quarta-feira, 9 de novembro de 2011

DE LOBOS E CORDEIROS. LUPI E AGNELO POR UM FIO

Governador do DF agora admite ter recebido dinheiro de lobista, conforme informou VEJA

Que coisa! Antigamente, os lobos eram carnívoros, e os cordeiros, herbívoros. Em Brasília, Esopo ficaria espantado. A etimologia celebra a sua ironia na capital da República Federativa do Brasil… Onde está a pureza, Deus meu?

Carlos Lupi, o ministro do Trabalho, está encrencado. Ninguém mais quer saber dele, nem parte considerável do PDT. A reportagem de VEJA desta semana é, vamos dizer, acachapante. Em que seu caso se diferencia do de Orlando Silva? As evidências de falcatruas são ainda mais escancaradas. E seu partido, à diferença do PC do B, não se digna a atestar a sua inocência. “Lupi”, em latim, é plural de “lupus”, que quer dizer “lobo”, e genitivo singular: “do lobo”.

Mas Brasília também se depara com a hora do cordeiro — em latim, “agnus”. “Agnulus” (cordeirinho) deu em italiano a palavra “agnello”, origem do nome do governador do Distrito Federal, que tem tudo para se afogar nas águas turvas. E, desta feita, não há lobo nenhum lhe fazendo qualquer falsa acusação.

Dinheiro de lobista
Em julho, o lobista da indústria farmacêutica (União Química) Daniel Almeida Tavares disse à VEJA — sempre essa VEJA… — que havia pagado, em 2008, R$ 5 mil de propina a Agnelo quando o agora governador era diretor da Agência Nacional de Saúde. Seria só parte de uma bolada de R$ 50 mil para que o “cordeirinho” lhe arranjasse algumas facilidades. Com a memória prejudicada, Agnelo jurou mais inocência do que o outro, o da fabula de Esopo. Disse que nem conhecia o tal. Teve um surto de memória, embora premido pelos fatos.

Na Folha de hoje, Felipe Coutinho, Felipe Seligman e Andreza Matais informam:
O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), admitiu ontem que recebeu em sua conta pessoal R$ 5.000 de um lobista quando trabalhava como diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, em 2008. O dinheiro foi transferido para a conta de Agnelo por Daniel Almeida Tavares, que na época trabalhava para a farmacêutica União Química. (…). No mesmo dia em que o dinheiro caiu na conta de Agnelo, em 25 de janeiro de 2008, a União Química obteve da Anvisa um certificado sem o qual não poderia participar de licitações nem registrar novos medicamentos. Não foi uma decisão do colegiado da agência. Como diretor da área responsável por conceder o certificado na época, coube a Agnelo decidir sozinho a autorização.

A gente, que aprendeu a acreditar no cordeiro de Esopo, acha um tantinho estranha a história do cordeiro do PT. Segundo ele, o dinheiro era só “pagamento de um empréstimo”. Ah, bom!

O governador admite o que antes negara à VEJA porque as águas começaram a realmente ficaram turvas para o seu lado. Informa a Folha:
O lobista Daniel Tavares procurou a deputada distrital Celina Leão (PSD) há duas semanas afirmando que estava sofrendo ameaças e que precisava de proteção policial. Ele repetiu as acusações contra Agnelo e apresentou documentos, como extratos bancários. Segundo a deputada, o lobista afirmou que os R$ 5.000 transferidos para a conta de Agnelo representam parte de uma propina de R$ 50 mil paga ao petista. Tavares sustenta que os demais R$ 45 mil foram pagos em dinheiro vivo. “Fui orientada pela Polícia Federal para que ele venha à Câmara Distrital e preste depoimento oficial, inclusive para que possamos solicitar proteção policial”, disse ela. Tavares contou a interlocutores ter um vídeo que comprovaria a entrega de dinheiro a Agnelo, além de extratos de outros cinco depósitos bancários que somariam mais R$ 30 mil.

Sim, vocês estão certos: Agnelo é o mesmo cordeiro que antecedeu Orlando Silva no Ministério do Esporte, quando a, digamos, logística com as ONGs foi montada. Um inquérito investigando a sua atuação dormita no STJ (Superior Tribunal de Justiça). Ele pertencia, então, ao PCdoB. Depois migrou para o PT. O agora governador e seu partido tiveram papel fundamental na crise que varreu do Distrito Federal as “famílias” de José Roberto Arruda e Joaquim Roriz. Tudo parecia ir muito bem. Com o apoio da maioria membros da Câmara Distrital, Agnelo parecia destinado a ser o novo “godfather” de Brasília.

PT preocupado e renúncia
Desde o começo, o PT ficou especialmente preocupado com a crise no Ministério do Esporte, como aqui informei tantas vezes, porque ela fatalmente acabaria chamando a atenção para Agnelo Queiroz e seus métodos. Também lhes contei que a demissão de Orlando Silva foi apressada pelo Planalto quando a ministra Carmen Lúcia aceitou a abertura de inquérito, o que faria de Silva um investigado pelo STF. Ruim para o governo? Ruim! Mas o pior para o PT era outra coisa: a ministra determinou que os autos sobre Agnelo migrassem do Superior Tribunal de Justiça para o Supremo. Orlando saindo, tudo seria devolvido, como foi, para o STJ, onde, por alguma razão, os petistas acreditam que as coisas estão sob controle.

Também já contei aqui que a própria Dilma Rousseff comentou com assessores, em tom entre a preocupação e a extrema irritação, a situação de Agnelo. Deixou escapar um “ele que renuncie!”. Deve saber por que disse isso melhor do que nós todos.

Um governador enrolado em falcatruas sempre é uma má notícia em ano eleitoral. Se esse governador é do Distrito Federal, depois de tudo o que se viu lá, aí é mesmo um desastre. O DEM já disse que vai pedir o impeachment de Agnelo. Tem autoridade moral para isso, sim. Afinal, botou na rua os seus larápios.

Reinaldo Azevedo

Um comentário:

  1. No Brasil são dois pesos e duas medidas. Com o Arruda prisão, e com o Agnelo, omissão. Se o arruda fosse do PT estaria no governo até hoje, igual ao Agnelo está agora, confortável.

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