terça-feira, 20 de abril de 2010

A COMÉDIA DE ERROS DE BELO MONTE.

Há duas semanas, Lula bravateou que faria "Belo Monte de qualquer maneira". Pois bem, eis uma promessa que o presidente está cumprindo a risca. Está dando tudo errado até agora, mas aparentemente a mão forte das estatais fará "Belo Monte de qualquer maneira". Sob quaisquer pontos de vista, o leilão de hoje fracassou. Do ponto de vista do meio ambiente, resta uma penca de dúvidas sobre as consequencias do projeto e histórias mal contadas. Mas é na parte da viabilidade econômico-financeira que o governo sofreu sua maior derrota. O projeto não foi capaz de seduzir a iniciativa privada, com quem o governo contava desde o início para tocá-lo.



No mundo ideal do governo Lula, lançaria-se o edital para o leilão e, num estalar de dedos, uns três consórcios se formariam. E, no dia do leilão, brigariam lance a lance para fazer a obra e operar a que seria a terceira maior usina hidrelétrica do mundo. O primeiro sinal de que as coisas não iam bem foi dado no dia 7: Odebrecht e Camargo Corrêa, que lideravam um dos dois consórcios que pareciam interessados, deram o fora. Disseram com todas as letras que naquelas condições oferecidas pelo edital, Belo Monte seria uma pródiga produtora de prejuízos. Não era palavra de quem não sabe fazer contas: a Camargo tem em seu currículo quatro das cinco maiorres hidrelétricas feitas no Brasil. Mas o governo achou que era blefe de dois grandes grupos interessados em facilidades. Não era.



O governo correu, então, para tentar formar um outro consórcio, que disputaria com uma turma aparentemente da pesada formada pela Andrade Gutierrez e Vale na linha de frente - ambas, aliás, entraram nessa onda a pedido do governo. No caso da Vale, aliás, houve quase uma imposição. O consórcio concorrente - que era o azarão e acabou levando Belo Monte - foi formado a base de duas vitaminas governamentais. Primeiro, abriu-se o saco de bondades creditícias, via BNDES. Depois, para não restar chance de surpresas, a estatal Chesf pegou uma fatia de 49,98% do consórcio. Ainda assim, puxaram para o grupo as construtoras Queiroz Galvão e J. Malucelli, que juntas detinham 20% do consórcio.



Parecia tudo certo para o dia 20. Bastaria vencer a guerra jurídica e derrubar as liminares que impediam o leilão. Mas nos bastidores a casa estava ruindo. O consórcio liderado pela Andrade/Vale calculava, recalculava, mas as contas não fechavam - algo que a Camargo/Odebrecht já haviam descoberto. De certa forma, Andrade/Vale decidiram baixar a bola e, já que havia outro grupo interessado, o.k., que este levasse Belo Monte. O que não se sabia ainda é que a Queiroz e a J. Malucelli medraram diante de prejuízos de grandes proporções, puxaram o freio e pularam fora do carro. Deixaram a Chesf com o abacaxi nas mãos. Conclusão: para fechar a equação, a estatal Eletronorte entrará na roda, além de fundos de pensão estatais - este sempre prontos, desde as privatizações do governo FHC, a dar uma mãozinha.



Aliás parte desse erro pode ser atribuído sem temor de injustiças a Dilma Rousseff. Toda essa concorrência foi gestada na Casa Civil que Dilma comandava até três semanas atrás (o ex- ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, atuou como figurante dessa comédia de erros). No final das contas, o Brasil ganhará uma nova e poderosa estatal. O Brasil deve crescer entre 5% e 7% este ano e prevê-se algo deste calibre em 2011. Precisa, portanto, de energia para não parar. Não precisava é desse vexame que se viu hoje.

Lauro Jardim ,

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