sábado, 22 de maio de 2010

A FACE DO DESCASO.

 
Abusos e corrupção, aliados com a vontade das famílias em se livrarem de seus doentes mentais, levaram a uma nova concepção no tratamento desse tipo de paciente, condenando as internações , priorizando e incentivando o tratamento ambulatorial e a convivência com a família e a sociedade. Como todo programa vindo de cima para baixo, o que temos visto é que na realidade as coisas acabam não saindo como o previsto no papel e na cabeça de seus idealizadores.

 
 
Todos sabemos que o arsenal terapêutico de hoje, permite que grande parte dos psicóticos, especialmente os esquizofrênicos, possam ser controlados e terem um convívio social e familiar satisfatório, isto desde que tenha a sua disposição a medicação e exames à disposição para o controle da taxa de Litio, por ex. É por aí que começa o fracasso, como veremos mais adiante.

 
Infelizmente, o grande problema da sociedade atual são os dependentes químicos. Pessoas viciadas em cocaína e principalmente com o crack, se transformaram no maior problema psico-social e com certeza no maior desafio da saúde pública, devendo ser encarado com prioridade, o que não está acontecendo, principalmente pelo descaso e falta de políticas adequadas para o setor. Somente agora e mais em função do período eleitoral o Presidente acena com algum investimento nesse segmento.

 
Entenda o que se passa com esse tipo de dependência. O jovem tem o primeiro contato com o crack, após algumas pedras fumadas, adquire o vicio, como esse tipo de droga é barata e se encontra em qualquer esquina, envereda-se por esse caminho. De ação fulminante mas de curta duração, necessita que se use cada vez mais para atender as suas necessidades. A partir do momento que está dependente, perde o interesse por tudo e passa a gastar tudo o que tem e que puder angariar para satisfazer o vício. Dentro de pouco tempo, passa a roubar e acaba muitas vezes preso e só então a maioria das famílias se defrontam com a realidade e após o desespero inicial, descobrem rapidamente que a situação é muito mais grave do que se possa imaginar. Clinicas de desintoxicação não estão disponíveis para a população mais pobre, a medicação ambulatorial não é suficiente para conter a necessidade do consumo, então as coisas acontecem em cascata, abandono do emprego, ociosidade, convivência com traficantes, dificuldade e agressões no convívio familiar, desinteresse por tudo , tornando então o jovem um peso para todos. A previdência não oferece qualquer tipo de benefício, e sem amparo, com o vicio em descontrole, o trauma inicial se transforma em isolamento desse tipo de paciente, entregando-o à sua própria sorte, com resultados que todos nós sabemos.

 
 
 
Voltemos ao esquizofrênicos. Recentemente o Jornal A Gazeta de Vitória-ES, estampou em sua primeira página a seguinte notícia: Homem é confundido com maníaco e morto a pauladas pela população. A princípio, o que parecia mais um caso de justiça pelas próprias mãos, o que já seria inadmissível , revelou-se um drama sem precedentes. Tratava-se de um paciente esquizofrênico que por falta da medicação entrou em surto e a possível agressão, tratava-se simplesmente de uma tentativa de se comunicar e como não entendido adotou postura de defesa tão comum a esse tipo de doente. Falhou o Estado, que ao não propiciar a internação e não disponibilizar a medicação , proporcionou a tragédia e deve ser responsabilizado por essa vida.

 
Num país , onde a saúde pública fracassa no combate a dengue, onde os hospitais públicos lotados, carecem de médicos e equipamentos, crianças morrendo por falta de vagas nas UTINs e o Governo gastando dinheiro com ambulâncias, postos de saúdes sem garantias operacionais e o Presidente achando que está tudo uma maravilha, os dependentes químicos e nossos doentes mentais talvez sejam a face mais cruel desse sistema.

 

Um comentário:

  1. Como bem afirma o amigo na qualidade de médico e por isso tem autoridade sobre o assunto, estamos realmente vivendo estes dramas sem nenhum socorro governamental. Tanto a situação do Crack, quanto ao dos esquizofrênicos, merecem atenção e cuidado por parte dos governantes. Políticas sérias de combate ao Crack devem ser adotadas com urgência. Nossos jovens estão se perdendo num mundo sombrio e assustador, antes que se torne um caminho sem volta para a nossa sociedade.

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