Um jovem camelô que vendia comida nas ruas de uma pequena cidade da Tunísia teve seu carrinho apreendido pela polícia. Humilhado pelas autoridades, imolou-se banhado em álcool. As imagens desse ato de desespero desencadearam protestos de rua e revoltas em vários países árabes. Na Tunísia, duas semanas de manifestações levaram à queda do ditador Zine al-Abidine Ben Ali, que se exilou na Arábia Saudita - não sem antes esvaziar o Tesouro do país que governou com mão de ferro durante 23 anos.
As manifestações na Tunísia não tiveram uma coordenação única. Foram convocadas, pela internet, por estudantes, grupos de donas de casa, associações de moradores, etc. A maioria dos políticos assistiu, atônita, à mobilização do país. Os tunisianos, afinal, se insurgiam não motivados por uma ideologia, um programa político ou um ideal religioso, mas para exigir o respeito a alguns direitos básicos e o cumprimento de algumas exigências concretas: o fim da corrupção governamental, a instituição do império da lei e a redução das dificuldades econômicas.
Nenhum grupo político ou religioso conseguiu controlar a insurreição. A fuga de Ben Ali e a formação de um novo governo não acalmou, inicialmente, as ruas de Túnis. Os rebeldes não aceitaram a permanência de ministros do ex-ditador no governo "de união nacional". Atendida em parte essa nova exigência e anunciadas a criação de comissões para investigar a corrupção e a violação dos direitos humanos, a elaboração de reformas políticas, a libertação dos prisioneiros políticos e a convocação de eleições para daqui a seis meses, a paz voltou às ruas da capital.
Enquanto isso, a "Revolução de Jasmim" espalhava-se por vários países árabes. Na Arábia Saudita, um homem ateou fogo às próprias vestes, mas a eficiente polícia do reino tratou de sufocar no nascedouro qualquer possibilidade de contestação do regime. No Iêmen, na Argélia, na Jordânia, em Omã, na Líbia, no Sudão e na Mauritânia, houve manifestações de rua, mas os governos não chegaram a ser ameaçados.
Ameaçado está o ditador do Egito. Lá houve pelo menos cinco casos de pessoas que se imolaram em protesto contra o governo. Desde a terça-feira passada, as ruas do Cairo estão tomadas pelos manifestantes. Os chamados "dias de fúria" estão sendo marcados por grande violência, provocada pela repressão policial. Ao contrário da polícia tunisiana, que é apenas corrupta, a polícia egípcia é bem treinada e experiente.
O resultado da repressão, porém, não foi a contenção dos protestos. Ao contrário do que ocorreu na Tunísia, no Egito, passado o primeiro momento de espontaneidade das manifestações, os políticos de oposição trataram de aproveitar a onda. O primeiro foi o Prêmio Nobel da Paz Mohamed El-Baradei, que voltou ao Egito dizendo que o presidente Hosni Mubarak, que está no poder há 30 anos, deve abdicar e que está pronto para liderar um governo de transição. Depois, a proscrita Irmandade Muçulmana abandonou a neutralidade que vinha mantendo, passando a apoiar as manifestações contra Mubarak, embora recomendando a seus militantes que não se envolvam em atos de violência.
Na Tunísia, quando as manifestações de rua começaram a se tornar incontroláveis, os militares - que sempre foram politicamente neutros naquele país - "aconselharam" o presidente Ben Ali a deixar o país. No Egito ainda não se chegou a esse ponto - até porque Mubarak é considerado um herói militar, por seu desempenho na Guerra do Yom Kippur. Mas militares da reserva, com ascendência tanto sobre a tropa como sobre os meios políticos, já fizeram chegar ao presidente a sua posição a respeito das causas e da condução da crise. Segundo se informa, foram muito claros a respeito da sucessão de Mubarak. Ou seja, não apoiarão os planos do presidente, que pretende fazer de seu filho Gamal o seu sucessor. Para os militares, o próximo ras deve ser um deles.
