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domingo, 8 de dezembro de 2013

O BRASIL NÃO MERECE


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Por Gustavo Loyola - Valor Econômico - 02 Dez 2013
A imprensa noticiou na semana passada que a presidente Dilma pretende utilizar as diretorias dos bancos federais como moeda de troca para assegurar o apoio dos partidos a sua reeleição em 2014. Seria apenas mais um triste capítulo no processo de loteamento político dos cargos de direção de órgãos e empresas ligadas ao governo federal, não fossem as circunstâncias específicas que cercam a atuação das instituições bancárias.
Como se sabe, bancos não são como uma empresa qualquer. Trabalham alavancados, gerenciam riscos complexos e cuidam da poupança financeira de milhões de pessoas. Concedem crédito e com isso impulsionam a atividade econômica. Os grandes bancos, quando entram em dificuldades, prejudicam não somente seus acionistas e depositantes, mas também toda a economia, num processo conhecido como crise sistêmica. No caso dos bancos públicos, sua má gestão pode adicionalmente trazer prejuízos imensos para o erário, obrigado a absorver suas perdas e a recompor seu capital.
Num período não tão distante, entre 1995 e 1999, o governo federal gastou cerca de R$ 60 bilhões de reais no saneamento dos bancos federais públicos e outro tanto com os bancos estaduais, o que mostra que a conta pode ser muito salgada quando uma instituição bancária pública embarca numa trajetória equivocada, seja por seguir desígnios políticos incompatíveis com sua natureza, seja simplesmente por má gestão. Créditos concedidos como moeda de troca política, ineficiência administrativa, loteamento político de cargos de direção, financiamento explícito ou oculto a seus controladores, são apenas uma parte das mazelas que comumente se via nos bancos públicos até as reformas introduzidas no governo de Fernando Henrique Cardoso
Vale recordar. A partir de 1995, houve uma verdadeira revolução na gestão do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e dos demais bancos federais. Ao mesmo tempo em que receberam apoio financeiro do Tesouro Nacional, essas instituições sofreram profundas transformações em sua gestão, passando a atuar com padrões assemelhados aos bancos privados mais eficientes e com mínima ingerência política em sua gestão. Digno de nota foi a completa sujeição dos bancos federais às normas prudenciais editadas pelo Conselho Monetário Nacional e pelo Banco Central, quando passaram a ser tratados pelo supervisor bancário de maneira exatamente igual a seus concorrentes de capital privado.
Coincide essa transformação dos bancos públicos federais com a grande reestruturação do Sistema Financeiro Nacional (SFN) ocorrida a partir de 1995. Com ela, o Brasil aderiu plenamente aos princípios editados pelo Comitê de Basileia e foi criada uma sólida infraestrutura regulatória que trouxe o país para os melhores padrões internacionais de supervisão bancária. Como atestam organismos internacionais como o FMI, o Brasil hoje conta com um sistema bancário sólido e bem regulado e que superou sem traumas turbulências sérias, como a crise que eclodiu na esteira da quebra do Lehman Brothers, em setembro de 2008.
De forma lastimável, o loteamento político dos cargos diretivos dos bancos públicos tem gradualmente crescido nos governos petistas. Os leitores hão de lembrar que um dos "aloprados" flagrados na montagem de dossiês fajutos contra José Serra, em 2006, era uma figura que, por seus méritos de churrasqueiro do presidente Lula, tinha sido recentemente guindado a uma diretoria do Banco do Estado de Santa Catarina (Besc), então sob a gestão do governo federal. Logo em seguida, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, duas das mais importantes instituições bancárias do país, foram constrangidos a absorver em cargos de direção figuras políticas premiadas com cargos pelo governo federal.
Tudo isso vem ocorrendo a despeito de o conjunto dos princípios básicos de supervisão bancária do Comitê de Basileia ("Core Principles for Effective Banking Supervision") estabelecer que os supervisores bancários devam verificar, antes de aprovar a eleição de diretores de instituições financeiras, seu conhecimento e experiência no mercado financeiro. Tal disposição também se encontra no artigo 4 da Resolução 3.041, do CMN, que determina ser capacitação técnica uma das condições para o exercício de cargo de diretor de instituição financeira. Essas normas e princípios existem para diminuir o risco de que a má gestão leve à quebra da instituição.
É certo que a pouca cerimônia com que o governo trata os órgãos de Estado não se cinge aos bancos públicos. As agências reguladoras, instituições indispensáveis ao bom funcionamento de importantes setores como o da energia elétrica e das telecomunicações, também têm seus cargos de direção superior e intermediária distribuídos como prebendas aos apoiadores políticos do governo. Porém, com a renovada disposição de lotear entre seus aliados cargos de direção dos bancos sob seu controle acionário, reduzindo-os a meras sinecuras, o governo dá mais alguns perigosos passos rumo a um passado desastroso. Definitivamente, o Brasil não merece isso.
Fonte: Ternuma

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

AMARGO DE DOER


A economia continua a negar as melhores expectativas. O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no último trimestre foi o pior desde 2009, com o IBGE informando queda na margem maior que a esperada, de 0,5%, além de frustrar a presidente Dilma Rousseff com a revisão das contas nacionais de 2012. Ela dissera, em entrevista na semana passada, que o PIB de 2012 teria crescido 1,5%, e não 0,9%.

“Nós sabíamos que não era 0,9%, que estava subestimado o PIB”, ela afirmou ao El País, da Espanha, sem revelar a fonte de sua certeza. Foi mal. Na série revisada pelo IBGE (com inclusão da nova Pesquisa Mensal de Serviços, além de atualizações da produção industrial e agrícola e do consumo de famílias), os ajustes foram cosméticos nos dois últimos trimestres de 2012 e os dois primeiros de 2013. A alta do PIB de 2012, com isso, passou de +0,9% para apenas +1%.

A gafe narra alguma coisa sobre a formulação da política economia e as decisões embasadas nessas concepções. Foi assim, por exemplo, com o consumo movido a crédito, desonerações tributárias e expansão do gasto público como pule de dez para o empresariado impulsionar o investimento, mas que serviu para endividar o consumidor, corroer o superavit primário e alargar o deficit em conta corrente, sem gerar o crescimento econômico anual esperado por Brasília — 3% a 3,5%.

O mapa do PIB divulgado pelo IBGE continua a mostrar uma economia sem viés definido. Pelo lado da oferta, comparando o 3º trimestre ao 2º, chamou a atenção a queda de 3,5% da agropecuária, enquanto a indústria (+0,1%) e serviços (também +0,1%) se mantiveram estáveis. Pela ótica da demanda, o investimento, ou formação bruta de capital fixo (FBCF) recuou 2,2%, não compensado pelo aumento do consumo das famílias (+1%) e do governo (+1,2%). A demanda externa voltou a ter contribuição negativa para o resultado do PIB, com as exportações (-1,4% intertrimestres) cedendo mais que as importações (-0,1%).

Sobre o 3º trimestre de 2012, o PIB cresceu 2,2%, desacelerando em relação à alta de 3,3% no período anterior. Em 12 meses, o PIB está rodando a 2,3%, com viés de baixa para o ano inteiro. No cenário da consultoria LCA, a perspectiva é de alta moderada no 4º trimestre e aumento no ano entre 2,1% e 2,5%. O diretor da Nomura Securities, Tony Volpon, prevê 2,1% em 2013 e 1,7% em 2014. É por aí.

Selic põe o PIB de dieta

Com o Banco Central apertando a política monetária, estranho é que o PIB esbanjasse saúde. Com parte do consumo interno vazando para o mercado externo — uma das razões do deficit em conta corrente em 12 meses já chegar a 3,6% do PIB, financiado não mais só pelo fluxo de investimento direto estrangeiro, mas com fundos financeiros, o tal do hot money —, até a visão de recuperação moderada do crescimento, conforme previsão do ministro Guido Mantega, não parece razoável.

Aliás, a um dia do anúncio das contas nacionais, Mantega não tinha de anunciar que esperava expansão trimestral de 2,5% sobre 2012. O resultado certo foi menor, 2,2%. Tais coisas revelam açodamento.

