A mensagem de Francisco é universal. E o bem de suas palavras independe de credo ou religião. Basta sensibilidade
GABRIEL TEBALDI
Em uma semana, o papa desembarcou no Brasil, foi para o povo e emocionou não só os católicos, mas todos aqueles que se abriram às suas palavras. Francisco tem se mostrado à vontade e suas ações compõem uma verdadeira aula: o argentino tem muito a ensinar a nós, brasileiros.
Logo na chegada, Dilma não cumpriu bem o dever de casa. Em seu discurso, parecia em campanha usando o famoso "Fizemos muito, mas ainda temos muito a fazer". Abrindo uma visita religiosa, a presidente tentou fazer brilhar sua estrela: "O Brasil muito se orgulha de ter alcançado extraordinários resultados nos últimos dez anos".
Como boa discípula de Lula, a gerente repetiu a inacreditável tese sobre as manifestações: segundo Lula, a população tomou a rua porque o governo foi tão bom, mas tão bom, que fez o povo pedir mais! "Democracia gera desejo de mais democracia, inclusão social provoca cobrança de mais inclusão social e qualidade de vida desperta anseio por mais qualidade de vida". É muita bênção!
Enquanto isso, Francisco disse a que veio: "Vim para encontrar os jovens atraídos pelos braços abertos do Cristo Redentor. Cristo 'bota fé' nos jovens. Também os jovens 'botam fé' em Cristo, porque sabem que não serão desiludidos". E diante do marketing de ricas ações petistas, o papa foi franciscano: "Não trago ouro nem prata, mas trago comigo o que de mais preciso me foi dado: Jesus Cristo".
Tal como a presidente, a estrutura pública também falhou. As filas dos metrôs giraram quarteirões e os ônibus fizeram qualquer usuário do Transcol se sentir num conforto de primeira classe. Entretanto, muito mais que estrutural, a contradição do país diante de Francisco é muito mais profunda, vai no íntimo da nação. Trata-se, pois, de mentalidade.
Em tempos em que vidros blindados são sinônimos de segurança, o papa confessou a Eduardo Paes: "Prefeito, eu tenho um pecado grave. Nunca dou ouvidos ao que este pessoal da segurança diz". Sua blindagem é outra: "Minha segurança está em Jesus Cristo".
Enquanto autoridades sobem os morros apenas em busca de votos, o papa escolheu pessoalmente a comunidade de Varginha para levar sua mensagem: "Vocês não estão sozinhos. A Igreja está com vocês. O papa está com vocês".
Num mundo de individualismo e concorrência, o papa foi rico, por ser simples: "A verdadeira riqueza não está nas coisas, mas no coração".
Líder de uma Igreja marcada por escândalos, Francisco endureceu o código penal do Vaticano, e luta contra a corrupção. Busca, hoje, juntar os possíveis fragmentos partidos da Igreja com a receita anunciada no Rio: "Sempre se pode colocar mais água no feijão".
Enquanto governantes exibem uma suposta segurança com teleféricos em favelas, o papa foi categórico: "Nenhum esforço de pacificação será duradouro numa sociedade que deixa à margem e abandona na periferia parte de si mesma".
O fato é que Francisco surpreendeu. Frustrou os que esperavam ouvir palavras de ideologia esquerdista. Recompensou com carinho e atenção os que fizeram vigília. E deixou palavras preocupantes. Sim, preocupantes, pois, ao mesmo tempo em que são simples e verdadeiras, são, também, conquistas absurdamente distantes de nossa realidade corrompida.
Segundo a História, ainda no século XIII, o papa Inocêncio III teve um sonho em que viu a Basílica de São João de Latrão prestes a desabar, sendo sustentada por um pobre religioso, que seria Francisco. Segundo o próprio Francisco de Assis, seu chamado religioso foi divino e direto: "Vá e reconstrói a minha Igreja, que está em ruínas". Assim ele fez.
Hoje, mais que reconstruir a Igreja, o papa Francisco deixa, no Brasil, palavras que, se absorvidas, podem reconstruir uma nação, seu povo e, por que não, a humanidade: "Nunca desanimem. Não percam a confiança. Não deixem que se apague a esperança. A realidade pode mudar. O homem pode mudar. Procurem serem vocês os primeiros a praticar o bem".
A mensagem de Francisco é universal. E o bem de suas palavras independe de credo ou religião. Basta sensibilidade. Além de papa, Francisco é professor.
Gabriel Tebaldi, 20 anos, é estudante de História da Ufes
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