GABRIEL TEBALDI | gab_meira@hotmail.com
Em meio às músicas de protesto que dão novo tom à nação, há uma cantiga: “Era um país muito engraçado, não tinha escola, só tinha estádio. Ninguém podia protestar não, porque a PM descia a mão. Ninguém podia ir pro hospital, porque na fila estava um caos. Ninguém sabia reclamar não, porque faltou educação. Mas era feita com muito esmero, no país dos bobos, saúde zero”.
Foi só o povo ir à rua para o Congresso se agitar. De repente um surto de eficiência tomou conta da política, e as excelências revelaram-se verdadeiras crianças, que só fazem o dever de casa com a pressão e cobrança dos pais. Mas nessa infância não há inocência. Se, para Cristo, o reino dos céus pertence às crianças, os bastidores políticos preferem outro paraíso, o fiscal. E como não podem contar com São Pedro para dar-lhes a chave do céu, buscam ao menos abrir as portas das eleições de 2014 com as chaves do oportunismo.
Prova disso foi a derrubada da PEC 37, que há 15 dias tinha sua aprovação garantida. Antes das manifestações, tudo correria no tradicional sigilo e discurso do “não sei quem fui”. Agora, o voto foi aberto e deputados levaram cartazes contra a PEC. Alguns soltaram até piadinhas: “Você pode pecar 36 vezes, mas nunca PEC 37!”.
A Câmara barrou, ainda, R$ 43 milhões destinados para transmissões da Copa. Até os royalties ganharam rumo! Agora, 75% irá para a Educação e 25% para a Saúde. O Senado também não ficou de fora: Renan Calheiros propôs passe livre estudantil financiado pelos royalties, punição para juízes condenados e exigência de ficha limpa para servidores públicos. Tudo em uma noite! Na próxima semana, votarão a “cura gay” e o fim do voto secreto para cassações parlamentares.
Mais do que a sensação de mudança, paira a certeza de que, se quisessem, os parlamentares transformariam o país em poucos meses. Mas a verdade é que não querem. As conquistas da semana são vitórias do povo, de fato. Contudo, o que inspira a correria política é o trampolim pessoal e a pretensão de desmobilizar o povo.
Veja Renan: ao lançar suas inovadoras propostas, o senador afirmou que “Aceitar críticas é um gesto de humildade e desejo de interagir com a sociedade”. Curioso é que, entre as cinco principais reivindicações das ruas, há o pedido de sua renúncia da presidência da Casa. Sobre isso, o alagoano nada falou.
O silêncio das ruas talvez seja o principal pacto da Tia Dilma, que busca seu objetivo desviando as discussões e confundindo a população. Os milhões que foram às ruas cobraram saúde, educação, segurança, combate aos abusos da Copa e à corrupção. Como resposta, a petista propôs o combate à inflação, palavras vagas sobre os serviços públicos e uma reforma política ainda sem pé nem cabeça. Falando em cabeça, a gerente do Planalto carece de boas mentes e deveria ouvir ao menos o vice-presidente antes de propor uma Constituinte condenada pelos maiores juristas do país.
Agora Dilma investe no plebiscito para aprovar reformas que, curiosamente, terão o PT como maior beneficiado. E fala de combater a corrupção dolosa, sem explicar como se provaria o dolo, abrindo espaço para a incrível espécie de corruptos que dirão que roubam sem intenção de roubar.
Sobre a Copa, a única atitude foi por em prática o Bolsa-Copa, que banca diárias dos 39 ministros para assistirem aos jogos. O absurdo estende-se para comandantes, oficiais e servidores das três Forças Armadas. É verdade que todas as cidades da Copa possuem bases e alojamentos militares, mas isso é um detalhe. Foca no plebiscito!
No século XIX, Abraham Lincoln traduziu o que vivemos hoje: “Demagogia é a capacidade de vestir as ideias menores com as palavras maiores”. Se entrarmos na cantiga confusa e desfocada dos representantes, a mobilização se perderá e receberemos o mesmo nada de sempre.
