terça-feira, 29 de novembro de 2011

POBRES MULHERES, POBRE BRASIL (By Marco Sobreira)

Desde que o mundo é mundo as mulheres sofrem agressões , maus tratos dos maridos ou companheiros e discriminações por motivos religiosos, trabalhistas e culturais. No Brasil não é diferente, tem sido assim desde sempre, o machismo latino e o etilismo certamente são as maiores causas de agressões e assassinatos.
Secularmente submissa, a mulher começou sua emancipação a partir do advento da pílula anticoncepcional que libertou-as da função de simples parideira, mãe de família e profissão “do lar”, para conquistar direitos e igualdade. Foi à luta, estudou, quebrou tabus e hoje representa força de trabalho similar à do homem. São maioria nas universidades, são mais dedicadas, detalhistas e vêm conquistando todos os cargos outrora exclusivos do sexo masculino.
Todo esse avanço entretanto não as tem protegido da violência do lar, basta assistir aos noticiários para comprovarmos que continuam sendo mortas ou covardemente espancadas. O surgimento da Lei Maria da Penha pareceu a princípio ser o instrumento necessário para se acabar ou pelo menos amenizar esse tipo de crime que parece enraizado profundamente em nossa cultura machista. Ao se casar o homem julga adquirir todos os direitos sobre sua companheira, até o nosso código penal dá uma forcinha com a famosa “em legitima defesa da honra”, contribuindo para a perpetuação desse abominável delito.
Infelizmente a Lei Maria da Penha está condenada a ser daquelas que ninguém cumpre, tudo em decorrência de nossa estrutura policial, insuficiente para garantir a segurança de quem a ela recorre. Esta semana aconteceu comigo um fato que me fez escrever este artigo.
Entrou em meu consultório uma jovem mulher com duas filhas pequenas, na verdade não estava doente, solicitou-me um medicamento para dar ao marido sem que ele perceba, para parar de beber, justificou,
- Dr, pelo amor de Deus me ajude, não agüento mais ser espancada e ameaçada de morte pelo meu marido que só chega bêbado em casa, sai do trabalho, passa no primeiro boteco, começa a beber e já chega me agredindo, não suporto mais.
Tentei ponderar que não poderia passar tal medicamento, porque além de provocar reações imprevisíveis ao reagir com o álcool, podendo colocar em risco a vida do marido, embora já tenha sido muito usado, hoje não é mais boa prática médica, então não poderia receitá-lo em função dos riscos e por questões éticas. Sugeri tratamento com o psiquiatra ou até mesmo internação em clínica apropriada para desintoxicação.
Sem conseguir segurar o choro, a paciente me disse que o marido não aceitava qualquer tipo de tratamento, sequer admitia conversar sobre o assunto, estava realmente desesperada, alegava não saber o que fazer, vivia sendo espancada e sob ameaça constante de morte.
Então fiz a pergunta possível nessa situação,
-Você já ouviu falar na Lei Maria da Penha? Pelo que percebo no seu caso é a única solução.
-Dr, já fui a delegacia por três vezes, o máximo que consegui foi que ele fosse chamado, tomou uma bronca do delegado, ficou bonzinho por dois dias e depois tudo voltou à rotina, pior, ameaçou me matar se o denunciasse novamente, suas palavras não me saem da cabeça, “você acha que a policia vai me vigiar 24 horas? Experimente e vai ver se não te mato”.
Desculpei-me por não atender o que pretendia, embora tenha ficado realmente preocupado com a situação vivida pela paciente, fiquei com a impressão que uma grande tragédia pode acontecer e para encerrar pedi que a mesma procurasse a Promotoria Pública, foi o que me pareceu ser a única tentativa de solucionar o problema.
Como ela, tenho certeza que milhares de mulheres nesse país passam por situação semelhante, infelizmente temos uma lei inútil, seria preciso um lei mais rigorosa, mas isso é problema para nossos políticos, que na verdade estão mais preocupados em se defender de acusações de corrupção, tentando segurar seus cargos a qualquer custo ou pensando nas eleições do ano que vem. Pobres mulheres, pobre Brasil.

Um comentário:

  1. Muito triste esta situação mas infelizmente, em muitos casos, quando tentamos ajudar, ficamos com caras de idiotas. Antes da Lei Maria da Penha, socorri uma pessoa e antes de levar pro Pronto Socorro passei na delegacia das mulheres, enfim, depois de algum tempo, fui intimada pra ser testemunha do caso. Adivinha? Perdi a tarde toda, faltei ao trabalho e o casal chegou de mãos dadas e ainda tive que ouvir: "em briga de marido e mulher, não se mete a colher"... Nem preciso dizer como me senti... Pior é que qdo ela estava sendo estupidamente espancada, a mãe dela veio à minha casa pedir ajuda e eu fui a escolhida pra missão.... Hoje pensarei mtas vezes antes de socorrer. E na dúvida, morro solteira..rsss. Quero é ver um homem levantar a mão pra mim... Affffff. Sem chances!

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