Bola da vez – Quando algum escândalo de corrupção estourava em sua seara, o então presidente Luiz Inácio da Silva alegava desconhecimento. Foi assim nos oito anos em que o ex-metalúrgico ocupou o Palácio do Planalto, período em que esculpiu com cinzel esquerdista a mais amaldiçoada herança política deixada a um sucessor. O que não significa que a presidente Dilma Rousseff, à época próxima colaboradora de Lula, desconhecesse a extensão e a nocividade da maldição.
Com sete ministros demitidos em onze meses de governo, sendo seis deles por causa de irregularidades ou envolvimento em casos de corrupção, Dilma, que ainda avalia os efeitos colaterais da demissão do pedetista Carlos Lupi, agora terá de enfrentar as denúncias que flanam na órbita do amigo e companheiro Fernando Pimentel, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Acusado de ter recebido R$ 2 milhões através da empresa P-21 Consultoria e Projetos, de sua propriedade, Pimentel está fadado a seguir a mesma trilha dos que foram ejetados da Esplanada dos Ministérios. De acordo com reportagem publicada na edição do último sábado (3) do jornal “O Globo”, os principais clientes de Pimentel foram a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e o grupo da construtora mineira Convap. A primeira pagou, em 2009, R$ 1 milhão por nove meses de consultoria do agora ministro, enquanto a segunda engordou o cofre de Pimentel, em 2010, com R$ 514 mil.
Dirigentes da Fiemg negam a prestação de serviço pelo ministro. A Convap, por sua vez, assinou com a prefeitura de Belo Horizonte, administrada pelo do sucessor de Pimentel, Márcio Lacerda, dois contratos que somam R$ 95,3 milhões.
Fernando Pimentel foi contratado por outra empresa do grupo, a holding Vitória Engenharia, atual Mineração Vitória Ltda. Meses após quitar a última parcela da consultoria, a Convap foi escolhida, na época de Márcio Lacerda, para executar as obras de implantação do sistema BRT (Ônibus de Trânsito Rápido, em inglês), com vistas à Copa de 2014, e da Via 210.
O grupo de Pimentel, homem de confiança de Dilma Rousseff, continua controlando a Secretaria Municipal de Obras e Infraestutura de Belo Horizonte. O diretor-presidente da Convap, Flávio de Lima Vieira, não quis dar declarações sobre o serviço prestado.
Atual presidente da Fiemg, Olavo Machado informou que o pagamento se refere a “análise, avaliação e aconselhamento sobre aspectos da economia local e mundial”, “discussões socioeconômicas com base em experiência técnica, universitária e administrativa” e “dimensionamento de mercados pra empresas, aspectos de meio ambiente e sustentabilidade”.
Fernando Pimentel, por meio de assessores ministeriais, informou que interrompeu as consultorias no final de 2010, antes de assumir a pasta do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. A P-21 teria encerrado a prestação de serviços em novembro de 2010.
Encontro com Dilma
No domingo (4), Dilma Rousseff decidiu que Pimentel precisa se explicar com urgência sobre o tráfico de influência em licitações da prefeitura de Belo Horizonte e a não prestaçãoos serviços pagos pela Fiemg. No contraponto, o ministro afirmou que “não feriu nenhum preceito ético e moral e está perplexo com tamanho espaço para um assunto privado”.
No caso de ser chamado para se explicar no Congresso, o ministro já tem um discurso preparado. Alegará que “é mordaz” qualquer tese de tráfico de influência no governo Dilma, uma vez que à época da prestação dos serviços ele não sabia que a petista seria eleita. Mesmo assim, é sabido que Dilma e Pimentel são amigos de longa data, desde os plúmbeos anos brasileiros, além de integrarem a cúpula do Partido dos Trabalhadores. Como se não bastasse a nova lufada de mentiras que sopra sobre a Esplanada dos Ministérios, Fernando Pimental participou ativamente da campanha de Dilma Rousseff.
Se Dilma adotar o mesmo conceito de análise dispensado a Antonio Palocci Filho, acusado de tráfico de influência e evolução meteórica do patrimônio, Pimentel tem tudo para ser o oitavo ministro a cair. Resta saber se a oposição terá tempo para sangrar Pimentel e se o Conselho de Ética Pública da Presidência exibirá a mesma tenacidade que marcou a recomendação para que a presidente demitisse Carlos Lupi.
Fonte: Ucho.Info
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