos separamos, saí denunciando a existência dele. E o Valdemar mandou uma empresa ir lá retirar o cofre.
Maria Christina insinua que houve a “compra” de um pequeno partido político, o PST. A adesão do PST ao PL teria sido obtida com dinheiro vindo de uma agência de publicidade. A agência, por sua vez, teria um contrato com uma empresa estatal. Maria Christina não acrescenta maiores detalhes:
– Tenho provas de que ele usa verbas do PL em despesas pessoais. Ele tem dois carros em Moji que estão em nome do partido. Tenho cópias de cheques que passei para empresas que mobiliaram nossa casa e que saíram em nome do partido. Em depoimento ao Ministério Público, o tesoureiro do PPS de São Paulo, Ruy Vicentini, fornece pistas sobre um esquema de entrega de dinheiro a vereadores paulistanos. Pagamentos regulares, do tipo mesada, teriam sido praxe em São Paulo em 2002, um ano antes do esquema do mensalão entrar em operação em Brasília. De acordo com informações de Vicentini, os vereadores Raul Cortez e Roger Lin, os únicos da bancada do PPS na Câmara Municipal de São Paulo na época, receberam uma “contribuição mensal”. Em troca teriam votado conforme os interesses da prefeita Marta Suplicy (PT). Ele relata a insatisfação de Cortez, ao saber que outros dois vereadores iriam engordar a bancada do PPS:
– Ele disse: “Eu tenho uma contribuição mensal dada pelo PT e não vou dividir poder com quem quer que seja”. E, por isso, ele e o Lin saíram do partido. O tesoureiro sabe mais: no final de 2004, os vereadores Edivaldo Estima e Myryam Athiê, ambos egressos do PP e novos no PPS, teriam recebido uma proposta
do PT: R$ 250 mil para cada um, apenas para apoiarem o vereador Celso Jatene (PTB), que iria disputar a presidência da Câmara Municipal. O PT queria impor uma derrota ao novo prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB).

42 – 24/6/2005 A cúpula da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) reúne-se com Lula em Brasília. Entrega uma carta ao presidente. Quer punição para todos os envolvidos em corrupção: “O Brasil, uma vez mais, está desafiado a combater a corrupção política que se nutre da impunidade. Ela é acobertada pela conivência, que se torna cumplicidade, usando as estruturas do poder público em benefício de interesses privados.”
Outro trecho: “A apuração das recentes denúncias é imprescindível. Não pode ser esvaziada, sob qualquer pretexto. A corrupção consiste não apenas em delitos individuais, mas em práticas existentes em estruturas da sociedade, sobretudo no funcionamento do sistema político”. Levantamento publicado pela revista Isto É escancara saques milionários de dinheiro vivo, em contas bancárias das agências de publicidade DNA e SMPB, de Marcos Valério. Só no período que vai de julho de 2003 a maio de 2005, R$ 20,9 milhões foram retirados do Banco Rural, em Belo Horizonte.
Os dados, em poder do Ministério Público, foram obtidos junto ao Coaf (Conselho de Controle das Atividades Financeiras, do Ministério da Fazenda) e dizem respeito apenas a saques com valores superiores a R$ 100 mil. O relatório registra retiradas de R$ 16,5 milhões da SMPB. Da DNA, outros R$ 4,4 milhões.
No total, segundo Isto É, houve 103 saques na boca do caixa, média de uma retirada por semana, sempre em valores acima de R$ 100 mil. As investigações identificaram que duas pessoas fizeram os saques. Uma delas, Geyza Dias dos Santos, da SMPB, já havia sido mencionada pela secretária Fernanda Karina. Reporta Isto É: “Em janeiro de 2004, por exemplo, foram retirados R$ 2,8 milhões. Em setembro do mesmo ano foi retirado R$ 1,3 milhão. Em 2003 se deram os maiores saques nas contas das duas empresas: R$ 11 milhões, no total. Apenas entre setembro e outubro foram feitos 20 saques na seguinte seqüência: seis de R$ 250 mil, quatro de R$ 300 mil, três de R$ 100 mil, dois de R$ 200 mil, um de R$ 112 mil, um de R$ 350 mil, um de R$ 500 mil (o maior deles, no dia 10 de outubro) e um último de R$ 385 mil. Em 2003, os saques somaram R$ 11 milhões. No ano passado, as retiradas chegaram a R$ 10 milhões.”
