sábado, 23 de outubro de 2010

VERMELHO, AZUL E VERDE.

Eduardo Jorge Alves Sobrinho

Folha de São Paulo


A bem sucedida campanha no 1º turno de Marina Silva do PV, recebeu um apoio extraordinário. Isto significa responsabilidade extraordinária.

Tendo respeitado todo o processo de decisão do PV quero explicar por que fui um dos solitários votos na Plenária de 17/10, que discordou da posição da quase totalidade dos delegados pelo não posicionamento no 2º turno das eleições presidenciais.

Preliminarmente para limpar a discussão vamos afastar duas posições muito prejudiciais aos hábitos políticos nacionais. De um lado a visão messiânica de que existe uma única opção capaz de “salvar“ o país e que ela não pode se comprometer com qualquer outra força política, todas elas “sujas” e “corruptas”. De outro lado o crônico fisiologismo de alguns políticos brasileiros que tudo que querem são os cargos que possam conseguir nos governos. Quaisquer governos!

Superando estas armadilhas chega-se nas opções que a direção do PV cogitou quando preparou uma plataforma oferecida aos dois candidatos que passaram para o 2º turno. São elas a independência, o apoio a candidata do PT e o apoio ao candidato do PSDB.

É preciso ter em conta a novidade que é a proposta do PV surgida no último quarto do século XX. Ela não é de direita, nem de esquerda. Ela não é capitalista ou socialista. Na verdade ela vem para reformar tanto o capitalismo quanto o socialismo, irmãos siameses no desprezo aos cuidados com o meio ambiente e que por isso chegaram ao século XXI criando a crise do aquecimento global que ameaça a civilização humana no planeta. Este é hoje o maior problema ambiental, social e econômico em todos os países, o Brasil incluído.

É preciso ter em conta que os dois partidos que disputam o 2º turno pertencem a uma mesma matriz, a social democrata, que é típica criação do século XIX e XX que procura equilibrar o social e o econômico e não leva em consideração meio ambiente.

Vejamos primeiro a comparação entre a opção independência e as opções candidata PT/candidato PSDB. Todas estas possibilidades poderiam ser em tese igualmente idealistas, programáticas e pragmáticas se bem conduzidas e justificadas. Não existe uma superioridade ética entre independência e as outras. Apenas a independência significa um calculo político que aposta num futuro mais ou menos remoto, onde a alternativa verde, continuando sua ascensão, se tornaria hegemônica na sociedade e poderia impor com mais força suas teses inovadoras. É uma hipótese. Pode se verificar ou não.

Escolher a indicação no 2º turno de candidato A ou B significa uma postura de dar total conseqüência ao objetivo desta fase da eleição que é aprofundar o debate e dar mais legitimidade ao governo escolhido. Significa escolher não adiar nossa influência no dia a dia do povo e dos problemas ambientais para um distante 2014 e sim exercê-la hoje.

Antes que os apressadinhos me critiquem, escolher a indicação de voto no candidato A ou B não significa que o PV está aceitando participar do futuro governo eleito, por exemplo, com a Marina a frente de um Ministério de Educação ou um Gabeira a frente do Ministério do Meio Ambiente. Não. Isto poderia até ocorrer como também poderíamos preferir ser uma força de oposição autônoma mesmo se nosso indicado no 2º turno fosse vitorioso.

Isto é uma discussão para um momento posterior.

O importante é esta disposição para interferir com todas nossas forças nos rumos do Brasil hoje e agora.

Vejamos então qual deveria ser, em minha opinião, os parâmetros de escolha entre os candidatos A ou B.

Vamos comparar.

Resposta a nossa plataforma. Empate.

“Más companhias políticas”. Empate. Vou poupá-los dos exemplos.

No constrangedor campeonato para quem se passa por mais cristão. Empate. E vamos deixar Cristo fora disto, pois ele é totalmente inocente neste teatro.

Economia. Empate. O Governo Lula é a continuação do Governo FHC.

Social. Empate. Tanto o PT quanto o PSDB tem bons exemplos para apresentar e certamente darão continuidade e melhorarão o que vem sendo feito por governos federal, estaduais e municipais.

Meio Ambiente. O PSDB é melhor. As leis municipal e estadual de São Paulo sobre o aquecimento global são muito avançadas e o PT nesta questão essencial reluta em superar a sua visão antiga e reacionária.

Finalmente o item democracia do Brasil. A alternância de poder neste momento é altamente benéfica para o país. O PT precisa voltar a ser oposição por um período. A cada eleição vem se reforçando suas tendências a confundir o espaço estatal com interesses específicos, privados, coorporativos de grupos, filiados e afilhados. Movimentos sociais e sindicais são domesticados ou comprados e empresas estatais são loteadas para benefícios políticos e privados dos que apóiam o governo.

Pior, existem, dentro do PT pulsões autoritárias que se negam a aceitar o batismo da democracia que não hesitarão em esmagar qualquer força que no horizonte ameace sua hegemonia ideológica atual. O PV, por exemplo, será a vítima preferencial. Quem viver verá. O fantasma da volta do “lider máximo” em 2014 dará um poder desmedido a estas forças política dentro do PT. Um período de oposição fará bem ao PT e ao Brasil.

O momento é decisivo e vai impactar por um bom período a vida dos brasileiros. Assim no segundo turno o apoio ao candidato José Serra é uma escolha que leva em conta a emergência ambiental e principalmente a consolidação democrática do Brasil.

Um comentário:

  1. Concordo plenamente.O PT é bom atirador de pedras e péssimo como vidraça.

    ResponderExcluir