domingo, 13 de janeiro de 2013

À SOMBRA DO MENSALÃO

Radanezi Amorim
Por mais que hoje seja uma remota possibilidade, a eventual investigação do Ministério Público Federal contra o ex-presidente Lula vai mostrar ao país, mais uma vez, que ninguém está acima da lei. Deveria ser o óbvio, mas não é. Até o julgamento do mensalão havia a descrença generalizada de que autoridades pudessem receber alguma punição da Justiça.
Lula se tornou um ícone ao comandar um governo que tirou milhões da linha de pobreza. Mas nem por isso ele deve ser blindado de uma investigação, se houver elementos suficientes para tanto. Há quem diga que seria uma forma de atingir politicamente a maior estrela do PT. Mas será, na verdade, mais uma prova de que a democracia e as instituições estão se consolidando por aqui.

Para o bem geral da nação, o Supremo Tribunal Federal já confirmou de forma cabal o preceito constitucional de que a lei vale para todos: condenou autoridades e figurões que até então se julgavam inatingíveis por terem proximidade com o poder.

Durante o julgamento, conhecemos com detalhes a engenharia complexa da corrupção, montada para o funcionamento do esquema. Por isso, impressiona a fala do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, ontem ao jornal "Folha de São Paulo".

Gurgel confirmou o que muita gente suponha: o mensalão é "muito maior, muito mais amplo, do que aquilo que acabou sendo objeto da denúncia".

Ou seja, mesmo após a condenação de alguns réus, Gurgel trouxe novamente a sombra do mensalão. Ficou claro que nem todos os envolvidos foram denunciados e prestaram explicações à Justiça. E essa sombra de dúvidas acaba chegando ao ex-presidente Lula, sobretudo após o depoimento do empresário Marcos Valério.

Condenado a 40 anos de prisão por ter operado o esquema de compra de votos no Congresso, Valério tem pouquíssima credibilidade, a esta altura, é verdade. O próprio Gurgel avalia que o empresário quis "melar o julgamento". À "Folha", o procurador inclusive lançou dúvidas quanto a uma possível investigação envolvendo Lula com base no depoimento de Marcos Valério.

Por outro lado, Valério tinha livre acesso aos gabinetes do poder no governo Lula e provavelmente tem mesmo muito o que contar sobre esse tempo. Mas o fato é que a imprensa nacional divulgou que Gurgel sinalizou a interlocutores que encaminharia ao MPF de Brasília, São Paulo ou Minas um pedido de abertura de procedimento para apurar as denúncias de Valério.

Se aberto, esse procedimento pode resultar ou não em abertura de investigação. Mas se Lula não teve envolvimento com Valério, não deveria temer a apuração. A questão é que, ao rechaçarem com tanta força a possível investigação, aliados do ex-presidente só o colocam na zona de sombra do que ocorreu nos subterrâneos mas não foi investigado nem julgado. Ainda.

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