Acabei de ver a Presidente Dilma em mais um dos seus pronunciamentos, que tentam dar uma resposta à sociedade, não porque se preocupa com os anseios da população, mas por estar apavorada com a queda de popularidade e consequente risco à sua reeleição.
Depois da Constituinte exclusiva e do plebiscito sobre a reforma política, ambos pulverizados pela própria base governista e o TSE, mira agora na saúde e anuncia pomposamente o programa MAIS MÉDICOS, como se fosse o remédio para os males da saúde. Mais uma vez, pessimamente assessorada pelo Ministro Padilha, lança um programa que já nasce sem a menor possibilidade de florescer, até porque os problemas da saúde pública no Brasil não passa só pela falta de médicos e sim pelo total sucateamento dos hospitais públicos e da inexistência de um mínimo de condições para que médicos, enfermeiros e demais profissionais da saúde desenvolvam com dignidade o atendimento à população carente do país.
Obrigar os médicos a trabalharem dois anos exclusivamente no interior e áreas carentes, na Atenção Básica é de um desconhecimento total da realidade, explico porque: A Atenção Básica, entenda-se Estratégia de Saúde da Família é o modelo implantado no Brasil para o setor primário no atendimento ao cidadão, que funciona baseado em territórios demarcados onde o médico fica responsável por todos os agravos e riscos à saúde dos moradores do referido território.
Isso inclui atendimento em pediatria, saúde da mulher, hipertensão e diabetes, saúde do homem, saúde dos idosos, tuberculose, hanseníase, doenças sexualmente transmissíveis, doenças regionais, enfim requer amplo conhecimento em Clinica Médica e experiência do profissional, isso sem falar no perfil necessário a esse tipo de programa. Reconhecimento dos fatores de risco que acometem a comunidade e ações na prevenção dos mesmos, isso é, agir para evitar que as pessoas adoeçam, não me parece tarefa a ser defendida por jovens médicos, recém saídos da faculdade.
Ademais, o programa exige uma carga horária de 08 horas diárias, e a maioria dos Municípios oferecem salários acima do propalado salário de 10 mil reais que o programa pretende pagar e não conseguem os profissionais, já que a carga horária exigida praticamente limita o médico a fazer um plantão de fim de semana se quiser melhorar sua remuneração, e não podemos deixar de considerar que esses ganhos estão sujeitos a tributação de 27% do Imposto de renda, mais o desconto para a previdência social.
Estamos aqui falando de pequenos Municípios do interior desse país, grande parte na região norte/nordeste, desprovidos de infra-estrutura necessária à prática de uma boa medicina, que no mínimo se exige um laboratório para exames de urgência tais como hemograma completo, dosagem de enzimas cardíacas, função renal e hepática, ex. de urina para citar os mais comuns, uma sala de radiologia para se diagnosticar pneumonias e fraturas, aparelhos de ultrassonografia e aparelhos de tomografia computadorizada ou ressonância magnética é um sonho inimaginável.
Então Presidenta, o buraco é muito mais embaixo do que os imaginados pelos seus açodados assessores, a saúde precisa de investimentos, os pequenos e distantes municípios precisam de pelo menos um hospital de pequeno porte, onde poderiam se internar pacientes com pneumonia, infecções do aparelho genito-urinário, quadros infecciosos e viroses, inclusive dengue, afecções cardíacas de menor gravidade, pacientes terminais que dependam de suporte para se evitar sofrimentos maiores. Pronto-socorro que funcione 24 horas para o atendimento dos casos de urgência e emergência com leitos de retaguarda, associados a um programa de Estratégia da Família bem feito seria um grande avanço.
Um hospital geral regional como referência para os pacientes mais graves e cirurgias oriundos dos pequenos hospitais já seria um passo enorme na direção de um melhor atendimento à população. Hoje a internet possibilita inclusive comunicação entre médicos de diversas referência, inclusive já dispomos de eletrocardiograma com laudo à distância que proporciona um rápido e importante diagnóstico para doentes com distúrbios cardíacos diversos o que tem salvado muitas vidas e um suporte valioso para plantonistas de todo os serviços de urgência onde não se tem equipe cardiológica de plantão.
Prefeitos comprometidos com a saúde, que participem efetivamente com uma contra-partida correspondente, que não deixem faltar medicamentos essenciais à população, que se associem a Consórcios intermunicipais de saúde para se possibilitar exames como usg e tomografias completariam o que considero o mínimo necessário para que se dê condições de trabalho aos profissionais de saúde e dignidade aos que necessitam do serviço público.
É POSSÍVEL PRESIDENTA, DESDE QUE SE TENHA VONTADE POLÍTICA E NÃO ELEITOREIRA, CERTAMENTE DINHEIRO NÃO FALTA!!!
Dr. Marco Sobreira
37 anos dedicados exclusivamente à saúde pública.
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