Ligeireza com os números
Mantega é ligeiro com os números. O ministro agora diz que a taxa de investimento em relação ao PIB se elevará a 24% em 10 anos graças às concessões. É mesmo? Pelo Plano Plurianual de 2012-2015, o investimento chegaria em 23,2% do PIB em 2015. Está longe disso. Em quatro trimestres até setembro, a taxa de investimento bruto (que inclui estoques) avançou para 18% do PIB, vindo de 17,7% em igual período até junho. A taxa de poupança doméstica fez caminho inverso, de 14% para 13,9% do PIB. A diferença foi bancada com 4,1% de “poupança externa” — isto é, os deficits em conta corrente.

A questão, como ressalta o economista Fernando Montero, é que, para o investimento confirmar o cenário de Mantega, o consumo doméstico, que se expande há 40 trimestres seguidos, não poderia crescer além de 1,4% ao ano, cerca de metade do que tem sido, supondo-se deficit externo nos níveis atuais e crescimento potencial de 3%.

Entre a versão e o fato
A economia idealizada, que cresce impelida pelos investimentos sem ameaçar as contas externas, contraria, segundo Montero, o modelo de “um governo que vê no consumo seu fundamento mais precioso”. É mais polêmica entre versão e fato. No caso da austeridade que o governo jura praticar com a execução orçamentária, as manobras para simular superavit primário sem corte de gastos já não convencem ninguém. A última desse tipo, ainda sem confirmação oficial, envolveria um empréstimo da Caixa Econômica Federal à Eletrobras, com aval do Tesouro, para cobrir o custo das usinas termelétricas. O estranho é acharem que tais coisas não geram sequelas. Deve ser da mesma fonte que fez Dilma acreditar que o PIB estivesse subestimado. 

O labirinto das metas

Seria divertido se, como se diz, não fosse trágico o desvio entre as metas oficiais e os resultados efetivos, embora negados, tal como o viciado que se julga no controle de seus hábitos. A meta de 4,5% de variação anual da inflação, como diz Volpon, virou um “objeto de desejo inatingível” do BC. A poupança fiscal é outro labirinto.

Na Lei de Diretrizes Orçamentárias, a meta é de R$ 156 bilhões, ou R$ 108 bilhões para a União, que pode abater até R$ 65 bilhões, mas teria de cobrir qualquer frustração da parte de estados municípios. Isso não vale mais, o que significa, diz Montero, que a meta legal é de apenas 0,9% do PIB (R$ 43 bilhões). O ministro Mantega diz que trabalha com superávit de R$ 73 bilhões em 2014. Não informa em que termos — se com dinheiro sonante ou se com a cartola do Tesouro.

Parece-se com a fórmula de aumento da gasolina que a Petrobras foi impedida de revelar. Talvez porque seja como a meta fiscal, sujeita a intempéries, à base do vamos que vamos.


Antônio Machado - Correio Brasiliense

sábado, 26 de outubro de 2013

NO SETOR EXTERNO, UM DESASTRE MADE IN BRAZIL

ROLF KUNTZ - O Estado de S.Paulo
A presidente Dilma Rousseff deve terminar o ano com mais um troféu econômico, o pior resultado das contas externas em mais de uma década - exportações estagnadas, importações em alta e um enorme buraco na conta corrente do balanço de pagamentos. Nos 12 meses terminados em setembro o déficit na conta corrente chegou a US$ 80,51 bilhões, equivalentes a 3,6% do produto interno bruto (PIB), informou nesta sexta-feira o Banco Central (BC). No relatório recém-divulgado foram mantidas as projeções para 2013: saldo comercial de US$ 2 bilhões, déficit em conta corrente de US$ 75 bilhões (3,35% do PIB) e investimento estrangeiro direto de US$ 60 bilhões. Alguma melhora será necessária, portanto, para se chegar ao fim de dezembro com o cenário estimado pelo BC. Um quadro mais positivo, neste e no próximo ano, dependerá principalmente de uma recuperação da balança comercial e nesse quesito o País continua muito mal.
A exportação rendeu neste ano US$ 192,59 bilhões até a terceira semana de outubro, 1,1% menos que no ano passado em igual período. A importação consumiu R$ 193,19 bilhões, 8,7% mais que um ano antes, segundo os dados oficiais. O saldo acumulado em quase dez meses, US$ 605 milhões, só foi possível graças ao resultado favorável obtido nas três primeiras semanas do mês, um superávit de US$ 1 bilhão. Mas esse resultado embute uma exportação meramente contábil de uma plataforma de petróleo no valor de US$ 1,9 bilhão. Outras plataformas foram contabilizadas nos meses anteriores, mas foram sempre vendas fictícias, vinculadas à concessão de benefícios fiscais.
Se esses números fossem eliminados, o quadro do comércio exterior brasileiro, já muito feio pelos números oficiais, seria bem menos favorável. Para acertar as contas seria também preciso, poderiam dizer os mais otimistas, eliminar as importações de combustíveis efetuadas em 2012 e registradas só neste ano graças a um arranjo especial da Petrobrás. É verdade, mas é indispensável lembrar uma diferença entre essas compras e as vendas de plataformas. Estas só ocorreram na contabilidade, mas as compras de combustíveis foram realizadas e seria necessário incluí-las nos cálculos em algum momento. Se tivessem entrado nas contas do ano passado, o superávit comercial teria ficado bem abaixo dos US$ 19,41 bilhões divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Se as projeções do BC estiverem corretas, o Brasil vai faturar neste ano US$ 241 bilhões com as vendas ao exterior. O gasto com produtos estrangeiros chegará a US$ 239 bilhões. O valor exportado será 0,6% menor que o do ano passado e 5,8% inferior ao de 2011. A importação terá custado cerca de 7% mais que em 2012 e 5,6% mais que dois anos antes. A deterioração é inegável e a causa mais importante é o enfraquecimento da indústria brasileira, por falta de investimentos, aumento de custos e dificuldade crescente para enfrentar uma disputa mais dura em mercados mais apertados. Isso vale para o mercado nacional.
As medidas protecionistas impostas pelo governo foram insuficientes para barrar o ingresso de produtos estrangeiros. Além do mais, nenhuma barreira tornaria os produtores brasileiros mais capazes de competir fora das fronteiras, mesmo em áreas antes consideradas campos de caça tranquilos, como o Mercosul e a maior parte da vizinhança. Também na região outros produtores têm conseguido ocupar espaços crescentes sem muita oposição brasileira.
Quando se aponta a piora do balanço de pagamentos - especialmente da balança comercial -, ministros costumam citar a acumulação de reservas para mostrar a segurança do setor externo. Mesmo com intervenções no mercado cambial, como reação às turbulências do meio do ano, o BC conseguiu, graças a uma estratégia bem desenhada, evitar a perda de moeda estrangeira e preservar mais de US$ 370 bilhões. Esse é, sem dúvida, um importante fator de segurança, mas de nenhum modo pode substituir a eficiência produtiva e os acordos internacionais favoráveis à expansão do comércio.
A política brasileira tem falhado nas duas frentes. A deficiência de investimentos, o desperdício de recursos, o erro na escolha de prioridades (na política educacional, por exemplo) têm dificultado ganhos gerais de produtividade. Se as concessões derem certo, a taxa de investimentos chegará a 22,5% do produto interno bruto até 2018, segundo estimativa do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Muitos países latino-americanos já estão acima desse padrão, enquanto a taxa brasileira continua oscilando entre 18% e 19%.
Como as condições de produção foram geralmente negligenciadas nos últimos dez anos, a começar pela infraestrutura, o potencial de crescimento diminuiu, como seria previsível. Hoje esse problema é assunto da pauta internacional, pouco importando os desmentidos e esperneios do governo brasileiro.
Na outra frente, a escolha das parcerias prioritárias, também se acumularam erros desastrosos. A diplomacia comercial pôs no alto da agenda a aproximação com mercados pouco importantes, com exceção do chinês. Mas o comércio com a China virou uma relação semicolonial, com o Brasil praticamente limitado a vender commodities, em geral de pouca ou nenhuma elaboração, e a importar manufaturados.
Os imperialistas, desprezados pela diplomacia de passeata dos governos petistas, continuam como compradores relevantes de manufaturados - e poderiam comprar muito mais se tivessem sido assinados acordos de livre-comércio. Mas nem todos criticam a estratégia comercial brasileira e o desprezo petista aos grandes mercados. No caso dos chineses e outros exportadores realistas e dinâmicos, a fantasia terceiro-mundista vivida em Brasília nos últimos dez anos elimina um possível competidor de peso.