As maiores ideias e palavras estão com a população, nas ruas, e a semana anuncia uma nova oportunidade de lançá-las. Diante da possibilidade de parar, lembremos: a corja política está se movimentando a todo vapor. E contra nós.
Gabriel Tebaldi, 20 anos, é estudante de História da Ufes
Foi só o povo ir à rua para o Congresso se agitar. De repente um surto de eficiência tomou conta da política, e as excelências revelaram-se verdadeiras crianças, que só fazem o dever de casa com a pressão e cobrança dos pais. Mas nessa infância não há inocência. Se, para Cristo, o reino dos céus pertence às crianças, os bastidores políticos preferem outro paraíso, o fiscal. E como não podem contar com São Pedro para dar-lhes a chave do céu, buscam ao menos abrir as portas das eleições de 2014 com as chaves do oportunismo.
Prova disso foi a derrubada da PEC 37, que há 15 dias tinha sua aprovação garantida. Antes das manifestações, tudo correria no tradicional sigilo e discurso do “não sei quem fui”. Agora, o voto foi aberto e deputados levaram cartazes contra a PEC. Alguns soltaram até piadinhas: “Você pode pecar 36 vezes, mas nunca PEC 37!”.
A Câmara barrou, ainda, R$ 43 milhões destinados para transmissões da Copa. Até os royalties ganharam rumo! Agora, 75% irá para a Educação e 25% para a Saúde. O Senado também não ficou de fora: Renan Calheiros propôs passe livre estudantil financiado pelos royalties, punição para juízes condenados e exigência de ficha limpa para servidores públicos. Tudo em uma noite! Na próxima semana, votarão a “cura gay” e o fim do voto secreto para cassações parlamentares.
Mais do que a sensação de mudança, paira a certeza de que, se quisessem, os parlamentares transformariam o país em poucos meses. Mas a verdade é que não querem. As conquistas da semana são vitórias do povo, de fato. Contudo, o que inspira a correria política é o trampolim pessoal e a pretensão de desmobilizar o povo.
Veja Renan: ao lançar suas inovadoras propostas, o senador afirmou que “Aceitar críticas é um gesto de humildade e desejo de interagir com a sociedade”. Curioso é que, entre as cinco principais reivindicações das ruas, há o pedido de sua renúncia da presidência da Casa. Sobre isso, o alagoano nada falou.
O silêncio das ruas talvez seja o principal pacto da Tia Dilma, que busca seu objetivo desviando as discussões e confundindo a população. Os milhões que foram às ruas cobraram saúde, educação, segurança, combate aos abusos da Copa e à corrupção. Como resposta, a petista propôs o combate à inflação, palavras vagas sobre os serviços públicos e uma reforma política ainda sem pé nem cabeça. Falando em cabeça, a gerente do Planalto carece de boas mentes e deveria ouvir ao menos o vice-presidente antes de propor uma Constituinte condenada pelos maiores juristas do país.
Agora Dilma investe no plebiscito para aprovar reformas que, curiosamente, terão o PT como maior beneficiado. E fala de combater a corrupção dolosa, sem explicar como se provaria o dolo, abrindo espaço para a incrível espécie de corruptos que dirão que roubam sem intenção de roubar.
Sobre a Copa, a única atitude foi por em prática o Bolsa-Copa, que banca diárias dos 39 ministros para assistirem aos jogos. O absurdo estende-se para comandantes, oficiais e servidores das três Forças Armadas. É verdade que todas as cidades da Copa possuem bases e alojamentos militares, mas isso é um detalhe. Foca no plebiscito!
No século XIX, Abraham Lincoln traduziu o que vivemos hoje: “Demagogia é a capacidade de vestir as ideias menores com as palavras maiores”. Se entrarmos na cantiga confusa e desfocada dos representantes, a mobilização se perderá e receberemos o mesmo nada de sempre.
As maiores ideias e palavras estão com a população, nas ruas, e a semana anuncia uma nova oportunidade de lançá-las. Diante da possibilidade de parar, lembremos: a corja política está se movimentando a todo vapor. E contra nós.
Gabriel Tebaldi, 20 anos, é estudante de História da Ufes
Fonte: A Gazeta
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