sábado, 30 de outubro de 2010

A INDIGNAÇÃO DE RUTH ROCHA.

“O PT ainda não entendeu o seu papel na redemocratização brasileira”. (Ruth Rocha)

- Ruth Rocha

A escritora de livros infantis Ruth Rocha nasceu em São Paulo no dia 2 de março de 1931. Ruth formou-se em sociologia política, trabalhou como orientadora educacional no Colégio Rio Branco e faz parte da Academia Paulista de Letras.

Na década de sessenta escrevia artigos sobre educação para diversas revistas, dentre elas a Revista Cláudia e, em 1976, lançou seu primeiro livro, “Palavras Muitas Palavras”. Já publicou mais de 130 títulos traduzidos em 25 idiomas e sua obra mais conhecida é “Marcelo, Marmelo, Martelo”, que vendeu mais de um milhão de exemplares.

Em 1998, foi condecorada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso com a Comenda da Ordem do Mérito Cultural do Ministério da Cultura e, em 2002, foi escolhida como membro da Associação Mundial de Escritores no Rio de Janeiro.

O Jornal O Globo publicou, recentemente, um artigo de Ruth Rocha em que ela declara não autorizar a inclusão de seu nome em um manifesto a favor da candidata petista Dillma Roussef e que considera a publicação de seu nome na lista “um desaforo”. Ruth exigiu a retirada imediata de seu nome do manifesto e escreveu uma carta aberta à Dillma.

“Carta à candidata Dilma”

“Meu nome foi incluído no manifesto de intelectuais em seu apoio. Eu não a apoio. Incluir meu nome naquele manifesto é um desaforo! Mesmo que a apoiasse, não fui consultada. Seria um desaforo da mesma forma. Os mais distraídos dirão que, na correria de uma campanha... ‘acontece’. Acontece, mas não pode acontecer. Na verdade esse tipo de descuido revela duas coisas: falta de educação e a porção autoritária cada vez mais visível no PT. Um grupo dominante dentro do partido que quer vencer a qualquer custo e por qualquer meio.

Acho que todos sabem do que estou falando.

O PT surgiu com o bom sonho de dar voz aos trabalhadores, mas embriagou-se com os vapores do poder. O partido dos princípios tornou-se o partido do pragmatismo total. Essa transformação teve um ‘abrakadabra’ na miserável história do mensalão. Na época o máximo que saiu dos lábios desmoralizados de suas lideranças foi um débil ‘os outros também fazem... ’. De lá pra cá foi um Deus nos acuda!

Pena. O PT ainda não entendeu o seu papel na redemocratização brasileira. Desde a retomada da democracia no meio da década de 80 o Brasil vem melhorando; mesmo governos contestados como os de Sarney e Collor (estes, sim, apóiam a sua candidatura) trouxeram contribuições para a reconstrução nacional após o desastre da ditadura.

Com o Plano Cruzado, Sarney tentou desatar o nó de uma inflação que parecia não ter fim. Não deu certo, mas os erros do Plano Cruzado ensinaram os planos posteriores cujos erros ensinaram os formuladores do Plano Real.

É incrível, mas até Collor ajudou. A abertura da economia brasileira, mesmo que atabalhoada, colocou na sala de visitas uma questão geralmente (mal) tratada na cozinha.

O enigmático Itamar, vice de Collor, escreveu seu nome na história econômica ao presidir o início do Plano Real. Foi sucedido por FHC, o presidente que preparou o país para a vida democrática. FHC errou aqui e ali. Mas acertou de monte. Implantou o Real, desmontou os escombros dos bancos estaduais falidos, criou formas de controle social como a Lei de Responsabilidade Fiscal, socializou a oferta de escola para as crianças. Queira o presidente Lula ou não, foi com FHC que o mundo começou a perceber uma transformação no Brasil.

E veio Lula. Seu maior acerto contrariou a descrença da academia aos planos populistas. Lula transformou os planos distributivistas do governo FHC no retumbante Bolsa Família. Os resultados foram evidentes. Apesar de seu populismo descarado, o fato é que uma camada enorme da população foi trazida a um patamar mínimo de vida.

Não me cabem considerações próprias a estudiosos em geral, jornalistas, economistas ou cientistas políticos. Meu discurso é outro: é a democracia que permite a transformação do país. A dinâmica democrática favorece a mudança das prioridades. Todos os indicadores sociais melhoraram com a democracia. Não foi o Lula quem fez. Votando, denunciando e cobrando, foi a sociedade brasileira, usando as ferramentas da democracia, quem está empurrando o país para frente. O PT tem a ver com isso. O PSDB também tem assim como todos os cidadãos brasileiros. Mas não foi o PT quem fez, nem Lula, muito menos a Dilma. Foi a democracia. Foram os presidentes desta fase da vida brasileira. Cada um com seus méritos e deméritos. Hoje eu penso como deva ser tratada a nossa democracia. Pensei em três pontos principais.

1) desprezo ao culto à personalidade;

2) promoção da rotação do poder; nossos partidos tendem ao fisiologismo. O PT então;

3) escolher quem entenda ser a educação a maior prioridade nacional.

Por falar em educação. Por favor, risque meu nome de seu caderno. Meu voto não vai para Dilma.”

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