sábado, 6 de julho de 2013

A PRESIDENTE SE AFUNDA ENGANANDO A SI MESMA

ROLF KUNTZ - O Estado de S.Paulo
Mentir para os outros pode ser pecado. Pode também ser crime, em algumas circunstâncias. Mentir para si mesmo é insânia. Os brasileiros, têm, portanto, mais um sério motivo para se inquietar. O governo, tudo parece indicar, mente para si mesmo e continuará mentindo para se isolar da realidade. É muito difícil explicar de outra forma a reação da presidente Dilma Rousseff e de sua equipe às manifestações de rua e ao tsunami de más notícias. O governo tentou, mas como deslocar os problemas para o Congresso, quando até fontes oficiais continuam despejando informações assustadoras sobre a economia? Até os aliados, a começar pelo vice-presidente Michel Temer, têm resistido à manobra, Mesmo sem essa resistência, a situação desastrosa do País continuaria atraindo as atenções.
O Banco Central (BC), uma das fontes oficiais, diminuiu de 3,1% para 2,7% o crescimento econômico projetado para o ano, além de reduzir de US$ 15 bilhões para US$ 7 bilhões o saldo comercial estimado. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) reestimou de 3,2% para 2% a expansão do produto interno bruto (PIB). Na semana passada estava em 2,4% a mediana das projeções do mercado financeiro. Não só as bolas de cristal mostram cenários tenebrosos. Os dados já conhecidos alimentam no dia a dia as previsões negativas.
Um bom exemplo: a produção industrial caiu 2% de abril para maio, depois de modesta recuperação nos meses anteriores, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O saldo comercial do trimestre foi um déficit de US$ 3 bilhões, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento. Mas o número seria bem pior sem as exportações fictícias de plataformas de petróleo no valor de US$ 2,4 bilhões.
A inflação continua elevada e especialistas apontam um resultado próximo de 6% até o fim do ano. A desinflação dos alimentos acabou e o custo das matérias-primas poderá em breve pressionar de novo os preços ao consumidor.
Em junho, o índice oficial de inflação, o IPCA, calculado pelo IBGE, perdeu impulso e subiu 0,26%, principalmente por causa da menor pressão dos preços dos alimentos. Mas no atacado os preços agrícolas aumentaram 1,46%, depois de recuarem 0,75% em maio, de acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Também no atacado a alta dos preços industriais chegou a 0,62%. Ainda em junho, o índice de commodities do BC, o IC-Br, subiu 5,34%, com variação de 5,72% para agropecuária, 4,3% para metais e 4,39% para energia.
O repasse desses aumentos ao varejo dependerá de fatores como o nível de emprego, a renda e a disposição dos consumidores, a possibilidade de substituição de bens, as condições do crédito e, naturalmente, a situação das contas públicas. Os consumidores andam mais ressabiados e cautelosos. Mas o emprego permanece elevado, os salários ainda acumulam ganhos reais, embora menores que os dos últimos anos, o crédito ainda aumenta e a política fiscal permanece, como afirma o pessoal do BC, "expansionista".
Nas ruas, manifestantes protestaram contra as tarifas e a qualidade do transporte urbano e cobraram melhores padrões de serviços essenciais, como educação e assistência à saúde. Diante dessas pressões a presidente propôs um plebiscito fora de hora, sobre temas políticos, e convocou os ministros para exigir maior empenho na execução de seus programas - os mesmos programas condenados nas ruas pela baixíssima qualidade de seus resultados.
Os ministros da área econômica estavam prontos, como sempre, para esse tipo de jogo. Afinal, continuam prometendo mais do mesmo - uma péssima gestão das finanças públicas, mal disfarçada com novos lances de contabilidade criativa, já famosa até na imprensa estrangeira. A quem pensam enganar? Só podem enganar a si mesmos, é claro, porque até os muito trouxas acabam percebendo, embora com algum atraso, os sinais do desarranjo.
A presidente, dizem fontes de Brasília, está isolada. De certa forma, sempre esteve. Desde o começo de seu mandato cercou-se de assessores incapazes - por incompetência ou por falta de coragem - de ajudá-la a examinar os fatos e a planejar as ações de governo com base em diagnósticos realistas.
A maior parte de sua política administrativa e econômica é mero desdobramento da herança deixada por Luiz Inácio Lula da Silva. Nenhuma alteração essencial ocorreu na diplomacia econômica. Na prática, as prioridades têm sido as mesmas. O País continua amarrado ao mundo estreito e medíocre do Mercosul. Enquanto isso, negociam-se novas alianças e novas perspectivas de comércio e integração econômica são abertas em quase todas as regiões, incluída a América Latina. A Aliança do Pacífico é um bom exemplo.
A administração continua tão ineficiente quanto na fase do antecessor, quando o Brasil foi arrastado pela prosperidade mundial e o País pareceu tornar-se uma potência de peso. A grande novidade, naquele período, foi a rápida incorporação de massas ao mercado consumidor. Como nada se fez para modernizar o País e fortalecer sua capacidade produtiva, a mágica da expansão do mercado se esgotou. A dramática perda de produtividade geral da economia deixou o País desarmado para enfrentar a concorrência estrangeira.
Os resultados são evidentes nas contas externas, mesmo com algum disfarce. Aparentemente sem perceber esses fatos, a presidente insistiu numa política baseada principalmente no estímulo ao consumo. O resultado foi uma combinação de piora das contas fiscais, erosão do balanço de pagamentos, inflação sempre alta e indústria estagnada. Na administração federal, direta e indireta. aparelhamento e loteamento continuam predominando. Vai-se consertar tudo isso com um plebiscito improvisado?

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

DILMA, A ODORICO PARAGUAÇU DE SAIAS



Garantia zero – Analistas do mercado financeiro nacional, consultados pelo Banco Central, derrubaram o ufanista e mentiroso discurso de final de ano da presidente Dilma Rousseff, que foi ao ar em cadeia nacional na noite de domingo (23). De acordo com o Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira (24), véspera de Natal, a projeção da inflação para 2012 subiu de 5,64% para 5,69%, o que desmente a afirmação da presidente de que seu governo controlou a inflação.

Em relação ao próximo ano, que está prestes a chegar, a previsão de inflação, que era de 5,42%, saltou para 5,47%. Para piorar o cenário, a previsão de crescimento do PIB saiu de 3,3% e foi para 3,4%. Contudo, as projeções em relação ao avanço da produção industrial no ano vindouro caíram de 3,5% para 3,3%. No tocante ao crescimento do PIB em 2012, a estimativa ficou no mísero e ridículo 1%.

Sobre o setor externo, os analistas também não apontaram uma situação tão sombria. O Boletim Focus destaca a redução do saldo da balança comercial em 2012, de US$ 19,5 bilhões para US$ 19,25 bilhões. Em 2013, redução de US$ 15,6 bilhões para US$ 15,52 bilhões. Os investimentos internacionais deverão ser mantidos em US$ 60 bilhões neste final de ano e em 2013, mas o déficit em conta-corrente será de US$ 54 bilhões em 2012 e de US$ 64 bilhões em 2013.

Mesmo sabendo desses números, até porque recebe informações antecipadamente em função do cargo, a presidente Dilma Rousseff ousou dizer aos brasileiros que o próximo ano será ainda melhor e pediu a confiança dos empresários do País, cada vez mais massacrados pela invasão chinesa.

Que no Palácio do Planalto mentir é algo que faz parte do cotidiano todos sabem, mas o que Dilma Rousseff fez na noite de domingo foi ler um discurso novelístico de fazer inveja ao saudoso Odorico Paraguaçu. Só faltou Dilma dizer “mormentemente” para se parecer com o prefeito de Sucupira, que se tivesse ouvido o discurso da presidente teria vociferado “Vamos botar de lado os entretantos e partir para os finalmente”.