Em boa parte do mundo árabe, os atuais governos opressores estão com os dias contados. Infelizmente, não se pode esperar que sejam substituídos por regimes democráticos.
Fomte: O Estadão = http://bit.ly/ed59LV
As manifestações na Tunísia não tiveram uma coordenação única. Foram convocadas, pela internet, por estudantes, grupos de donas de casa, associações de moradores, etc. A maioria dos políticos assistiu, atônita, à mobilização do país. Os tunisianos, afinal, se insurgiam não motivados por uma ideologia, um programa político ou um ideal religioso, mas para exigir o respeito a alguns direitos básicos e o cumprimento de algumas exigências concretas: o fim da corrupção governamental, a instituição do império da lei e a redução das dificuldades econômicas.
Nenhum grupo político ou religioso conseguiu controlar a insurreição. A fuga de Ben Ali e a formação de um novo governo não acalmou, inicialmente, as ruas de Túnis. Os rebeldes não aceitaram a permanência de ministros do ex-ditador no governo "de união nacional". Atendida em parte essa nova exigência e anunciadas a criação de comissões para investigar a corrupção e a violação dos direitos humanos, a elaboração de reformas políticas, a libertação dos prisioneiros políticos e a convocação de eleições para daqui a seis meses, a paz voltou às ruas da capital.
Enquanto isso, a "Revolução de Jasmim" espalhava-se por vários países árabes. Na Arábia Saudita, um homem ateou fogo às próprias vestes, mas a eficiente polícia do reino tratou de sufocar no nascedouro qualquer possibilidade de contestação do regime. No Iêmen, na Argélia, na Jordânia, em Omã, na Líbia, no Sudão e na Mauritânia, houve manifestações de rua, mas os governos não chegaram a ser ameaçados.
Ameaçado está o ditador do Egito. Lá houve pelo menos cinco casos de pessoas que se imolaram em protesto contra o governo. Desde a terça-feira passada, as ruas do Cairo estão tomadas pelos manifestantes. Os chamados "dias de fúria" estão sendo marcados por grande violência, provocada pela repressão policial. Ao contrário da polícia tunisiana, que é apenas corrupta, a polícia egípcia é bem treinada e experiente.
O resultado da repressão, porém, não foi a contenção dos protestos. Ao contrário do que ocorreu na Tunísia, no Egito, passado o primeiro momento de espontaneidade das manifestações, os políticos de oposição trataram de aproveitar a onda. O primeiro foi o Prêmio Nobel da Paz Mohamed El-Baradei, que voltou ao Egito dizendo que o presidente Hosni Mubarak, que está no poder há 30 anos, deve abdicar e que está pronto para liderar um governo de transição. Depois, a proscrita Irmandade Muçulmana abandonou a neutralidade que vinha mantendo, passando a apoiar as manifestações contra Mubarak, embora recomendando a seus militantes que não se envolvam em atos de violência.
Na Tunísia, quando as manifestações de rua começaram a se tornar incontroláveis, os militares - que sempre foram politicamente neutros naquele país - "aconselharam" o presidente Ben Ali a deixar o país. No Egito ainda não se chegou a esse ponto - até porque Mubarak é considerado um herói militar, por seu desempenho na Guerra do Yom Kippur. Mas militares da reserva, com ascendência tanto sobre a tropa como sobre os meios políticos, já fizeram chegar ao presidente a sua posição a respeito das causas e da condução da crise. Segundo se informa, foram muito claros a respeito da sucessão de Mubarak. Ou seja, não apoiarão os planos do presidente, que pretende fazer de seu filho Gamal o seu sucessor. Para os militares, o próximo ras deve ser um deles.
Em boa parte do mundo árabe, os atuais governos opressores estão com os dias contados. Infelizmente, não se pode esperar que sejam substituídos por regimes democráticos.
Fomte: O Estadão = http://bit.ly/ed59LV
Nenhum comentário:
Postar um comentário