quinta-feira, 31 de maio de 2012

LULA E A CPI, ENTENDA A RELAÇÃO

Data: 24/05/2012 - ES - Mimoso do Sul- Cristo redentor da cidade. Editoria: Cidades. Foto: leitor Beto Barbosa
O ex-presidente Lula é alvo de críticas porque fez reunião com ministro do STF e a pauta da conversa teria sido o mensalão, escândalo que envolveu seu governo

Nos bastidores, o ex-presidente trabalhou para atingir aliados com CPI e pressiona ministro do Supremo para adiar julgamento do mensalão
 
Talvez "nunca antes na história deste país" a relação de um ex-presidente da República com o poder tenha ficado tão evidente aos olhos da nação. Trata-se da ativa atuação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mesmo em recuperação de um câncer na laringe, na criação e nos desdobramentos da CPI de Carlos Cachoeira no Congresso Nacional. Depois de arquitetá-la para pegar na curva adversários políticos ligados aos negócios e contratos suspeitos do contraventor e dublê de lobista sofisticado, eis que Lula agora aparece em uma constrangedora reunião com o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

O petista insinuou ao ministro, que outrora já o chamou "às falas", o adiamento do julgamento do mensalão em troca de não insuflar aliados na CPI a investigar uma viagem do casal Gilmar Mendes a Berlim. O tour ocorreu junto ao casal Demóstenes Torres (ex-DEM-GO), supostamente bancado por Cachoeira - embora Gilmar negue. Lula, segundo os relatos, deixou claro ter controle político da CPI e ofereceu blindagem a Gilmar - já flagrado nos grampos com Demóstenes na crise de espionagem da Abin que derrubou Paulo Lacerda do comando da Polícia Federal.

Nos corredores do Congresso, é voz corrente que Lula agiu desde o começo incentivando a criação da CPI. Seu primeiro intento seria equilibrar o ambiente político com uma crise para a oposição administrar – a desmoralização do senador Demóstenes e os elos de Cachoeira com o governador tucano de Goiás, Marconi Perillo. A CPI, assim, ajudaria a quebrar a pressão da opinião pública e até atrasar o julgamento do mensalão, escândalo de pagamento de propina a parlamentares e fraudes em contratos que abalou o primeiro mandato de Lula, em 2005.

A rede de Cachoeira cresceu

Para isso, Lula também teria tido a ajuda do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, indicado por ele e que só em março último apresentou a denúncia da Operação Vegas contra Demóstenes. Só que a CPI, mesmo modorrenta em primeiras sessões de bate-bocas e fatos sem relação com apurações, chegou aos governos de Agnelo Queiroz (PT-DF) e Sérgio Cabral (PMDB-RJ), sem contar que a empresa Delta, que teria Cachoeira como sócio oculto, foi a empreiteira com mais obras do PAC no governo federal. Para que não estoure mais sujeira, a Delta, apontada pela Polícia Federal como braço financeiro do esquema, está perdendo um contrato após o outro.

Agora, depois de repercutir no meio político e nas redes sociais, o encontro de Lula e Gilmar Mendes - articulado pelo ex-ministro Nelson Jobim, uma água nos bastidores - reposiciona os holofotes na CPI do Cachoeira. Não se sabe ao certo se o encontro foi intencional ou mesmo quem tocou no assunto mensalão. Fato é que o encontro "errado" não será esquecido até agosto, quando deve começar o julgamento dos 36 réus mensalão, entre eles José Dirceu (PT).

"É inconveniente julgar esse processo agora", teria dito Lula a Gilmar, tentando sensibilizá-lo a assumir uma posição técnica, não política. Um efeito imediato de adiá-lo seria eliminar dois votos pró-condenação: os dos ministros Ayres Brito e Cézar Peluso, que se aposentarão em breve. Advogados advertem da forte chance de condenação e prisão de réus. Lula, temeroso de que o desfecho do mensalão carimbe a imagem de seu próprio governo, até teria mandado emissários sensibilizarem a ministra Cármem Lúcia.

Sem ingenuidades


Também soou estranho a um ministro do Supremo, que se reserva a receber advogados, ir ao encontro de Lula. Gilmar, aliás, já ajudou o PT rejeitando a denúncia contra Luiz Gushiken no mensalão, votando a favor de Antonio Palloci e recusando denúncia contra Aloisio Mercadante. Da reunião pipocarão especulações, mas não se pode crer na ingenuidade de nenhum dos três presentes, mesmo que o ato de Lula, urdido como infalível, tenha lhe escapado ao controle.

A CPI não deve convocar Gilmar. E, por ora, Cachoeira silenciou, mas continua sendo um homem-bomba. Estendeu suas ligações na política a ponto de tramar a derrubada de um ministro dos Transportes e de querer Demóstenes prefeito de Goiânia e até ministro do Supremo, não sem antes filiá-lo ao PMDB para aproximá-lo da presidente Dilma Rousseff (PT).

"Eu sabia que Cachoeira era contraventor do jogo do bicho. Não suspeitava dos tentáculos além de Goiás: Brasília, Rio, Delta. É um Marcos Valério mais sofisticado, com penetração no poder e que se infiltrou nos governos dando dinheiro para campanhas", diz um deputado sobre o perfil do bicheiro preso. A propósito, a CPI dos Anões do Orçamento (1993) foi a última com algum resultado de longo prazo: a lei de licitações, que, aliás, à luz da farra de contratos públicos fraudados como os revelados neste caso, urge ser revisada.

Desde o fim do Estado Novo, em 1946, o Congresso fez dezenas de CPIs, que são rotina. O que causa enorme interesse agora é o mensalão, prestes a ser julgado pelo STF. Em paralelo, na CPI do Cachoeira, a sociedade se pergunta por que governadores e parlamentares foram se envolver com um contraventor. Ainda não se pode falar em pizza, pois a função da CPI é apurar e não punir, mas não se deve esperar nenhuma grande transformação, já que o relatório final da CPI seguirá para o Judiciário, onde novo processo se inicia. O problema é se o inquérito da CPI só apresentar indícios, e não provas: aí perde-se o interesse público e o caso é esquecido. Por enquanto, nos primeiros dias de trabalho, a CPI foi a mais lenta em 20 anos, e o que está ocorrendo é para "espantar burguesia". Não houve conclusão alguma até agora. Quanto ao governo temer uma devassa na Delta, acho difícil o Planalto controlar tudo. Pior mesmo foi o encontro de Lula com Gilmar Mendes. Foi lamentável Lula, num relacionamento não democrático, tentar forçar um ministro a manobrar julgamento. Lula não se controla, errou muito e não se convenceu de que seu mandato acabou. Este encontro não mudará os rumos da CPI, mas o STF vai dar uma resposta: o processo do mensalão está findo e as provas, corrigidas. O Supremo não tem decepcionado a opinião pública e age com equilíbrio e muita cautela.
foto: STF
Data: 24/05/2012 - ES - Mimoso do Sul- Cristo redentor da cidade. Editoria: Cidades. Foto: leitor Beto Barbosa
Soou estranho a um ministro do Supremo, como Gilmar Mendes, que se reserva a receber advogados, ir ao encontro de Lula
Entenda a CPI

Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em fevereiro, 8 anos após divulgação de vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu (PT), lhe pedia propina. O escândalo culminou na CPI dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares conhecido por mensalão.

Dia D de Demóstenes
Escutas telefônicas da PF apontaram contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO). Reportagens afirmaram que o grupo de Cachoeira forneceu telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao empresário que lhe emprestasse dinheiro e vazou informações reservadas de reuniões.

Quebra de sigilo Demóstenes saiu do DEM e o PSOL representou contra ele no Conselho de Ética. As denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas. Após a publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos anos, faça parte do esquema de Cachoeira, a empresa perdeu contratos.

Governadores
O vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira com os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira. Após um primeiro mês de marasmo e troca de farpas entre membros, o depoimento dos governadores e a quebra de sigilo do comando central da Delta podem provocar estragos.

Impacto no Planalto
O que a CPI produzir pode trazer problema para Dilma. A Delta é a empreiteira favorita dos políticos governistas. "Tiraram o gênio da lâmpada e não sabem como colocar dentro de volta", diz um deputado.
Análise
"Ato de Lula foi lamentável"
Octaciano Nogueira, cientista Político – UnB

Desde o fim do Estado Novo, em 1946, o Congresso fez dezenas de CPIs, que são rotina. O que causa enorme interesse agora é o mensalão, prestes a ser julgado pelo STF. Em paralelo, na CPI do Cachoeira, a sociedade se pergunta por que governadores e parlamentares foram se envolver com um contraventor. Ainda não se pode falar em pizza, pois a função da CPI é apurar e não punir, mas não se deve esperar nenhuma grande transformação, já que o relatório final da CPI seguirá para o Judiciário, onde novo processo se inicia. O problema é se o inquérito da CPI só apresentar indícios, e não provas: aí perde-se o interesse público e o caso é esquecido. Por enquanto, nos primeiros dias de trabalho, a CPI foi a mais lenta em 20 anos, e o que está ocorrendo é para “espantar burguesia”. Não houve conclusão alguma até agora. Quanto ao governo temer uma devassa na Delta, acho difícil o Planalto controlar tudo. Pior mesmo foi o encontro de Lula com Gilmar Mendes. Foi lamentável Lula, num relacionamento não democrático, tentar forçar um ministro a manobrar julgamento. Lula não se controla, errou muito e não se convenceu de que seu mandato acabou. Este encontro não mudará os rumos da CPI, mas o STF vai dar uma resposta: o processo do mensalão está findo e as provas, corrigidas. O Supremo não tem decepcionado a opinião pública e age com equilíbrio e muita cautela.
 
Fonte: A Gazeta

LULA, O INCOMPREENDIDO. "COITADINHO"


(Foto: Ueslei Marcelino Reuters)
Maior abandonado – Depois de chantagear o ministro Gilmar Mendes, o que poderia lhe render ordem de prisão em flagrante, o abusado Luiz Inácio da Silva ressurge em cena na condição de maior abandonado e mal compreendido. Ao proferir palestra no V Fórum Ministerial de Desenvolvimento, em Brasília, Lula disse que tem de “tomar cuidado” com pessoas que “estão aí no pedaço” e que não gostam dele.

Para completar, Lula comunicou aos presentes que falaria de pé para acabar com as especulações de que está doente. Pelo que se sabe, só caminha apoiado em bengala quem tem algum problema de saúde. Fora isso, só adota esse procedimento quem tem algum tipo de psicose em relação ao velho e saudoso Bat Masterson, personagem de um seriado de televisão exibido nos Estados Unidos entre os anos de 1958 e 1961. Anos mais tarde, com sua inseparável bengala, Bat Masterson chegou à televisão brasileira.