Fonte: Ucho.Info

domingo, 23 de dezembro de 2012

O MUNDO ACABOU

Este é um relato de quem viu o mundo acabar. Embora os céticos dissessem que o calendário maia era uma farsa, o apocalipse aconteceu! Engraçado foi ver as pessoas ingênuas acreditando que aquele seria apenas mais um dia 21 de dezembro. O fim do mundo aconteceu, e aqui deixo registrado o que aconteceu nos últimos dias da humanidade.

Tudo parecia correr bem, mas os sinais do fim dos tempos eram evidentes! Há quatro meses o mundo da ética sofria com meteoros vindos de estrelas vermelhas já sem brilho. A constelação petista fazia um barulho absurdo e tentava transformar a mentira em verdade. A decadência da raça humana podia
ser constatada na facilidade com que os alienígenas enganavam
seus seguidores. Estes, por sua vez, acreditavam em qualquer coisa,
até em ETs.

Ainda assim muitos insistiam em não crer que estávamos com os dias contados. Veio, então, outro desastre nada natural: o crescimento do PIB brasileiro não superou 1%. Para fugir da responsabilidade, a presidente disse que o desenvolvimento de um país se media por aquilo que era feito por suas crianças. Semanas depois, o Brasil conquistou a penúltima posição entre 40 países no ranking mundial de educação.

Os fracassos econômicos não foram exclusividade tupiniquim. No Velho Mundo a recessão levou o povo às ruas e o desemprego proporcionou cenas de caos que reduziram os homens a animais famintos. E a cada dia, enquanto a esperança de muitos diminuía, o bolso de poucos enchia com as verbas de salvação dos governos.

Em nosso caso, as verbas de salvação do Rio de Janeiro e do Espírito Santo quase vazaram dos poços petrolíferos. E na briga pelos royalties, tive a certeza de que não havia mais salvação na Terra: para derrubar o veto de Dilma, a múmia Sarney propôs votar mais de 3000 vetos em um só dia, algo tão impossível quanto o retorno do senador ao sarcófago.

Os mortos não ressuscitaram no apocalipse, mas o brasileiro viveu algo parecido, quando Sarney voltou à presidência por quatro dias. Dizem as más línguas que nesse período o presidente montou um aquário em seu gabinete e aprendeu a fazer o mesmo que os peixes: nada.

Mas quem dera se as loucuras do poder ficassem restritas ao dono do Maranhão. As terras capixabas também foram escolhidas pelo destino para anunciar os tempos que viriam.

Em Guarapari, o ex-prefeito Edson Magalhães Que Não Larga o Osso queria o terceiro mandato e acabou ficando sem nenhum. Já em Viana, o eleito Gilson Daniel foi acusado de comprar votos com dinheiro do tráfico de drogas. Em Vila Velha, o vereador Almir Neves Mister-M mostrou ser paranormal e, além de ser investigado por ter funcionária fantasma, provou que domina o truque da multiplicação do patrimônio: em quatro anos, a avaliação de suas posses subiu apenas 482%.

A certeza de que estávamos perdidos veio quando o STF ameaçou a prisão imediata dos mensaleiros condenados. Aí até os cosmos ficaram chocados com Marco Maia (PT): o presidente da Câmara foi contra a cassação dos mandatos parlamentares, considerou dar asilo aos réus e levantou a hipótese dos deputados exercerem seus cargos de dentro dos presídios! Alguns certamente se sentiriam em casa.

Já não tinha mais jeito! Os maias estavam certos. O fim do mundo já estava concretizado na falência da ética, na legalização da bandidagem e na idolatria de vermes políticos. Nada mais poderia nos salvar. E nada nos salvou.

Não aconteceram terremotos, tsunamis, erupções ou acidentes com meteoros. Os polos não se inverteram e o eixo de gravidade não estava nem aí para nós. Não aconteceu absolutamente nada! E esse é o nosso apocalipse! Nossa catástrofe é viver no país em que nada muda e em que a corrupção cresce como se não houvesse amanhã.

No dia 21 de dezembro, “mudaram as estações”, mas definitivamente, “nada mudou”. Restou-nos, pois, a lamentável realidade de desastres que só começará a ter fim quando conseguirmos compreender a constatação de Cássia Eller: “O mundo está ao contrário e ninguém reparou”.

Gabriel Tebaldi, 19 anos, é estudante de História da Ufes.

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

MANTEGA "ERROU FEIO"

Diário britânico critica medidas protecionistas e aponta que o México, um mercado mais aberto, está crescendo mais rápido que o Brasil

Ministro da Fazenda, Guido Mantega
Para Financial Times, as previsões de Mantega são 'desconcertantes' (Valter Campanato/ABr)
Em reportagem publicada na tarde desta quarta-feira, o jornal britânico Financial Times afirmou que o desempenho da economia brasileira no terceiro trimestre – com alta de apenas 0,6%, abaixo da expectativa do mercado e do próprio Banco Central – foi, no mínimo, frustrante. O diário destacou que a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) nacional ficou aquém do crescimento de todos os países emergentes e que o ministro Guido Mantega "errou feio". Duas foram as principais falhas do economista: em primeiro lugar, o fato de ter espalhado aos "quatro ventos" que a atividade estava em franca recuperação e, em segundo lugar, por ter afirmado a jornalistas, poucos dias antes do anúncio do IBGE, que o crescimento do PIB anualizado entre julho e setembro seria de cerca de 4%. "Os números apresentados hoje fazem com que as afirmações do ministro Mantega tenham um caráter desconcertante", afirma o FT.
O diário reconhece que há uma leve retomada em curso no país. "Em números anualizados, a economia está crescendo 2,4%", afirma. Contudo, a economia não está se recuperando num ritmo acelerado. "Talvez, Mantega tenha prestado excessiva atenção à projeção de PIB divulgada pelo boletim Focus, do Banco Central, em 14 de novembro, que previa um crescimento de 1,15% no terceiro trimestre – e uma taxa de crescimento anualizada de 4,6%", diz o jornal.
Protecionismo – O FT ainda apontou que o Brasil pode estar combatendo o inimigo errado ao criar inúmeras medidas protecionistas, como o aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros importados e a fixação do Palácio do Planalto por enfraquecer o real. "Muito da retórica do governo tem foco na taxa de câmbio, com Mantega acusando os Estados Unidos de inflarem o valor do real contra o dólar por meio de uma política monetária expansionista. Mas economistas argumentam que muito mais precisa ser feito", afirma o FT. "Esse desempenho fraco abre espaço para a presidente Dilma introduzir medidas de urgência nas tão necessárias reformas que empurrarão o investimento em infraestrutura no país", acrescenta.
México – O jornal comparou novamente o desempenho do Brasil com o do México. "O México, por exemplo, tem uma economia muito mais aberta ao comércio internacional e está crescendo muito mais rápido que o Brasil." "É preciso ver o que o México fez em termos de contenção de custos", disse ao FT o economista Alberto Ramos, do Goldman Sachs. "Ao não conter gastos, o Brasil é precificado fora da economia global. O país não tem problema cambial, e sim um problema de competitividade", afirmou

segunda-feira, 16 de julho de 2012

DILMA E O PEQUENO PRINCIPE


 Faria sucesso num concurso de miss o discurso da presidente Dilma Rousseff na 9.ª Conferência dos Direitos da Criança e do Adolescente, em Brasília. Sua declaração mais notável, destacada pelos jornais e reapresentada exaustivamente nas tevês e rádios, foi digna de uma devota leitora d'O Pequeno Príncipe: "Uma grande nação deve ser medida por aquilo que faz para suas crianças e para seus adolescentes. Não é o Produto Interno Bruto (PIB). É a capacidade do país, do governo e da sociedade, de proteger o que é o seu presente e o seu futuro, que são suas crianças e seus adolescentes". Na interpretação mais benevolente, essa peroração é apenas uma banalidade. Na menos caridosa, é uma grande tolice apresentada na embalagem rosa da mais pobre filosofice.

