quinta-feira, 17 de março de 2011

FUNDACENTRO EM PÉ DE GUERRA.

- Um clima de guerra tomou conta da Fundacentro, órgão do Ministério do Trabalho cuja missão é atuar pela saúde física e mental dos trabalhadores. O tiroteio resvala inclusive no diretor de teatro Amir Haddad e no ator global Antonio Pedro Borges.


De um lado, um grupo de funcionários faz diversas acusações contra o presidente da Fundacentro, Eduardo de Azeredo Costa, e entregou ao Ministério do Trabalho no mês passado uma carta pedindo a troca de comando da entidade. De outro, Costa diz que sofre "assédio moral ascendente" por causa da quantidade de reclamações e denúncias a que tem que responder, segundo ele oriundas de um grupo minoritário.

No meio está o grupo de teatro Tá na Rua, que recebeu da Fundacentro R$ 828 mil para fazer, segundo Costa, 30 apresentações em espaços públicos e em fábricas ao longo do ano passado e registrá-las em documentário. Para os funcionários que querem derrubar o presidente da Fundacentro, o projeto tem um custo "elevadíssimo", uma vez que corresponde a um quinto de todo o orçamento que a entidade tem para ações na sua atividade fim.

Nas apresentações, o Tá na Rua exibia cartazes do ex-presidente Getúlio Vargas, do fundador do PDT Leonel Brizola e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no meio de figuras históricas não ligadas a partidos, como Zumbi dos Palmares. O projeto incluiu, ainda, um seminário de um dia.

O ministro Carlos Lupi, o presidente da Fundacentro e o ator contratado para ancorar o documentário, Antonio Pedro, são todos do PDT. Borges foi candidato a deputado estadual pela sigla em 1990. O documentário tem duas aparições de Lupi.

'Risco de sobrepreço'

A Controladoria Geral da União (CGU) apontou em junho que havia "risco de sobrepreço" de R$ 315 mil no projeto. O Instituto Tá na Rua recebeu os R$ 828 mil e repassou R$ 598 mil à empresa Voglia Produções Artísticas. Segundo a CGU, o projeto não poderia ter essa subcontratação porque foi feito com dispensa de licitação. Em dezembro, a Controladoria novamente cobrou informações da Fundacentro, que diz ter enviado mais detalhes em janeiro. A CGU ainda analisa o caso.

A Voglia diz ter sido informada de que a subcontratação era permitida. Amir Haddad, responsável pelo Tá na Rua, afirma que o contrato com a Fundacentro "previa subcontratação de uma parceira". Costa, presidente do órgão, informa que o Tá na Rua foi o grupo mais barato entre três consultados pela Fundacentro em uma tomada de preço.

Antonio Pedro afirmou à reportagem que recebeu nesse projeto menos do que costuma ganhar no mercado. Costa disse que Antonio Pedro foi "escolhido" por ter sua imagem ligada ao papel de operário na antiga Escolinha do Professor Raimundo, da TV Globo.

Guerra interna

O assessor do ministro que recebeu em mãos a carta pedindo a saída de Costa disse ao "Estado" que o documento contém menos de 40 assinaturas. Já o grupo de oposição alega que são 84 os funcionários signatários. A Fundacentro tem 279 empregados.

A guerra interna estourou quando o atual presidente da Fundacentro reestruturou a auditoria, exonerando o profissional responsável dia 11 de junho. A assistente da auditoria Suely Fonseca, que em agosto foi transferida para a manutenção, alega ter reunido 60 nomes em um abaixo-assinado que pretende usar em processo contra Costa. Antes de ser retirada do cargo, ela tinha acesso a dados como o do contrato com o Tá na Rua. Agora, atende telefonemas de colegas que pedem para trocar lâmpadas e consertar objetos.

Costa disse, em email aos funcionários e no site da Fundacentro que fez a mudança na auditoria porque o Tribunal de Contas da União "pensou" em intervir na entidade. Solicitado, Costa não apresentou à reportagem nenhum registro do suposta intenção do TCU.

O presidente da Fundacentro acrescenta que há frequente vazamento "ilícito" de documentos, usados em denúncias ele considera "infundadas". Ele cita algumas vitórias: o TCU (Tribunal de Contas da União) declarou improcedente uma reclamação sobre uma decisão da Fundacentro; a Justiça Federal denegou um mandado de segurança de um servidor que não queria ser exonerado; a Comissão de Ética Pública da Presidência da República arquivou uma denúncia contra Costa.

Em setembro, Costa pagou uma passagem de avião com dinheiro público para participar de evento de campanha da então candidata Dilma Rousseff no Rio de Janeiro. No mês seguinte, Costa mandou suspender todas as viagens dos servidores até o fim do ano, alegando escassez de recursos. À reportagem, disse que vai ressarcir a instituição.

Acerto de contas

Costa, após saber que estava circulando um abaixo-assinado pedindo a sua saída, adotou um discurso considerado intimidador por funcionários. "Vamos acertar as contas", disse, em e-mail endereçado a todos os seus subordinados e também em texto no site da Fundacentro. Nas duas mensagens, ele solicitou os nomes dos signatários.

O presidente da Fundacentro também enviou uma notificação extrajudicial à associação de funcionários e a quatro servidores ameaçando processá-los "penal e civilmente" se prejudicassem a imagem da instituição. Servidores contatados pela reportagem disseram que, por isso, temem falar com a imprensa sobre o assunto, salvo sob anonimato. Justamente na Fundacentro, o órgão que pesquisa e difunde informações para o bem-estar do trabalhador

Fonte: O Estadão -

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