“Vou falar de pé porque senão vão dizer que eu estou doente. Então, para evitar esses pequenos dissabores… Vocês sabem que tem muita gente que gosta de mim, mas tem algumas pessoas que não gostam. Eu tenho que tomar cuidado contra essas. São minoria, mas estão aí, né, no pedaço”, afirmou, sem citar nomes, no início da palestra sobre políticas para redução da desigualdade social.
Esse discurso, encomendado e previamente ensaiado, teve por objetivo convencer a opinião pública da inocência de Lula na tentativa fracassada de postergar o julgamento do Mensalão do PT, que deve acontecer dentro de algumas semanas no Supremo Tribunal Federal. Como a condenação dos envolvidos é considerada tecnicamente inevitável, Lula partiu para a chantagem como forma de defender alguns “companheiros”, esquecendo-se que desde janeiro de 2011 é um cidadão comum e que está sujeito às garras da lei. O ex-presidente só não recebeu voz de prisão porque no momento do cometimento do crime a única testemunha, Nelson Jobim, pende para o lado do petista.

Lula pode até enganar durante algum tempo, mas o tempo inteiro é impossível. Sua aparição nesta quarta-feira faz parte de um enredo elaborado pela cúpula do PT, que tem aproveitado todas as ocasiões que surgem para vender aos incautos a ideia de que o entrevero com Gilmar Mendes não passou de mais um golpe das elites, palavrório fácil e mentiroso que Lula tanto usa

Fonte: Ucho.Info

quarta-feira, 30 de maio de 2012

DILMA CONVOCA LULA

QUEREM TRAZER O STF PARA A VALA COMUM


O ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes
Foto: O Globo / Gustavo Miranda
O ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar MendesO Globo / Gustavo Miranda
BRASÍLIA- Indignado com o que afirma ser uma sórdida ação orquestrada para enfraquecer o Supremo, levar o tribunal para a vala comum, fragilizar a instituição e estabelecer a nulidade da Corte, o ministro Gilmar Mendes afirmou nesta terça-feira, em entrevista no seu gabinete no início da noite, que o Brasil não é a Venezuela de Chávez, onde o mandatário, quando contrariado, mandou até prender juiz. Gilmar acredita que por trás dessa estratégia está a tentativa de empurrar o julgamento do mensalão para pegar o STF num momento de transição, com três juízes mais jovens, recém-nomeados, dois dos mais experientes para sair, uma presidência em caráter tampão. Gilmar, que afirma ter ótima relação pessoal com Lula, conta que se surpreendeu com a abordagem recente do ex-presidente na casa do ex-ministro Nelson Jobim. Gilmar afirma que há estresse em torno do julgamento do mensalão e diz que os envolvidos estão fazendo com que o julgamento já esteja em curso. Ironicamente, diz, as ações para abortar o julgamento estão tendo efeito de precipitá-lo.


O GLOBO: Como foi a conversa com o presidente Lula?

GILMAR MENDES: Começou de forma absolutamente normal. Aí eu percebi que ele entrava insistentemente com tema da CPMI, dizendo do controle, do poder que tinha. Na terceira ou quarta vez que ele falou, eu senti-me na obrigação de dizer pra ele: “Eu não tenho nenhum temor de CPMI, eu não tenho nada com o Demóstenes”.

Isso soou a ele como provocação?

GILMAR: Isso. A reação dele foi voltar para a cadeira, tomou um susto. E aí ele disse: “E a viagem a Berlim? Não tem essa história da viagem a Berlim?” Aí eu percebi que tinha uma intriga no ar e fiz questão de esclarecer.

Antes disso ele tinha mencionado o mensalão?

GILMAR: É. Aqui ocorreu uma conversa normal. Ele disse que não achava conveniente o julgamento e eu disse que não havia como o tribunal não julgar neste ano. Visões diferentes e sinceras. É natural que ele possa ter uma avaliação, um interesse de momento de julgamento.

Isso é indício de que o presidente Lula não se desprendeu do cargo?

GILMAR: Não tenho condições de avaliar. Posso dizer é que ele é um ente político, vive isso 24 horas. E pode ser que ele esteja muito pressionado por quem está interessado no julgamento.

Na substituição de dois ministros, acha que as nomeações podem atender a um critério ideológico?

GILMAR: É uma pressão que pode ocorrer sobre o governo. Toda minha defesa em relação ao julgamento ainda este semestre diz respeito ao tempo já adequado de tramitação desse processo. O presidente Ayres Britto tem falado que o processo está maduro. Por outro lado, a demora leva à ausência desses dois ministros que participaram do recebimento da denúncia e conhecem o processo, que leva à recomposição do tribunal sob essa forte tensão e pressão, o que pode ser altamente inconveniente para uma corte desse tipo, que cumpre papel de moderação.

A partir da publicação da conversa do presidente Lula com o senhor, os ministros do STF estariam pressionados a condenar os réus, para não parecer que estão a serviço de Lula?

GILMAR: Não deve ser isso. O tribunal tem credibilidade suficiente para julgar com independência (...) O que me pareceu realmente heterodoxo, atípico, foi essa insistência na CPMI e na tentativa de me vincular a algo irregular. E de forma desinformada.

Quem está articulando o adiamento do mensalão dá um tiro no pé?

GILMAR: Acho que sim. E talvez não reparar que o Brasil não é a Venezuela de Chávez... ele mandou até prender juiz. Um diferencial do Brasil é ter instituições estáveis e fortes. Veja a importância do tribunal em certos momentos. A gente poderia citar várias. O caso das ações policialescas é o exemplo mais evidente. A ação firme do tribunal é que libertou o governo do torniquete da polícia. Se olharmos a crise dos jogos, dos bingos, era um quadro de corrupção que envolvia o governo. E foi o Supremo que começou a declarar a inconstitucionalidade das leis estaduais e inclusive estabeleceu a súmula. Eu fui o propositor da súmula dos bingos.

Depois que o ministro Jobim o desmentiu, o senhor conversou com ele?

GILMAR: Sim. O Jobim disse que o relato era falso. Eu disse: “Não, o relato não é falso”. A “Veja” compôs aquilo como uma colcha de retalhos, a partir de informações de várias pessoas, depois me procuraram. Óbvio que ela tem a interpretação. O fato na essência ocorreu. Não tenho histórico de mentira.

O julgamento já está em curso?

GILMAR: Sim, de certa forma. Por ironia do destino, talvez essas tentativas de abortar o julgamento ou de retardá-lo acabou por precipitá-lo, ou torná-lo inevitável.

O momento é de crise?

GILMAR: Está delicado. O país tem instituições fortes, isso nos permite resistir, avançar.

Tem uma ação deliberada de tumultuar processos em curso?

GILMAR: Ah, sim.

Existe fixação da figura do senhor?

GILMAR: Isso que é sintomático. Ficaram plantando notícias.

Qual o motivo disso?

GILMAR: Tenho a impressão de que uma das razões deve ser a tentativa de nulificar as iniciativas do tribunal em relação ao julgamento desse caso.

Mas por que o senhor?

GILMAR: Não sei. Eu vinha defendendo isso de forma muito enfática (o julgamento do mensalão o quanto antes). Desde o ano passado venho defendendo isso. O tribunal está passando por um momento muito complicado. Três juízes mais jovens, recém-nomeados, dois dos mais experientes para sair, uma presidência em caráter tampão. Isso enfraquece, debilita a liderança. Já é um poder em caráter descendente.

Um tribunal com ministros mais recentes é mais fraco que um com ministros mais experientes?

GILMAR: Não é isso. Mas os ministros mais recentes obviamente ainda não têm a cultura do tribunal, tanto é que participam pouco do debate público, naturalmente.

Dizem que os réus do mensalão querem adiar o julgamento para depois das substituições.

GILMAR: Esse é um ponto de ainda maior enfraquecimento do tribunal. Sempre que surge nova nomeação sempre vêm essas discussões acerca de compromissos, que tipo de compromissos teria aceito. Se tivermos esse julgamento, além do risco de prescrição no ano que vem, vamos trazer para esses colegas e o tribunal esta sobrecarga de suspeita.

Haverá suspeita se a indicação deles foi pautada pelo julgamento?

GILMAR: Vai abrir uma discussão desse tipo, o que é altamente inconveniente nesse contexto.

O voto do senhor na época da denúncia não foi dos mais fortes...

GILMAR: Não. É uma surpresa. Por que esse ataque a mim? Em matéria criminal, me enquadro entre os mais liberais. Inclusive arquei com o ônus de ser relator do processo do Palocci, com as críticas que vieram, fui contra o indiciamento do Mercadante, discuti fortemente o recebimento da denúncia do Genoino lá em Minas. Ninguém precisa me pedir cautela em termos de processo criminal. Combato o populismo judicial, especialmente esse em processos criminais, denuncio isso.

Todas as figuras que o senhor citou são petistas proeminentes. Por que querem atacar o senhor agora?

GILMAR: Desde o início desse caso há uma sequência de boatos, valendo-se inclusive desse poder perverso, essa associação de vazamentos, Polícia Federal, acesso de CPI. Como fizeram com o (procurador-geral da República, Roberto) Gurgel, de certa forma.

Um ex-presidente empenhado em pressionar o STF não mostra alto grau de desespero com a possibilidade de condenação no mensalão?

GILMAR: É difícil classificar. A minha indignação vem de que o próprio presidente poderia estar envolvido na divulgação de boatos. E a partir de desinformação, esse que é o problema.

Ele pode ter sido usado?

GILMAR: Sim, a sobrecarga... Ele não está tendo tempo de trabalhar essas questões, está tratando da saúde. Alguém está levando esse tipo de informação. Fui a Berlim em viagem oficial. Por conta do STF. Pra que ficar cultivando esse tipo de mito? São historietas irresponsáveis. Qualquer agente administrativo saberia esclarecer isso.

Esses ataques não atingem o STF?

GILMAR: Claro, evidente. O intuito, obviamente, não é só me atingir, é afetar a própria instituição, trazê-la para essa vala comum.


Fonte: O Globo 

ENCONTRO INDECENTE

Qual a motivação? Essa é a primeira questão posta em relação ao encontro incomum, marcado com dias de antecedência, entre o ex-presidente Lula e dois ex-presidentes do Supremo Tribunal Federal,Gilmar Mendes e Nelson Jobim.

A versão de que a reunião do trio era apenas uma festa de sentimentos, amigos que sentiam saudades e queriam se ver, é adocicada demais. Desdenha do raciocínio crítico. Nenhum dos participantes nega que o mensalão foi tema da conversa – envenenada por muitas impropriedades. E eles não têm a prerrogativa da inocência.

A abordagem do julgamento do mensalão é novidade no comportamento de Lula. Desde que a lama veio a público, ele tem se dedicado a descaracterizá-la. No auge da repercussão, o então presidente da República disse que o mensalão "cheirava a folclore dentro do Congresso". Depois, chamou de "farsa" – tentativas claras e lamentáveis de confundir a opinião pública

Sobre Nelson Jobim, vale lembrar que ele, enquanto presidente do STF, foi alvo de constantes críticas, acusado de tentativas de politização da Corte. Contra Mendes, haveria suspeita de proximidade com o esquema Cachoeira – veementemente contestada. Essa é a origem da suposta tentativa de Lula de chantagear o ministro. Ter-lhe-ia oferecido blindagem na CPMI, em troca do adiamento do julgamento do mensalão, visando à prescrição.

