segunda-feira, 1 de agosto de 2011

JOÃO E JOSÉ (By Marco Sobreira)

João, brasileiro, casado, pai de dois filhos, trabalha como segurança sem carteira assinada, salário de 800 reais. Mora de favor num puxadinho da casa da sogra, viúva que recebe pensão de pouco menos de um salário mínimo. Sua esposa faz faxinas em residências para complementar a renda da família e as crianças ficam com a avó pois não conseguiram vaga na creche do bairro.

José, brasileiro, casado, pai de dois filhos, desempregado, dependente químico (usuário de crack), mora de favor com os pais. A esposa trabalha como manicure atendendo nas casas das clientes para sustentar a família. Já esteve preso duas vezes por tráfico de drogas e assalto à mão armada e está aguardando julgamento em liberdade.

João trabalhou durante a noite, acorda ao meio dia, almoço, despede-se da esposa com um beijo, feliz da vida porque era dia de pagamento e de fazer as compras do mês. Após 30 minutos de viajem num ônibus superlotado, salta em frente ao banco, dirige-se ao caixa eletrônico, saca seu dinheiro, sai é seguido e interpelado por José que de arma em punho tenta assaltá-lo. João reage, leva um tiro e cai, vê José se afastar com seu dinheiro, é socorrido por populares e levado para o hospital entre a vida e a morte, é operado, sobrevive  mas fica paralitico da cintura para baixo. José é perseguido por populares que chamam a policia e acaba preso.
A partir daí suas vidas tomam rumos completamente diferentes mas que terão um fim comum.

Após trinta dias internado, João recebe alta e fica sabendo que jamais voltará a andar, não tem direito a benefícios do INSS pois sua carteira não estava assinada, torna-se um peso para a família que agora sobrevive com o bolsa família e das faxinas que a esposa faz. Com o passar do tempo começa a apresentar distúrbios do comportamento, fica agressivo e um ciúme doentio leva à separação do casal. Só lhe resta ir morar com um irmão, entrega-se à bebida e após dois anos comete suicídio.

José, depois de alguns dias na cadeia, sofre forte crise de abstinência, recebe tratamento médico e se recupera, por não ser mais primário tem que aguardar preso o julgamento. É condenado a oito anos de prisão e transferido para uma penitenciária onde, além de tratamento psiquiátrico, recebe acompanhamento do psicólogo e da assistente social. Sua família recebe o bolsa presídio e não passa por dificuldades. Aproveita a biblioteca do presídio, estuda, faz cursos, tem direito a banhos de sol, uma alimentação razoável e de vez em quando recebe a esposa em visita íntima. Tem bom comportamento e após dois anos adquire o direito de trabalhar durante o dia e apenas dormir no presídio, com quatro anos é solto em liberdade condicional.

Ao ser libertado, perde o direito ao bolsa presídio e apesar dos cursos que fez, o fato de ser um ex-presidiário lhe fecha as portas , não consegue um emprego regular, retorna então ao vicio e ao tráfico. Um ano após ser solto é morto pela policia durante um assalto.

 Embora o texto seja ficção, os destinos de João e José são total ou parcialmente os mesmos de milhares de brasileiros. Deixo para reflexão e opinião dos leitores do blog as seguintes perguntas:

-O que faltou a estes dois brasileiros?

-Onde o Estado falhou?

-È esse o Brasil que queremos?

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