sábado, 27 de agosto de 2011

CRIME CONTRA O ESTADO.

O abominável homicídio da juíza Patrícia Acioli é tragédia de proporções inimagináveis. Ceifou a vida de uma mãe exemplar, acabou com os sonhos de familiares amorosos, despertou o medo de todo o país e desnudou a dificuldade de aplicar a lei de maneira escorreita. Patrícia despertava em nós, magistrados, um sentimento genuíno de orgulho, olhávamos para ela e víamos nossa essência: a luta obstinada pelos ideais de Justiça.

Os bárbaros que tiraram Patrícia de nosso convívio não podem sair impunes. Não porque mataram uma Juíza, afinal, a vida humana não comporta gradação de valor, e sim porque atentaram contra o nosso sonho de democracia e liberdade.

A imprensa e a sociedade discutem sobre os mecanismos que poderiam proteger a Juíza. Blindagem, escolta e segurança são extremamente importantes, e a AMB tem se debruçado sobre isso, solicitando que o Ministério da Justiça, as Secretarias de Segurança Pública e os Tribunais atentem para o fato. No entanto, a solução do problema exige mudança de paradigma, é preciso combater a impunidade, afinal, todas as medidas apontadas não atacam o grande cancro da segurança pública: a ineficácia das leis penais no Brasil.

Um exemplo é demasiado elucidativo, porque de conhecimento de quase toda a população. Um renomado jornalista matou a namorada, confessou o crime, foi condenado e começou a cumprir a pena depois de quase 11 anos do crime! Qual a mensagem que isso denota para a sociedade de maneira geral e aos criminosos em particular?

Quantas outras pessoas esses covardes criminosos ainda matarão antes de começarem a cumprir a pena? Quanto tempo eles de fato cumprirão das penas eventualmente impostas?

Basta! Não mais é possível combater a criminalidade, em especial as sofisticadas e violentas organizações criminosas, com uma legislação ultrapassada e de leniência incontroversa. É preciso tratar o tema com cuidado, afinal somos um Estado de Direito.
Nelson Calandra - A Gazeta

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