Tudo isso é mais grave do que o escândalo original. Tem conotação de banditismo um ex-presidente afirmar que manda na CPI (a do Cachoeira) e usar isso para chantagear um ministro do Supremo.Tangencia o escabroso.

No entanto, falta esclarecer, entre várias questões, as circunstâncias que levaram Mendes a não denunciar imediatamente ao Ministério Público a pressão de que se diz vítima.

As provas acumuladas pela investigação da Polícia Federal sobre o mensalão são consideradas suficientes pela Procuradoria-Geral da República e pelo STF para levar 38 réus a julgamento. Aguardemos.

Fonte: A Gazeta

ESTAMOS LIDANDO COM GÂNGSTERES

Segundo o ministro, quem divulgou informações falsas a seu respeito estaria interessado em "melar" o julgamento do mensalão

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acusou o ex-presidente Lula de centralizar a divulgação de informações falsas sobre ele. Ele voltou a negar que tenha recebido ajuda do senador Demóstenes Torres para custear a viagem para Alemanha.

O ministro afirmou que é vítima de uma "armação" e da ação de "gângsteres". Para ele, quem divulgou informações falsas a seu respeito estaria interessado em "melar" o julgamento do mensalão.

"Ele (Lula) recebeu esse tipo de informação. Gente que o subsidiou com esse tipo de informação e ele acreditou nela. As notícias que me chegaram era que ele era a central de divulgação disso. O próprio presidente", afirmou Mendes.

Sobre a viagem à Alemanha, ele reagiu com raiva: "Não viajei em jatinho coisa nenhuma. Até trouxe para vocês (documentos) para encerrar esse negócio. Vamos parar com fofoca. A gente está lidando com gângsteres. Vamos deixar claro: estamos lidando com bandidos. Bandidos. Bandidos que ficam plantando essas informações".

foto: ABR
Juiz Sérgio Ricardo de Souza, diretor da escola de magistratura, durante o lançamento da campanha Eleições Limpas, Pelo Voto Livre e Consciente, no auditório do Tribunal de Justiça - Editoria: Política - Foto: Gabriel Lordêllo
Mendes: objetivo era melar julgamento


Militância em defesa de Lula

O presidente do PT, Rui Falcão, divulgou vídeo na tarde de ontem em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele convoca a militância do partido a ficar atenta "às manobras que transcorrem no momento", referindo-se diretamente às declarações do ministro do STF, Gilmar Mendes, que indicam que Lula teria chantageado o ministro.

Como afirma a revista "Veja", Lula teria sugerido que o julgamento do mensalão não poderia ocorrer no primeiro semestre, e que ele tinha informações sobre a ligação de Mendes com Demóstenes Torres.

O ex-presidente teria indicado ainda que possui o controle da CPI do Cachoeira e que sabia de uma viagem do ministro com Demóstenes a Berlim. "Vamos desbaratar mais esta manobra daqueles que querem desmoralizar o PT, o presidente, com nítidos objetivos eleitoreiros", diz Falcão.

A assessoria de Lula informou ontem que ele não iria se pronunciar sobre as novas declarações de Mendes, de que está tratando com "gângsteres".

Líderes do PSDB, DEM, PSOL e PPS representaram ontem no Ministério Público Federal do Distrito Federal contra o ex-presidente, acusando-o de tráfico de influência, coação no curso do processo penal e corrupção ativa.

Fonte: A Gazeta

terça-feira, 29 de maio de 2012

A ESCOLHA DE DILMA

É impossível que Dilma não esteja irritada com o Lula. Assim que ele melhorou do tratamento, começou a falar e a criar difíceis factoides para ela resolver. Lula talvez esteja zonzo com a doença que tem de enfrentar, traumatizado com o choque de se descobrir 'mortal', frágil como todos nós, depois da glória de ter governado sob beijos do povo. Essa doença poderia ter-lhe emprestado uma sobriedade 'democrática' maior, mas parece que vivencia a saída do exílio no Sírio-Libanês quase como uma ressurreição, querendo se meter em tudo, como se fosse o chefe de um governo paralelo ao de sua 'protegida'.

Lula nasceu de uma conjunção astral raríssima no ABC e foi muito 'moderno' quando surgiu, criando um sensato sindicalismo de resultados, acreditando em pressão e negociação com patrões. É natural que se tenha deslumbrado com as multidões de operários a seus pés nos comícios, mas até hoje se considera 'especial', um messias metalúrgico que deve comandar um país 'sem rumo'. Lula acredita mesmo em seu ibope.

Depois da fundação do PT, um enxame de 'soviéticos' desempregados transformaram-no em um líder operário a ser 'aperfeiçoado' (e controlado) teoricamente, para que eles chegassem um dia ao poder, numa estratégia 'gramsciana' vulgar. E chegaram em 2002, até o vexame do mensalão que quase queimou o filme de Lula.

E, no entanto, ele devia agradecer ao Roberto Jefferson por tê-lo livrado dos comunas tutelares, pois aí ele pôde encetar sua jornada para as estrelas, sua viagem em direção ao show midiático que encenou nos quatro anos seguintes, pensando apenas em sua imagem, enquanto Dilma trabalhava como uma 'boia-fria', varrendo o Planalto e apagando a luz ao fim do expediente. Lula nos deixou de herança a maldição de um PAC eleitoreiro que só realizou 17% das metas, criando a ideologia do 'tudo pode, desde que seja bom para eu governar', abrindo a porta para as alianças sujas que criaram a cachoeira de corrupção que jorra sobre nós. Os comentaristas ficam desorientados diante do nada que os petistas criaram com o apoio do povo analfabeto. Os conceitos críticos como "razão, democracia, respeito à lei, ética" ficaram ridículos, insuficientes raciocínios diante do cinismo impune e da paralisia política.

Agora, Lula só faz jogar batatas quentes no colo de Dilma, que tem de se virar - ("Afinal, ela não é uma 'bichinha' tinhosa?" - como ele disse na campanha?) Assim, ele deu força à CPI oportunista para se vingar do PSDB, dos jornais e revistas, do procurador Gurgel, para melar o julgamento do 'mensalão', arrasar o Serra em São Paulo, com o Haddad do Enem.

"Dane-se..." - ele deve ter pensado - "se for um tiro no pé, será no pé da Dilma! Azar dela; importante é eu recuperar meu poder, deixar a barba crescer e voltar em 2014..."

Dilma deve estar fula com o dilema que Lula lhe deixou - governar o País entre o PT e o Sarney. E isso justamente agora, quando o perigo econômico se agrava, com a produção industrial caindo a níveis de 20 anos atrás e o País dependente da exportação de matéria-prima, à beira de uma explosão da 'bolha', como alertam economistas daqui e de fora em publicações como o Foreign Affairs e The Economist.

Lula nos legou uma presidente dividida entre o liberalismo e o Estado-pai, tendo de dar uma no cravo e outra na ferradura. E, além disso, ficou irritado, porque sua afilhada tem vida própria, muito mais coragem que ele e reconhece a importância de fatos como o Plano Real que ele surripiou para si; ela sabe da infernal 'faxina' que tem de fazer, para limpar os detritos que ele deixou.

Dilma tenta resolver esse impasse entre a modernização e o atraso, como foi no veto que fez ao Código Florestal, mesmo desagradando a aliados ruralistas. Dilma é obrigada a governar nas brechas do possível, como foi no caso dos juros dos bancos, pois não consegue fazer reformas mais abrangentes e isso faz aparecer seu lado autoritário, impaciente, impondo obrigações, aos capitalistas 'canalhas'. Mas ela sabe também que capitalismo é um modo de produção e não regime político das "elite"; ela sabe que, no caso brasileiro, é a única coisa que pode arrebentar o 'bunker' patrimonialista secular. Assim dividido, o governo atual se contenta com o autoengano, com a ilusão de que o Brasil está pronto para 'resistir' a uma crise mundial. Mantega diz que somos fortes e Dilma nos garante que estamos preparados em 100 ou 200%. Mas, só resistir? E os planos de reformas que não conseguem passar na estreita porta entre o PT e o PMDB?

Agora, Lula acaba de criar uma nova crise para Dilma. Vendo que o plano da CPI não rolou como ele queria e que até pode aporrinhar o Governo Central com respingos da Delta, Lula tentou mudar a opinião dos ministros do Supremo Tribunal Federal, como noticiou a última revista Veja, em uma entrevista com o ministro Gilmar Mendes, que afirma que Lula cobrou dele e de outros ministros o adiamento do início do julgamento do mensalão, o que significaria a prescrição de muitos dos crimes. É um fato gravíssimo que vai dar pano para mangas. Será que, inconscientemente ("não; não é possível! - penso eu), Lula não é levado a prejudicar o governo de sua afilhada, que hesita, dividida entre fazer o que acha e em desagradar ao criador?

Dilma me parece ter uma escolha partida: de um lado ainda aflora uma desconfiança com a sociedade e um desejo de impor obrigações do 'alto' e, de outro, tem consciência de que não é 'reacionário' privatizar estradas podres e antros de corrupção em estatais inúteis. Mas, em seu palácio paralelo, no Planalto alternativo em que se encastela, Lula trabalha contra tudo que possa ser uma modernidade ágil, impessoal, mais anglo-saxônica, digamos. Isso é insuportável para populistas como ele, que só conseguem operar no velho sistema de um velho Brasil.

É por isso que o País está em suspense, sem nitidez ideológica ou programática, confiando na grana futura do pré-sal ou da vinda de capitais para engordar nossa 'bolha'. Falo isso, mas acho que a presidente tem um claro desejo de melhorar seu país, pelo qual ela lutou até na guerrilha e tortura.