Divulgado relatório da comissão de sindicância realizada no IRB (Instituto de Resseguros do Brasil). Detalha operações suspeitas de irregularidades envolvendo então presidente da estatal, Lídio Duarte, indicado para o cargo pelo PTB, e o diretor comercial, Luiz Eduardo Pereira de Lucena, da cota do PP no governo federal. O documento indica um conluio entre os dois altos funcionários do IRB e outros executivos de estatais, como Furnas, Eletrobrás e Infraero, para favorecer de forma ilegal três corretoras de seguro: a Assurê, de Henrique Brandão, amigo do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), e as empresas Cooper Gay, multinacional inglesa, e Alexander Forbes, de origem sul-africana.
A comissão de sindicância recomenda a abertura de processo criminal contra os dois dirigentes do IRB, por tráfico de influência. E ação cível, por improbidade administrativa. Conclui que concederam vantagens indevidas às três corretoras.
O relatório implica em irregularidades os diretores do IRB Luiz Appolônio Neto, sobrinho do deputado Delfim Netto (PP-SP), e Carlos Murilo Goulart Barbosa Lima, indicado para o cargo pelos senadores José Sarney (PMDB-AP) e Edson Lobão (PFLMA).
As corretoras citadas tiveram crescimento vertiginoso, graças a contratos de colocação de resseguros no exterior. Para a comissão de sindicância, os despachos que beneficiaram as corretoras eram “desprovidos de fundamentação”. O relatório cita o caso da empresa aérea TAM, cujo resseguro seria realizado pela corretora Alexander Forbes, indicada por Lídio Duarte e Luiz Pereira de Lucena, mas sem levar em conta recomendações da própria TAM. Os dois também teriam favorecido a Alexander Forbes em outra oportunidade, numa renovação de apólices do sistema Usiminas. Outro problema: a despeito de parecer técnico contrário, Lucena teria favorecido a Cooper Gay na renovação de seguro da Petrobrás, contando com um “de acordo” de Duarte. Em mais um contrato da Petrobrás, novamente contrariando parecer técnico, Duarte teria operado de forma favorável à Cooper Gay ao contratar uma empresa. Para isso, escreveu um simples “a Cooper poderia ser testada neste tipo de negócio”. A imprensa noticia contratos da Novadata, a empresa de Mauro Dutra, o Maurinho, amigo do presidente Lula há 20 anos. Ela realizou vendas para o governo federal, nos últimos dois anos, período que coincide com o mandato de Lula, em valores atualizados, no total de R$ 284,5 milhões.
O maior contrato, com a Caixa Econômica Federal, tem custo de R$ 109,6 milhões. Outros R$ 100 milhões, por sua vez, são resultado de contrato de locação de 27.500 computadores para a Petrobrás. As vendas para os Correios também são relevantes. Atingem R$ 16,2 milhões. O resto vem de contratos com órgãos da administração federal e dos poderes judiciário e legislativo.
O Ministério Público de Goiás anuncia que vai investigar a compra de uma fazenda em Buriti Alegre (GO). A propriedade está em nome de Antônio Soares de Castro, o pai do tesoureiro Delúbio Soares. A aquisição foi registrada pelo valor de R$ 147 mil, mas as terras são avaliadas em R$ 800 mil. Em depoimento a promotores, o pai de Delúbio admitiu que não tinha dinheiro para comprar as terras. Informou que outro filho dele, Carlos Rubens Soares, emprestou R$ 100 mil para o negócio. O Ministério Público apura ainda a compra de um carro Toyota Corolla, ano 2005, por Delúbio.

43 – 25/6/2005 A revista Veja publica entrevista com Marcos Valério. Descreve que o empresário “tem passado os dias trancado com um batalhão de advogados e mergulhado em documentos e fitas de vídeo”, com a finalidade de esmiuçar o depoimento de Roberto Jefferson (PTB-RJ) à Comissão de Ética da Câmara.
Veja questiona Valério sobre saques em dinheiro com valores e datas compatíveis às denúncias de Jefferson. Ele responde:
– Reconheço que já fiz vultosas movimentações financeiras no Banco Rural. Tenho fazendas, compro animais. Lido com gado. Há fazendeiros que simplesmente não aceitam cheque. Tenho 13 cavalos de raça.