Não há como discutir seriamente o bem-estar e o futuro das novas gerações sem levar em conta os meios necessários para educá-las, capacitá-las para viver com independência e dignidade e proporcionar-lhes oportunidades de ocupação produtiva e decente. Mas, também no sentido inverso, a relação é verdadeira: só se pode criar uma economia dinâmica, moderna e capaz de competir globalmente por meio da formação de pessoas qualificadas para tarefas cada vez mais complexas. Examinado de qualquer dos dois ângulos, o desempenho do governo brasileiro tem sido miseravelmente falho e nenhuma retórica pode obscurecer esse dado.

Ao contrário, no entanto, das graciosas candidatas a um título de miss, a presidente Dilma Rousseff recitou sua mensagem num tom furioso, como se reagisse a uma ofensa ou, talvez, a um imerecido golpe da Fortuna. Há uma explicação óbvia tanto para sua visível irritação quanto para a desqualificação do econômico. Horas antes o Banco Central (BC) havia divulgado seu indicador de nível de atividade, considerado uma prévia mensal do PIB. Esse indicador havia recuado 0,02% de abril para maio, confirmando vários outros sinais de estagnação da economia e reforçando as previsões de um crescimento, em 2012, menor que o de 2011.

Há um vínculo evidente entre os resultados pífios da política educacional e o emperramento da produção. No último exame do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), o Brasil ficou em 53.º lugar em leitura e em 57.º em matemática, numa lista de 65 países. O teste é realizado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Quase todas as crianças estão na escola, graças a um esforço de universalização do ensino iniciado há longo tempo, mas a formação continua péssima. Cerca de 20% dos brasileiros com idade igual ou superior a 15 anos são analfabetos funcionais, incapazes de ler e entender instruções simples. Empresas têm dificuldade para contratar, por falta de mão de obra em condições até de ser treinada no trabalho. Há um evidente funil no ensino médio, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva preferiu facilitar o ingresso nas faculdades, numa escolha errada e demagógica.

O erro na escolha das prioridades tem permeado toda a política econômica. O consumo, apesar da queda observada recentemente, continua, segundo o IBGE, maior que o observado há um ano, mas a indústria brasileira tem tido dificuldade para suprir o mercado interno, por falta de competitividade. Fabricantes estrangeiros têm ocupado uma fatia crescente desse mercado, como já mostrou a Confederação Nacional da Indústria.

Incapaz de reconhecer os erros e de impor novos rumos à política econômica, a presidente Dilma Rousseff, como seu antecessor, prefere insistir na retórica e nas bravatas. "Vamos enfrentar os desafios para garantir à população emprego de qualidade", disse a presidente no batismo de uma plataforma da Petrobrás, na sexta-feira. A plataforma foi construída, recordou, pela "teimosia de um brasileiro chamado Lula".

Seria mais justo e mais realista lembrar a enorme e custosa lista de erros cometidos na Petrobrás a partir de 2003 e apontados pela nova presidente da empresa, Graça Foster, no dia de sua posse. Foram erros de uma gestão guiada por objetivos político-eleitorais e centralizada no Palácio do Planalto - erros essencialmente idênticos àqueles cometidos na política educacional.

Fonte: O Estado de São Paulo

quinta-feira, 28 de junho de 2012

PIB EMPACADO. DILMA NO PAÍS DOS PACOTES

Presidenta Dilma Rousseff, participa da Cerimônia de anúncio do PAC
Dilma e Mantega em lançamento do 11º plano: cena repetida à exaustão desde o início da gestão da petista

O governo federal lançou mão de mais algumas armas na tentativa de evitar que a economia brasileira seja engolida pela crise econômica internacional. A principal delas é um pacote de R$ 8,43 bilhões para compras governamentais, batizado de "PAC Equipamentos – Programa de Compras Governamentais", somente neste ano. Também ontem, a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciaram um corte de 0,5 ponto percentual, de 6% para 5,5%, na Taxa de Juro de Longo Prazo (TJLP), usada como referência na correção dos empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES). Trata-se do 11º pacote anticrise lançado pelo Planalto desde agosto do ano passado.

Com a estratégia, o governo estima que um impacto no mercado nacional de R$ 3 bilhões, criação de cinco mil empregos e arrecadação adicional de R$ 50 bilhões. Em relação às compras governamentais, a União comprará R$ 6,6 bilhões a mais do que o previsto no Orçamento de 2012 em máquinas e equipamentos e bens produzidos no Brasil, chegando aos R$ 8,4 bilhões. "Estamos anunciando o PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] para os equipamentos. O PAC deste ano aumentará de R$ 42,6 bilhões para R$ 51 bilhões. É um PAC superando os R$ 50 bilhões, o maior que nós já fizemos", afirmou Mantega.

Até 25% mais caro

O governo dará preferência para produtos nacionais até junho de 2017. Dependendo da complexidade tecnológica, os nacionais poderão ser até 25% mais caros que os importados. A estimativa da Fazenda é de que sejam gastos, em média, R$ 2 bilhões por ano.

O objetivo, de acordo com o ministro, é proteger o país da crise internacional. "A crise europeia continua piorando, conforme todos têm observado. E essa crise está deprimindo o crescimento da economia mundial, que estava crescendo 6% ao ano e agora vai crescer em torno de 3% ao ano em 2012. Em vista desse cenário, o governo está tomando medidas de estímulo à economia, para podermos ter investimentos e aumentar a confiança, acelerando nosso crescimento. Temos que continuar com políticas de estímulo ou anticíclicas", argumentou.

Entre as aquisições previstas estão 50 perfuratrizes para perfuração de poços em regiões afetadas pela seca, no valor de R$ 13,5 milhões. Para a Saúde, serão compradas 2.125 ambulâncias por preço estimado de R$ 326 milhões, e 1 mil furgões odontomóveis, por R$ 154 milhões. O programa também irá adquirir 160 vagões de trens urbanos, por R$ 721 milhões. Para as escolas, serão adquiridos 8.570 ônibus por R$ 1,714 bilhão, equivalentes a 36% da capacidade produtiva do setor no país.

Aprovação com reservas


A indústria aprovou a medida. "Bom saber que o maior consumidor do Brasil, que é o governo, comprará exclusivamente conosco. Deveria ser obrigação, todas as compras governamentais teriam de ser feitas aqui dentro. Não faz sentido o governo, que é o que mais impõe dificuldades ao empresariado, na hora de gastar, gaste lá fora", argumentou o presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo, Marcos Guerra (Findes).

Ele, entretanto, afirma que o governo permanece sem atacar o cerne da questão. "Trata-se de mais uma bondade, de mais uma medida paliativa que não resolverá nosso mais grave problema, que é a ferida da competitividade. Vivemos à base de remendos".

Para Guerra, o governo insiste em não fazer as mais importantes reformas. "O que de fato atrapalha nossa indústria é a alta carga tributária, os altos preços cobrados pela energia elétrica, o apagão de infraestrutura e mão de obra, e os altos encargos sociais e trabalhistas. Infelizmente o governo insiste em não tocar nestes problemas que afetam muito a competitividade de nossa indústria", critica o dirigente.

Juros mais baixos

No que diz respeito à TJLP, o corte ocorreu por determinação da presidente Dilma Rousseff, que na noite de terça insistiu no corte a despeito de posições contrárias do Banco Central e do Ministério da Fazenda. A manutenção da taxa em 6% vinha gerando reclamações entre empresários. Para alguns executivos, uma redução do juro de longo prazo ajudaria empresas a tomarem novos empréstimos no BNDES.

Há poucos dias a equipe econômica avaliava que não havia, neste momento, espaço fiscal para uma redução da TJLP, que está no seu menor patamar histórico. Uma queda na taxa significa um aumento nos repasses do Tesouro Nacional para subsidiar os juros praticados pelo banco de fomento.

Para o presidente da Findes, redução de juros é sempre bom, mas não é a solução. "O discurso é sempre o mesmo, a pauta não é a baixa competitividade. Juro é um dos componentes, mas o governo precisa resolver uma série de outros entraves – carga tributária, logística, educação e outros – para que a indústria, principalmente a de transformação, saia do atoleiro", assinalou Guerra.

