sexta-feira, 6 de agosto de 2010

JUSTIÇA COMO PRESENTE.

Para seis pais cujos filhos foram assassinados, não há o que comemorar no próximo domingo. Em meio a lágrimas e com a voz embargada, eles revelam: o único presente que gostariam de receber é justiça para os crimes cometidos e mais segurança. Algo que ajudaria a aplacar a dor que não cessa nem com o passar do tempo.


Nos últimos dez anos, mais de 17 mil pessoas foram assassinadas no Estado, o equivalente à população dos municípios de Piúma ou de Rio Bananal. Só nos últimos sete meses deste ano, em média, cinco pessoas foram mortas por dia, num total de 1.142 homicídios. A investigação, a prisão e a condenação dos culpados por esses crimes pode levar anos e, em alguns casos, nunca ocorrer.

Um exemplo é a chacina de quatro crianças ocorrida em Morro Novo, Cariacica. Seis anos passaram-se, e Jailson Conceição Pinto, pai de uma das vítimas, o pequeno Vinícius, 8, ainda aguarda pela punição dos culpados. A mesma falta de esperança é compartilhada por outro pai, Jonas Queiroz Ayres. O homicídio de seu filho, Jones, em 2006, nunca foi investigado. "Deixaram a gente apenas com a nossa dor", pontua Jailson.

Demora

Para esses pais, é difícil compreender a impunidade. "É algo que a cada dia te faz sentir mais agredido, mais injustiçado. Uma violência que se repete, porque a justiça não está sendo feita", relata o advogado e professor de Direito Alexandre de Castro Martins, pai do juiz Alexandre, assassinado em 2003.

A solução para muitas famílias foi transformar a dor em missão. É o que há 18 anos faz Tolentino Ferreira de Freitas, pai do advogado Carlos Batista, desaparecido em janeiro de 1992, cujo corpo não foi encontrado. Apesar das ameaças que recebeu, nunca desistiu de buscar informações que ajudassem a elucidar o crime. A condenação dos culpados, quase duas décadas após o crime, não aplacou a sua investigação particular. "Queremos achar o que restou do meu filho."

Quem teve a vida transformada por esses crimes sabe que poucos entendem a dimensão de sua angústia. "A gente não dorme, está sempre lembrando. Mas o que machuca é que seu filho está morto; e o assassino, livre, curtindo a vida", destaca Jadir Cavalcante, que há dois anos perdeu o filho Leonardo, universitário.

É por isso que muitos pais até se recusam a falar sobre o assunto, como os que foram procurados por A GAZETA. Temem que os criminosos, com quem compartilham o bairro, se vinguem. "Quem vai garantir a minha vida ou a de meus familiares?", ponderou um deles.

Para essas famílias, a justiça é imprescindível, mas não basta. Querem também mais segurança. Que o diga o empresário Wilson Salles, que há dois anos viveu a maior dor que um pai pode sofrer. Seu filho, Wilson, foi morto durante um sequestro relâmpago. Desde então - garante - sua família, como muitas outras no Estado, está presa, com medo de que a tragédia se repita. "Somos vítimas de um sistema de segurança cuja prevenção falhou e continua falhando", frisa.

Após chacina, restou um grande vazio

Os olhos do auxiliar de serviços gerais Jailson Conceição Pinto, 41 anos, ficam distantes quando ele se lembra da noite em que reconheceu o corpo de seu pequeno Vinícius, 8 anos, seu filho caçula. Era 8 de dezembro de 2004. Com o garoto, estavam seus três amiguinhos: Leone Borges dos Santos, Felipe Oliveira e Giovane Andrade Ferreira. Eles foram amarrados, mortos a pauladas e abandonados em um matagal em Morro Novo, Cariacica. Um deles foi violentado sexualmente. Um dos suspeitos foi morto dias após o crime. Outros sete foram soltos por falta de provas. Para a família, o que ficou foi um grande vazio. "Se eu fosse rico, até poderia esperar por justiça, mas de pobre ninguém se lembra", diz Jailson, cuja única alegria hoje é a neta, de 3 meses.

