quarta-feira, 30 de março de 2011

A MÃO INVISIVEL DO ESTADO.

Todos os números mostram que a privatização da Vale foi positiva para a empresa e para o país. Na gestão do presidente Roger Agnelli, em especial, ela deu um salto. A interferência do governo no comando da companhia, da maneira como foi feita, numa ação truculenta e ilegítima, representa um retrocesso que arranha a imagem do país e desperta a desconfiança do mercado, com razão. A empresa agora vai operar de acordo com os interesses do governo ou dos acionistas?


O governo também é acionista da empresa, por meio do BNDES, e pode ter o direito de interferir nos seus negócios, mas na instância adequada, no conselho de acionistas, e não numa reunião reservada entre o ministro da Fazenda e o presidente do Bradesco. Reportagem publicada no sábado em O Globo revela que integrantes do comando do banco definiram como "pressão massacrante" a ofensiva do Planalto para tirar Agnelli do cargo. O ministro agora será convidado para prestar esclarecimentos em comissões do Senado e da Câmara.

A decisão de investir ou não em siderurgia deve levar em conta a demanda interna e externa por aço e deve, sobretudo, atender ao interesse dos acionistas, não aos objetivos econômicos do governo. Há quem diga, contudo, que nem seria esse o verdadeiro motivo da fritura de Agnelli - inclusive porque a Vale acabou cedendo e ampliou os investimentos no setor. A empresa inaugurou uma siderúrgica no Rio no ano passado e está construindo mais três no país, incluindo uma no Espírito Santo, em Ubu, que acabou de receber licença prévia do Iema.

As razões do governo não estão muito claras, mas tudo indica que, aliado aos fundos de pensão, ele pretende interferir cada vez mais na companhia. Seria muito ruim para a empresa e para o país se a sua gestão voltasse a um modelo estatal, sofrendo influência política.

Privatizada em 1997, a Vale hoje produz mais, lucra mais, recolhe mais impostos e emprega mais gente. Somente na Era Agnelli, nos últimos dez anos, seu valor de mercado saltou de US$ 9,2 bilhões para US$ 176,3 bilhões, ou 20 vezes mais. No ano passado ela bateu seu próprio recorde, alcançando US$ 17,3 bilhões de lucro líquido, o maior da história da companhia. Do ponto de vista da gestão do negócio, nada justificaria a substituição de seu presidente, a não ser, claro, motivações políticas.

A Petrobras também teve lucro recorde no ano passado, superior inclusive ao da Vale, e é uma empresa estatal, diriam observadores favoráveis a uma presença maior do Estado na economia. Pois esse lucro provavelmente seria ainda maior se a empresa se livrasse da disputa política entre o PT e o PMDB pela indicação de cargos, disputa esta que pode envolver muitos critérios, mas a competência técnica certamente não é o principal.

As experiências na telefonia, na siderurgia e na mineração, na própria Vale, mostram que as privatizações promovidas nos anos 90 ajudaram a modernizar a economia do país, gerando mais emprego e mais riqueza e reduzindo a margem para a corrupção e o clientelismo. Certos agentes políticos parecem não ter assimilado até hoje o êxito dessas mudanças. Resta torcer para que o fracasso não suba à cabeça do governo.

André Hees - A Gazeta - http://glo.bo/fwpLuF

3 comentários:

  1. CARO MARCO

    VAMOS TORCER PARA QUE ESTE ESPÍRITO ESTATIZANTE, TÍPICO DE GOVERNOS DITATORIAIS, NÃO SUBA A CABEÇA DE TAL FORMA QUE PONHA TUDO A PERDER.

    marisa Cruz

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  2. Sugiro que vc leia as matérias e comentários publicados nesse Blog:
    http://www.conversaafiada.com.br/pig/2011/03/28/como-agnelli-seduziu-o-pig-com-publicidade/

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  3. Não houve privatização no Brasil: houve uma privataria braba. /entregaram o patrimônio do povo brasileiro, construído com nosso dinheiro e nosso trabalho a preço vil. A Vale do Rio Doce foi transformada em vale-brinde por FHC. Venderam uma empresa daquela pelo valor de UM TRIMESTRE de seus lucros. A isso chamam de bom negócio?

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