Arnaldo Jabor

AS RAZÕES DE GILMAR MENDES

Lula quis armar uma fogueirinha para assar Gilmar Mendes...e Mendes amarrou Lula junto consigo. Se eu for para o fogo...vc vai comigo! srsrsr
Mara

Saiba por que Gilmar Mendes resolveu revelar o assédio de Lula a Veja

O que você vai ler abaixo não é inferência, interpretação nem opinião. É informação. Este post vai revelar o motivo pelo qual o ministro Gilmar Mendes decidiu contar à Revista Veja detalhes da insidiosa conversa com o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva ocorrida no dia 26 do mês passado.
Desde que a revista chegou às bancas, três perguntas recorrente e importantes permaneciam sem resposta: Por que Gilmar Mendes resolveu agir dessa forma? Por que o atraso de um mês entre o fato e a versão apresentada pelo ministro? Gilmar tem como provar que ouviu de Lula o que disse ter ouvido no escritório de Nelson Jobim?
Uma parte das respostas está contida na entrevista na entrevista concedida hoje ao Jornal Zero Hora. Disse o ministro:
Fui contando a quem me procurava para contar alguma história. Eu só percebi que o fato era mais grave, porque além do episódio (do teor da conversa no encontro), depois, colegas de vocês (jornalistas), pessoas importantes em Brasília, vieram me falar que as notícias associavam meu nome a isso e que o próprio Lula estava fazendo isso”.
Em seguida, a entrevista envereda pela seara de outros assuntos — as intrigas da CPI do Cachoeira. A repórter pergunta a Gilmar Mendes: “Jornalistas disseram ao senhor que o Lula estava associando seu nome ao esquema Cachoeira?”. Ao que o ministro responde: “Isso. Alimentando isso”.
Alimentando isso.
Não era o que o ministro queria dizer. Se tivesse sido questionado, teria contado que foi procurado por duas importantes jornalistas dias atrás para saber da mesma história. Espantou-se com o vazamento. Apesar de constrangido, ele havia decidido falar sobre o assunto apenas com alguns de seus pares, pessoas discretas que jamais revelariam a conversa constrangedora. E mantê-la longe dos jornais.
Essas jornalistas são profissionais respeitabilíssimas. Ocupam posições importantes em uma empresa não menos. A história chegou a elas por intermédio de uma fonte crível que preza da amizade de ambos, Gilmar e Lula.
Sabe como a fonte ficou sabendo do diálogo ?
Porque Lula contou.
Isso mesmo. Foi Lula em pessoa quem cometeu a indiscrição de falar sobre a conversa com Gilmar Mendes, descendo ao nível dos detalhes que agora estão expostos por iniciativa do ex-presidente do STF.
Esta é a razão oculta por trás da “inconfidência” do ministro Gilmar Mendes. E também a justificativa para a incapacidade do ex-presidente da República de fazer um desmentido cabal, como o assunto exigiria caso o magistrado pudesse ser desmentido.
Não pode. Há testemunhas muito bem identificadas no caminho da informação que transitou entre o escritório de Jobim e as páginas de Veja.
Se alguém falou demais, não foi Gilmar Mendes. Foi Lula. Simples assim.
Quem fala demais dá bom-dia a cavalo. Deu no que deu.
Maria Cristina Rocha Azevedo

COVARDIA EXPLICITA


(Foto: Divulgação - Editora Abril)
Em 26 de março passado, os setores amestrados da imprensa nacional noticiavam que o jornalista Policarpo Júnior, diretor de redação da revista Veja em Brasília, havia trocado duzentos telefonemas com o contraventor goiano Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

Sem qualquer escrúpulo, esses sempre genuflexos veículos de comunicação, alguns deles atrás de notoriedade a qualquer preço, insinuaram que Policarpo e a Veja renderam-se ao bicheiro goiano preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal. Foi o suficiente para que o PT e a base aliada cobrassem com vigor o depoimento do jornalista à CPI criada para investigar a teia de relacionamentos de Cachoeira. Afinal, execrar a revista Veja é o objetivo dos petistas.

Quase dois meses depois do início do massacre de Policarpo Júnior, os duzentos telefonemas transformaram-se em apenas dois. As conversas com Cachoeira, segundo relato de um delegado da Polícia Federal à CPI, foram protocolares, do tipo entre jornalista e sua fonte.

O ucho.info afirmou que as acusações contra Policarpo Júnior eram infundadas e que os telefonemas trocados com Carlinhos Cachoeira, neste caso a fonte, fizeram parte do exercício de um profissional de comunicação que se dedica ao jornalismo investigativo. Não há como trazer a público informações sem consultar as fontes, mesmo que estas estejam na alça de mira da Justiça ou da polícia. O jornalismo investigativo exige que o profissional em algum momento se envolva com tais pessoas, o que garante a veracidade da informação.

Nesse episódio, a reputação e a competência de Policarpo Júnior saem intactas, ao passo que o objetivo do Partido dos Trabalhadores em relação à CPI do Cachoeira fica evidente que era comprometer o julgamento do escândalo do mensalão e influenciar nas eleições municipais de outubro próximo, especialmente na da cidade de São Paulo, onde o candidato petista imposto por Lula continua empacado com irrisórios 3% de intenção de voto.

Essa prática do PT é conhecida e acionada quando a legenda se vê em dificuldades. Quando o ucho.info entrevistou os dois delegados federais – Antonio Carlos Rayol e Lorenzo Pompílio da Hora – responsáveis pela prisão do marqueteiro Duda Mendonça em uma rinha de galos no Rio de Janeiro, o editor deste site foi covardemente massacrado por petistas que acionaram jornalistas que sempre se dispõem a vilipendiar a honra alheia. Por ocasião da divulgação das gravações telefônicas do caso Celso Daniel, o que este noticioso fez com absoluta exclusividade, a situação foi pior, pois contou com ameaças de morte e intimidação de familiares.

Para um partido que passou duas décadas defendendo a democracia e frequentando redações com envelopes suspeitos, esse tipo de atitude é no mínimo condenável. É bom parar por aqui e deixar munição para a próxima batalha, pois o projeto de poder do PT faz dessa guerra um episódio quase sem fim. Como disse certa vez o estabanado Luiz Inácio da Silva, agora posando de vítima, “nunca antes na história deste país”.


Fonte: Ucho.Info

SUPREMA INDECÊNCIA

Ainda que se compre pelo valor de face a inverossímil alegação do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Nelson Jobim, de que promoveu o encontro do ministro e ex-presidente da Corte Gilmar Mendes com o ex-presidente Lula, a pedido deste, porque "gostava muito dele e o ministro sempre o havia tratado muito bem", o acatamento da solicitação foi um grave lapso moral. O seu ex-chefe (Jobim foi ministro da Defesa entre 2007 e 2011) que encontrasse outra via para transmitir a tardia gratidão ao magistrado.



Gilmar, por sua vez, errou ao aceitar a reunião. Ministros da Suprema Corte, tendo numerosos compromissos derivados de sua condição, não raro se encontram com outras autoridades, políticos, empresários e figurões em geral. Nada haveria de repreensível se, numa dessas ocasiões, Lula o abordasse para lhe dizer o que, segundo Jobim, teria querido dizer. Mas se então ouvisse do ex-presidente as palavras que lhe foram atribuídas pela revista Veja na reunião de 26 de abril no escritório de Jobim, teria de se retirar imediatamente.

Afinal, mesmo que o seu ex-colega não lhe tivesse adiantado o assunto sobre o qual Lula queria conversar, o ministro tinha tudo para adivinhar que se trataria do julgamento do mensalão, previsto para começar em agosto. Em qualquer país, raros são os que recusam convites para um tête-à-tête com um ex-chefe de Estado. Mas, por todos os motivos concebíveis, Mendes deveria ter sido uma daquelas exceções. Depois, tendo sido como foi noticiado o diálogo entre eles, não se entende por que o ministro levou tanto tempo para fazer chegar a história à imprensa.

Se ficou perplexo "com o comportamento e as insinuações despropositadas" de Lula, como afirma, deveria dar-lhes sem demora a merecida resposta pública. Bastaria a enormidade do acontecido. Se o escândalo do mensalão não tem precedentes, tampouco se tem notícia de um ex-presidente da República procurar um membro do Supremo Tribunal para dizer-lhe que considera "inconveniente" o julgamento próximo de uma ação que o alcança politicamente. A inoportunidade - teria alegado Lula - viria da coincidência com a campanha para as eleições municipais deste ano.

Não podendo remeter às calendas o julgamento de um processo aberto há sete anos contra a cúpula do PT, além de outros companheiros e seus sócios na "organização criminosa" de que fala a denúncia do Ministério Público, Lula quer empurrar o desfecho para depois da aposentadoria de dois ministros, o atual presidente Carlos Ayres Britto e Cezar Peluso, que tenderiam a votar pela condenação dos réus mais notórios. Tivesse Lula ficado nisso, já teria superado as próprias façanhas em matéria de indecências políticas.

Mas, além disso, ele não só teria ofendido o relator Joaquim Barbosa, chamando-o de "complexado"; teria avisado que incumbiria o ex-ministro Sepúlveda Pertence de "cuidar" da ministra Carmem Lúcia para que ajude no adiamento; e contado que pediu ao ministro José Dias Toffoli que não se declarasse impedido por ter sido assessor jurídico da Casa Civil, ao tempo de José Dirceu; como praticamente chantageou o interlocutor, ao oferecer-lhe proteção na CPI do Cachoeira, que teria se gabado de controlar. Proteção, no caso, contra alguma tentativa de convocá-lo a explicar as suas relações com o senador Demóstenes Torres, parceiro do contraventor.

Quando Mendes disse que elas sempre se deram nos limites institucionais, Lula teria perguntado algo como: "E a viagem a Berlim?". Os dois, de fato estiveram na capital alemã, onde mora a filha do ministro, e a viagem teria sido paga por Cachoeira - o que Mendes negou veementemente, e batendo na perna de Lula desafiou: "Vá fundo na CPI!". A revelação do ultraje levou os ministros Marco Aurélio Mello e Celso de Mello a condenar o ex-presidente da República nos termos mais duros, compatíveis com o extremo a que levou o seu despudor - algo "inimaginável", estarreceu-se Marco Aurélio. O seu colega, decano da Corte, criticou o "grave desconhecimento (de Lula) das instituições republicanas". Se ele ainda fosse presidente, resumiu com exatidão, "esse comportamento seria passível de impeachment".

Fonte: O Estado de São Paulo

segunda-feira, 28 de maio de 2012

É O FIM DO MUNDO

Para Nostradamus e para os Maias, em tempo e geografia tão diferentes, o mundo acabará dia 22 de dezembro próximo. Erraram. O mundo já acabou no fim de semana que passou. Aqui no Brasil, foi tudo pelos ares. Não sobrou nada.

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, acaba de acusar o ex-presidente Lula de tentar suborna-lo, propondo que se o julgamento do mensalão fosse adiado, ele poderia blindar políticos e empresários na CPI do Cachoeira. Na mesma conversa, realizada no escritório de advocacia do ex-ministro Nelson Jobim, o ex-presidente da República, para justificar a blindagem, teria insinuado que Gilmar Mendes viajou para Berlim a fim de encontrar-se com o senador Demóstenes Torres com passagens e estadia pagas pelo bicheiro Carlos Cachoeira.

Gilmar confirmou à “Folha de S. Paulo” suas declarações dadas à revista “Veja”. O Lula não quis se pronunciar. E Nelson Jobim, sobre o encontro, disse não ter sentido pressão por parte do Lula.