Havia a expectativa de que o governo prorrogaria, também ontem, a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para eletrodomésticos da linha branca, móveis, luminárias e papel de parede, já que o benefício termina no próximo sábado. Informações extraoficiais dão conta de que a desoneração será sim prorrogada, mas o anúncio será em outro momento.

Análise
Governo ataca efeito e ignora causa do problema

O governo brasileiro parece não aprender com as lições da história e insiste em reeditar dois equívocos que levaram à estagnação do parque produtivo do país: a defesa da indústria com barreiras de comércio e a lei do similar nacional. As medidas recentes retomam uma antiga característica da política industrial brasileira de atacar um problema pelo seu efeito e não pela causa. Essa visão equivocada tornou o modelo de substituição de importação – que foi sucesso na Ásia – num exemplo de estagnação e endividamento. Mais uma vez, agora, preterem-se medidas que reduzam o custo de produzir no país, em prol daquelas que protegem a nossa ineficiência. Essa política industrial também é míope por subestimar a distribuição da cadeia produtiva mundial decorrente do elevado grau de interdependência entre os mercados. Nesse cenário, a capacidade de participação de um país é definida pelas leis do mercado: sobrevive quem é eficiente ou competitivo. E não pela vontade de governo. E competitividade é uma variável endógena ao processo de criação das condições para investir, que envolve, estabilidade institucional, condições físicas para receber o empreendimento, domínio tecnológico (de máquinas e homens). Se esse processo é artificial, esse mercado será ineficiente e com baixa competitividade. As barreiras tarifárias e os percentuais mínimos de insumos nacionais revertem essa situação? Dificilmente.

Arilda Teixeira, economista da Fucape

quinta-feira, 24 de maio de 2012

DILMA TURBINA O PIBINHO - Celso Ming


 O Estado de S.Paulo (O economista que fala português e não economês)

O governo Dilma reeditou o sétimo pacote de estímulo ao consumo desde 2008. O objetivo imediato é desencalhar os estoques da indústria automobilística que atingiram os maiores níveis desde novembro de 2008.

A principal aflição que toma conta do governo é a iminência de novo pibinho em 2012. O ano de 2011 terminou com uma promessa solene: o avanço do PIB neste ano seria de 5%. Mas já nas primeiras semanas de 2012, o ministro Guido Mantega passou a falar em algo entre 4,0% e 4,5%, em desacordo com projeções do Banco Central, que insistiam em somente 3,0%. Agora, Mantega diz que o avanço do PIB neste ano será "maior do que o do ano passado", quando cresceu só 2,7%. E, ontem, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, admitiu que o crescimento do PIB ficará "algo acima da média global", que ele estima entre 2,5% e 3,0%.

O principal problema desse novo pacote não é o especial desvelo com que trata a indústria de veículos e deixa os demais setores ao deus-dará. É a estratégia de tentar compensar a relativa desaceleração interna com mais consumo apoiado no crédito - e não com mais investimento.

Já há indicações suficientes para entender que o comprador está endividado até o pescoço. A inadimplência no financiamento de veículos mais do que dobrou em apenas um ano. Foi de 2,8% para 5,7%. A retranca com que o setor bancário vinha trabalhando o segmento não tem a ver com má vontade, mas, sim, com uma questão técnica: o preço de revenda do carro usado já está de 20% a 30% mais baixo do que o saldo das dívidas contraídas por ocasião da compra. Ou seja, a reserva de domínio, que constitui a garantia do financiador, perdeu qualidade e aumentou o risco da operação.

O orçamento das classes médias está fortemente comprometido com mais despesas com serviços, sobretudo tarifas de celular e de TV por assinatura; ensino; condução; viagens; academia; refeições fora de casa; etc. Empurrá-las a mais endividamento tem tudo para ser o contrário do que vinha sendo tentado - ou seja, tem tudo para ser uma política macroimprudencial.

Em outras palavras, esse modelo que dá prioridade ao consumo e ao endividamento familiar já deu o que tinha de dar. Ninguém no governo parece ligar para os enormes congestionamentos que paralisam as grandes cidades do País. Eles querem empurrar mais veículos para a população. Não levam em consideração que a reaceleração da produção poderia ser promovida com muito mais vantagens se fosse acionado o investimento.

Por que não agilizar a construção de linhas de metrô, portos, retroportos, aeroportos, estradas de ferro e de rodagem? Há o pré-sal a desenvolver e, no entanto, a Petrobrás não só continua patinando em desempenho reconhecidamente insatisfatório em produção, mas também se prepara para desinvestir maciçamente - porque não dá conta do que já assumiu.

Por que não dar mais atenção à infraestrutura, que, no Brasil, é tão precária e tão cara? Mas não. Os dirigentes das montadoras estão ameaçando com férias coletivas... Assim, passa a ser de interesse nacional acalmá-los.

Paradoxalmente, essa suposta defesa do emprego ocorre quando o mercado de trabalho vive seu melhor momento histórico e quando o consumo cresce acima de 6% ao ano.

terça-feira, 6 de março de 2012

CRESCIMENTO ECONÔMICO FRACO MOSTRA GASTANÇA DESSE GOVERNO POPULISTA



Vergonha nacional – Criado na era Lula para ser mais uma das gazetas palacianas em favor de Dilma Vana Rousseff, então candidata presidencial, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é um fiasco conhecido. A necessidade de elevar Dilma às alturas obrigou o Palácio do Planalto a inventar a segunda versão do Programa, o PAC 2. Entre um e outro foi criado o programa “Minha Casa, Minha Vida”, que desde a sua criação ainda não entregou 30% das moradias prometidas para um ano.

Enquanto a ineficiência do PAC fica sob o controle dos palacianos, a verdade sobre o assunto sequer desce a rampa do Palácio do Planalto, que dirá chegar ao conhecimento dos cidadãos mais desavisados.

O acanhado crescimento do PIB em 2011 é também prova evidente do fracasso do PAC. Líder do PPS na Câmara, o deputado federal Rubens Bueno ressalta que trata-se de falta de competência do governo em relação à política de desenvolvimento e na gestão da política econômica. “Ao contrário do que alega o governo, o ‘pibinho´ de 2011 não é reflexo direto da crise econômica na zona do euro. Trata-se de má gestão da política econômica e do fracasso do PAC, que não passa de um programa publicitário sem consistência. A queda está diretamente ligada à falta de investimentos, à carga tributária
excessiva, que bate 37% do PIB, e a falta de estímulos ao setor produtivo. É fruto de incompetência governamental. Com o PAC do PT, estamos empacados” declarou Bueno.

O líder oposicionista lembra também que o governo tem apostado na exportação de commodities para compensar a própria inoperância. “Como um país pode entrar num processo de crescimento sustentável se não investe em pesquisa e desenvolvimento tecnológico. Não tem um plano eficiente para ampliação de seu parque industrial e se esquece da educação. Escora-se apenas no desempenho do setor primário, o que é um erro. O país precisa diversificar os investimentos”, disse Rubens Bueno.

Além desses ingredientes preocupantes, Bueno não deixou de incluir em suas críticas as despesas realizadas pelo governo Lula para eleger Dilma Rousseff, as quais hoje recaem sobre o bolso do contribuinte. “O governo gasta mal, desperdiça uma enorme quantidade de dinheiro em projetos meramente eleitorais, como fez em 2010 para eleger Dilma, incha a máquina pública com a companheirada e, para agravar a situação, despeja milhões no ralo da corrupção”, completou.

Fonte: Ucho.Info

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

EDUCAÇÃO, BOLSA FAMILIA E DESIGUALDADE

Nos últimos 15 anos, a sociedade brasileira tem conseguido conciliar, pela primeira vez em sua história recente, crescimento econômico com progresso social. Isso tem chamado a atenção de analistas no Brasil e no resto do mundo. Afinal, na época do chamado "milagre econômico", o país também cresceu muito, a pobreza caiu, mas a distribuição de renda piorou. Hoje em dia, o crescimento também traz redução da pobreza, mas agora a renda dos mais pobres cresce muito mais rapidamente do que a dos mais ricos. Qual o segredo?

