Que ninguém se engane: o movimento que parou o Brasil nesta quinta-feira (11) nada tem a ver com a série de protestos deflagrada há quase um mês, contra tudo e todos. As famílias que antes deixavam suas casas para criticar a corrupção, os maus serviços públicos e falta de representatividade na política foram substituídas por sindicalistas e militantes. As bandeiras brancas e apartidárias deram lugar ao vermelho. E os 100 mil que marcharam por Vitória em junho se resumiram a pouco mais de 1,5 mil pessoas às 13 horas desta quinta, em frente à Assembleia Legislativa. Três horas depois, não passavam de 150 vozes.
De modo geral, o que parece ter havido foi uma “depuração” da pauta horizontalizada e sem lideranças que explodiu em junho. Se antes os cartazes exprimiam desejo de mudança na política, fim do pedágio, escolas e hospitais “padrão Fifa”, menor carga tributária e mais qualidade de vida para o cidadão, agora os pedidos têm mais a ver com interesses classistas – e, muitos deles, com uma visão estatizante da estrutura pública. Aqui no Estado, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Força Sindical encabeçaram o movimento. Foram às ruas pedir redução da carga de trabalho para 40 horas sem redução de salários, valorização das aposentadorias, reforma agrária, suspensão dos leilões de poços de petróleo e fim das concessões de rodovias.
A “nova pauta” que foi para as ruas debaixo de chuva, ontem, incluía criação de uma universidade estadual, CPI do Transcol e da Rodosol, proibição da venda do Banestes e da Cesan (alguém estava cogitando isso, gente?) e até criação da Secretaria do Trabalho, da Mulher e da Juventude – na contramão dos pedidos, feitos há um mês, por enxugamento da estrutura estatal.
Não se viu, na tal greve geral (com anuência de muitos patrões), um cartaz sequer de repúdio ao governo Dilma ou ao PT. Pudera, o presidente da CUT é petista a ponto de querer presidir o partido no Estado; o da Força Sindical, embora esteja sem filiação, já esteve no PTC, o Partido Trabalhista Cristão.
Uma manifestação como a de ontem é legítima. Mas provou que não basta uma convocação via internet para que as ruas explodam de gente. A estimativa era de que um milhão de pessoas cruzassem os braços no Estado, graças ao protesto nacional.
Mas o que se viu foi que a ampla maioria da sociedade não quis saber da “voz das ruas”. A quinta-feira funcionou como feriado, e o gigante, que acordou semanas atrás, tirou o dia para descansar.
Fonte: Coluna Praça oito - A Gazeta
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