– Quando e como o senhor conheceu Delúbio?
– Em meados de 2002. Fui levado ao PT pelas mãos do deputado federal Virgílio Guimarães, meu conterrâneo da cidade de Curvelo. Aí eu pedi e ele me apresentou à maioria do pessoal do PT, inclusive o Delúbio.
– Como foi o processo de aproximação com os outros líderes do PT?
– Foi também pelo Virgílio. Foi ele quem me apresentou ao ministro José Dirceu e a João Paulo Cunha.
Valério fala da amizade com Delúbio Soares:
– Nunca neguei que sou muito, mas muito amigo mesmo do Delúbio. Eu sou do interior, bicho do mato. O Delúbio é goiano, bicho do mato também. Houve aquela afinidade.
Veja pergunta sobre as 13 vezes que Valério esteve na sede do PT em Brasília, em 2005. Resposta:
– Fui tomar cafezinho com meu amigo Delúbio. Discutíamos futilidades e um pouco de política.
Evasivo, o empresário admite ter ido aos gabinetes dos ministros da Saúde, Humberto Costa (PT-PE), e dos Transportes, Anderson Adauto (PL-MG), discutir política e campanhas eleitorais. E quantas vezes Valério esteve com o ministro José Dirceu (PT-SP)?
– No período em que foi ministro, três ou quatro vezes, no máximo. Por telefone, devo ter falado duas vezes, logo no início do governo. Nossos encontros foram por acaso.
– Segundo relato de empresários ouvidos por Veja, o senhor foi visto várias

vezes no Palácio do Planalto, na ante-sala do gabinete do ministro José Dirceu.
– Fui mesmo várias vezes ao Palácio do Planalto. Estive lá para visitar uma conterrânea do Delúbio, chamada Sandra Cabral.
– Sandra Cabral é assessora-chefe da Casa Civil. Que assuntos o senhor tinha para conversar com o braço-direito do então ministro José Dirceu?
– Ela é de Goiás, como o Delúbio. Como ele tem interesse em ser candidato a deputado federal, eu e a Sandra discutíamos os projetos do Delúbio. Conversamos muito sobre isso.
– O senhor está dizendo que esteve quatro ou cinco vezes no Palácio do Planalto apenas para conversar com a assessora-chefe da Casa Civil sobre uma provável candidatura do tesoureiro do PT a deputado federal?
– É isso mesmo. A Sandra é amiga do Delúbio e estava preocupada com a campanha dele.


44 – 26/6/2005 A Folha de S.Paulo informa que o patrimônio de Marcos Valério subiu de R$ 3,8 milhões para R$ 6,7 milhões em apenas um ano, de 2002 para 2003, durante o primeiro ano do governo Lula. O jornal esclarece que praticamente todos os bens do empresário estão em nome dos filhos e da mulher, Renilda Santiago. O casal possui imóveis, carros de luxo e tem aplicações financeiras. A Folha descreve ganhos de Valério: “Em 2002, recebeu das agências de publicidade (e coligadas) das quais é sócio
R$ 504 mil a título de lucros e dividendos. No ano seguinte, foram R$ 2,95 milhões. Ou seja, o retorno que as empresas lhe proporcionaram no primeiro ano do governo Lula foi quase seis vezes maior do que em 2002.”
A Folha também destaca a reportagem “PT achacou empresa para liberar obra, diz ex-petista”. A denúncia é de Altivo Ovando Júnior, que em 2000 era secretário de Habitação de Mauá (SP), cidade administrada na época pelo prefeito Oswaldo Dias (PT).
O ex-secretário acusa Valdemir Garreta, dirigente petista que coordenava a campanha de Marta Suplicy (PT) à Prefeitura de São Paulo. No depoimento que prestou ao Ministério Público, Altivo Ovando Júnior também citou o deputado José Mentor (PT-SP), tido como fiel aliado do ex-ministro José Dirceu (PT-SP).
O alvo do achaque foi o grupo Peralta. A empresa pretendia construir um shopping center em Mauá. Precisava que a administração municipal fizesse desapropriações, investimentos em infra-estrutura e concedesse isenção de impostos. Garreta teria abordado o empresário Armando Jorge Peralta, sem meias palavras:
– Se não der dinheiro, não vai ter shopping. Garreta exigiu R$ 1,8 milhão, alegando que era preciso financiar as campanhas eleitorais de Marta Suplicy e Oswaldo Dias. Peralta topou, desde que dividisse em seis parcelas de R$ 300 mil.