Duas grandes mudanças aconteceram. Nos anos 60 não havia programas de transferência de renda e, naquela época, os avanços educacionais aconteciam primordialmente entre os mais ricos.
Entre 1961 e 1970 a taxa de crescimento média do Produto Interno Bruto (PIB) per capita (em termos reais) foi de 3,2%. Porém, o índice de Gini (indicador mais tradicional de desigualdade) aumentou de 0,49 para 0,57. Entre 2001 e 2010, o PIB per capita aumentou 2,4%, mas o Gini declinou de 0,58 para 0,53. Vale notar que o índice de 0,53 ainda nos deixa muito distante dos países civilizados. França, Holanda, Finlândia, Suécia e Dinamarca têm índices em torno de 0,32. Entre 1960 e 1970, a renda dos 10% mais ricos no Brasil cresceu 66% e a renda dos 10% mais pobres apenas 28%. Entre 2001 e 2009, o processo inverte-se. A renda dos mais pobres cresceu 100%, enquanto a dos mais ricos, apenas 18%. Milagre?

Entre 2001 e 2009, renda dos mais pobres cresceu 100%, enquanto a dos mais ricos, apenas 18%
A primeira explicação é que nos anos 60 a demanda por educação crescia a um ritmo superior à oferta, pois o aprofundamento da industrialização requeria trabalhadores qualificados que não existiam na época. Em 1970, 84% da população tinha no máximo o nível primário. Apenas 50 mil pessoas concluíram o ensino superior naquele ano, num país com 92 milhões de habitantes. Isso fez com que os salários da pequena parcela da população que tinha ensino médio ou superior aumentassem muito, o que provocou o aumento da desigualdade. Com as décadas perdidas de 80 e 90 veio o desemprego e a informalidade, e a desigualdade de renda gerou criminalidade.

Durante os anos 70, o PIB per capita cresceu em média 6%, aumentando o pique da década anterior, mas a desigualdade não se alterou muito. A década de 80 foi perdida em termos de PIB (crescimento médio de 0,85%) e de educação, enquanto a escalada inflacionária aumentava a desigualdade. Em termos educacionais, o número de concluintes no ensino superior estacionou em 220 mil pessoas durante toda a década. As matrículas no ensino médio (antigo segundo grau) aumentaram somente 25% em uma década. Período de trevas.

Mas, a partir de meados da década de 90, as coisas começaram a melhorar. Entre 1995 (com a estabilidade econômica) e 2009 a escolaridade média dos 20% mais pobres dobrou, passando de dois para quatro anos de estudo. Interessante notar que entre os 20% mais ricos, a escolaridade também aumentou dois anos em média (de oito para dez). Mas, a razão entre a escolaridade média dos dois grupos caiu de 4 para 2,5. A situação dos pobres era tão ruim, que mesmo um aumento que os levou para ensino primário completo em pleno século XXI pode ser considerado um grande progresso.

Quanto essa evolução educacional explica da queda da desigualdade? Os dados mostram que a educação foi responsável por 38% do crescimento da renda do trabalho entre os 20% mais pobres. O restante decorreu de aumentos do salário mínimo e geração de empregos formais. Além disso, a educação explica 42% da queda da desigualdade em termos de renda do trabalho e 26% em termos de renda familiar (incluindo as rendas de outras fontes) entre 2001 e 2009.

Com relação ao programa Bolsa Família, a história é parecida. Como os mais pobres tinham uma renda familiar per capita muito reduzida no início da década de 90 e não recebiam nenhuma transferência do governo, qualquer valor recebido teria um impacto muito grande sobre sua renda. Assim, a renda familiar per capita média dos 20% mais pobres era de apenas R$ 35 em 1992, passou para R$ 50 em 2001 e R$ 85 em 2009. A renda per capita não oriunda do trabalho (transferências governamentais) passou de apenas R$ 4 em 1992 para R$ 10 em 2001 e R$ 24 em 2009, ou seja, aumentou 500%!

Em suma, o avanço social registrado nos últimos anos ocorreu basicamente porque as pessoas das classes mais baixas eram totalmente desassistidas pelo Estado, tanto em termos educacionais como em termos de transferências de renda até o início dos anos 90. Assim, os avanços mínimos ocorridos nessas áreas tiveram impacto substancial na desigualdade. Porém, ainda teremos que percorrer um longo caminho para atingirmos um padrão em que as oportunidades sejam iguais para todos e independentes do berço.

Restam duas perguntas. Como a sociedade brasileira permitiu que 20% da sua população sobrevivesse com uma renda per capita média de apenas R$ 35 por mês até o início da década de 90? Por que nossa presidente parece obcecada com uma taxa de crescimento do PIB de 4%, quando, na verdade, a renda dos mais pobres, que elegem os políticos, está crescendo muito mais do que isso? Alguém arrisca uma resposta?

Naercio Menezes Filho

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A "MAROLINHA" CHEGOU ÀS NOSSAS PRAIAS

A marcha da economia brasileira neste momento indica duas coisas: 1) ela está na banguela e vai despencando; 2) ela já esteve na banguela e anda devagar porque chegou numa rampa, lotada de encargos.

As duas coisas podem ser verdadeiras.

Os números são adversos. O chamado "PIB do BC" - na prática uma avaliação mensal do andamento do Produto Interno Bruto feita pelo Banco Central e que, projetada, ajuda a estimar o PIB do ano - registrou retração de 0,32% no mês de outubro, em comparação com setembro, pior do que muitos economistas previam.

O fato foi logo atribuído à "crise internacional" por vários comentaristas, mas, na verdade, o gráfico do PIB do BC mostra que ele já vinha caindo, depois de ter alcançado um pico antes do início do segundo semestre. A queda de outubro apenas foi mais dramática. E, em virtude dela, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que apostava num crescimento de 3% do PIB em 2011, já cortou sua previsão para 2,8%. Do alto das minhas humildes sandálias, ouso ir além, ou seja, abaixo: o PIB de 2011, acredito, não deve superar os 2%. Palpite que só poderá ser confirmado, na melhor das hipóteses, no final do primeiro trimestre de 2012, dado o proverbial atraso das aferições estatísticas confiáveis no Brasil (estão melhorando, estão melhorando!).

Bem, o que está acontecendo na prática é que a economia brasileira parece que hoje em dia está mais "em fase" - como se diz - com a economia internacional, o que não ocorreu na crise de 2008-2009. Naquela época, houve uma defasagem que permitiu ao nosso guia genial dizer, como todos se lembram, que o que se passava na economia internacional era apenas uma "marolinha" que o Brasil não precisava temer. Ao perceber que o País teria muito a temer, e que não se tratava de "marolinha", o grande gênio pediu que se improvisassem medidas anticíclicas, que de fato levaram a economia brasileira para fora do desastre. Mas a diferença principal daquela crise, em relação à atual, é que ela era eminentemente bancária, provocada por excesso de facilitário creditício e inchaço da inadimplência - ou seja, afetava principalmente o setor bancário privado norte-americano. Nada que o Tesouro ianque não pudesse resolver com gordas injeções de liquidez, como, aliás, acabou fazendo.

A crise de hoje é diferente. Em primeiro lugar, é "soberana" - para usar esse modismo que esconde que se trata de crise das finanças de vários governos europeus e é resultado, fundamentalmente, da ação de governantes ineptos, demagógicos e covardes, assediados sempre por um sindicalismo altamente predador, tanto do lado patronal quanto do lado do trabalhador. Aliás, chamar, hoje em dia, de "trabalhador" um europeu com carteira assinada e sindicalizado é quase cuspir na cara dos trabalhadores do resto do mundo. A grande maioria desfruta de momentos de conversação amena nos locais de trabalho, vigiando a massa de imigrantes não sindicalizados que de fato trabalham.

Os déficits e dívidas monstruosos de vários governos europeus são o que se poderia esperar da falta de competência e coragem - na Grécia, na Espanha, em Portugal, na Itália e onde mais - de resistir aos vorazes comensais das pizzas orçamentárias: aposentados; funcionários públicos; assalariados de empresas públicas; mutuários e beneficiários de benesses governamentais especiais criadas pelos mais diversos títulos; máfias de empreiteiros e de empresas de equipamentos militares; bancos de investimento - enfim, a imensa clientela dos orçamentos públicos (sem esquecer, é claro, dos corruptos de diversos calibres).