Quer dizer, misturou tudo. Mais do que barro no ventilador, tempestades de cocô varrem o país de Norte a Sul. Por que estaria o Lula tão interessado em protelar o julgamento dos 38 mensaleiros na mais alta corte nacional de justiça? Por que acentuou que o julgamento seria inconveniente? Apenas para não prejudicar o PT e seus candidatos nas eleições municipais de outubro, esperando até a prescrição da maioria dos crimes de que são acusados os réus? Ou estaria ávido de evitar a condenação de José Dirceu, o “chefe da quadrilha”? Mas por que? Ninguém esquece que durante o processo de sua cassação o ex-chefe da Casa Civil declarou que o Lula não desconhecia nada do que se passava em seu gabinete.

Dessa vez não dá para esconder a sujeira debaixo do tapete. Ela é o tapete, os móveis, a sala, a casa, o quarteirão, o bairro, a cidade, o estado e o país.

Gilmar Mendes começou a falar, outros terão que falar também, importando menos os motivos ou a singularidade de que todos os caminhos passam pelo Cachoeira. Que chegassem a José Dirceu, admitia-se, mas ao Lula?

Seria o Supremo Tribunal Federal suscetível de pressões, como o seu presidente, Ayres Brito, acaba de dizer que não é? Em nome de que, na conversa com Gilmar, o Lula teria achado possível influenciar a ministra Carmem Lúcia e o próprio Ayres Brito? Por que um encontro em Berlim com Demóstenes Torres?

E a CPI que investiga o bicheiro? Seria composta por um aglomerado de fantoches capazes de livrar a cara de políticos e empresários através da manipulação de cordéis distantes do prédio do Congresso?

Fica impossível botar a culpa na imprensa pelo fim do mundo. E pelo inevitável quadro de horror que começa a ser revelado.
E A DILMA, COMO FICA?

Nessa história surrealista da conversa entre o ex-presidente Lula e o ministro Gilmar Mendes, uma indagação não pode deixar de ser feita: e a presidente Dilma, como fica?

Claro que solidária com o antecessor, em todas as situações, mas estaria confortável diante de mais essa intromissão do Lula em assuntos de seu governo? Afinal, o primeiro-companheiro teria tentado interferir nas prerrogativas do Judiciário, a começar pela marcação de data de seus julgamentos. Outra iniciativa igualmente indevida do ex-presidente veio no reverso da medalha: dispôs-se a blindar políticos e empresários nos trabalhos da CPI do Cachoeira, ou seja, intrometendo-se na alçada exclusiva do Legislativo. A chefe do Executivo vem mantendo o delicado equilíbrio entre os poderes da União, coisa que seu mentor e conselheiro quis abagunçar. Mesmo como líder inconteste do PT, que tenta salvar do naufrágio, o Lula agiu como condômino principal do governo, o que não terá agradado a sucessora.

NEM TANTO, SENHOR MINISTRO...

Extrapolou o presidente do Supremo, Ayres Brito, ao dizer que a mais alta corte nacional de justiça está vacinada e não aceita “faca no pescoço”. Mais ou menos, porque o passado está cheio de exemplos em sentido contrário.

O então presidente Floriano Peixoto mandou prender alguns deputados, apesar de a Constituição proibir. Rui Barbosa impetrou habeas-corpus em favor deles, junto ao Supremo. Um ministro, assustado, indagou do marechal o que aconteceria se o Supremo concedesse a medida e veio a resposta: “E quem dará habeas-corpus ao Supremo?” Por via das dúvidas a corte não se pronunciou e os deputados foram mandados para o interior da Amazônia...

Café Filho, presidente da Republica, teria sido acometido de um pequeno enfarte. Licenciou-se, diziam seus adversários apenas para estimular o golpe que seu substituto daria nas instituições, impedindo a posse do sucessor eleito, Juscelino Kubitschek. O general Lott acabou com a brincadeira, garantindo os direitos do futuro presidente. Café Filho ficou bom de repente e anunciou que voltaria. Bem que o ministro da Guerra tentou dissuadi-lo com palavras, mas, não conseguindo, botou de novo a tropa na rua e Café Filho em prisão domiciliar. Logo ele impetrou mandado de segurança junto ao Supremo para garantir-lhe o direito de reassumir. Olhando os tanques estacionados na Avenida Rio Branco, os ministros escusaram-se de apreciar o recurso, alegando motivos de força maior.

Só para ficarmos num terceiro momento de nossa crônica política: os militares tomaram o poder, depondo o governo constitucional de João Goulart, e baixaram o primeiro Ato Institucional, estabelecendo que suas determinações estariam à margem de apreciação judicial. Rasgaram incontáveis vezes a Constituição e as leis, cassaram mandatos aos montes, impuseram eleições indiretas, criaram os senadores biônicos, puseram o Congresso em recesso e dissolveram os partidos políticos. O Supremo apenas assistiu os diversos capítulos daquela novela de horror, sem se pronunciar. Era ou não a faca no pescoço?

Carlos Chagas

LULA COMETEU CRIME

Lula cometeu crime, diz constitucionalistaO presidente do Conselho Fundador da Academia Brasileira de Direito Constitucional (ABDConst), Flávio Pansieri, afirmou nesta segunda-feira (28) que o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva cometeu “crime” ao propor ao ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, o adiamento do julgamento do “mensalão” em troca de "blindagem" do magistrado na CPI do Cachoeira. Segundo Pansieri, a notícia representa a maior afronta tornada pública da história do Judiciário brasileiro. Ele conclamou o Ministério Público Federal a entrar imediatamente com uma ação contra Lula para evitar que fatos semelhantes voltem a ocorrer no mais importante tribunal do país. Na opinião do jurista, o STF deve agora pautar e concluir o julgamento do “mensalão”, demonstrando dessa forma a sua “independência e autonomia absoluta de relações espúrias com o poder ou ex-autoridades da República”.

ART.158 DO CÓDIGO PENAL, 4 A 10 ANOS DE RECLUSÃO



Sol quadrado – Que o Brasil é o paraíso das exceções legais todos sabem, mas ninguém está acima da lei, pelo menos em tese, no momento em que comete um crime. Há algumas semanas, o editor do ucho.info conversava com um desembargador do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3) sobre os alarifes que usam o nome de magistrados para vender facilidades a incautos. Relatou o desembargador, que certa vez foi chamado por um empresário para ouvir o relato de um cidadão que tentava vender facilidades no TRF-3, envolvendo inclusive o próprio magistrado. Diante do escárnio, o desembargador, de currículo inatacável, deu voz de prisão em flagrante ao espertalhão e chamou a Polícia Federal para cuidar do caso.

Em sua mais recente edição, a revista Veja traz reportagem sobre a tentativa de Luiz Inácio da Silva de, segundo o ministro Gilmar Mendes (STF), adiar o julgamento do caso do “Mensalão do PT” em troca de blindagem na CPI do Cachoeira. O encontro entre Lula e Mendes aconteceu no escritório de advocacia de Nelson Jobim, ex-ministro de Lula e ex-integrante do STF, que, por questões óbvias, negou o conteúdo da conversa.

Lula é um abusado conhecido que se deixou tomar pela sensação de impunidade, algo conquistado com os mentirosos índices de aprovação e popularidade. Acreditando estar acima do bem e do mal, além das leis vigentes no País, o ex-presidente, agora um cidadão comum como outro qualquer, correu o risco de ser preso em flagrante, o que não se consumou porque Gilmar Mendes pode ter se esquecido, naquele momento, o artigo 301 do Código de Processo Penal: “Qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito.”

O artigo 158 do Código Penal é claro ao tratar do tema extorsão, crime que Lula praticou com a desfaçatez que lhe é peculiar: “Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa: Pena – reclusão, de quatro a dez anos, e multa.”

Para redigir a presente matéria o ucho.info consultou diversos advogados, entre criminalistas famosos e civilistas especializados em Cortes superiores. Alguns entendem que não houve prática de extorsão, mas a maioria afirmou que existiu a pratica de crime, pois a chantagem é considerada como tal. De acordo com o sítio eletrônico “Jus Brasil”, chantagem é “crime caracterizado pela extorsão de dinheiro ou de favores de alguém, com ameaças de revelar segredo seu ou de fazer revelações falsas a respeito de sua pessoa, provocando escândalos e manchando a honra ou a reputação da vítima”.

Vale lembrar que muitos delegados de polícia em todo o País têm lavrado boletins de ocorrência de vítimas de chantagem. Na Súmula nº 96, o Superior Tribunal de Justiça deixa claro que “o crime de extorsão consuma-se independentemente da obtenção da vantagem indevida.” No artigo 158 do Código Penal, a pena para o crime de extorsão é de quatro a dez anos de reclusão. Isso posto, o ministro Gilmar Mendes errou ao não dar voz de prisão a Lula.

Ao site Consultor Jurídico, o decano do Supremo Tribunal Federal, ministro Celso de Mello, disse que “se ainda fosse presidente da República, esse comportamento seria passível de impeachment por configurar infração político-administrativa, em que um chefe de poder tenta interferir em outro”. “É um episódio anômalo na história do STF”, completou o ministro.

Ouvidos no domingo (27) por Rodrigo Haidar, do Consultor Jurídico, os ministros Celso de Mello e Marco Aurélio Mello, os dos mais antigos da Corte, usaram os adjetivos “espantoso”, “inimaginável” e “inqualificável” para classificar o episódio.

Ao classificar como intolerável a pressão exercida por Lula sobre o STF, o ministro Marco Aurélio disparou: “Julgaremos na época em que o processo estiver aparelhado para tanto. A circunstância de termos um semestre de eleições não interfere no julgamento. Para mim, sempre disse, esse é um processo como qualquer outro”. Marco também disse acreditar que nenhum partido tenha influência sobre a pauta do Supremo. “Imaginemos o contrário. Se não se tratasse de membros do PT. Outro partido teria esse acesso, de buscar com sucesso o adiamento? A resposta é negativa”.

Se imaginou que poderia ajudar os “companheiros” denunciados no caso do “Mensalão do PT”, Lula acabou complicando ainda mais a situação com sua trapalhada, pois a partir de agora a sociedade redobrará a pressão para que o STF condene de forma exemplar todos os envolvidos no criminoso esquema de troca de apoio parlamentar pelo pagamento de mesadas regulares.

Fonte: Ucho.Info

domingo, 27 de maio de 2012

LULA TENTA SUBORNAR O STF

O ex-presidente Lula vem erguendo desde o começo de abril o mais obsceno dos numerosos monumentos à cafajestagem forjados desde 2005 para impedir que os quadrilheiros do mensalão sejam castigados pela Justiça. Inquieto com a aproximação do julgamento, perturbado pela suspeita de que os bandidos de estimação correm perigo, o Padroeiro dos Pecadores jogou o que restava de vergonha numa lixeira do Sírio Libanês e resolveu pressionar pessoalmente os ministros do Supremo Tribunal Federal. De novo, como informou VEJA neste sábado, o colecionador de atrevimentos derrapou na autoconfiança delirante e bateu de frente com um interlocutor que não se intimida com bravatas.
A reportagem de Rodrigo Rangel e Otávio Cabral reproduz os momentos mais espantosos do encontro entre Lula e o ministro Gilmar Mendes ocorrido, há um mês, no escritório mantido em Brasília pelo amigo comum Nelson Jobim, ex-ministro do Supremo e ex-ministro da Defesa. A conversa fez escala em assuntos diversos até que o palanque ambulante interrompeu o minueto para dar início ao forró do mensalão. “Fiquei perplexo com o comportamento e as insinuações despropositadas do presidente Lula”, disse Gilmar a VEJA. Não é para menos.