O Ministério Público tem em mãos dois documentos. O primeiro, um recibo do diretório nacional do PT, no valor de R$ 48 mil. Foi emitido para a Peralta Investimentos e Participações. O segundo, no valor de R$ 252 mil, é uma nota emitida pela Flash Comunicação, de Mato Grosso do Sul, empresa supostamente ligada ao governador Zeca do PT (PT-MS). A nota atesta a realização de um vídeo para uma empresa do grupo Peralta. Suspeita-se de nota fria. Afinal, nenhum vídeo foi realizado.
Os dois documentos somam R$ 300 mil, e “fecham” a contabilidade de uma das parcelas.
De acordo com Altivo Ovando Júnior, ele mesmo, contra a sua vontade, foi o responsável pelo transporte de duas das parcelas de R$ 300 mil. Foi pessoalmente pegar a quantia na sede da empresa em Osasco (SP). Uma parcela, paga em cheque. A outra, em dinheiro. Tudo devidamente entregue a José Mentor (PT-SP), que depois foi líder da prefeita Marta Suplicy na Câmara Municipal.
Trecho do inquérito em que Altivo Ovando Júnior admite ao Ministério Público o recebimento da propina:
“O dinheiro lhe foi entregue em uma caixa de arquivo, destas de papelão, devidamente lacrada”. O shopping foi construído e está em funcionamento.

45 – 27/6/2005 O deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) concede entrevista à Rádio Solar, de Juiz de Fora (MG). Relaciona os escândalos do mensalão, dos Correios e das casas de bingo ao assassinato do prefeito de Santo André (SP), Celso Daniel (PT).
– É uma estrutura de corrupção, de caixa 2, que sustentou um grupo de dirigentes do PT durante muito tempo.

46 – 28/6/2005 Fecha o cerco a Marcos Valério. A Polícia Federal analisa documentos apreendidos nos setores de contabilidade das empresas do empresário, mas não há registros de transações com gado ou cavalos. Valério mencionou negócios no setor pecuário como justificativa para saques em dinheiro, no valor de R$ 20,9 milhões, efetuados no Banco Rural. As investigações constataram novos números: durante o governo Lula, o patrimônio de Valério teria saltado de R$ 2 milhões para R$ 6,7 milhões.
Pecuaristas também estranham as alegações de Valério. R$ 20,9 milhões seriam suficientes para adquirir até 50 mil cabeças de bezerro de engorda, mas o nome de Valério é desconhecido no mercado de leilões de gado. Declaração de Daniel Bilk Costa, presidente do Sindicato Nacional dos Leiloeiros Rurais:
– Os poucos pecuaristas que têm mais de 5 mil cabeças de gado são conhecidos. Ninguém que gasta R$ 20 milhões, em dinheiro e à vista, fica no anonimato. Dados do Sistema Nacional de Cadastro Rural apontam que as agências de publicidade DNA e SMPB são donas de dez grandes fazendas no interior da Bahia.
Apenas duas tiveram endereços cadastrados para correspondência. Um dos endereços não foi encontrado. O outro fica na sede de uma agência de publicidade.
Prossegue a devassa: a DNA foi multada em R$ 63,2 milhões pela Receita Federal, em novembro de 2004, por movimentação financeira incompatível com a receita da empresa. A agência movimentou R$ 268 milhões naquele ano, considerados muito mais do que poderia ter faturado com serviços de publicidade. Suspeita-se de dinheiro de caixa 2. As agências de Valério detêm cinco importantes contas de publicidade no governo Lula: Banco do Brasil, Eletronorte, Correios e Ministérios do Trabalho e do Esporte.
A secretária Fernanda Karina depõe no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Faz novas revelações: – Quando o senhor Marcos ia a Brasília, sempre no dia ou no dia anterior eram sacadas grandes quantias de dinheiro, pela Geyza ou pelos boys. Os boys falavam que tinha saque de R$ 1 milhão. O dinheiro era levado para o departamento financeiro da agência, onde a Simone e a Geyza dividiam os maços e colocavam nas malas.
