terça-feira, 31 de agosto de 2010

DEGRADAÇÃO DO BRASIL.

Destoa do crescimento econômico e da redução das desigualdades sociais, a reafirmação da histórica e nefasta deterioração ética da política e das instituições públicas - profundamente entrelaçadas. Convivem, no Brasil do século 21, e prosseguem nessa eleição, a melhoria da vida e do consumo - os ganhos materiais, e a reiterada negação da ética no trato da "coisa pública" e na atuação de quase todos os políticos - as perdas intangíveis de valores. A institucionalização do "vale tudo", do "tudo é igual", do vencer a qualquer custo, tornou a política imune aos seus escândalos. Chega-se ao extremo dessa degradação quando é preciso que uma lei defina e exija ficha limpa dos políticos - ainda em questão.


Atitudes e comportamentos políticos deploráveis irradiados de "cima" não só reafirmam como interagem com práticas iguais arraigadas na sociedade. Para se dar bem, a permissividade é ampla. Essa interação perniciosa - neste momento de ganhos econômicos e sociais - se reforça e se amplia com adesões "realistas" de muitos que pretendiam mudá-la. Resta quase nenhuma ação manifesta de reprovação. Mas, essa interação suscita sensações nesta eleição: ceticismo, cinismo, mal estar, hipocrisia, descrença, apreensão, muitas vezes combinadas.

Contrastando com essas sensações, o bem estar material na sociedade vem acompanhado ou é usado para reafirmar, e até intensificar, a política arcaica e exemplos aéticos recorrentes que desfiguram a "república" e suas instituições. O discurso das mudanças políticas fica sempre para um depois. Três matérias nacionais da semana passada, podem exemplificar o que é estimulado ou é resultado de uma ambiência política e institucional aética.

1. Violação de 140 sigilos fiscais na Receita Federal (Agência Mauá, SP). São investigadas três funcionárias. O secretário da Receita, Otacílio Cartaxo, admitiu a existência de um "balcão de venda de sigilos". Mais uma instituição de alta importância perde credibilidade. Propõe-se o "controle externo" da Receita. Mas, em um contexto de degradação espraiada, o controle acaba requerendo intermináveis controles do controle. O que resultou da quebra do sigilo bancário do "caseiro" Francenildo? Impunidade e privatização do governo, para atender o loteamento politiqueiro, destroem o "bem público".

2. Capitão (PMRJ) que julga PMs é flagrado com outro oficial furtando. Nove horas depois de interrogar os PMs que teriam recebido propina para liberar o carro que matou o músico Rafael Mascarenhas, o juiz militar e capitão da PM Lauro M. Catarino (33 anos) foi preso - juntamente com mais 10 pessoas -, roubando cabos de telefonia, na Praia de Botafogo. Segundo a investigação, os "oficiais eram mentores e responsáveis pela segurança da quadrilha". É a negação e inversão de valores republicanos.

3. "Vote Tiririca, pior que tá não fica". Indagado sobre o que faz um deputado federal, o candidato Tiririca respondeu: "Pra te falar a verdade, não conheço nada". Ao relembrar o rinoceronte "Cacareco" dos anos 50, evidencia a persistência e a retomada de velhas práticas políticas. As mais recentes não só não indicam reformas, como debilitam a democracia: ausência de oposição, "coligação única". Outras formas aéticas iguais ou semelhantes estão se disseminando.

O que resultará dessa combinação atual no Brasil entre avanços materiais socioeconômicos e o desprezo pela ética política e institucional?

Roberto Garcia Simões

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