Ele critica o Supremo Tribunal Federal e a imprensa. É o único culpado no julgamento do mensalão que adotou essa conduta, ao que se tem notícia.
Mesmo condenado a dez anos e dez meses de prisão e com multas que chegam a R$ 676 mil, o ex-ministro José Dirceu segue disparando bravatas pelo país. Em reuniões com aliados, ele critica o Supremo Tribunal Federal e a imprensa. É o único culpado no julgamento do mensalão que adotou essa conduta, ao que se tem notícia.
Dirceu foi condenado por ser o chefe do esquema do mensalão. Segundo o relator Joaquim Barbosa, era ele, o articulador político do Palácio do Planalto, quem "batia o martelo" na compra de apoio para o governo Lula no Congresso.
Agora, numa espécie de "cruzada", ele participa de eventos em várias cidades buscando apoio político contra a decisão do STF. Contudo, a esta quadra, Dirceu não dispõe mais de estatura moral e política para fazer ataques a quem quer que seja. Por isso sua audácia chama atenção. Afinal, ao contrário do que diz o PT nacional sobre a condenação – sem provas, segundo o próprio Dirceu e o partido –, a atitude do ex-ministro é que abre um precedente perigoso.
As críticas acabam dirigidas à própria Justiça, como se a mais alta Corte do país e o Judiciário estivessem a serviço de um projeto político antagônico ao PT. Numa reunião em Curitiba, na semana passada, ele foi aplaudido de pé, ao chegar e ao discursar, como se fosse um herói injustiçado. Disse o seguinte a seus apoiadores: "O Poder começa a se deslocar para o outro lado da praça, onde estão o Judiciário e os grupos de comunicação".
Condutas como essa, de enxovalhar os ministros e a instituição que o condenou, porém, indicam o perfil autoritário do general petista. E esse traço parece encontrar eco em setores do partido. Numa nota divulgada logo em novembro, após a condenação de Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares, o PT nacional criticou numa nota a "partidarização do Judiciário" e o "julgamento político" do STF.
E recentemente houve outra demonstração de que a sigla não aceitará as sentenças contra correligionários, que politicamente atingem todo o partido. Para a última reunião do ano do Diretório Nacional do PT, na semana passada, um dos pontos em debate seria a reforma do Judiciário. No entanto, o governo barrou o tema porque provavelmente a discussão ganharia dimensão de combate institucional.
Contudo, ao circular pelo país para sua cruzada, atacando o STF e a imprensa, Dirceu também parece conclamar seus apoiadores para esse embate. Ele já disse que mesmo preso continuará lutando. Deveria era lutar para que esquemas como o que comandou não se repetissem.
Radanezi Amorim
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