sábado, 9 de novembro de 2013

HADDAD É RUIM DE DOER


Finalmente eu e Lula concordamos numa coisa: Haddad é muito ruim! Ex-presidente chama prefeito em seu instituto duas vezes para lhe dar pitos

Supercoxinha - Boopo
O “Rei do Camarote” fica para depois, talvez para este domingo. Vou falar um pouco do “Rei do IPTU”. Escrevi aqui alguns textos criticando a atuação do prefeito Fernando Haddad (PT), que tem se mostrado bastante desastrado. Sua equipe também não se entende. Se os repórteres que cobrem a política municipal apurarem bem os ouvidos, verão que Antônio Donato, secretário de governo, e Jilmar Tatto, dos Transportes, tocam músicas distintas. O prefeito meteu os pés pelas mãos no aumento do IPTU. A questão foi parar na Justiça. Lançou a estrepitosa operação caça-larápios — em si, necessária — como uma espécie de manobra diversionista. Nesta sexta, teve outra grande ideia: afirmou que a quadrilha pode ter fraudado também o IPTU. Vale dizer: o prefeito anuncia que há roubalheira na área, mas pretende impor um reajuste escorchante. Não é do ramo. Muito bem. Reportagem de Marina Dias e Márcio Falcão na Folha deste sábado informa que Lula se encontrou duas vezes com Haddad nesta semana para criticar a ação do prefeito.
O alcaide teve de ir ao instituto comandado pelo ex-presidente para levar os pitos. Os encontros aconteceram na segunda e nesta sexta. Um vexame. No PT, informou o jornal, discute-se uma espécie de “intervenção” na Prefeitura. O temor é que a gestão Haddad prejudique a campanha eleitoral de Alexandre Padilha ao governo de São Paulo. Há quem veja risco de que a própria Dilma acabe arranhada.
Da forma como Haddad detonou a operação para pegar os auditores fiscais corruptos, o principal atingido, obviamente, é Gilberto Kassab (PSD), que pretendia — pretende ainda? — se candidatar ao governo de São Paulo. Dá-se como certo que o PSD estará com Dilma no ano que vem. Mas a coisa não pode azedar muito. Eduardo Campos (PSB), ainda sem aliados, adoraria contar com um tempinho a mais de TV e é interlocutor do ex-prefeito.
O PT contava com Kassab como linha auxiliar de Padilha em São Paulo. O presidente do PSD, obviamente, não tem condições de vencer, e seu apoio pode — poderia? — ser importante num eventual segundo turno. Agora, a receita desandou. Hoje ao menos (e não parece que esse assunto vá morrer tão cedo), as circunstâncias são bastante adversas mesmo para se lançar nessa aventura eleitoral. A base principal do ex-prefeito é a capital. Deixou a gestão com a rejeição nas alturas, como é sabido. Com quase um ano de Haddad no poder, é bem possível que estivesse em curso um processo de recuperação da sua imagem. Se havia, foi para o brejo.
De volta a Lula
É evidente que Lula não está nada satisfeito com o resultado. Haddad lidera uma gestão impopular e ainda detonou uma bomba no quintal de um fidelíssimo aliado do governo federal, que tem — ou tinha — importância estratégica em São Paulo. Ainda que Kassab consiga fazer o cálculo vencer o rancor, há um problema: o eleitor.  Sabe que, nas ruas, nos táxis e nos ônibus, é a sua gestão que está na berlinda.
À Folha, declarou o deputado Carlos Zarattini (PT-SP): “Essa questão do IPTU tem pouco efeito eleitoral. Estamos longe das eleições, e Haddad vai conseguir explicar que esse aumento é para a parte mais rica”. Pois é… Sempre há um petista para tentar resolver tudo pelo arranca-rabo de classes. Lula já viveu o bastante para saber que as coisas não são bem assim. O diabo é diabo porque é velho, não porque é sábio. A indisposição de camada considerável da cidade que vai arcar com a elevação do IPTU pode, sim, contaminar setores que não serão diretamente atingidos pelo reajuste. Ora, tome-se o caso da tarifa dos ônibus: ganhou o coração mesmo dos que andam de carro. De resto, quem está sendo chamado de “rico” por Zarattini? Não é um caminho prudente.
Assim, os petralhas que ficaram inconformados com as críticas que fiz ao prefeito nos últimos dias devem agora enviar as suas reclamações a Lula. Eis um tema em que os dois concordamos: Haddad é ruim de doer.
Por Reinaldo Azevedo

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