“É inconveniente julgar o processo agora”, começou Lula, lembrando que, como 2012 é um ano eleitoral, o PT seria injustamente afetado pelo barulho em torno do escândalo. Depois de registrar que controla a CPI do Cachoeira, insinuou que o ministro, se fosse compreensivo, seria poupado de possíveis desconfortos. “E a viagem a Berlim?”, perguntou em seguida, encampando os boatos segundo os quais Gilmar Mendes e Demóstenes Torres teriam viajado para a cidade alemã num avião cedido por Carlinhos Cachoeira, e com todas as despesas pagas pelo meliante da moda.

Gilmar confirmou que se encontrou com o senador em Berlim. Mas esclareceu que foi e voltou em avião de carreira, bancou todas as despesas e tem como provar o que diz. “Vou a Berlim como você vai a São Bernardo. Minha filha mora lá”, informou, antes da recomendação final: “Vá fundo na CPI”. Lula preferiu ir fundo no palavrório arrogante. Com o desembaraço dos autoritários inimputáveis, o ex-presidente que não desencarnou do Planalto e dá ordens ao Congresso disse o suficiente para concluir-se que, enquanto escolhe candidatos a prefeito e dá conselhos ao mundo, pretende usar o caso do mensalão para deixar claro quem manda no STF.

Alguns dos piores momentos da conversa envolveram quatro dos seis ministros que Lula nomeou:

CARMEM LÚCIA
“Vou falar com o Pertence para cuidar dela”. (Sepúlveda Pertence, ex-ministro do STF e hoje presidente da Comissão de Ética Pública, é tratado por Carmen Lúcia como “guru”).

DIAS TOFFOLI
“Ele tem que participar do julgamento”. (O ministro foi advogado do PT e chefe da Advocacia Geral da União. Sua mulher defendeu três mensaleiros. Mas ainda não descobriu que tem o dever de declarar-se sob suspeição).

RICARDO LEWANDOWSKI
“Ele só iria apresentar o relatório no semestre que vem, mas está sofrendo muita pressão”. (Só falta o parecer do revisor do processo para que o julgamento comece. Lewandowski ainda não fixou um prazo para terminar o serviço que está pronto desde que ganhou uma toga).
Os outros dois ministros nomeados por Lula são Joaquim Barbosa (considerado “um traidor”) e Ayres Britto, a quem Gilmar relatou na quarta-feira o encontro em Brasília. O atual presidente do STF soube pelo colega que Lula pretende seduzi-lo com a ajuda do jurista Celso Antonio Bandeira de Mello, amigo de ambos e um dos patrocinadores da sua indicação. Imediatamente, Ayres Britto associou o que acabara de escutar ao que ouviu de Lula num recente almoço no Palácio da Alvorada. “O ex-presidente me perguntou se eu tinha notícias do Bandeirinha e disse: ‘Qualquer dia a gente toma um vinho’”, contou o ministro a VEJA.

Na mesma quarta-feira, a chegada ao STF de um documento assinado por dez advogados de mensaleiros comprovou que Lula age em parceria com a tropa comandada pelo inevitável Márcio Thomaz Bastos. “Embora nós saibamos disso, é preciso dar mostras a todos de que o Supremo Tribunal Federal não se curva a pressões e não decide ‘com a faca no pescoço’”, diz um trecho desse inverossímil hino à insolência. A expressão foi pinçada da frase dita em 2007 pelo ministro Ricardo Lewandowski, num restaurante em Brasília, depois da sessão que aprovou a abertura do processo do mensalão. Faltou completar a frase do revisor sem pressa: “Todo mundo votou com a faca no pescoço. A tendência era amaciar pro Dirceu”.

O escândalo descoberto há sete anos se arrasta no STF há cinco, mas os dez doutores criticaram “a correria para o julgamento, atiçada pela grita”. Eles resolveram dar lições ao tribunal por estarem “preocupados com a inaudita onda de pressões deflagradas contra a mais alta corte brasileira”. O Brasil decente faz o que pode para manifestar seu inconformismo com o tratamento gentil dispensado pela Justiça a pecadores que dispõem de padrinhos poderosos e advogados que cobram por minuto. São pressões legítimas. Preocupante é o cerco movido a um Poder independente por um ex-chefe do Executivo. Isso não é uma operação política, muito menos uma ação jurídica. É um genuíno caso de polícia.

Se os bacharéis do mensalão efetivamente se preocupam com pressões ilegais, devem redigir outro documento exigindo que Lula aprenda a comportar-se como ex-presidente e pare de agir como um fora-da-lei.

Fonte: Revista Veja

sábado, 26 de maio de 2012

DEPUTADO DA "ORAÇÃO DA PROPINA" ESTÁ FORAGIDO

O ex-deputado distrital Júnior Brunelli, conhecido pelo episódio da “oração da propina”, é considerado foragido pela Polícia Civil do Distrito Federal, que tenta prendê-lo desde o início da manhã de ontem.
Brunelli renunciou em 2010, após ter sido filmado recebendo dinheiro do delator do mensalão do DEM, Durval Barbosa.

Em uma das gravações Brunelli aparece fazendo uma oração após se encontrar com Barbosa. A ação resultou na operação Caixa de Pandora da Polícia Federal e chegou a prender o ex-governador do DF José Roberto Arruda.

A Deco (Divisão Especial de Repressão ao Crime Organizado) da Polícia Civil cumpre mandado de prisão pela suspeita de desvio de mais de R$ 1,7 milhão em emendas parlamentares de autoria do ex-deputado.
Segundo o delegado-chefe do Deco, Henry Lopes, Brunelli teve o mandado de prisão decretado porque foram encontrados indícios de que ele pressionava testemunhas. Outras três pessoas já foram presas.
igreja
De acordo com o delegado, as emendas de Brunelli foram destinadas a uma associação localizada nos fundos de uma igreja comandada pela família do ex-deputado, que não executou os projetos.
“Ele pressionava servidores a liberar o dinheiro e depois usava notas falsas e clonadas para justificar a prestação de contas dos projetos”, disse Henry Lopes.
Na casa do ex-deputado, foram encontrados ontem bolsas e relógios de marca, além de um DVD com a gravação do flagrante da “oração da propina”. A polícia já comunicou a Interpol para evitar que Brunelli saia do país.
A operação realizada ontem pela polícia foi nominada de Hofini, em alusão ao sacerdote Hofini, que roubava dízimos e ofertas dos fiéis.

Fonte: A Gazeta

sexta-feira, 25 de maio de 2012

ERA UMA VEZ UMA CPI

A expressão do presidente da CPI do Cachoeira, Vital do Rêgo Filho, é um retrato do fiasco que se anuncia. Tudo conspira para que os trabalhos da comissão acabem em pizza. Exemplo disso foi a reunião em que senadores e deputados do PSDB, às 7h30, no então deserto cafezinho do Senado, decidiram: para evitar a convocação do governador tucano Marconi Perillo, eles deixam de brigar para que Agnelo Queiroz (PT), do DF, e Sérgio Cabral, do Rio, também sejam obrigados a depor na CPI. Ontem, dados do contador de Cachoeira mostraram que o escritório de Geraldo Brindeiro, subprocurador-geral da República, recebeu R$ 161 mil de empresas ligadas ao esquema do bicheiro.
Reunidos ontem de manhã, tucanos avaliam que é melhor abrir mão da investigação para evitar a convocação do governador de Goiás. Governistas, no entanto, pretendem forçar o depoimento
O PSDB fez um balanço dos primeiros trabalhos da CPI criada para investigar os elos do bicheiro Carlinhos Cachoeira e chegou à conclusão de que, até agora, o partido é o maior prejudicado. E para proteger o governador de Goiás, Marconi Perillo, os tucanos vão abrir mão da investigação. Em vez de trabalhar para aprovar requerimentos de convocações de integrantes e de envolvidos com a quadrilha de Cachoeira, os correligionários de Perillo apostam no aprofundamento de dados do inquérito, dando ênfase ao envolvimento da Delta Construções em âmbito nacional e na influência do bicheiro em órgãos do governo federal.

Na manhã de ontem, 11 tucanos — quatro senadores e sete deputados — se encontraram às 7h30 no cafezinho do Senado para combinar estratégia de condução do depoimento de comparsas de Cachoeira na CPI e de participação na sessão administrativa de votação de requerimentos para evitar a convocação de Perillo. A conversa secreta foi municiada por um envelope repleto de documentos elaborados pela assessoria parlamentar da Câmara com informações que pudessem ampliar para o plano nacional as questões direcionadas aos comparsas de Cachoeira que atuavam em Goiás.

No encontro, os parlamentares chegaram a um consenso de que os depoimentos de integrantes da quadrilha tendem a fragilizar mais a situação de Perillo do que de outros envolvidos. Citaram o exemplo do ex-vereador Wladimir Garcez. Apesar de o ex-presidente da Câmara Municipal de Goiânia ter sido flagrado fazendo lobby para empresas farmacêuticas de Cachoeira, é a história do suposto pagamento da casa do governador com cheques da Delta, informação dada por Garcez, que prevalece no noticiário (leia matéria abaixo).

Ao Correio, um dos parlamentares que participou da reunião de ontem afirmou que o objetivo do partido agora é "começar a fechar o cerco pelos depoimentos". Se for para aprovar requerimento de depoente que possa provocar mais problemas a Perillo, os tucanos não têm interesse. O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), um dos que madrugaram ontem no Senado para a reunião, contou que os tucanos se encontraram para combinar perguntas para o depoimento do ex-vereador, do araponga Idalberto Matias, o Dadá, e Jairo Martins.

Delta
A polêmica do requerimento de convocação dos governadores só pode ser contornada se a comissão aprovar requerimento dando preferência a texto do senador Alvaro Dias (PSDB-PR) que lista o nome dos três chefes de Executivo — Perillo, Sérgio Cabral Filho (PMDB-RJ) e Agnelo Queiroz (PT-DF) — no mesmo documento, para que o tucano não seja o único a depor. "O PT quer circunscrever a CPI. Dos 60 da CPI, nós não chegamos a 16. Para nós não interessa ouvir um só." Para os tucanos, apenas a quebra de sigilo da Delta nacional e uma possível convocação do ex-presidente da empreiteira Fernando Cavendish poderia ampliar o assunto, que atualmente tem foco em Goiás.

O líder do PSDB, senador Alvaro Dias (PR), nega que o encontro no cafezinho do Senado tenha sido uma reunião institucional do partido para discutir a atuação na CPI. "Pode ter tido encontro de alguns, mas não foi uma reunião de liderança."