– O senhor Marcos passava na empresa e pegava as malas para levar no avião fretado. Algumas vezes, a Simone diz que ficava em um hotel em Brasília, dentro de um quarto, o dia todo, contando dinheiro. E era um entra e sai de homem que ela ficava muito cansada. Ela só contava dinheiro e passava para essas pessoas. A funcionária Geyza Dias dos Santos trabalha no departamento financeiro da SMPB com a gerente Simone Vasconcellos. Simone também usava os quartos do Hotel Grand Bittar, em Brasília, onde se hospedava, para repartir o dinheiro que seria entregue. Os boys são Marquinhos e Orlando, cujo trabalho era retirar o dinheiro no Banco Rural ou no Banco do Brasil, e levá-lo à agência. Fernanda Karina entrega a agenda de trabalho ao Conselho de Ética. Traz as anotações do período em que foi secretária de Valério. Aponta quatro encontros do empresário com o responsável pelo segundo cargo mais importante da Secom, a Secretaria de Comunicação da presidência da República, o secretário-adjunto Marcus Vinicius di Flora. Há referências a Márcio Lacerda, secretário-executivo do ministro Ciro Gomes (PSB-CE). Lacerda ocupa o segundo cargo mais alto da hierarquia do Ministério da Integração Nacional. Outra anotação traz uma ordem de Valério. Era para deixar motorista à disposição de Delúbio Soares, sempre que ele estivesse em Belo Horizonte. Apontamentos na agenda também registram encontros de Valério com os deputados José Mentor (PT-SP) e João Magno (PT-MG). Há uma ordem para a secretária presentear Marcus Vinicius di Flora e outro deputado, João Paulo Cunha (PTSP), com canetas Mont Blanc. O nome do então tesoureiro nacional do PL, Jacinto Lamas, homem de confiança do presidente do partido, Valdemar Costa Neto (SP), aparece três vezes na agenda. E, por fim, outro representante do PT com quem Valério se encontrava com certa freqüência: o diretor de marketing do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato. As retiradas de dinheiro, segundo Fernanda Karina:
– Os saques eram feitos antes de reuniões do senhor Marcos com os senhores Delúbio e Silvio Pereira, marcadas por mim nos hotéis Blue Tree Tower em Brasília, e Sofitel em São Paulo. O senhor Marcos só dizia que era para os amigos de Brasília. A assessora especial do ministério da Casa Civil, Sandra Rodrigues Cabral, admite ter se reunido com Marcos Valério no Palácio do Planalto. Fala em “três, quatro ou cinco vezes”, mas sempre para tratar do que seria uma candidatura a deputado do tesoureiro Delúbio Soares. Sandra dá entrevista na sede nacional do PT em São Paulo, depois de se reunir por uma hora com o presidente do partido, José Genoino, e com o próprio Delúbio.
 – Não conversei concretamente com Marcos Valério nenhum assunto de governo. Sandra não vê nada de errado em tratar a candidatura de Delúbio no Palácio do Planalto, sede do governo:
– O Planalto, no nosso governo, felizmente, é um palácio aberto. Não só à imprensa, como a qualquer outra pessoa que entra a qualquer hora. Meu gabinete é absolutamente aberto. Após a entrevista, a assessora é afastada da Casa Civil. A confusão entre público e privado parece não ter fim. Agora, são as duas revistas do cunhado do ministro Luiz Gushiken. Foram contempladas com publicidade oficial do governo. As desconhecidas Investidor Institucional e Investidor Individual, editadas pela também desconhecida Ponto de Vista Editorial, dobraram o faturamento graças à propaganda de empresas estatais.
 As revistas de Luis Leonel, o cunhado, em 2002 já dispunham de anúncios de empresas estatais. Representavam 26% da publicidade das revistas. Em 2003, primeiro ano do mandato de Lula, com Gushiken no comando da Comunicação, a publicidade oficial passou a representar 47,3% do total de anúncios das revistas.
 Em 2004 o índice foi próximo: 45,5%. Leonel nega-se a conversar com jornalistas. Renata, irmã de Gushiken, há dez anos é responsável pela parte administrativa. A irmã de Leonel, Elizabeth Leonel Ferreira, é casada com Gushiken. Tudo em família. Única declaração do cunhado:
– O parentesco não tem nada a ver com os anúncios.

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