O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), que afina o discurso para concorrer à Presidência da República, aceitou de bom grado a provocação feita aos tucanos pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas comemorações de 10 anos do Bolsa Família. "O ex-presidente Lula tem que parar de brigar com a história. Se não houvesse o governo do presidente Fernando Henrique, com a estabilidade econômica, com a modernização da economia, não teria sequer havido o governo do presidente Lula", disparou ontem.
Para o tucano, as duas grandes virtudes do petista foram dar sequência e ampliar os programas sociais de transferência de renda do governo do presidente Fernando Henrique, a cargo da falecida primeira-dama Ruth Cardoso, e manter a política macroeconômica do governo anterior, isto é, o famoso tripé meta de inflação, superavit fiscal e câmbio flutuante. Aécio viu nas comemorações um expediente de campanha eleitoral, com propósito de colar ainda mais a imagem da presidente Dilma Rousseff à de Lula e monopolizar a bandeira da redistribuição de renda.
O tucano teme ser acusado de querer acabar com o Bolsa Família, como aconteceu com o ex-governador José Serra (PSDB) e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), em eleições presidenciais anteriores. "Não vamos esquecer que o presidente Fernando Henrique deixou 6,9 milhões famílias cadastradas e recebendo algum benefício: Bolsa Escola, Bolsa Alimentação ou Vale Gás", destaca. Seu problema é que o governo FHC não cacarejou esse ovo como deveria. E quem o pôs em pé, como já disse na coluna de segunda-feira, foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao unificar o cadastro de seus beneficiados e transformar essas bolsas e vales num só programa assistencialista e ampliá-lo para 13,5 milhões de famílias.
Avessos ao populismo, os quadros tucanos têm horror à palavra assistencialismo. O Programa Comunidade Solidária, de Dona Ruth Cardoso, foi concebido como um projeto autônomo em relação ao governo. Todo o seu propósito era mobilizar a sociedade civil para coordenar e promover o combate à pobreza, com subsídios do governo, é claro, mas tecendo parcerias com a iniciativa privada. Vem dessa concepção mais sofisticada, principalmente, as críticas dos tucanos ao Bolsa Família. Mas isso foi um erro crasso na campanha eleitoral, mais ou menos como jogar a criança fora com a água da bacia.
O resgate da imagem de Fernando Henrique Cardoso na Presidência da República, do ponto de vista eleitoral, não é uma tarefa fácil. Lula trabalha dia e noite para "descontruir" o legado positivo de seu antecessor. Além disso, o tempo se encarrega de apagar a memória dos eleitores. Por que, então, o tucano mineiro insiste nisso? Ao contrário de José Serra, que quando foi candidato não queria aparecer ao lado do amigo nem em fotos de campanha de candidatos proporcionais. A razão é simples: pode perder ainda mais votos do que ganhar com isso. Dilma, Lula e o PT se encarregarão de colar a imagem de Aécio à de FHC. Se tudo o que disserem do ex-presidente tucano não for contestado, aí sim, o prejuízo será maior. Foi o que aconteceu nas duas campanhas de Serra e na de Alckmin à Presidência da República. Tentaram se livrar do passado e se deram mal.
Miscelânea
O que fazer? — A propósito, Aécio Neves telefonou ontem para o presidente do PPS, Roberto Freire (SP), para pedir um encontro oficial com a legenda. Não desistiu do apoio do velho aliado, que já está com um pé na canoa do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). A candidatura da ex-vereadora paulistana Soninha Francine ainda não empolgou a legenda. O PPS deve fazer um congresso, em dezembro, para definir a estratégia política. A principal tese é a construção de uma terceira via eleitoral e a formação de uma nova esquerda.
O que fazer? — A propósito, Aécio Neves telefonou ontem para o presidente do PPS, Roberto Freire (SP), para pedir um encontro oficial com a legenda. Não desistiu do apoio do velho aliado, que já está com um pé na canoa do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). A candidatura da ex-vereadora paulistana Soninha Francine ainda não empolgou a legenda. O PPS deve fazer um congresso, em dezembro, para definir a estratégia política. A principal tese é a construção de uma terceira via eleitoral e a formação de uma nova esquerda.
Pão e água — O Palácio do Planalto joga pesado. Quem se lembra da lei aprovada pelo Congresso para restringir a formação de novos partidos? Foi sancionada ontem pela presidente Dilma Rousseff, sem vetos. A votação da proposta chegou a ser suspensa por uma polêmica liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, que, depois, acabou derrubada pela Corte. A lei tinha o objetivo de inviabilizar a criação da Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, e a fusão do PPS com o PMN para formar o MD, frustradas por outros motivos. Mas pode acertar o Solidariedade e o Partido Republicano da Ordem Social (Pros), que correm o risco de ficar sem o tempo de televisão e os recursos do Fundo Partidário proporcional aos deputados federais que aderiram às duas legendas. Polêmica para o TSE.
Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense
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