Sem votação
Na sessão de ontem, o único tucano que defendeu abertura de sessão administrativa para votar requerimento de convocação dos governadores foi o deputado Fernando Francischini (PR). A bancada do PT também não se arriscou em aprovar nenhum requerimento e o fim da sessão foi esvaziado, deixando para a próxima terça-feira decisão sobre a participação dos governadores na comissão.

Josie Jeronimo - Correio Brasiliense

DERROTA POR ANTECIPAÇÃO

O Brasil já está derrotado na Copa do Mundo de 2014, a dois anos do seu início. De 101 projetos essenciais para atender à demanda de equipamentos públicos para o grande certame, apenas cinco estão prontos. Por esse balanço ridículo, o país está perdendo um jogo importantísmo: o da confiança em sua capacidade de organizar evento desse porte.

As chamadas obras da Matriz de Responsabilidade para a Copa do Mundo são 101. Dessas, 41 ainda não começaram e 55 estão em andamento. Para os 13 aeroportos a serem reformados, estão previstas 31 intervenções, das quais 13 ainda estão na estaca zero. Já os serviços de engenharia em oito dos 12 estádios em construção não chegaram nem à metade. Esse é o balanço, resumido e preocupante, do preparativo que deixa muito a desejar.

O valor das cinco obras concluídas até agora equivale a 1% do orçamento aprovado, mais de R$ 27 bilhões, para infraestrutura. Mas o problema não é dinheiro. Está na incompetência do setor público para tocar projetos, obstáculo difícil de ser removido da noite para o dia.

Nem dentro do governo há certeza de reversão dessa situação. O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, tenta transmitir otimismo sem consistência ao afirmar que tudo ficará pronto nos prazos previstos. Ao mesmo tempo, o secretário Especial de Portos, José Leônidas, dissemina ceticismo. Anuncia que o Palácio do Planalto já preparou um plano B para um píer no Rio de Janeiro em formato de Y: usar a parte do projeto que estiver pronta até a Copa, e aproveitar o que já existe. Trata-se de um dos principais projetos para receber visitantes. E ainda nem saiu do papel.

No campo econômico, movimentado pela Copa do Mundo, o Brasil também está desperdiçando ótimas chances. O atraso nas obras emperra o tão propalado aquecimento das atividades produtivas, que já deveria estar intenso. Se o governo der celeridade aos seus investimentos para o maior evento do esporte, também fortalecerá o país contra a crise financeira global.

Fonte: A Gazeta

OS BONS COMPANHEIROS

De "caçador de marajás" Fernando Collor transfigurou-se em caçador de jornalistas. Na CPI do Cachoeira seu alvo é Policarpo Jr., da revista Veja, a quem acusa de se associar ao contraventor "para obter informações e lhe prestar favores de toda ordem". Collor calunia, covardemente protegido pela cápsula da imunidade parlamentar. Os áudios das investigações policiais circulam entre políticos e jornalistas - e quase tudo se encontra na internet. Eles atestam que o jornalista não intercambiou favores com Cachoeira. A relação entre os dois era, exclusivamente, de jornalista e fonte - algo, aliás, registrado pelo delegado que conduziu as investigações.



Jornalistas obtêm informações de inúmeras fontes, inclusive de criminosos. Seu dever é publicar as notícias verdadeiras de interesse público. Criminosos passam informações - verdadeiras ou falsas - com a finalidade de atingir inimigos, que muitas vezes também são bandidos. O jornalismo não tem o direito de oferecer nada às fontes, exceto o sigilo, assegurado pela lei. Mas não tem, também, o direito de sonegar ao público notícias relevantes, mesmo que sua divulgação seja do interesse circunstancial de uma facção criminosa.

Os áudios em circulação comprovam que Policarpo Jr. seguiu rigorosamente os critérios da ética jornalística. Informações vazadas por fontes diversas, até mesmo pela quadrilha de Cachoeira, expuseram escândalos reais de corrupção na esfera federal. Dilma Rousseff demitiu ministros com base nessas notícias, atendendo ao interesse público. A revista em que trabalha o jornalista foi a primeira a publicar as notícias sobre a associação criminosa entre Demóstenes Torres e a quadrilha de Cachoeira - uma prova suplementar de que não havia conluio com a fonte. Quando Collor calunia Policarpo Jr., age sob o impulso da mola da vingança: duas décadas depois da renúncia desonrosa, pretende ferir a imprensa que revelou à sociedade a podridão de seu governo.

A vingança, porém, não é tudo. O senador almeja concluir sua reinvenção política inscrevendo-se no sistema de poder do lulopetismo. Na CPI opera como porta-voz de José Dirceu, cujo blog difunde a calúnia contra o jornalista. Às vésperas do julgamento do caso do mensalão, o réu principal, definido pelo procurador-geral da República como "chefe da quadrilha", engaja-se na tentativa de desqualificar a imprensa - e, com ela, as informações que o incriminam.

O mensalão, porém, não é tudo. A sujeição da imprensa ao poder político entrou no radar de Lula justamente após a crise que abalou seu primeiro mandato. Franklin Martins foi alçado à chefia do Ministério das Comunicações para articular a criação de uma imprensa chapa-branca e, paralelamente, erguer o edifício do "controle social da mídia". A sucessão, contudo, representou uma descontinuidade parcial, que se traduziu pelo afastamento de Martins e pela renúncia ao ensaio de cerceamento da imprensa. Dirceu não admitiu a derrota, persistindo numa campanha que encontra eco em correntes do PT e mobiliza jornalistas financiados por empresas estatais. Policarpo Jr. ocupa, no momento, o lugar de alvo casual da artilharia dirigida contra a liberdade de informar.

No jogo da calúnia, um papel instrumental é desempenhado pela revista Carta Capital. A publicação noticiou falsamente que Policarpo Jr. teria feito "200 ligações" telefônicas para Cachoeira. Em princípio, nada haveria de errado nisso, pois a ética nas relações de jornalistas com fontes não pode ser medida pela quantidade de contatos. Entretanto, por si mesmo, o número cumpria a função de arar o terreno da suspeita, preparando a etapa do plantio da acusação, a ser realizado pela palavra sem freios de Collor. Os áudios, entretanto, evidenciaram a magnitude da mentira: o jornalista trocou duas - não 200 - ligações com sua fonte.

A revista não se circunscreveu à mentira factual. Um editorial, assinado por Mino Carta, classificou a suposta "parceria Cachoeira-Policarpo Jr." como "bandidagem em comum". Editoriais de Mino Carta formam um capítulo sombrio do jornalismo brasileiro. Nos anos seguintes ao AI-5, o atual diretor de redação da Carta Capital ocupava o cargo de editor de Veja, a publicação em que hoje trabalha o alvo de suas falsas denúncias. Os editoriais com a sua assinatura eram peças de louvação da ditadura militar e da guerra suja conduzida nos calabouços. Um deles, de 4 de fevereiro de 1970, consagrava-se ao elogio da "eficiência" da Operação Bandeirante (Oban), braço paramilitar do aparelho de inteligência e tortura do regime, cuja atuação "tranquilizava o povo". O material documental está disponível no blog do jornalista Fábio Pannunzio (http://www.pannunzio.com.br/), sob a rubrica Quem foi quem na ditadura.

Na Veja de então, sob a orientação de Carta, trabalhava o editor de Economia Paulo Henrique Amorim. A cooperação entre os cortesãos do regime militar renovou-se, décadas depois, pela adesão de ambos ao lulismo. Hoje Amorim faz de seu blog uma caixa de ressonância da calúnia de Carta dirigida a Policarpo Jr. O fato teria apenas relevância jurídica se o blog não fosse financiado por empresas estatais: nos últimos três anos, tais fontes públicas transferiram bem mais de R$ 1 milhão para a página eletrônica, distribuídos entre a Caixa Econômica Federal (R$ 833 mil), o Banco do Brasil (R$ 147 mil), os Correios (R$ 120 mil) e a Petrobrás (que, violando a Lei da Transparência, se recusa a prestar a informação).

Dilma não deu curso à estratégia de ataque à liberdade de imprensa organizada no segundo mandato de Lula. Mas, como se evidencia pelo patrocínio estatal da calúnia contra Policarpo Jr., a presidente não controla as rédeas de seu governo - ao menos no que concerne aos interesses vitais de Dirceu. A trama dos bons companheiros revela a existência de um governo paralelo, que ninguém elegeu.

Demétrio Magnoli

quinta-feira, 24 de maio de 2012

FARINHA DO MESMO SACO

PRISIONEIRO DO RESSENTIMENTO

Pobre vítima!... Pobre pai dos pobres!...

Mais velho, mais sofrido - e nem por isso mais sábio -, o ex-presidente Lula levou para a Câmara Municipal de São Paulo, onde receberia na segunda-feira o título de Cidadão Paulistano, as suas obsessões e os seus fantasmas: as elites e o mensalão. Ao elogiar no seu discurso a gestão da prefeita Marta Suplicy, ele se pôs a desancar a "parte da elite" de cujo preconceito ela teria sido vítima "porque ousou governar para os pobres". Marta fez os CEUs (centros educacionais unificados), exemplificou, para acolher crianças de favelas, algo inaceitável para aqueles que não querem que os outros sejam "pelo menos iguais" a eles.

O ressentimento de que Lula é prisioneiro o impede de aceitar que, numa megalópole como esta, há de tudo para todos os gostos e desgostos - e não apenas no topo da pirâmide social. Os que nele se situam, uma população que o tempo e as oportunidades de ascensão de há muito tornaram heterogênea, não detêm o monopólio do preconceito de classe. Durante anos, até eleitores mais pobres, portadores, quem sabe, do proverbial complexo de vira-lata, refugaram a ideia de votar em um candidato presidencial que, vindo de onde veio e com pouco estudo, teria as mesmas limitações que viam em si para governar o Brasil.

Lula tampouco admite, ao menos em público, que dificilmente teria chegado lá se o destino não o tivesse levado a viver na mais aberta sociedade do País - que também abriga, repita-se, cabeças egoístas e retrógradas, mas onde o talento, o trabalho e a perseverança são os mecanismos por excelência de equalização social. Em 1952, quando a sua mãe o trouxe com alguns de seus irmãos para cá, estava em pleno andamento, aliás, a substituição das tradicionais elites políticas paulistas por nomes que expressavam as mutações por que vinha passando desde a 2.ª Guerra Mundial o perfil demográfico da capital.

Pelo voto popular, chegaram ao poder descendentes de imigrantes e outros tantos cujas famílias, vindas de baixo, prosperaram com a industrialização, educaram os filhos e os integraram, à americana, na renovada estrutura política. O curso natural das coisas, pode-se dizer, consumou a metamorfose na pessoa do carismático torneiro mecânico pau de arara ungido presidente da República. No Planalto, é bom que não se esqueça, ele vergastava as elites nos palanques e se acertava na política com o que elas têm de pior. Lula se amancebou com expoentes do coronelato do atraso, do patrimonialismo e da iniquidade - o mesmo estamento oligárquico que contribuiu para confinar à miséria incontáveis milhões de nordestinos.