Os governos da Europa que 50 anos atrás eram padrão mundial de higidez financeira e fiscal se transformaram na cornucópia de uma derrama praticamente sem limites a desafiar qualquer cálculo atuarial. A ponto de não poder saber por onde começar para consertar alguma coisa. E a moeda única, o euro, ainda por cima opera como uma espécie de vírus disseminador do quebra-cabeças.

Se juntarmos à desordem financeira a crise maior, que é a da liderança política europeia atual, em que nenhum dos fantoches em movimento exibe o menor perfil do que antigamente se chamava de estadista - e mais se parecem, todos, com anões de jardim -, é fácil prever que essa crise terá longuíssima duração, e nada garante que não se aprofunde ainda mais.

Voltemos ao Brasil.

A população está satisfeita porque está podendo consumir mais e viver melhor. O governo está satisfeito porque está arrecadando mais e dispõe de um colchão de reservas cambiais e bancárias para usar em caso de baque na economia. O empresariado está menos otimista do que quando o ano começou, mas ainda aposta em melhorias. Os políticos cuidam da sua especialidade, que consiste em encher os bolsos e a paciência do público.

Mas a queda do PIB de outubro foi um sinal de que a "marola" está chegando às nossas praias e em 2012 a economia brasileira enfrentará muito mais rampa.

Fonte: O Estado de São Paulo

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

CRESCIMENTO ZERO

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro estacionou no terceiro trimestre, com crescimento zero em relação ao segundo, na série livre de influências sazonais. Houve desaceleração generalizada de atividades e setores. Como esperado, a indústria teve queda, e a surpresa ficou por conta do recuo dos serviços e da desaceleração do consumo das famílias.

Com isso, para diversos analistas, ficou bem difícil o PIB crescer 3% em 2011. Alguns deles já acham difícil chegar a 3% também em 2012. "Dificilmente o PIB cresce 3% este ano, deve ficar mais perto de 2,8%", projeta Bráulio Borges, economista-chefe da consultoria LCA.

Outras instituições que preveem ou consideram que ficou mais provável um PIB abaixo de 3% em 2011 são o Itaú-BBA, a consultoria MB Associados e as gestoras de recursos Opus e JGP, no Rio.

Cenário geral da economia

Em relação a igual período de 2010, o PIB do terceiro trimestre cresceu 2,1%, o pior resultado desde a queda de 1,5% no terceiro trimestre de 2009. O mau desempenho atingiu quase todos os setores e subsetores. A desaceleração foi puxada pela indústria, e já atingiu o consumo das famílias, quem tem sido um suporte da economia brasileira.

Os investimentos também caíram ante o segundo trimestre. Segundo os analistas, a alta da Selic e as medidas de contenção de crédito desde o final de 2010 aliaram-se ao impacto recente da crise internacional para provocar a parada brusca da economia.

Na comparação com o período de abril a junho, na série dessazonalizada, a indústria recuou 0,9% e os serviços caíram 0,3% no terceiro trimestre. A agropecuária, porém, cresceu substanciais 3,4%, impulsionada pelo bom desempenho de mandioca, feijão e laranja.

Governo quer novas medidas
O governo vai adotar novas medidas para estimular as operações de empréstimo, informou ontem o ministro da Fazenda, Guido Mantega. "No momento, não há medidas que o governo pense em tomar, mas vamos seguir na flexibilização do crédito", adiantou. O objetivo, acrescentou, é barateá-lo.

Fonte: A Gazeta

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

DINHEIRO LEVADO PELA CORRUPÇÃO PODERIA ALIMENTAR 1 BILHÃO DE FAMINTOS.



Diante das recentes denúncias de corrupção ocorridas nos ministérios dos Transportes, Turismo e Agricultura, e, sobretudo, com a absolvição de Jaqueline Roriz (PMN-DF) das acusações de participar do esquema de propina no governo do Distrito Federal, a população não ficou apática. O problema não é novidade no cenário brasileiro e, muito menos, mundial. O Banco Mundial estima que US$ 1 trilhão por ano seja tragado pelos corruptos.

O valor corresponde a 1,6% do PIB mundial em 2010 (US$ 63 trilhões) e supera em 43% o gasto dos Estados Unidos com armamentos (US$ 698 bilhões). Paradoxalmente, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) considera que US$ 30 bilhões por ano são suficientes para acabar com a fome de quase um bilhão de pessoas no planeta. Assim, tal como no Brasil, a ideia de que a “faxina mundial”, em favor da moralidade poderia eliminar a miséria vira utopia.

A real quantificação dos mal feitos pela corrupção é difícil, exatamente pela ausência de recibos e notas fiscais. No entanto, recentemente, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) divulgou estudo sobre o impacto da roubalheira em nosso País, concluindo que os desvios giram entre R$ 50,8 bilhões e R$ 84,5 bilhões por ano, algo em torno de 1,4% a 2,3% do PIB brasileiro em 2010.

Na hipótese otimista, o montante de R$ 50,8 bilhões é equivalente às ações concluídas entre 2007 e 2010 no setor de logística do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Em outras palavras, em cenário fictício de um ano sem corrupção, o País teria recursos para duplicar as obras realizadas nos últimos quatro anos em rodovias, ferrovias, marinha mercante, aeroportos, portos e hidrovias.

Na área social, com R$ 50,8 bilhões poderiam ser construídas 918 mil casas populares do programa “Minha casa, minha vida” ou 57,6 mil escolas para as séries iniciais do ensino fundamental. É evidente, portanto, a imensa participação da desonestidade no chamado “Custo Brasil”.

Os cálculos realizados pela FIESP derivam da pesquisa sobre o “Índice de Percepção da Corrupção”, realizada pela ONG Transparência Internacional. Desde 1995, a entidade atribui notas de 0 a 10 aos países mais ou menos corruptos, respectivamente. Ao longo desses dezesseis anos, a nota média do Brasil foi 3,65. Em 2009 e 2010, a nota 3,70 aproximou-se do valor médio, demonstrando que nas últimas décadas a situação é estável.

No Brasil, R$ 40 bilhões anuais vão para o esgoto

No domingo passado, o jornal “Folha de S. Paulo” divulgou o estudo do economista da Fundação Getúlio Vargas, Marcos Fernandes da Silva, que contabilizou os desvios de recursos federais descobertos no período 2002 a 2008. A soma de R$ 40 bilhões, apurada pelos órgãos de controle, não incluiu o que permaneceu desconhecido, além das falcatruas nos estados e municípios, ou seja, é apenas a ponta do iceberg.

O diagnóstico sobre as causas da corrupção brasileira é quase unânime. A colonização de 300 anos é o componente histórico. Outros pontos fundamentais são a imunidade parlamentar, o sigilo bancário excessivo, a falta de transparência das contas públicas, a elevada quantidade de funções comissionadas, os critérios para nomeação de juízes e ministros de tribunais superiores, o foro privilegiado para autoridades, os financiamentos de campanhas eleitorais, as emendas parlamentares e a morosidade da Justiça. Esses aspectos, em conjunto ou individualmente, levam à impunidade.

Apesar do consenso quanto aos focos que realimentam as fraudes, cerca de 70 projetos de lei estão engavetados no Congresso Nacional. Versam sobre a responsabilização criminal das empresas corruptoras, criação de obrigações para instituições financeiras, sanções aplicáveis aos servidores no caso de enriquecimento ilícito, dentre outros temas relevantes. Enquanto isso foi votada a absolvição da deputada Jaqueline Roriz.

No Brasil, a oportunidade faz o ladrão. Com a proximidade da Copa/2014 e dos Jogos Olímpicos/2016, a bola da vez são as obras nos estádios e de mobilidade urbana, além dos cursos de capacitação. Somente para a Copa já estão previstos investimentos de R$ 23,9 bilhões, valor que deve crescer, junto com os níveis de corrupção. Ao que parece, no Brasil, realizar obra de grande porte sem risco de desvio de recursos é quase impossível.

Fontes: Ucho.Info . Dyelle Menezes, do Contas Abertas