Amizade que acabou em dor e luta

Seus pais alertaram para o perigo daquela amizade, mas o bom coração do universitário Leonardo Zanotti Cavalcante insistia em querer ajudar o amigo Marcos Vitor Martins. Na noite do dia 2 de janeiro de 2008, os temores familiares confirmaram-se: Leo foi morto pelo amigo com um tiro no rosto, em Vila Velha. Desde então, seu pai, o técnico em eletrônica Jadir Ferreira Cavalcante, 54 anos, luta para que a impunidade não prevaleça. O acusado foi indiciado por homicídio doloso - com intenção de provocar dano - que, na justiça, foi reduzido para dolo eventual. Aguarda a confirmação, após recurso, do julgamento em júri popular, sem data marcada. "A justiça tem que prevalecer até quando o assassino é filho de um policial civil. Não vamos desistir", pontua.

Sem esperanças de que culpado seja preso

O auxiliar de expedição Jonas Queiroz Ayres, 47 anos, não esquece o telefonema que recebeu na noite de 11 de março de 2006, véspera do aniversário de sua esposa. Foi a última vez em que falou com seu filho Jones Teixeira Ayres, 18 anos. Ele pedia perdão ao pai e dizia que o amava. Duas horas depois, o rapaz foi assassinado por traficantes, em Cariacica. Ninguém nunca foi acusado por sua morte, e a família já perdeu a esperança. "Gostaria de ver o culpado preso, mas não acredito que isso ocorrerá", diz o pai, que mantém na lembrança o sorriso largo do único filho.

Ele não desistiu de procurar o corpo do filho

Há 18 anos, Tolentino Ferreira de Freitas, 75, recebeu a pior notícia de sua vida: seu filho, o advogado Carlos Batista, estava desaparecido. Com muito esforço, sob ameaças e quase duas décadas depois de muitas idas e vindas do processo, sua família viu o crime ser julgado. "Houve julgamento, mas a justiça não foi feita", destaca o pai. Um dos acusados, Adalto Martinelli, responde, em liberdade; outro, Geraldo Piedade, está preso, mas, com sua reintegração aos quadros da Polícia Militar, busca alternativas para responder em liberdade; o terceiro, João Henriques, fugiu pela porta da frente da prisão. Outros acusados morreram ao longo do processo. Para a família, há quem não foi acusado, mesmo com provas. E o pior: ninguém revelou onde está o corpo de Carlos. "Em quem podemos confiar?", questiona o pai.

"Vivemos sem liberdade e com medo"

O empresário Wilson Salles, 50 anos, nunca imaginou que um dia ajudaria a tirar o corpo de seu filho do carro onde foi assassinado. "Precisava cuidar dele." O universitário Wilson Augusto Costa Salles, 19 anos, foi morto no dia 28 de junho de 2008, durante um sequestro relâmpago, em Vitória. Seus assassinos, dois jovens e um menor de idade, foram presos e condenados. "A polícia foi rápida na elucidação e na prisão dos acusados, mas falhou na prevenção. E isso levou ao fim da vida do meu filho", destaca o empresário. Hoje, a família amarga com a falta de segurança. "Vou levar e buscar meus filhos e ligamos para saber se está tudo bem." Para Salles, a falta de segurança tira o direito de ir e vir de todas as famílias. "Vivemos sem liberdade. O medo é uma constante."

Vilmara Fernandes

Um comentário:

  1. Dr. Marco,
    gostaria de apresentar-lhe o CASO ANASTACIO CASSARO, MEU PAI, assassinado há quase 25 anos que irá a julgamento agora dia 29 de março de 2011. MEU PAI era prefeito de São Gabriel da Palha-ES, e foi assassinado na metade do mandato, por ser um homem íntegro de caráter irretocável ...
    Preciso do apoio de todos, pois o povo é quem vai julgar ...
    "tenho muito o que contar", mas o espaço é pequeno, aguardo contato seu.
    tb temos blog: "CASO ANASTACIO CASSARO"
    Grande abraço

    JUSTIÇA BRASIL !!!

    Meu nome é SANDRA CASSARO, e este é um dos nossos endereços no orkut, o meu particular é: SSandra C.

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