Elas não lhe faltaram no transe do mensalão - "um momento", repetiu pela enésima vez o mais novo cidadão paulistano, "em que tentaram dar um golpe neste país". Na sua versão da história, as elites, a oposição e a mídia só desistiram de destituí-lo de medo de "enfrentarem o povo nas ruas". Falso. Lula ainda não havia completado o trajeto da contrição - "eu não tenho nenhuma vergonha de dizer ao povo brasileiro que nós temos que pedir desculpas" - à ameaça de apelar ao povo, quando a oposição preferiu não pedir o seu impeachment para não traumatizar o País pela segunda vez em 13 anos. Pelo menos um dos homens do presidente, ministro de Estado, procurou os líderes oposicionistas para dissuadi-los da iniciativa.

O estopim foi o depoimento do marqueteiro de Lula, Duda Mendonça, na CPI dos Correios, em agosto de 2005. Ele revelou ter recebido em conta que precisou abrir no paraíso fiscal das Bahamas, a conselho de Marcos Valério, o publicitário que viria a ser o pivô do mensalão, a soma de R$ 10 milhões pelos serviços prestados três anos antes à campanha presidencial do petista e ao partido. Afinal, parcela da bolada já estava no exterior e outra sairia do caixa 2 da agremiação - os famosos "recursos não contabilizados" que Lula admitiria existir na reunião ministerial que convocou para o dia seguinte da oitiva de Duda. Tecnicamente, o PT poderia ter o seu registro cassado, e o presidente poderia ser afastado, se as elites quisessem levar a ferro e fogo o combate político. Se conspiração houve, em suma, foi para "deixar pra lá".

Fonte: O Estado de São Paulo

DILMA TURBINA O PIBINHO - Celso Ming


 O Estado de S.Paulo (O economista que fala português e não economês)

O governo Dilma reeditou o sétimo pacote de estímulo ao consumo desde 2008. O objetivo imediato é desencalhar os estoques da indústria automobilística que atingiram os maiores níveis desde novembro de 2008.

A principal aflição que toma conta do governo é a iminência de novo pibinho em 2012. O ano de 2011 terminou com uma promessa solene: o avanço do PIB neste ano seria de 5%. Mas já nas primeiras semanas de 2012, o ministro Guido Mantega passou a falar em algo entre 4,0% e 4,5%, em desacordo com projeções do Banco Central, que insistiam em somente 3,0%. Agora, Mantega diz que o avanço do PIB neste ano será "maior do que o do ano passado", quando cresceu só 2,7%. E, ontem, o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, admitiu que o crescimento do PIB ficará "algo acima da média global", que ele estima entre 2,5% e 3,0%.

O principal problema desse novo pacote não é o especial desvelo com que trata a indústria de veículos e deixa os demais setores ao deus-dará. É a estratégia de tentar compensar a relativa desaceleração interna com mais consumo apoiado no crédito - e não com mais investimento.

Já há indicações suficientes para entender que o comprador está endividado até o pescoço. A inadimplência no financiamento de veículos mais do que dobrou em apenas um ano. Foi de 2,8% para 5,7%. A retranca com que o setor bancário vinha trabalhando o segmento não tem a ver com má vontade, mas, sim, com uma questão técnica: o preço de revenda do carro usado já está de 20% a 30% mais baixo do que o saldo das dívidas contraídas por ocasião da compra. Ou seja, a reserva de domínio, que constitui a garantia do financiador, perdeu qualidade e aumentou o risco da operação.

O orçamento das classes médias está fortemente comprometido com mais despesas com serviços, sobretudo tarifas de celular e de TV por assinatura; ensino; condução; viagens; academia; refeições fora de casa; etc. Empurrá-las a mais endividamento tem tudo para ser o contrário do que vinha sendo tentado - ou seja, tem tudo para ser uma política macroimprudencial.

Em outras palavras, esse modelo que dá prioridade ao consumo e ao endividamento familiar já deu o que tinha de dar. Ninguém no governo parece ligar para os enormes congestionamentos que paralisam as grandes cidades do País. Eles querem empurrar mais veículos para a população. Não levam em consideração que a reaceleração da produção poderia ser promovida com muito mais vantagens se fosse acionado o investimento.

Por que não agilizar a construção de linhas de metrô, portos, retroportos, aeroportos, estradas de ferro e de rodagem? Há o pré-sal a desenvolver e, no entanto, a Petrobrás não só continua patinando em desempenho reconhecidamente insatisfatório em produção, mas também se prepara para desinvestir maciçamente - porque não dá conta do que já assumiu.

Por que não dar mais atenção à infraestrutura, que, no Brasil, é tão precária e tão cara? Mas não. Os dirigentes das montadoras estão ameaçando com férias coletivas... Assim, passa a ser de interesse nacional acalmá-los.

Paradoxalmente, essa suposta defesa do emprego ocorre quando o mercado de trabalho vive seu melhor momento histórico e quando o consumo cresce acima de 6% ao ano.

terça-feira, 22 de maio de 2012

SILÊNCIO E IRONIA

Data: 26/01/2012 - ES - VitÃ?ria - JosÃ? AntÃ?nio Pimentel, cconselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Espírito Santo - Editoria: Política - Foto: Fábio Vicentini - GZ------LARG 15ALE
"Estou aqui como manda a lei. Fui advertido
pelos meus advogados para não dizer nada. Eu não vou falar nada aqui"
Carlinhos Cachoeira, em depoimento à CPI

Brasília


O contraventor Carlinhos Cachoeira confirmou a expectativa de sua defesa e se limitou, ontem, a dizer que não iria falar nada durante a sessão da CPI que investiga esquema de corrupção comandando por ele.

A reunião durava pouco mais de duas horas quando – sem obter nenhuma resposta do depoente – o presidente da comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), decidiu pôr fim ao "depoimento". Antes mesmo de ser encerrado, alguns deputados e senadores já tinham deixado a sala.

De terno e gravata, mais magro e com o cabelo um pouco branco, Cachoeira aparentou na sessão estar bem abatido. A sessão foi aberta por Vital, que logo em seguida chamou o bicheiro. Ele teria 20 minutos para falar no início, mas o fez em menos de três.

"Boa tarde para os senhores e senhoras. Estou aqui como manda a lei. Fui advertido pelos meus advogados para não dizer nada. Eu não vou falar nada aqui. Somente depois da audiência que vamos ter no juiz, se por ventura achar que eu deva contribuir, pode chamar que eu virei para falar", disse. "Tenho muito a dizer depois da audiência", comentou para logo em seguida, a uma nova pergunta, responder com ironia: "Esta é uma boa pergunta para ser respondida depois".

Audiência
Aparato policial e sem algemas
Um total de 36 pessoas, entre policiais federais, agentes penitenciários e membros da Polícia Legislativa do Congresso, atuaram na operação para levar Cachoeira à CPI. Ele foi trazido desde o presídio da Papuda, onde está preso, sob escolta de quatro viaturas. Ele veio em uma delas, uma van da PF e foi entregue sem algemas à Polícia Legislativa.
A audiência de Cachoeira na Justiça, segundo seu advogado, Márcio Thomaz Bastos, será em 31 de maio e 1º de junho.

Ainda durante sessão, convicto de que o contraventor nada falaria, o presidente da CPI propôs antecipar o fim da reunião, para ouvi-lo somente depois da audiência.

Ao entrar na sala da CPI, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL -AP ) defendeu que a comissão convoque para depor a atual mulher de Cachoeira. "Ela tem muitas informações importantes. Toda a negociação se passava com o conhecimento dela".

Fernando Francischni (PSDB-PR) fez vários questionamentos sobre a relação de Cachoeira com o governo do Distrito Federal e do Paraná. A CPI deve marcar nova data para o depoimento do contraventor.
Tudo o que ele (não) disse

31 vezes
"Respostas"
Carlinhos Cachoeira se manifestou 31 vezes durante o depoimento.

Relator
Ao deputado Odair Cunha (PT-MG)
- "Tenho muito a dizer, depois da minha audiência. Pode me convocar."
- "Vou te ajudar demais, é outra pergunta muito boa para responder depois disso."

Calado
Ao deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP)
"Vou permanecer calado, deputado, por favor."

Depois
Ao deputado Filipe Pereira (PSC-RJ)
"Posso muito ajudar, mas depois."

Sempre
Ao deputado Rubens Bueno (PPS-PR)
"Eu só respondo...Quero permanecer calado. Sempre."

Direito
Ao deputado Ronaldo Fonseca (PR-DF)
"Em respeito a V. Exª, não vou responder. Vou usar meu direito constitucional."
 
Fonte: A Gazeta

PARA A SORTE DA BASE ALIADA E DO GOVERNO, CACHOEIRA NÃO ABRIU A BOCA


(Foto: ABr)
Boca fechada – Como era esperado, Carlos Augusto Ramos se recusou a responder às perguntas dos membros da Comissão Parlamentar de Inquérito batizada com sua alcunha, CPI do Cachoeira, criada para investigar a teia de relacionamentos do contraventor goiano.

Sem a obrigação de prestar juramento de dizer apenas a verdade, Cachoeira tem utilizado o vernáculo “calado” após todas as perguntas formuladas pelos parlamentares. A defesa do bicheiro, comandada pelo criminalista e ex-ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça), solicitou ao Supremo Tribunal Federal mais três semanas para analisar os documentos e arquivos de áudio constantes do inquérito, mas o pedido foi rejeito pelo ministro Celso de Mello, que confirmou para esta terça-feira (22) o depoimento do empresário da jogatina.

O Brasil precisa desvendar a rede de corrupção que existia por trás das operações de Carlinhos Cachoeira, mas é preciso reconhecer ser inviável analisar em poucos dias mais de 15 mil documentos e 90 mil arquivos de áudio. Melhor seria ter acolhido o pedido formulado pelos advogados, mesmo que em audiência futura o acusado se valesse do direito de permanecer calado.

A decisão de manter a audiência para esta a tarde desta terça-feira faz parte da estratégia da base aliada de dificultar a solução do caso, uma vez que os envolvidos no esquema criminoso de Carlinhos Cachoeira estão em todas as instâncias do Estado, inclusive no governo federal, seja por contatos diretos, seja por conexões transversas por meio da Delta Construção.

Sem qualquer esboço de resposta por parte do investigado, a inquirição de Carlos Augusto Ramos está servindo apenas e tão somente como vitrine política para os parlamentares, que em ano eleitoral têm dificuldades para prestar contas aos respectivos eleitores. Não faz muito tempo, o ucho.info afirmou sem medo de errar que a CPI do Cachoeira tem tudo para dar em nada. E a sequência dos fatos tem comprovado essa tese. Tudo financiado com o suado dinheiro do contribuinte.

Fonte: Ucho.Info