Sr. Antonio, 54 anos, lavrador, tinha percebido há algum tempo certo desconforto ao urinar e se assustou quando começou a urinar sangue. Procurou o hospital mais próximo, entrou por uma porta de vidro, onde se lia pronto-socorro, bem que percebeu algo diferente, ar condicionado, pouca gente, recepcionista bem trajada. Dirigiu-se à recepção;
Pacientemente o Sr Antonio fez o que lhe fora sugerido, deparou-se com uma grande sala, repleta de pacientes, avistou um segurança, se dirigiu a ele;
Nessa história simples e verídica está um dos grandes problemas da saúde pública no Brasil, primeiro é preciso saber que o hospital em questão é filantrópico e fica evidente a discriminação aos pacientes do SUS.
- Moça, estou passando mal, estou com dor no pé da barriga e urinando sangue, preciso de um médico,
- Um minuto por favor, respondeu a atendente enquanto mexia no computador, parou, virou-se e perguntou, o Sr tem plano ou é particular?
- Não moça, moro no interior, não tenho plano de saúde e nem dinheiro para pagar,
- Então o Sr está no lugar errado, por favor, atravesse o pátio e vai encontrar o pronto-socorro que atende os pacientes do SUS.
- Estou passando mal, estou com dor e urinando sangue, tenho que enfrentar essa fila ou pode me ajudar?
- Espere um pouco, vou ver o que posso fazer, falou gentilmente o segurança.
Aguardou pacientemente por uns dez minutos, quando foi orientado a se dirigir ao balcão.
Duas atendentes se esforçavam para atender toda aquela gente, uma delas se dirigiu ao Sr Antonio e perguntou?
- É o Sr que está passando mal? Tem documentos, onde mora? Preciso preencher uma ficha,
- Tenho CPF e carteira de trabalho, serve? Moro no município de Atílio Vivácqua.
- Ahh, não mora aqui? Por que não procurou um hospital na sua cidade?
- Moça, por favor, vim fazer uns pagamentos, passei mal de repente e procurei o hospital mais próximo, não posso ser atendido?
- Mesmo mostrando certa má vontade, a atendente preencheu o BAU ( Boletim de Atendimento de Urgência),
-Olhe, aguarde sentado ali e espere a sua vez.
Após esperar por cerca de 40 minutos, o Sr Antonio foi atendido, aplicaram-lhe uma injeção e fizeram um encaminhamento para marcar consulta para um urologista.
Pronto-socorro só para particulares e planos de saúde separado do local de atendimento dos pacientes do sistema único de saúde, dentro de um mesmo hospital é uma afronta à dignidade humana, pois as pessoas podem ter níveis econômicos diferentes, mas a doença é igual para todos.
Outro absurdo é o questionamento quanto ao local de residência, a saúde é municipalizada, mas o SUS é universal, infelizmente uma prática comum em todo o território nacional. Para completar teve um atendimento superficial, apenas uma injeção que acredito ter sido para a dor e simplesmente mandar procurar um urologista, é na verdade uma forma de se livrar do paciente.
Com raras e honrosas exceções, o que acontece nos hospitais filantrópicos tratam os pacientes do SUS de forma discriminada, usam das prerrogativas da filantropia como isenção de impostos, receber verbas públicas, mas o atendimento não é igualitário. Para planos de saúde e particulares, quartos com dois leitos e apartamentos, enfermaria com vários leitos para o SUS , vaga em UTI, preferência para os primeiros, cirurgia eletiva para pacientes do SUS , só por milagre, internação de pacientes com doenças crônicas também enfrentam dificuldades, normalmente são orientados a procurar um hospital público, resumindo, querem o filé enquanto jogam a carne de pescoço para o sistema público, isso sem contar na corrupção, cobranças por serviços não prestados, etc...
Por isso sou contra e não acredito nos hospitais filantrópicos para atendimento aos usuários do SUS, o governo tem que construir e oferecer hospitais públicos de qualidade e em quantidade suficiente para atender a demanda, aí sim, teremos apenas dois tipos de hospitais, o público que atende a todos sem distinção e os que atendem somente a planos de saúde e particulares.
CHEGA DE ENGANAÇÃO!!!